Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
A profissão de pastor de ovelhas na pecuária atual e na cultura está muito distante do mundo bíblico. Mesmo assim, com um pouco de explicações e atenção a imagem do pastoreio pode se tornar muito expressiva porque faz parte da linguagem religiosa. Também no mundo bíblico a imagem do pastor de ovelhas foi, por analogia, aplicada às lideranças, tanto religiosas como civis. A liturgia dominical oferece o ensinamento de Jesus, segundo o Evangelho de São João 10,1-10, usando a imagem do Bom Pastor.
“Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobre por outro lugar, é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. (…) caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz”. Vamos imaginar a rotina dos pastores, profissão muito difundida, no tempo de Cristo. Ao final do dia, os pastores levavam, normalmente suas poucas ovelhas, a um lugar seguro, provido de porta e vigiado por guarda noturno. O mesmo guarda cuidava de ovelhas de vários proprietários. De manhã, cada pastor, na porta, chamava suas ovelhas para fora e as levava para as pastagens.
A imagem de Deus como pastor vem proposta antes de tudo no salmo 22/23. O salmista simboliza o pastoreio com duas imagens. A primeira faz referência à abundância de alimentação na natureza e a proteção neste ambiente. A segunda referência é a mesa abundante e o clima de acolhida e felicidade. O evangelista acrescenta outros elementos, ainda mais familiares e personalizados. A relação é de intimidade, pois o pastor entra pela porta e chama pelo nome e as ovelhas respondem. Depois as conduz andando na frente e as ovelhas seguem o pastor.
Esta breve descrição tem vários elementos que permitem criar intimidade entre Deus, o Bom Pastor, e todos os que farão parte do seu povo. Antes de fazer parte do rebanho do Senhor, cada fiel teve que abrir a porta para que Deus entrasse. Deus entra pela porta da frente do fiel, isto é, a porta foi-lhe livremente aberta. Esta relação pessoal vai permitir o reconhecimento da voz do pastor; vai criar confiança para se deixar orientar e seguir pelos caminhos que vai conduzindo pelo mundo. O pastor “conduz para fora”. Ficar fechado e recluso vai levar à inanição. Seguir pelo mundo tem os seus riscos, mas o pastor atento é mais forte que as ameaças.
O pastor chama pelo nome, significa que conhece a quem é chamado, tem uma relação pessoal. Não é mais um, um número, ou apenas um num rebanho. O nome distingue entre muitos fazendo que cada pessoa seja única, irrepetível e de dignidade inviolável. Também, diante de Deus cada pessoa é única. “Não tenhas medo, pois eu te resgatei, chamei-te pelo teu nome, tu és meu!” (Isaías 43,1)
Este domingo é o dia “Mundial de Oração pelas Vocações”. O Bom Pastor chama entre os seus seguidores alguns para compartilharem a tarefa do pastoreio na Igreja, particularmente no ministério ordenado como diáconos, presbíteros e bispos. Os fiéis necessitam ter pastores que caminham na frente, no seu meio e atrás. Também é responsabilidade de todos os fiéis se cuidarem mutuamente e despertarem novos pastores.
“Eu sou a porta das ovelhas”. É o segundo grande símbolo ligado ao pastor. É a porta pela qual entram e saem as ovelhas. Jesus se apresenta como a porta de ingresso no mistério e à comunhão com Deus. Revela um Deus presente na história do homem e esta proximidade se revela na condução segura, na doação, sem segundas intenções e interesses mesquinhos. É o pastor que morre em vez das ovelhas. Ela dá vida em abundância. Fonte: www.cnbb.org.br