Autor do pedido na Câmara Municipal, vereador Rubinho Nunes muda escopo do texto e busca novas assinaturas nesta terça (12)
Alvo de possível CPI, o padre Júlio Lancellotti diz que sofre com imputações falsas -
SÃO PAULO
A proposta de criar uma CPI para investigar ONGs que atuam na região da cracolândia, no centro de São Paulo, mudou o seu escopo na Câmara Municipal e passará, agora, a apurar violações contra a dignidade humana, sobretudo crimes sexuais, assédio e abusos contra pessoas em situação de rua.
Com alteração, apresentada pelo autor do pedido de CPI, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), a Casa mira de forma ainda mais direta o padre Júlio Lancellotti, que é responsável pela paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca (zona leste) e coordenador da Pastoral do Povo da Rua.
Parte da vizinhança atribui ao trabalho de Lancellotti de assistência à população de rua a responsabilidade pela presença de dependentes químicos, furtos, sujeira e desvalorização de imóveis comuns às cenas abertas de uso de crack.
Com a abordagem mais ampla, o texto não faz menção somente a ONGs e abre caminho para a investigação de Lancellotti, mesmo que desde o início o pároco fosse considerado um alvo implícito da medida.
A nova proposta de CPI depende de 19 assinaturas, o equivalente a um terço dos 55 vereadores paulistanos, para ser protocolada. Rubinho disse que tentará colher as assinaturas nesta terça-feira (12).
O próximo passo é levar o pedido para votação no plenário da Câmara —nessa fase serão necessárias 28 assinaturas, a maioria absoluta da Casa, para instauração da CPI. A abertura da CPI depende da articulação do presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil).
Com a mudança no escopo, o texto de Nunes "requer a criação e instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito com a finalidade de apurar violação à dignidade da pessoa humana, em especial crimes contra a liberdade sexual, assédio moral, sexual, psicológico e abusos congêneres cometidos contra pessoas em situação de rua, vulnerabilidade e drogadição no município de São Paulo".
O texto foi ajustado, segundo o autor do pedido, para que a comissão tenha segurança jurídica para investigar supostos crimes sexuais praticados por quem atua com pessoas vulneráveis. Segundo Nunes, há dois "depoimentos contundentes" contra o padre, que nega as acusações.
Nunes e Leite compartilharam entre os vereadores um vídeo no qual mostra um homem se masturbando durante uma conversa pela internet. O material não tem autenticidade comprovada. Lancellotti diz se tratar de conteúdo adulterado.
Este vídeo também foi compartilhado em 2020, quando Arthur do Val, então candidato à Prefeitura de São Paulo, fez denúncia à Igreja Católica. Na ocasião, a igreja arquivou a investigação.
Em fevereiro deste ano, a Arquidiocese informou que abriu nova investigação para apurar a conduta do pároco após tomar conhecimento de um "suposto novo fato de abuso sexual".
O padre sempre rebateu as acusações e disse, em nota, que "as imputações surgidas recentemente —assim como aquelas que sobrevieram no passado— são completamente falsas, inverídicas" e que ele tem "plena fé que as apurações conduzidas pela Arquidiocese esclarecerão a verdade dos fatos". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br