CONTRAPOSIÇÃO, MEDO E FÉ 

 

Dom Severino Clasen

Arcebispo de Maringá (PR) 

Estamos no mundo agitado, inseguro e violento. As forças que geram o domínio são impiedosas, maldosas, corruptas, mentirosas, opressoras. Dominam, agem com ameaças, inibem para que os pequenos não se organizem, se contentem em serem submissos aos poderosos e dominadores. 

No mundo social, gerado pela política opressora, dominadora, desumana, age como o mar violento que agita e amedronta os navegadores. O medo se torna a força geradora da angústia, do terror e ameaça. 

Jesus, Deus, parece que dorme. Deus chega sempre por primeiro. Ninguém consegue antecipar a Deus. Basta uma palavra, silêncio, que as tempestades lhe obedecem. 

Assim, nós nos encontramos na vida quando somos privados da fé que encoraja e confia. A figura de Jó, no Antigo Testamento é o exemplo a ser seguido. Ele é colocado na disputa entre o bem, Deus, e o mal, satanás. Sofre todas as sortes de dor, destruição, despojo, perda de tudo e de todos, mas não roga praga contra Deus. Coloca sua confiança na esperança do Deus que o liberta de todas as perdas na vida.  

A ação divina intensifica a convivência do ser humano com toda a natureza, toda a obra criada. Tanto em Jó, quanto no Evangelho de Marcos, Deus tem domínio sobre os mares e sobre as tempestades. “Quem fechou o mar com portas, quando ele jorrou com ímpeto do seio materno, quando eu lhe dava nuvens por vestes e névoas espessas por faixas; quando marquei seus limites e coloquei portas e trancas e disse: ‘Até aqui chegarás, e não além; aqui cessa a arrogância de tuas ondas?’” (Jó 38,8-11). Remar contra a maré é negar para o precipício quando não se tem sabedoria e reconhecimento das potencialidades e virtudes disponíveis para conduzir e proteger a vida. 

Na mesma situação, os discípulos experimentaram o medo, mesmo na presença de Jesus: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4,41). A soberania divina assiste os frágeis delirando no mundo sem rumo, enquanto Deus se faz presente. Ressoa em nossa mente, quem perdeu tudo nas enchentes no Rio Grande do Sul. Quem se salvou, agora precisa reconstruir novamente. Colocar a força da esperança na construção de algo diferente, experimentado pela dor da perda e do pavor das águas que inundaram, destruíram. Manter a paz e confiança no Senhor que não dorme, é exercício de fé e esperança que move para os barcos seguros que navegam, conduzem para a serenidade. O Senhor está junto, mesmo não percebido. Nós que somos cegos e não percebemos a ação de Deus na história humana e na natureza que gera vida e beleza. 

O Apóstolo Paulo nos alerta para o novo. A vida se renova, na esperança de um dia ressuscitarmos com Cristo. Ele já morreu por todos nós, agora buscamos viver segundo sua ciência para recuperar a fragilidade humana caída no pecado. “Portanto, se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho despareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17). A catequese paulina nos estimula a seguir Jesus Cristo com amor e liberdade. Nele encontramos a razão mais profunda de viver. Nele está a fonte da vida, a segurança que nos liberta, a fraternidade que nos conduz à emocionante experiência da solidariedade humana. Com Jesus dissipemos a tristeza, o medo e abraçamos corajosamente o bem, frutos do amor revelado por Deus em Jesus Cristo. 

Que o nosso modo de viver, sentir, agir, crie um novo jeito de amar a vida segundo os mandamentos do amor. Que toda a dor seja substituída pela mística do seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fonte: https://www.cnbb.org.br