1) Oração

Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos, concedei aos que crêem no Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho  (Lucas 6,27-38)

Naquele tempo, falou Jesus aos seus discípulos: 27Digo-vos a vós que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, 28abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam. 29Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tirar a capa, não impeças de levar também a túnica. 30Dá a todo o que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho reclames. 31O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles. 32Se amais os que vos amam, que recompensa mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam. 33E se fazeis bem aos que vos fazem bem, que recompensa mereceis? Pois o mesmo fazem também os pecadores. 34Se emprestais àqueles de quem esperais receber, que recompensa mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. 35Pelo contrário, amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem daí esperar nada. E grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bom para com os ingratos e maus. 36Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 37Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; 38dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também.

 

3) Reflexão   Lucas 6,27-38  

O evangelho de hoje traz a segunda parte do “Sermão da Planície”. Na primeira parte (Lc 6,20-26), Jesus se dirigia aos discípulos (Lc 6,20). Na segunda parte (Lc 6,27-49), ele se dirige “a vocês que me escutam”, isto é, àquela multidão imensa de pobres e doentes, vinda de todos os lados (Lc 6,17-19).

Lucas 6,27-30Amar os inimigos!

As palavras que Jesus dirige a este povo são exigentes e difíceis: amar os inimigos, não amaldiçoar, oferecer a outra face a quem bate no rosto, não reclamar quando alguém toma o que é nosso. Tomadas ao pé da letra, estas frases parecem favorecer os ricos que roubam. Mas nem o próprio Jesus as observou ao pé da letra. Quando o soldado lhe bateu no rosto, não ofereceu a outra face, mas reagiu com firmeza. “Se falei errado, prove! Se falei certo, porque me bates?” (Jo 18,22-23). Então, como entender estas palavras? Os versículos seguintes ajudam a entender o que Jesus quer ensinar.

Lucas 6,31-36A Regra de Ouro! Imitar Deus

Duas frases de Jesus ajudam a entender o que ele quis ensinar. A primeira frase é a assim chamada Regra de Ouro: "O que vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês a eles!” (Lc 6,31). A segunda frase é: "Procurem ser misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!" (Lc 6,36). Estas duas frases mostram que Jesus não quer simplesmente virar a mesa ou inverter a situação, pois aí nada mudaria. Ele quer mudar o sistema. O Novo que ele quer construir vem da nova experiência de Deus como Pai cheio de ternura que acolhe a todos! As palavras de ameaça contra os ricos não podem ser ocasião para os pobres se vingarem. Jesus manda ter a atitude contrária: "Amai os vossos inimigos!" O amor não pode depender do que eu recebo do outro. O amor verdadeiro deve querer o bem do outro independentemente do que ele ou ela faz por mim. O amor deve ser criativo, pois assim é o amor de Deus por nós: "Procurem ser misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!".  Mateus diz a mesma coisa com outras palavras: “Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito” (Mt 5,48). Nunca ninguém poderá chegar a dizer: Hoje fui perfeito como o Pai do céu é perfeito! Fui misericordioso como o Pai do céu é misericordioso”. Estaremos sempre abaixo da medida que Jesus colocou diante de nós.

No evangelho de Lucas, a Regra de Ouro diz: "O que vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês a eles!” (Lc 6,31) O evangelho de Mateus traz uma formulação um pouco diferente: "Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” e acrescenta: “Pois nisso consistem a Lei e os Profetas" (Mt 7,12). Praticamente todas as religiões do mundo inteiro tem a mesma Regra de ouro com formulações diversas. Sinal de que aqui se expressa uma intuição ou um desejo universal que nasce do fundo do coração humano.

Lucas 6,37-38: A medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês.

"Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados; perdoem, e serão perdoados.  Dêem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês”. São quatro conselhos: dois na forma negativa: não julgar, não condenar; e dois na forma positiva: perdoar e doar com medida abundante. Quando diz “e será dado a vocês”, Jesus alude ao tratamento que Deus quer ter para conosco. Mas quando a nossa maneira de tratar os outros é mesquinha, Deus não pode usar para conosco a medida abundante e transbordante que Ele gostaria de usar.

Celebrar a visita de Deus

O Sermão da Planície ou Sermão da Montanha, desde o seu começo, leva os ouvintes a fazer uma escolha, uma opção, a favor dos pobres. No Antigo Testamento, várias vezes, Deus colocou o povo diante da mesma escolha de bênção ou de maldição. Ao povo era concedida a liberdade para escolher: "Eu lhes propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver" (Dt 30,19). Não é Deus quem condena, mas é o próprio povo de acordo com a escolha que fará entre a vida e a morte, entre o bem e o mal. Estes momentos de escolha são os momentos da visita de Deus ao seu povo (Gn 21,1; 50,24-25; Ex 3,16; 32,34; Jr 29,10; Sl 59,6; Sl 65,10; Sl 80,15, Sl 106,4). Lucas é o único evangelista a empregar esta imagem da visita de Deus (Lc 1,68. 78; 7,16; 19,44; At 15,16). Para Lucas Jesus é a visita de Deus que coloca o povo diante da escolha da bênção ou da maldição: "Felizes vocês, pobres!" e "Ai de vocês, ricos!" Mas o povo não reconheceu a visita de Deus (Lc 19,44).

 

4) Para um confronto pessoal

1) Será que nós olhamos a vida e as pessoas com o mesmo olhar de Jesus?

2) O que quer dizer hoje "ser misericordioso como o Pai do céu é misericordioso"?

 

5) Oração final

Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto. De longe penetrais meus pensamentos. Quando ando e quando repouso, vós me vedes, observais todos os meus passos (Sl 138)