Como e onde encontrar a alegria?
Dom Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR)
Já ouvimos comentários sobre a sociedade do cansaço. Somos construtores de uma sociedade desvirtuada da essência da vida e partimos para a produção na ilusão de que o quanto mais se tem mais se realiza na vida. Cansamos e não vivemos. O modo do trabalho de hoje está mal conduzido, pois, trabalhamos muito e pouco sobra. Nos estressamos e perdemos a alegria de viver. O trabalho, quando se torna fonte de justiça, equilibramos as relações e descobrimos a beleza do trabalho como dom, criatividade, alegria, sustentação, harmonia na vida.
O povo hebreu ao sair do exílio, exulta de alegria e canta as maravilhas da presença do Senhor que os libertou da escravidão: “Naquele dia, se dirá a Jerusalém: Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa” (Sf 3,16-18). O caminho para encontrar a alegria é o amor e a justiça. A presença do Senhor sustenta e confirma o amor entre nós humanos. O Apóstolo Paulo exorta: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos” (Fl 4,4). Destacamos que a presença de Deus na vida é o caminho que equilibra as relações, justifica o acesso ao s bens necessários para educar em harmonia, fomentar a fraternidade e a solidariedade.
Estamos no Domingo da Alegria. A Palavra de Deus nos prepara para a vinda do Senhor. A preparação deve ser concreta e fiel. Voltar ao Senhor, escutar o que o Espírito nos diz e agir conforme a sua inspiração. É preciso dar tempo para que não caiamos no estresse da vida material, sobrepondo a dignidade humana. O que lucramos excessivamente perdemos no resgate da saúde mental, física e espiritual. Tempo de preparação para o Natal deve ser tempo de crescimento espiritual e resolver as relações humanas machucadas, sofridas, desgastadas.
O que devemos fazer? João Batista respondeu: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!… Não cobreis mais do que foi estabelecido.” Havia soldados que também perguntaram o que devemos fazer; ele lhes respondeu: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!” (Lc 3,10-18). A voz de João Batista deve ser ouvida neste Tempo do Advento, porque manda preparar os caminhos do Senhor. Eis o tempo da justiça, da verdade, da fraternidade, da mística do encontro. É lamentável que trocamos o tempo bonito do encontro da oração, da reflexão natalina e ficamos trancados, sufocados nas horas extras impedindo a pa rticipação da mística do encontro nos grupos de reflexão, da oração, da meditação para aliviar os sufocos das contas acumuladas. Nos estraçalhamos na sociedade do cansaço porque não temos mais tempo para a vida, para o Senhor que nos conforta, nos alivia e nos conduz para a dignidade humana.
Que saibamos nos organizar neste Tempo do Advento quando nos preparamos para receber o Menino Jesus em nossas famílias, em nossa vida e na comunidade com mais espiritualidade, liberdade, leveza e encanto. Que não desviemos o verdadeiro sentido do Natal nas trocas estressantes das coisas e perdemos a oportunidade de crescer na fé e na justiça.
Que as portas do Ano Jubilar, Peregrinos de Esperança se abram e nos faça caminhar ao encontro do Senhor que nos liberta de todo o cansaço e escassez na vida e busquemos o Senhor que se deixa encontrar. É isso que devemos fazer. Eis a verdadeira alegria. Fonte: https://www.cnbb.org.br