O anjo anuncia e Maria confia

 

Dom Leomar Brustolin

Arcebispo de Santa Maria (RS)

 

No dia 25 de março, celebramos um momento que mudou a história: a Anunciação do Senhor. Foi nesse dia que o anjo Gabriel visitou Maria para anunciar que ela seria a mãe de Jesus, o Filho de Deus. E, embora a cena pareça simples, envolta de delicadeza e silêncio, ela carrega uma grandiosidade que ressoa profundamente em nossos corações até hoje.  

Contemplar essa história é como admirar uma obra de arte repleta de detalhes.  A Anunciação não aconteceu num palácio, nem no meio do templo, foi na casa de Maria, em meio à simplicidade da vida cotidiana. O Evangelho diz: “O anjo entrou onde ela estava” (Lc 1,28). Esse detalhe revela um convite divino: Deus também deseja entrar na nossa vida, na nossa casa, no meio da correria, das preocupações e até do silêncio dos dias difíceis. 

Nas representações artísticas da Anunciação, muitas vezes vemos Maria e o anjo separados por um véu vermelho, remetendo à cortina que existia no Templo de Jerusalém, separando o povo do lugar mais sagrado. Mas, com o “sim” de Maria, esse véu começa a se abrir. O que antes era distante agora se faz próximo: Deus entra no mundo, pequeno e humilde, no ventre de uma jovem. 

Maria geralmente é retratada com o rosto inclinado, em um gesto de escuta atenta e referente. Em algumas imagens orientais, ela aparece tecendo fios de púrpura, como se, com suas próprias mãos, preparasse o corpo de Jesus dentro de si. É belo imaginar que, com sua vida e seu “faça-se”, Maria teceu a redenção da humanidade. 

O anjo Gabriel, por sua vez, surge em movimento, com um olhar cheio de respeito e admiração. Ele estende a mão para Maria, não apenas transmite o anúncio, mas também abençoa, confirmando que aquela mensagem vem de Deus. Do céu, um raio de luz desce sobre Maria: é a presença do Espírito Santo, que age no silêncio e na sombra, trazendo vida nova ao mundo. Nesse momento, toda a Trindade se faz presente: o Espírito Santo que desce, o Pai que protege com sua sombra e o Filho que se faz pequeno dentro dela.

Diante de tudo isso, como Maria reage? Ela confia. Não hesita, não exige explicações, não foge. Apenas se entrega. Talvez seja essa a grande lição da Anunciação para nós: reconhecer que nossa vida não está apenas em nossas mãos, mas nas mãos de Deus. E, se estamos nas mãos d’Ele, estamos em boas mãos. 

Em tempos difíceis, como foi durante a pandemia e como ainda vivemos em tantas situações, nos perguntamos: “E agora? O que será do amanhã?” nos ensina que o segredo não está em ter todas as respostas, mas em confiar. Santo Agostinho dizia que, antes de receber Jesus no ventre, Maria o recebeu no coração. Primeiro acreditou. Primeiro disse “sim”. Primeiro abriu espaço para Deus agir. 

Hoje, como Maria, também somos chamados a dizer o nosso “faça-se”. A confiar, mesmo quando tudo parece escuro. A permitir que Deus aja, mesmo quando não compreendemos os caminhos. A tecer, com nossas escolhas e nossa fé, o futuro que Deus sonha para nós. 

Que Maria nos ajude a acolher Deus no silêncio do nosso coração e a viver com esperança e coragem. Porque quando dizemos “sim” ao amor, algo novo sempre nasce. Fonte: https://www.cnbb.org.br