A liturgia deste domingo revela que Deus chama, continuamente, pessoas para serem testemunhas no mundo do seu projeto de salvação. Não interessa se essas pessoas são frágeis e limitadas; a força de Deus revela-se através da fraqueza e da fragilidade desses instrumentos humanos que Deus escolhe e envia.
Para os habitantes de Nazaré Jesus era apenas “o carpinteiro” da terra, que nunca tinha estudado com grandes mestres e que tinha uma família conhecida de todos, que não se distinguia em nada das outras famílias que habitavam na vila; por isso, não estavam dispostos a conceder que esse Jesus – perfeitamente conhecido, julgado e catalogado – lhes trouxesse qualquer coisa de novo e de diferente… Isto deve fazer-nos pensar nos preconceitos com que, por vezes, abordamos os nossos irmãos, os julgamos, os catalogamos e etiquetamos… Seremos sempre justos na forma como julgamos os outros? Por vezes, os nossos preconceitos não nos impedirão de acolher o irmão e a riqueza que Ele nos traz?
Eis o texto
O relato não deixa de ser surpreendente. Jesus foi rejeitado precisamente na Sua própria terra, entre aqueles que acreditavam conhecê-Lo melhor que ninguém. Chega a Nazaré, acompanhado pelos Seus discípulos, e ninguém sai ao Seu encontro, como sucede por vezes noutros lugares. Tampouco lhe apresentam os doentes da aldeia para que os cure.
A Sua presença só desperta neles assombro. Não sabem quem Lhe poderá ter ensinado uma mensagem tão cheia de sabedoria. Tampouco sabem explicar de onde vem a força curadora das Suas mãos. O único que sabem é que é Jesus, um trabalhador nascido numa família da Sua aldeia. Tudo o mais «parece-lhes escandaloso».
Jesus sente-se «desprezado»: os seus não O aceitam como portador da mensagem e da salvação de Deus. Fizeram uma ideia do seu vizinho Jesus e resistem a abrir-se ao mistério que se encerra na Sua pessoa. Jesus recorda-lhes o provérbio que, provavelmente, conhecem todos: «Não desprezam um profeta mais que na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa».
Ao mesmo tempo, Jesus «estranha a Sua falta de fé». É a primeira vez que experimenta uma rejeição coletiva, não dos dirigentes religiosos, mas de todo o Seu povo. Não esperava isto dos Seus. A Sua incredulidade chega inclusive a bloquear a Sua capacidade de curar: «não pode fazer ali nenhum milagre, só curou alguns doentes».
Marcos não narra este episódio para satisfazer a curiosidade dos seus leitores, mas para advertir as comunidades cristãs que Jesus pode ser rejeitado precisamente por quem acredita conhecer melhor: os que se encerram nas suas ideias preconcebidas sem abrir-se nem à novidade da Sua mensagem nem ao mistério da sua pessoa.
• Como estamos acolhendo Jesus, os que nos cremos «Seus»?
• No meio de um mundo que se fez adulto, não é a nossa fé demasiado infantil e superficial?
• Não vivemos demasiado indiferentes à novidade revolucionária da Sua mensagem?
• Não é estranha a nossa falta de fé na Sua força transformadora?
• Não corremos o risco de apagar o Seu Espírito e desprezar a Sua Profecia?
• Esta é a preocupação de Paulo de Tarso: «Não apagueis o Espírito, não desprezeis o dom da Profecia. Revede tudo e ficai só com o bom» (1 Tes 5,19-21). Não necessitaremos de algo disto os cristãos dos nossos dias?
Fontes: http://www.ihu.unisinos.br; http://www.dehonianos.org