Frei John Welch, O. Carm. Whitefriars Hall, Washington
As testemunhas contemporâneas do Carmelo que testemunharam sua fé no meio de um sofrimento monstruoso, são as vítimas dos campos de concentração, Titus Brandsma e Edith Stein. Brandsma resistiu à propaganda nazista e Stein se identificou com seu povo perseguido. Eles foram presos na poderosa corrente do mal social do Século 20. Na experiência de serem despojados de toda segurança e apoio, estes carmelitas deram testemunho de uma vida de fé, esperança e amor no meio das condições mais difíceis. No reconhecimento de seu testemunho a Igreja confirma a autenticidade de suas vidas e os coloca entre aqueles arriscaram tudo no seguimento de Cristo. A regra do Carmelo conduz a várias formas de ser discípulo, mas todas levam a abraçar a Cruz.
Os Gerais das duas Ordens Carmelitas nos chamam a uma ”nova espiritualidade” para complementar a “nova evangelização”. Esta nova espiritualidade surgirá do crescente conhecimento que o Carmelo vai tendo sobre a realidade mundial que as pessoas experimentam? Enquanto o rosto do Carmelo vai mudando e entram novos membros na ordem, especialmente vindos dos países mas povoados e pobres, a situação das massas empobrecidas do mundo chegarão às portas do primeiro mundo. A internacionalidade da ordem e o vinculo internacional da família carmelitana nos oferecem uma oportunidade única para escutar o Espírito nos diversos contextos, e esta escuta nos desafia a dar uma resposta.
João Paulo II ampliou a imagem da noite escura de João da Cruz para incluir os sofrimentos do mundo moderno:
Nossa época conheceu tempos de sofrimento que nos tem feito compreender melhor esta expressão e dar-lhe um certo caráter coletivo. Nossa época fala do silêncio ou da ausência de Deus. Conheceu tantas calamidades, tantos sofrimentos infligidos pelas guerras e por matanças de tantos seres inocentes. Usamos agora o termo noite escura para todos os aspectos da vida e não somente par uma fase da viagem espiritual. Recorremos à doutrina do santo como resposta a este mistério do sofrimento humano.
Faço referência específica ao mundo do sofrimento. Sofrimento físico, moral, espiritual, como as doenças, como as pragas da fome, a guerra, a injustiça, a solidão, a falta de sentido da vida, a fragilidade da existência humana, o doloroso conhecimento do pecado, a aparente ausência de Deus; são para o crente experiências purificadoras, às quais se podem chamar noite da fé .
A esta existência São João da Cruz deu o nome simbólico e evocador de noite escura e se refere explicitamente à inquietante obscuridade do mistério da fé . Ele não tenta dar resposta ao terrível problema do sofrimento na ordem especulativa; mas à luz das Escrituras e da experiência descobre algo da maravilhosa transformação que Deus efetua na escuridão, posto que, “... de modo tão sábio e formoso sabe ele tirar dos males bens;...” (Cant. B 23: 5). Finalmente, nos dispomos a viver o mistério da morte e a ressurreição de Jesus em toda sua verdade.