Foi uma visita histórica. O Papa Francisco, acompanhado pelo Patriarca Ortodoxo de Constantinopla e o Arcebispode Atenas, passou pela ilha grega de Lesbos para ver, pessoalmente, a situação em que se encontram os refugiados que chegam a esse lugar, e para denunciar a falta de responsabilidade e de solidariedade do mundo e da Europa das barreiras. De volta a Itália, o Papa dizia que o que viu em Lesbos era para chorar, ainda que os voluntários e ativistas que estão em Lesbos para ajudar os refugiados afirmem que a situação encontrada pelo Papa foi amenizada e maquiada. A reportagem é de Carlos Cala, publicada por Cadena SER, 17-04-2016. A tradução é do Cepat.
María Gracia Maqueda, trabalhadora social de Sevilla, que há uma semana está em Lesbos como voluntária, disse que “faltou ao Papa visitar alguns outros lugares onde poderia ter visto a realidade dos refugiados de outra forma, com toda a dureza na qual eles vivem aqui. Faltou irem a alguns lugares, conectar e falar com os voluntários, que nós poderíamos ter apresentado outra visão”.
De fato, uma companheira de María Gracia foi retida ontem, por três horas, em uma delegacia, após ter exibido um cartaz pedindo ao Papa uma condenação para o acordo de expulsão de solicitantes de asilo, firmado entre a União Europeia e a Turquia. Queriam falar pessoalmente com o Pontífice, mas não puderam. “O Governo grego tentou amenizar, esconder, toda uma realidade. O Papa viu o melhor”, destaca María Gracia.
Entre os lugares que Francisco deveria ter visitado está, por exemplo, o cemitério dos coletes, um depósito que se encontra no norte de Lesbos, com milhares de coletes salva-vidas utilizados pelos refugiados que cruzaram o Mediterrâneo. Existem de todos os tamanhos, inclusive de bebês. Outro lugar que não visitou é o cemitério de refugiados, onde estão as lápides sem nome daqueles que perderam a vida no trajeto, antes de alcançar sua Europa sonhada. “Eu acredito que se o Papa tivesse visto essa realidade, a teria buscado, algo teria mudado. Não teria falado de bom samaritano. Teria condenado um acordo vergonhoso e teria pedido, solicitado formalmente, um acordo humanitário, uma passagem segura” para os refugiados para Europa.
María Gracia Maqueda conta que a única solução para deter este drama é acabar com o problema na origem. Por isso, pede que se deixe de vender armas a Arábia Saudita ou a Síria. “Se pararmos essa guerra, se o Papa tivesse condenado o acordo com a Turquia e não tivesse só agradecido a Deus pelo bem que estamos fazendo como voluntários, talvez outro galo cantaria. Porque os refugiados continuarão vindo, se não pararmos isto”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br