Frei Pedro Caxito O.Carm. In Memoriam.
"Para São Lucas Jesus é o Novo Elias como para São Mateus é, principalmente, o Novo Moisés". Assim escrevia o Pe. Eugênio Driessen nos Analecta Ord.Carm. v.XII 1943 167-190. Senti alegria quando, há muitíssimos anos atrás, chegou isto ao meu conhecimento e, daí em diante, procurei prestar mais atenção ao que encontrasse a respeito, porque os peritos, que eu consultava naquele tempo, diziam-me que não estavam sabendo disto. Procurei, portanto, ao ler São Lucas, anotar os versículos, que parecessem relacionar-se com a figura de Elias.
Em 1982, as Edições Paulinas publicaram em tradução Leitura do Evangelho segundo São Lucas de A.George, que me abriu ótimas pistas.
Em 1988, durante o "Curso de Formação Permanente", em Roma, o Pe. Henrique Pidyarto, carmelita da Indonésia, deu-nos um resumo da sua tese sobre o Evangelho de São João e a figura do Profeta Elias e citou-nos vários autores, que falavam sobre Jesus, Novo Elias segundo São Lucas. Mais uma luz![1]
Outro fato, que antes me havia falado de algo desconhecido e sempre me aferroou, foi a leitura do artigo "A força poderosa do arquétipo" do Pe.Bruno de J-M OCD em Élie le Prophète que traz cartas de C.G.Jung, que fala sobre o arquétipo[2]. Foi-me ensinado que "arquétipo é disposição estrutural da alma com tendência a cada vez mais concretizar-se novamente em símbolos e animar os seres" (Pe.Rudin SJ).
Segundo Jung, Elias é um arquétipo "vivo" e "constelado", a quem sempre se ligam novas, múltiplas e diversificadas lendas, mitos, gestas e gestos miraculosos, paralelos a outros mitos ou figuras mitológicas, ao qual os que vêm depois sempre vão acres-centando novas tradições claramente mitológicas. Não se nega logo a existência do personagem histórico, mas por ser justamente personagem tão rico de conaturalidade, muito conforme com "as imagens primordiais" e "representações coletivas" e universais do inconsciente torna-se personagem mais do que atraente, como um ímã que, avassalando o inconsciente, puxa o consciente. E foi assim que Elias atraiu os Carmelitas, como antes atraíra israelitas, gregos, romanos, drusos e muçulmanos; em Israel a reação javista, o Sirácide, Malaquias e, no Evangelho, o nosso Lucas e João. Certos nomes, se trouxeram alguma aproximação, trouxeram também maior estímulo para o arquétipo: El, El-Elion, Eli, Eloí e o grego Hélios (o Sol Ascendente). Porque a graça supõe a natureza, o Espírito Santo esteve unido com os autores humanos; a vontade de Deus, com a vontade dos homens; esparsas pelo universo de Deus, as "sementes do Verbo", com as vagarosas descobertas dos filhos de Eva que, aqui e ali, "porém, faíscam, não raro, uma centelha daquela Verdade, que ilumina a todos os homens"[3].
Com razão os nossos pais o chamaram de "Pai e Fundador": lá está na Basílica de São Pedro a valente estátua do Profeta, Pai virginalmente, sem nenhuma ligação de cronologia ou "jus", mas muito mais bonita: a da virtude e do coração. Sente-se pena e dó do Cardeal Barônio e dos bolandistas e da tinta, ira e papel, que os nossos antepassados gastaram.
[1]. Ver Apêndice
[2]. Em Les Études Carmélitaines v.II 1956 p.11-33
[3]. Nostra Aetate 2; Evangelii Nuntiandi 53, n 74, que cita Justino Mártir 2 Apol 7(8), 1-4 sobre as "sementes do Verbo": pelo Universo anda espalhada "uma parcela da Palavra Semeadora" (spermaticû lógu méros).