A DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA DO CARMO NO BRASIL
Frei Wilmar Santin, O. Carm
INTRODUÇÃO GERAL
A devoção a Nossa Senhora do Carmo tem sua origem no Monte Carmelo, onde os primeiros carmelitas, após o fim da Terceira Cruzada (1192), se fixaram, construíram uma capela dedicada a Maria e desenvolveram uma particular devoção à Mãe de Deus.
Ao retornarem à Europa manifestaram sua especial devoção mariana:
1) Na dedicação de igrejas;
2) Incluindo o nome de Maria no próprio nome da Ordem. Já em 1252 o Papa Inocêncio IV oficialmente denomina os carmelitas como pertencentes a “Ordinis S. Mariae de Monte Carmeli”;
3) Inserindo o nome de Maria na fórmula da profissão (Constituições de 1281);
4) Introduzindo o nome de Maria no “confiteor”[1] (Constituições de 1294);
5) Na obrigação de recitar diariamente nos ofícios e na missa a “Salve Regina”;
6) Nas celebrações de festas marianas.
- a) Imaculada Conceição como a principal festa da Ordem;
- b) Outras festas celebradas: Purificação, Anunciação, Assunção e Natividade de Maria;
7) No uso da capa branca.
Uma festa própria de Nossa Senhora do Carmo só começa a ser celebrada em 1386 na Inglaterra. Depois se espalha pela Ordem e se torna a festa principal dos carmelitas. Em 1588 o Papa Sisto V a reconhece como festa litúrgica. Torna-se festa na Igreja universal sob o Papa Benedito XIII em 24/09/1726.
CAPÍTULO I
CENTROS DE DIFUSÃO DA DEVOÇÃO
1.1 Conventos carmelitas no Brasil
Os carmelitas chegaram em 1580 no Brasil. Em 1583 fundaram em Olinda o primeiro convento. Sucederam-lhe as fundações de Salvador (1586), Santos (1589), Rio de Janeiro (1590), Angra dos Reis (1593), São Paulo (1594), Paraíba (1596), São Cristóvão (1600), São Luís (1616), Belém (1624), Alcântara (1647), Recife (1654). Em todas estas fundações, suas igrejas conventuais foram dedicadas a Nossa Senhora do Carmo. Portanto se tornaram centros de difusão da devoção à Virgem do Carmo.
Quando assumiram as missões nos rios Negro e Solimões também colocaram várias aldeias sob o patrocínio de Nossa Senhora do Carmo. Frei André Prat indica a invocação de Nossa Senhora do Carmo nas seguintes aldeias: Camatá, Dary, Carmo no rio Branco, Cunumá e Sarubapesenás[2]. Informa ainda que várias capelas das outras aldeias não dedicadas à Virgem do Monte Carmelo havia imagens da mesma[3]. Frei Domingos de Santa Teresa adquiriu “uma prodigiosa imagem“ de Nossa Senhora do Carmo em Portugal e a colocou na capela da missão de São Paulo dos Cambebas no alto do rio Solimões[4]. Isto também ajudou sem dúvida a difundir a devoção.
Na aldeia da Pedreira, que tinha como padroeira Santa Rita de Cássia, “no altar do Evangelho, está um painel de Nossa Senhora do Carmo, e no da Epístola, outro do Espírito Santo, ambos elles pintados com as tintas do paiz, tanto as imagens, como as tarjas”[5].
“E no dia de Nossa Mãe Sma. faz tambem ajuntar os mesmos missionarios na Missão de Nossa Senhora do Carmo do Camará, para lhes conferir o mesmo beneficio da absolvição geral e solemnizarem a sua festa, com sermão e Missa cantada”[6].
(Leia na segunda parte: A Ordens Terceiras do Carmo (OTC))
[1] “Confiteor Deo omnipotenti, beatae Mariae semper Virgini, beato Patri nostro Eliae, omnibus Santis, et vobis, fratres: quia peccavi nimis cogitatione, locutione, opere et omissione: mea culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Patrem nostrum Eliam, omnes Sanctos, et vos, frates, orare pro me ad Dominum Jesum Christum”.
[2] PRAT, Notas Históricas, 35-42.
[3] Cf. PRAT, Notas Históricas, 42-70.
[4] Arq. Ger. da Ordem do Carmo - Roma: II Maranhão 1.
[5] PRAT, Notas Históricas, 63.
[6] Arq. Ger. da Ordem do Carmo - Roma. Documento transcrito em PRAT, Notas Históricas, 95.