Frei Emanuele Boaga, 0. Carm. In Memoriam

Na vereda outrora clara e acidentada do Itaperava cujas rochas brilhavam aos raios ardentes do sol alguns aventureiros, em busca do ouro, penetram nos sertões bravios dos campos dos Cataguases. Eis que a 16 de julho de 1698 esta bandeira chega até a encosta do Itacolomi, descobrindo e ocupando aí um ribeirão que denominaram de Ribeirão do Carmo, a fim de perpetuar a efeméride de Senhora do Carmo. Era chefe da expedição João Lopes de Lima, que fez aí quem era muito devoto.

Em 1703 a expedição do cel. Salvador Furtado de Mendonça redescobre a região que vai crescendo sob a picareta dos bandeirantes, às margens do aurífero Ribeirão do Carmo, sob a proteção da Virgem do Carmo, a Mãe e primeira Protetora da terra mineira. Já em 1711 é a região elevada à categoria de Vila [Ribeirão do Carmo], início da futura cidade de Mariana.

Na mesma cidade de Mariana foi fundada em 1751 a Ordem Terceira do Carmo. Sob a responsabilidade do mestre Domingos Moreira de Oliveira foi iniciada, em 1784, a construção da igreja do Carmo. A Ordem Terceira seguinte foi fundada em Ouro Preto, famosa pela bela igreja que fez construir e na qual se conserva a única decoração em cerâmica rococó do Estado de Minas. Neste templo trabalhou o grande escultor mineiro Antônio Francisco Lisboa, o “Alejadinho”,   que segundo uma tradição, teria recebido seu salário em ouro falso. Prosperaram e se difundiram as Ordens Terceiras do Carmo por todo o território das Minas Gerais, e deixaram grandes frutos espirituais. Igrejas também monumentais, em honra de Nossa Senhora do Carmo e sob cuidado das Ordens Terceiras, foram edificadas em São João del Rei, Sabará e Diamantina. Além disto, houve irmãos que difundiram pequenas capelas dedicadas a Nossa Senhora do Carmo, Em muitos lugares de Minas Gerais que logo se transformaram em arraiais e vilas.

Para que se faça uma idéia de como foi forte esta devoção nas terras mineiras, basta citar o número de localidades que têm como nome oficial a sua invocação. Segundo Augusto de Lima Junior, que fez uma pesquisa particular sobre este assunto, ao ser proclamada a República em 1889 existia em Minas Gerais 21 localidades com o título de Nossa Senhora do Carmo, ou seja: N. Sra. do Carmo da Capela Nova Betim, N. Sra. do Carmo do Pará ou Cajurú, N. Sra. do Carmo da Bagagem, N. Sra. do Carmo do Frutal, N. Sra. do Carmo de Itabira, N. Sra. do Carmo dos Arcos, N. Sra. do Carmo do Japão, N. Sra. do Carmo do Campestre, N. Sra. do Carmo das Luminárias, N. Sra. do Carmo da Cachoeira, N. Sra. do Carmo da Escaramuça, N. Sra. do Carmo do Campo Grande (atual Campos Gerais), N. Sra. do Carmo de Cambuí, N. Sra. do Carmo da Cristina, N. Sra. do Carmo do Prata, N. Sra. do Carmo da Borda da Mata, N. Sra. do Carmo do Arraial Novo, N. Sra. do Carmo do Rio Claro, N. Sra. do Carmo da Cachoeira do Brumado, N. Sra. do Carmo de Morrinhos, N. Sra. do Carmo do Rio Verde. A estas localidades podem-se acrescentar o Município de Nossa Senhora do Carmo de Jabotá (erigido em 1842 e a seguir extinto), e a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Pains, em 1884.

Nos tempos atuais, um decreto de 19/10/1979 do Governo do Estado determina a comemoração do dia 16 de julho como o dia do Estado de Minas Gerais, transferindo simbolicamente, nesse dia, a capital do Estado para Mariana.