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Pablo Esparza

Enviado especial da BBC Mundo ao Vaticano 04/09/201611h02

Stefano Rellandini/Reuters

 Madre Teresa de Calcutá virou santa neste domingo durante missa no Vaticano

Canonizações como a de Madre Teresa de Calcutá levam tempo e passam por processo de verificação, mas engrenagem foi apelidada de 'fábrica de santos'.

Uma vida repleta de virtudes heroicas, exemplos de fé e devoção a Deus. Some-se a isso dois milagres comprovados e estão cumpridos basicamente os requisitos mínimos para se criar um santo da Igreja Católica.

O processo, no entanto, depende de uma máquina burocrática complexa em que qualquer desvio de caráter pode custar o título ao candidato --e a certeza de que, invariavelmente, cairá no esquecimento dos fiéis.

Na Igreja Católica, a canonização normalmente leva tempo e depende de inúmeras circunstâncias legais, mas, de tão azeitada, a engrenagem foi apelidada de "fábrica de santos". É o que acaba de acontecer a Madre Teresa de Calcutá, a freira católica que ficou famosa por ajudar os pobres na cidade indiana, que foi canonizada pelo papa Francisco neste domingo (4).

Ela fundou as Missionárias da Caridade, congregação que atualmente tem mais de 3.000 freiras espalhadas pelo mundo, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1979 e morreu aos 87 anos, em 1997.

Cinco anos depois, o papa João Paulo 2º aceitou seu primeiro milagre --a cura de uma mulher de uma tribo de Bangladesh com um tumor abdominal--, o que abriu caminho para sua beatificação em 2003. O papa Francisco reconheceu em 2015 um segundo milagre, envolvendo um brasileiro que tinha tumores no cérebro e foi declarado curado em 2008.

'Ministério da Santidade'

Cabe à Congregação para as Causas dos Santos a função de "regular o exercício do culto divino e de estudar as causas dos santos". Por esse "ministério da santidade", dirigido pelo cardeal italiano Angelo Amato, passam as "fichas" dos candidatos à canonização.

No entanto, a palavra final sempre é do papa, o único com poder para decretar, de fato, a santidade de um homem ou mulher. Nas últimas décadas, esse poder vem sendo exercido cada vez com mais assiduidade.

Durante seu papado, João Paulo 2º nomeou mais de 480 santos, mais de quatro vezes o que o restante dos pontífices do século 20, juntos, canonizaram.

Apesar de o ritmo ter sido reduzido por Bento 16, que canonizou 44 santos durante seu curto papado, Francisco dá sinais claros de querer retomá-lo. Só em seu primeiro ano como pontífice, o argentino realizou mais de dez canonizações.

Em uma delas, Francisco canonizou de uma vez só 800 mártires, os chamados "mártires de Otranto", que, por razões metodológicas, são contabilizados como uma única canonização. Segundo especialistas, essa proliferação dos santos se deveu à reforma do processo de canonização nas últimas décadas. O próprio papa João Paulo 2º tratou de simplificá-lo em 1983.

Enquanto alguns criticam a multiplicação e o ritmo acelerado das canonizações, considerando que isso diminui o valor da santidade, a Igreja busca estabelecer "exemplos de vida" mais próximos dos cristãos contemporâneos. Fonte: http://noticias.uol.com.br