Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Na língua hebraica, se diz literalmente: “voz de calmaria suave”, (qôl demamáh daqqáh). As traduções costumam dizer: “Murmúrio de uma brisa suave” Tanto faz! A palavra hebraica, usada para indicar a calmaria ou a brisa suave, vem da raiz DMH, que significa parar, ficar imóvel, emudecer. O “murmúrio de uma brisa suave”, que veio depois do furacão, terremoto e fogo, indica uma experiência, que, como um golpe suave e inesperado, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, dispõe-na para escutar. É um puxão de orelha, tapa na cara para acordar! Mesmo dado com suavidade, não deixa de ser tapa! Tapa que desperta, quebra a ilusão irreal e faz a pessoa colocar o pé no chão. Faz cair a ficha! Agóóóra entendi! A brisa suave era o próprio exílio.
A situação de derrota, de morte e de secularização em que se encontrava o povo no cativeiro é percebida por Elias como sendo o momento e o lugar onde Deus o atinge. A escuridão iluminou-se por dentro e a noite ficou mais clara que o dia (Sl 139,12). Deus se fez presente na ausência para além de todas as representações e imagens! Escuridão luminosa! Não é a luz no fim do túnel, mas sim a luz que já existia na escuridão do próprio túnel e que Elias não enxergava. É uma luz diferente.
Hoje acontece a mesma coisa. Quem olha o mundo de hoje com os olhos do passado, dirá: “Está tudo errado! As igrejas estão ficando cada vez mais vazias. Só ficaram os velhos! A juventude está perdida!”. Mas eles se esquecem de ver quem é que está nas passeatas em defesa do meio ambiente, em protestos contra a corrupção: os jovens ou os velhos? Faça a ficha cair! Lembre a frase de Jesus, seis vezes repetida: Era eu! Era eu! Era eu! Era eu! Era eu! Era eu! (Mt 25, 31-46)
A experiência de Deus na Brisa Leve dá olhos novos e produz uma mudança radical. Elias descobre que não é ele, Elias, que defende a Deus, mas é Deus quem defende a Elias. É a sua conversão e libertação! Reencontrando-se com Deus, encontrou-se consigo mesmo e com a sua missão. Descobriu sua vocação lá, onde pensava que Deus não tivesse nada a dizer-lhe! Imediatamente, ele parte para cumprir as ordens de Deus. Uma delas é ungir Eliseu como profeta em seu lugar (1Rs 19,16). Renasce a profecia! A luta pela justiça renasce da experiência da gratuidade.
PERGUNTAS:
- A Imagem de Deus em mim, em nós, desde a infância: Como era a imagem de Deus em mim na minha infância? Algo mudou? Mudou por quê? Para melhor ou para pior? Qual a imagem de Deus em mim agora?
- Qual a imagem de Deus que deveríamos ter em nós? Por quê?