Frei Egídio Palumbo O. Carm. (Tradução por Frei Pedro Caxito O.Carm).

 «DE UTILIDADE PARA A SALVAÇÃO PRÓPRIA E DO PRÓXIMO»

             Em 1247, com a Bula PAGANORUM INCURSUS de Inocêncio IV as primeiras gerações de frades carmelitas, que nesta época tinham emigrado da Palestina para o novo contexto sócio-eclesial da Europa, viveram a primeira evolução da sua história: a Bula do Papa dava a possibilidade de transformar a sua forma de vida prevalentemente contemplativa em vida "contemplativa e ativa ao mesmo tempo", de orientar-se, portanto, para um modo de vida capaz "de  ser  de utilidade  para a salvação  própria  e  do próximo".

            Ao longo dos séculos esta consciência missionária, ainda que às vezes dilacerada por um falso dilema ação-contemplação, sempre foi cultivada no Carmelo, assumindo formas e linguagem diversas conforme o contexto sócio-cultural e eclesial.

UMA POSSÍVEL TIPOLOGIA

            Contemplando o passado e o presente, podemos dizer que na Família do Carmelo o espírito missionário é vivido como:

            - Testemunho-irradiação do estilo de vida: criar novas "colmeias" para recolher o divino mel da contemplação, como se diz em alguns escritos da Idade-Média; ser "espelho", testemunho da divina presença do Deus-Trindade, escrevem nossos místicos.

            - Evangelização ou direta assunção de responsabilidades pastorais: para "salute animarum", para "utilidade do próximo".

            - Proposta de itinerários mistagógicos até à experiência de Deus: é a forma de serviço privilegiada pelos nossos místicos (em particular João da Cruz, João de São Sansão, Miguel de Santo Agostinho, Isabel da Trindade).

            - Formação teológica ou cultural: neste ponto distinguem-se os nossos teólogos e literatos (Geraldo de Bolonha, João Bachonthorp, Miguel Aiguani, Guido de Pisa e outros), assim como os nossos Institutos Apostólicos Femininos.

            - Solidariedade para com os pobres: Ângelo Paoli chamado "Pai-Caridade"; dizia: "Quem ama a Deus deve procurá-lo entre os pobres"; e ainda Maria Ângela Virgili chamada "Mãe-Caridade" e os nossos Institutos Apostólicos Femininos.

            - Promoção da justiça, da paz e do encontro ecumênico: recordemos Pedro Tomás, André Corsini, Aloísio Rabatà, Tito Brandsma.

            Existe na base destas formas de serviço uma constante que a todas atravessa: a atenção pelas situações da Igreja e do mundo, com o fito de ser dentro da Igreja e do mundo uma presença viva, encarnando um aspecto do nosso carisma ou da nossa espiritualidade. Em poucas palavras podemos afirmar que a "koinonia" fraterna e a dimensão contemplativa da vida qualificam o espírito missionário do Carmelo como o modo de ser e de agir na comunidade  eclesial  e  no  mundo,  em vista da construção do Reino de Deus.