"Ele nunca vai fazer isso", dissera-lhe um bispo. E, com efeito, não era óbvio esperar que um papa desse a sua bênção a um objeto tão particular. Só que esse papa se chama Bergoglio. E, quando ele se encontrou diante dele e lhe explicaram o que era – um báculo feito com o latão de uma das maiores favelas do mundo, com a hóstia consagrada na parte de cima, para ser levado por toda a parte, com um pontal para plantá-lo no chão e poder dizer todas as vezes: "A Igreja está aqui", e em cada etapa deixar um sacrário feito também com o metal das piores favelas do mundo, do Haiti ao Brasil, cujo metal será transformado justamente em tabernáculo pelos detentos da prisão de Opera – Bergoglio demorou um segundo: "Sigam em frente", disse, fazendo sobre ele o sinal da cruz. A reportagem é de Paolo Foschini, publicada no jornal Corriere della Sera, 03-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Parece um gesto pequeno, mas é um novo passo na revolução que Bergoglio realiza na Igreja. Com a colaboração, cada vez mais, dos leigos.
Este último "sinal" que o papa abençoou, precedido por um imprimatur teológico de Dom Pierangelo Sequeri no L’Osservatore Romano, também nasceu de uma fundação laica como a Casa dello Spirito e delle Arti, fundada por Arnoldo Mosca Mondadori. A mesma que, há dois anos, comoveu Bergoglio às lágrimas com a cruz de Lampedusa, cuja madeira provém das barcaças dos migrantes afundadas e que os voluntários carregam desde então ao redor do mundo (agora está em Modena; próxima etapa, Barcelona). A mesma que deu origem em Milão à Orquestra dos Povos, composta por jovens que a música salvou das ruas. A mesma que, novamente na prisão de Opera, confiou aos detentos a produção de partículas para a missa, feita por "mãos que mataram". Agora isso.
"O ponto de partida – explica Mosca Mondadori – é um número que sempre deveríamos ter à nossa frente, mas, ao contrário, sempre removemos: um bilhão de pobres absolutos no mundo. Como torná-los visíveis em um símbolo que, ao mesmo tempo, represente a Igreja? Pensamos no latão dos seus barracos. E o usamos para dar uma ‘casa’ para Cristo: um ostensório montado em um báculo construído com o latão de Kibera, um milhão de pessoas amontoadas nos arredores de Nairóbi, na maior favela da África subsaariana. O ostensório vai viajar em uma espécie de corrida de revezamento, de diocese em diocese, na Itália e no mundo."
Mosca Mondadori o plantou no chão na frente do papa na audiência dessa quarta-feira, na Praça de São Pedro.
Realizado pelo artista Giovanni Manfredini, ele será acompanhado pelos sacrários feitos (se a proposta seguir em frente) com o mesmo material proveniente de outras favelas do planeta que já começaram a chegar à Opera. Nas várias dioceses, eles serão montados ao ar livre, fora das igrejas, para "fazer com que a Igreja se abra e possa dizer ‘a Igreja está aqui’ onde quer que haja sofrimento, humanidade, amor". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br