Santuário de Medjugorje acabou debaixo da lupa do Papa Bergoglio. Será um bispo polonês, um dos mais conservadores, Henryk Hoser – com um passado como missionário na África e como membro da Propaganda Fide –, que jogará luz sobre as atividades pastorais e econômicas ligadas à realidade religiosa europeia mais misteriosa. “Eu aceitei uma missão nada fácil”, comenta o religioso. A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 12-02-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Há décadas, nos arredores de Medjugorje, chocam-se visões opostas, bispos céticos sobre as aparições de Nossa Senhora, freis rebeldes e suspensos a divinis, videntes que se consideram enviados pela Providência, curas nunca verificadas, e até mesmo pessoas que arruinaram a visão olhando para o sol.

O mandato

Tecnicamente, Hoser é um visitador, mas, de fato, é um inspetor com um mandato bem específico: redigir um relatório abrangente sobre o funcionamento do santuário, sobre as suas atividades pastorais, sobre as suas receitas econômicas e tudo gira em torno delas, do negócio dos hostels – que brotaram como fungos nas últimas décadas – às agências de viagens religiosas, até chegar, naturalmente, a verificar como os sacerdotes acolhem as multidões que chegam abundantemente à cidadezinha bósnia perto de Mostar. 

Mas não caberá ao inspetor papal investigar as aparições. Para isso, já existe o longo relatório da comissão do cardeal Ruini, entregue ao Papa Ratzinger há cinco anos. Antes de poder dar a última palavra definitiva sobre a veracidade das aparições, o Papa Bergoglio (que herdou o relatório de Ruini, mas ainda não o divulgou) quer ver claramente e, justamente para isso, precisa de uma intervenção super partes e inflexível como a do bispo de Varsóvia, Hoser. 

O fluxo de peregrinações começou sob o comunismo, em 1981, quase às escondidas. Na época, em Medjugorje, não havia nada. Depois, ela progressivamente se expandiu, até assumir uma importância enorme para a Igreja. Para além do ceticismo, o santuário bósnio atesta uma realidade religiosa extensa demais para ser fechada ou redimensionada através de um parecer negativo. A religiosidade popular transformou aquela árida colina de entulhos em um lugar de conversões e curas.

Em 1991, os bispos da Iugoslávia assinaram em Zara uma prudente declaração para tomar distância: “Com base nas pesquisas realizadas até aqui, não é possível afirmar que se trata de aparições e fenômenos sobrenaturais”.

Os videntes

Os seis videntes principais (aos quais se somaram posteriormente outros dois) afirmam ver Nossa Senhora e falar com ela. Eles a descrevem sobre uma nuvem, com um rosto sorridente, as sobrancelhas bem cuidadas, um vestido de túnica cinza-azulado. 

Em 1981, eles eram todos adolescentes. Hoje, são casados, têm filhos, vivem perto do santuário, e diz-se que gerenciam indiretamente hotéis e outras atividades econômicas. 

Miriana vê Nossa Senhora no dia 18 de março de cada ano. Jakov, a cada Natal. Marija, Vicka e Ivan têm visões mais frequentes. Essas aparições marianas são recordes e vão entrar para a história como as mais longas e as mais frequentes jamais ocorridas. 
Para alguns dos videntes, a Nossa Senhora, por um certo período, aparecia todos os dias, independentemente do lugar onde se encontrassem. Até mesmo a bordo de aviões. 
Sobre esse tema, a Igreja se dividiu. Wojtyla tomou tempo, Ratzinger dispôs uma investigação, e agora o Papa Francisco deverá enfrentar a questão. Em algumas ocasiões, ele mesmo se mostrou cético: Nossa Senhora não é carteira. 

“A Nossa Senhora não é a chefe de uma agência dos correios que, a cada dia, manda uma carta diferente, dizendo: ‘Meus filhos, façam isto e, depois, no dia seguinte, façam aquilo’. Não, não essa. A Nossa Senhora verdadeira é aquela que gera Jesus no nosso coração. Essa moda da Nossa Senhora superstar, como uma protagonista que coloca a si mesma no centro, não é católica.”

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br