A liturgia deste domingo ensina-nos onde encontrar Deus. Garante-nos que Deus não se revela na arrogância, no orgulho, na prepotência, mas sim na simplicidade, na humildade, na pobreza e na pequenez.

No Evangelho, Jesus louva o Pai porque a proposta de salvação que Deus faz aos homens (e que foi rejeitada pelos “sábios e inteligentes”) encontrou acolhimento no coração dos “pequeninos”. Os “grandes”, instalados no seu orgulho e auto-suficiência, não têm tempo nem disponibilidade para os desafios de Deus; mas os “pequenos”, na sua pobreza e simplicidade, estão sempre disponíveis para acolher a novidade libertadora de Deus.

EVANGELHO DE MATEUS 11, 25-30: Atualização para a nossa vivência.

Na verdade, os critérios de Deus são bem estranhos, vistos de cá de baixo, com as lentes do mundo… Nós, homens, admiramos e incensamos os sábios, os inteligentes, os intelectuais, os ricos, os poderosos, os bonitos e queremos que sejam eles (“os melhores”) a dirigir o mundo, a fazer as leis que nos governam, a ditar a moda ou as ideias, a definir o que é correto ou não é correto. Mas Deus diz que as coisas essenciais são muito mais depressa percebidas pelo “pequeninos”: são eles que estão sempre disponíveis para acolher Deus e os seus valores e para arriscar nos desafios do “Reino”.

Quantas vezes os pobres, os pequenos, os humildes são ridicularizados, tratados como incapazes, pelos nossos “iluminados” fazedores de opinião, que tudo sabem e que procuram impor ao mundo e aos outros as suas visões pessoais e os seus pseudo-valores… A Palavra de Deus ensina: a sabedoria e a inteligência não garantem a posse da verdade; o que garante a posse da verdade é ter um coração aberto a Deus e às suas propostas (e com frequência, com muita frequência, são os pobres, os humildes, os pequenos que “sintonizam” com Deus e que acolhem essa verdade que Ele quer oferecer aos homens para os levar à vida em plenitude).

Como é que chegamos a Deus? Como percebemos o seu “rosto”? Como fazemos uma experiência íntima e profunda de Deus? É através da filosofia? É através de um discurso racional coerente? É passando todo o tempo disponível na igreja a mudar as toalhas dos altares? O Evangelho responde: “conhecemos” Deus através de Jesus. Jesus é “o Filho” que “conhece” o Pai; só quem segue Jesus e procura viver como Ele (no cumprimento total dos planos de Deus) pode chegar à comunhão com o Pai.

Há católicos que, por terem feito catequese, por irem à missa ao domingo e por fazerem parte do conselho pastoral da paróquia, acham que conhecem Deus (isto é, que têm com Ele uma relação estreita de intimidade e comunhão)… Atenção: só “conhece” Deus quem é simples e humilde e está disposto a seguir Jesus no caminho da entrega a Deus e da doação da vida aos homens. É no seguimento de Jesus – e só aí – que nos tornamos “filhos” de Deus.

Cristo quis oferecer aos pobres, aos marginalizados, aos pequenos, a todos aqueles que a Lei escravizava e oprimia, a libertação e a esperança. Os pobres, os débeis, os marginalizados, aqueles que não encontram lugar à mesa do banquete onde se reúnem os ricos e poderosos, continuam a encontrar – no testemunho dos discípulos de Jesus – essa proposta de libertação e de esperança? A Igreja dá testemunho da proposta libertadora de Jesus para os pobres? Como é que os pequenos e humildes são acolhidos nas nossas comunidades? Como é que acolhemos aqueles que têm comportamentos social ou religiosamente incorretos?

EXEMPLOS DE ONTEM QUE NOS FALA HOJE... (Frei Petrônio de Miranda, O. Carm).

1-Maria de Nazaré era mais uma “MARIA”, entre várias Marias de rostos anônimos. Ela era inexpressiva, o seu povoado-lugarejo não tinha importância política ou econômica nenhuma. Hoje é impossível falar na história da salvação e em Jesus Cristo sem lembrar da “inexpressividade” da jovem de Nazaré.  Aliás, a verdade é que nenhum profeta nunca tinha dito que Jesus viria de Nazaré e muito menos que tal local geográfico tivesse expressividade.

2-Quando a irmã Teresinha do Menino Jesus morreu, uma freira que morava em seu convento falou: “O que a madre vai falar dessa feira no futuro, ela não fez nada. Nada! ”. Hoje, esta freira que “não fez nada”, é Doutora da Igreja e Padroeira das Missões.  

3-Na madrugada do dia 6 de maio desse ano (2017), morreu aqui na Lapa, Rio de Janeiro,  a travesti Luana Muniz. Ela era conhecida por acolher travestis, transexuais, portadores de HIV, prostitutas e pessoas em situação de rua em um casarão na Rua Mem de Sá. 

4-São João Maria Vianney, o “cura D'Ars”- Padroeiro dos Párocos- foi enviado para um pequeno povoado francês justamente por ser considerado um padre sem grandes expressividades ou, em outras palavras, pouco inteligente. Lá, justamente lá, naquele povoado atraiu multidões para a confissão e orientação espiritual.

5- Quem “botava fé” no então eleito Papa João XXIII? No entanto, foi com esse “João ninguém” que a igreja virou de cabeça baixo com o chamado Vaticano II. E O Papa Francisco- O Papa do “fim do mundo”? Quanta inovação e transformação nos métodos e no olhar da Igreja para temas polêmicos do nosso dia a dia?

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