Comentário do Frei Petrônio de Petrônio, Padre Carmelita e Jornalista/RJ.
Como compreender o Evangelho do 17º Domingo do Tempo Comum (Mt 13, 44-52) na era digital e da lucratividade da religião? Hoje, o nome JESUS, DEVOÇÃO, NOSSA SENHORA... É rentável, gera lucro... Escolher o reino, digo, a vocação sacerdotal ou religiosa é muitas vezes- quase sempre- ter o futuro garantido em uma ordem religiosa, comunidade de vida, diocese, arquidiocese ou congregação. E como não falar dos Padres e Pastores midiáticos PopStar que, em nome de Jesus- e da religião- tem a sua lucratividade diária? Aliás, alguns (as) são patrocinados pela grande mídia ou pela “TV Católica” que constroem verdadeiros impérios da comunicação em nome de Jesus Cristo. E mais! O que dizer de algumas instituições que em nome dos pobres e de Jesus Cristo aumentaram a sua conta bancária? Será de fato o Jesus do Evangelho desse domingo? Para não radicalizar, acho que a palavra VALOR é o caminho para o olhar desse domingo. Mesmo sabendo que o JESUS DE HOJE GERA LUCRO, usamos dos bens adquiridos EM NOME DE JESUS para construir pontes onde os marginalizados e esquecidos da sociedade possam passar ou construímos muros?
Quais são os nossos valores?
A liturgia deste domingo convida-nos a refletir nas nossas prioridades, nos valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere, especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus.
A primeira e mais importante questão abordada neste texto é a das nossas prioridades. Para Mateus, não há qualquer dúvida: ser cristão é ter como prioridade, como objetivo mais importante, como valor fundamental, o Reino.
O cristão vive no meio do mundo e é todos os dias desafiado pelos esquemas e valores do mundo; mas não pode deixar que a procura dos bens seja o objetivo número um da sua vida, pois o Reino é partilha. O cristão está permanentemente mergulhado num ambiente em que a força e o poder aparecem como o grande ideal; mas ele não pode deixar que o poder seja o seu objetivo fundamental, porque o Reino é serviço.
O cristão é todos os dias convencido de que o êxito profissional, a fama a qualquer preço são condições essenciais para triunfar e para deixar a sua marca na história; mas ele não pode deixar-se seduzir por esses esquemas, pois a realidade do Reino vive-se na humildade e na simplicidade.
O cristão faz a sua caminhada num mundo que exalta o orgulho, a auto-suficiência, a independência; mas ele já aprendeu, com Jesus, que o Reino é perdão, tolerância, encontro, fraternidade… O que é que comanda a minha vida? Quais são os valores pelos quais eu sou capaz de deixar tudo? Que significado têm as propostas de Jesus na minha escala de valores?
Comentário de Johan Konings, SJ
Renunciar não está na moda, é contrário à economia do mercado, ao consumo irrestrito... O Evangelho, porém, mostra a atualidade eterna da renúncia. E para entender isso melhor, a liturgia nos lembra primeiro o exemplo de Salomão. Quando Deus o convidou para pedir o que quisesse, ele não escolheu poder e riqueza, mas, sim, sabedoria, para julgar com justiça (1ª leitura).
Comentário de Enzo Bianchi, Monge italiano fundador da Comunidade de Bose.
A parábola é simples, muito compreensível, porque “a outra coisa” significada pelo tesouro é justamente o reino dos céus, a única realidade que justifica a venda de tudo o que se tem para poder tomar parte nele, como Jesus afirma mais adiante, dirigindo-se a um jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (Mt 19, 21). Do mesmo modo, aqui Jesus revela ao ouvinte da época, assim como a nós hoje, que o reino de Deus é o tesouro que não tem preço, e, justamente por isso, a fim de adquiri-lo, é preciso se despojar de todos os bens, as riquezas, as propriedades.
De fato, se estas são uma presença na vida do ser humano e reinam sobre ele, impedem precisamente que Deus reine (Mt 6, 24: “Não podeis servir a Deus e a riqueza”. Além disso, ainda no Sermão da Montanha, Jesus tinha advertido com clareza: “Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde os ladrões assaltam e roubam. Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6, 19-21).
Comentário de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
No encontro que Francisco teve no ano de 2016 com 200 pobres, deficientes e doentes na Sala Paulo VI, assegurou-lhes que eles são o tesouro da Igreja. Exortou-os a “conservar a coragem e, em meio à angústia, conservar a alegria e a esperança”. “Estejam seguros de que a provação e o sofrimento não durarão para sempre, porque nós acreditamos em um Deus que repara todas as injustiças, que consola todas as penas e sabe recompensar aqueles que confiam Nele”. “O tesouro da Igreja são os pobres, disse o diácono romano São Lorenzo”, afirmou o Papa de maneira improvisada. É “uma missão que somente vocês, desde sua pobreza, serão capazes de realizar”.
São Lorenzo e o tesouro da Igreja: Uma história piedosa.
No ano 257, (século III), num dos tempos das perseguições do Império Romano, o imperador Valeriano decretou a perseguição aos cristãos. E, a 6 de agosto do ano seguinte, o Papa Sisto II foi detido e decapitado, juntamente com quatro dos seus companheiros diáconos, com exceção de Lourenço, diácono. De acordo com a tradição, quando Sisto era conduzido ao local da execução, Lourenço ia junto a ele e chorava, clamando: “Aonde vai sem o seu diácono, pai?”. O Pontífice respondeu-lhe que não o abandonava e que, dentro de três dias, o diácono teria igual sorte.
Após a execução de Sisto, o imperador intimou, através do prefeito Cornelius Saecularis, a Igreja a declarar as suas riquezas. Chamado à presença do prefeito, Lourenço solicitou um prazo, passado o qual tudo entregaria, mas adiantando que a Igreja era muito rica e que a sua riqueza ultrapassava a do imperador. O prefeito concedeu um prazo de 3 dias. E Lourenço reuniu os cegos, coxos, aleijados, toda a sorte de enfermos, as crianças e os idosos – enfim, as pessoas que eram auxiliadas pela Igreja e os fiéis cristãos – e anotou-lhes os nomes.
Passado o prazo imperialmente prescrito, Lourenço levou ao imperador aqueles nomes e um conjunto significativo daquela ordem de pessoas e gritou a frase que lhe valeu a morte: “Estes são o tesouro da Igreja”. Furioso e indignado, o imperador mandou prendê-lo para ser queimado vivo em cima de uma grelha sobre um braseiro ardente. A tradição diz que o mártir conservou o seu bom humor, mesmo durante a execução, dizendo aos verdugos: “podeis virar-me agora, pois este lado já está bem assado”.
Diz Santo Agostinho que o grande desejo que Lourenço tinha de se unir a Cristo fez com que esquecesse os tormentos da tortura e que Deus operou muitos milagres em Roma por sua intercessão. (LEIA A REFLEXÃO NA ÍNTEGRA. CLIQUE AO LADO- EVANGELHO DO DIA)