Sair do armário. Isso é o que o Padre James Martin SJ incentiva os padres gays a fazerem. O jesuíta americano de renome e também conselheiro da Secretaria para a Comunicação do Vaticano acredita que o exemplo destes sacerdotes homossexuais ao divulgar sua sexualidade "ajudaria a mostrar aos católicos comuns como uma pessoa gay é e como os homossexuais podem viver de forma casta". A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 09-07- 2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Em uma entrevista com a CNN, Martin apresentou seu novo livro, cujo título se traduz ao português como Construindo Pontes: como a Igreja Católica e a comunidade LGBT podem adentrar em uma relação de respeito, compaixão e sensibilidade.
Ele também refletiu sobre "a enorme mudança" que está ocorrendo na Igreja em termos de aceitação - e já não mais de rejeição - de pessoas gays: uma mudança atribuída ao exemplo de prelados como o Cardeal Joseph Tobin, Arcebispo de Newark, ou o próprio Papa Francisco.
"Há duas razões para essa mudança" no sentido de uma hospitalidade mais calorosa das pessoas LGBT na Igreja, assinala Martin.
"Uma é o Papa Francisco. Sua pergunta: 'Quem sou eu para julgar?'; sua reunião pública com Yayo Grassi, seu ex-aluno homossexual, em sua visita papal aos Estados Unidos; seus comentários sobre o Amoris laetitia, que foram usados para permitir que homossexuais praticantes recebam a Comunhão". Mas não foi apenas o próprio pontífice, mas também, - como observa
Martin - o fato de que "os bispos que o Papa Francisco está nomeando nos Estados Unidos são muito mais favoráveis aos LGBTs".
A outra razão que o Padre Martin explica sobre esta abertura cada vez maior na Igreja em direção às pessoas gays é "o aumento do número de católicos LGBTs que estão saindo do armário e fazendo com que as questões LGBTs sejam muito mais importantes para a Igreja em geral". Mas ainda assim, falta uma parte importante da Igreja que não foi tão corajosa - ou que não lhe deixaram mostrar a sua valentia - em reconhecer publicamente suas inclinações afetivas. Exceto, é claro, de algumas exceções heroicas, como a de Krzysztof Charamsa, ex-oficial da Congregação para a Doutrina da Fé.
O jesuíta Martin acredita que há "várias razões" pelas quais os milhares de sacerdotes e religiosos gays e lésbicas não saem do armário. "Um, por que seus bispos ou superiores religiosos lhes pedem para não fazê-lo. Dois, por que temem as represálias de seus devotos. Três, por que temem que isso geraria divisões. Quatro, por que são pessoas reservadas. Cinco, por que eles não estão plenamente conscientes de sua sexualidade", lista o sacerdote, reservando para o final o motivo mais preocupante: por que "as pessoas têm misturado a homossexualidade com pedofilia", de modo que os padres gays "não querem sair do armário por medo de serem rotulados como pederastas".
Será por medo, então, mais do que qualquer coisa, a razão pela qual não conhecemos mais religiosos homossexuais confessos. Mas se os padres homossexuais conseguissem dominar seus medos, opina Martin, eles dariam uma poderosa lição para toda a Igreja.
Se esses padres vencerem seus medos e saírem do armário, diz Martin, "ajudaria a mostrar aos católicos comuns como uma pessoa gay é e como os homossexuais podem viver de forma casta". Mais do que uma injustiça da qual eles precisam se esforçar para viver a sua personalidade de maneira furtiva, para Martin é uma "grande ironia". Ironia porque "estes homens e mulheres estão vivendo exatamente o que a Igreja pede para as pessoas LGBTs - castidade e abstinência - e eles não são permitidos a falar sobre isso". É por isso que Martin esclarece que "eles estão fazendo um grande trabalho sob uma nuvem estranha que nem deveria existir". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br