Frei Carlos Mesters, O. Carm
(Ano Litúrgico-A. Segunda-feira, dia 20)
1) Oração
Senhor nosso Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa, servindo a vós, o criador de todas as coisas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 18, 35-43)
35Ao aproximar-se Jesus de Jericó, estava um cego sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. 36Ouvindo o ruído da multidão que passava, perguntou o que havia. 37Responderam-lhe: É Jesus de Nazaré, que passa. 38Ele então exclamou: Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim! 39Os que vinham na frente repreendiam-no rudemente para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais forte: Filho de Davi, tem piedade de mim! 40Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Chegando ele perto, perguntou-lhe: 41Que queres que te faça? Respondeu ele: Senhor, que eu veja. 42Jesus lhe disse: Vê! Tua fé te salvou. 43E imediatamente ficou vendo e seguia a Jesus, glorificando a Deus. Presenciando isto, todo o povo deu glória a Deus. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* O evangelho de hoje descreve a chegada de Jesus em Jericó. É a última parada antes da subida para Jerusalém, onde será realizado o “êxodo” de Jesus conforme tinha sido anunciado na sua Transfiguração (Lc 9,31) e nos avisos ao longo da caminhada até Jerusalém (Lc 9,44; 18,31-33).
* Lucas 18,35-37: O cego à beira da estrada
“Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo. Disseram-lhe que Jesus Nazareno passava por ali”. No evangelho de Marcos, o cego se chama Bartimeu (Mc 10,46). Por ser cego, ele não podia participar da procissão que acompanhava Jesus. Naquele tempo, havia muitos cegos na Palestina, pois o sol forte que bate na terra pedregosa embranquecida fazia mal aos olhos sem proteção.
* Lucas 18,38-39: O grito do cego e a reação do povo
“Então o cego gritou: "Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!" Ele invoca Jesus sob o título de “Filho de Davi”. O catecismo daquela época ensinava que o messias seria da descendência de Davi, “filho de Davi”, messias glorioso. Jesus não gostava deste título. Citando o salmo messiânico, ele chegou a perguntar: “Como é que o messias pode ser filho de Davi se até o próprio Davi o chama de “meu Senhor” (Lc 20,41-44) ? O grito do cego incomodava o povo que acompanhava Jesus. Por isso, “as pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse quieto. Elas tentavam abafar o grito. Mas ele gritava mais ainda: "Filho de Davi, tem piedade de mim!" Até hoje, o grito dos pobres incomoda a sociedade estabelecida: migrantes, aidéticos, mendigos, refugiados, tantos!
* Lucas 18,40-41: A reação de Jesus diante do grito do cego
E Jesus, o que faz? “Parou, e mandou que levassem o cego até ele. Os que queriam abafar o grito incômodo do pobre, agora, a pedido de Jesus, são obrigados a ajudar o pobre a chegar até Jesus. O evangelho de Marcos acrescenta que o cego largou tudo e foi até Jesus. Não tinha muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para cobrir o seu corpo (cf. Ex 22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Também hoje Jesus escuta o grito calado dos pobres que nós, às vezes, não queremos escutar. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: "O que quer que eu faça por você?" Não basta gritar. Tem que saber por que grita! O cego respondeu: "Senhor, eu quero ver de novo."
* Lucas 18,42-43: “Veja! Sua fé curou você!”
”Jesus disse: "Veja. A sua fé curou você." No mesmo instante, o cego começou a ver e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo louvou a Deus”. O cego tinha invocado Jesus com ideias não inteiramente corretas, pois o título “Filho de Davi” não era muito bom. Mas ele teve mais fé em Jesus, do que nas suas próprias ideias sobre Jesus. Assinou em branco. Não fez exigências como Pedro (Mc 8,32-33). Soube entregar sua vida aceitando Jesus sem impor condições. A cura é fruto da sua fé em Jesus. Curado, ele segue Jesus e sobe com ele para Jerusalém. Deste modo, tornou-se discípulo modelo para todos nós que queremos “seguir Jesus no caminho” em direção a Jerusalém: acreditar mais em Jesus do que nas nossas ideias sobre Jesus! Nesta decisão de caminhar com Jesus está a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a cruz não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a consequência do compromisso de Jesus, em obediência ao Pai, de servir aos irmãos e de recusar o privilégio.
* A fé é uma força que transforma as pessoas
A Boa Nova do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus. A cura do cego esclarece um aspecto muito importante da nossa fé. Mesmo invocando Jesus com ideias não inteiramente corretas, o cego teve fé e foi curado! Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário! A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém. Quem insiste em manter a ideia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender de Jesus e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Quem souber crer em Jesus e fazer a entrega de si (Lc 9,23-24), aceitar ser o último (Lc 22,26), beber o cálice e carregar sua cruz (Mt 20,22; Mc 10,38), este, como o cego, mesmo tendo ideias não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e “seguirá Jesus no caminho” (Lc 18,43). Nesta certeza de caminhar com Jesus está a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz.
4) Para um confronto pessoal
1) Como vejo e sinto o grito dos pobres: migrantes, negros, aidéticos, mendigos, refugiados, tantos?
2) Como é a minha fé: fixo-me mais nas minhas ideias sobre Jesus ou em Jesus?
5) Oração final
Feliz quem não segue o conselho dos maus,
não anda pelo caminho dos pecadores
nem toma parte nas reuniões dos zombadores,
mas na lei do Senhor encontra sua alegria
e nela medita dia e noite. (Sl 1, 1-2)