Boa, reta e santa educação

A escola! O pequeno inicia a escola primária no colégio São José de Merode, em Roma, dirigido pelos Irmãos das Escolas Cristãs, onde já haviam estado seus irmãos maiores.

Naquele tempo a família Van den Eerenbeemt morava no edifício Blumensthil, em frente à velha ponte de Ripetta, e todas as manhãs um velho empregado de casa, de sobrenome Frattani, o acompanhava à escola.

Nos dois primeiros anos de escola, Heitor continua ainda muito tímido e quase não brinca com as demais crianças. Aos poucos, porém, começa a vencer essa inata timidez. Poucas são as recordações desse primeiro período: a figura de um velho Irmão, velho sim, mas muito paciente com seus "pupilos", a quem ensinava francês. E depois, outra recordação: o frio. "... passei muito frio no São José, recordo os arrepios de frio durante o recreio e  minhas mãos cheias de frieiras...".

A partir da 3.ª série, começou a demonstrar maior paixão pelos estudos e a sobressair-se em algumas matérias: o italiano antes de tudo, tendo uma fantasia que deixava perplexos até mesmo os professores, que frequentemente, diante das tarefas dele, declaravam: "Isso não é farinha do seu moinho". Também a língua francesa a estudava bastante bem, revelando uma memória excepcional.

Enquanto fazia muitos progressos nas matérias escolares, não acontecia o mesmo com o estudo do Catecismo, não pela matéria em si, mas pela forma como era ensinado: "... A aridez das fórmulas não explicadas com o amor da alma e o fervor de coração...".

Foi nesse período que fez a preparação para a  primeira Comunhão e a Crisma. Foi um certo Frei Eduardo que foi encarregado da preparação. A celebração, na capela do colégio, foi presidida por S. Eminência, o Cardeal Vicente Vannutelli. Galieno e Vicente Giulliani, sobrinhos desse Cardeal, também eram seus companheiros de primeira comunhão. Mais tarde, Padre Lourenço os reencontrou no Apollinare.

A formação religiosa que recebeu no colégio teve importância fundamental em sua vida, como ele mesmo recorda: "... Que seria da fraqueza humana se não houvesse uma profunda educação religiosa! Agradeço à Providencia por ter-me  proporcionado tantos meios de salvação, mediante a escola católica dirigida pelos Irmãos. Aquelas contínuas e sábias admoestações entraram profundamente em minha alma".

Dos primeiros mestres, os seus “Frères”, conservará para sempre uma reverente recordação, atribuindo-lhes as bases de sua educação religiosa e retidão moral. Poder-se-ia afirmar que o ambiente, tão delicadamente formativo e religioso, exerceu a função de húmus para a sua alma adolescente, preparando o terreno onde mais tarde floresceria a vocação religiosa e sacerdotal.

O episódio que segue realça ainda mais a importância do ambiente religioso em que o pequeno  Heitor viveu os primeiros anos de sua formação para a vida.

Frequentava a 5.ª série quando teve que acompanhar dois senhores franceses, amigos do tio Geraldo, irmão de seu pai, para visitar Roma. Aquele pouco de francês que sabia lhe dava a audácia para superar  sua natureza, tão fortemente tímida, e, com ares de perito cicerone, conduziu esses senhores à Igreja de Santo Andrea delle Fratte e, mostrando o quadro da Imaculada, falou-lhes da visão que teve Ratisbonne. Antes não tivesse dito! Aqueles   senhores pularam alto, dizendo que um rapazinho não deveria crer  em semelhantes bobagens e invenções... Mas aquelas afirmações, longe de intimidá-lo, reforçaram ainda mais sua fé e amor pela Igreja. De fato, ele mesmo, recordando esse episódio, conclui com a seguinte afirmação: "...Devo a Deus a minha fé, mas o instrumento foi a ótima educação religiosa, introjetada, quase diria, até os meus ossos... Eu tinha o máximo respeito pelos meus mestres, e sua palavra era para mim verdade absoluta. Naquela idade juvenil, quanto pode influir a palavra de um mestre! Felizes aqueles que receberam uma boa, reta e santa educação... Agradeço ao Senhor por me ter dado uma fonte de princípios espirituais que na minha vida jamais me abandonaram ".

*Pequena biografia de Padre Lourenço van den Eerembeent, Cofundador da Congregação das Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus. (Irmãs Carmelitas Missionárias- Província Santa Teresa de Lisieux. Uberaba, 1999)