Em nota divulgada neste sábado (17), a Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj) repudia a intervenção militar do governo Federal na segurança pública do Rio de Janeiro, decretada pelo governo de Michel Temer. Para a entidade, o estado precisa de "intervenção social", em vez de militar, com políticas públicas que garantam o desenvolvimento humano e econômico das favelas e seus moradores.

A reportagem é publicada por portal Vermelho, 19-02-2018.

"Precisamos de uma intervenção que nos traga a vida e não a morte", enfatiza um trecho da nota. "O que a favela precisa na verdade é de uma intervenção social, que inclusive contaria com a participação das Forças Armadas. Precisamos de escolas e creches, hospitais, projetos de geração de emprego e renda e políticas voltadas principalmente para juventude".,

A nota destaca ainda que a intervenção não começou na sexta-feira (16), com o decreto de Temer, mas iniciou com as UPP’s (Unidade de Polícia Pacificadora), as operações respaldadas sob a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e PLC 464/2016, que passa para a Justiça Militar a responsabilidade de julgar as violações cometidas pelos integrantes das Forças Armadas em suas intervenções.

"Nesse processo, vale salientar que os investimentos em militarização superam os investimentos em políticas sociais. A ocupação da Maré custou 1,7 milhões de reais por dia perdurando por 14 meses envolvendo 2.500 militares, tanques de guerra, helicópteros, viaturas, sem apresentar resultados efetivos, tanto para as comunidades, quanto para o país. Em contrapartida, nos últimos 6 anos foram investidos apenas 300 milhões de reais em políticas públicas voltadas para o desenvolvimento social", denuncia a entidade.

A Faferj salienta que as Forças Armadas deveriam ser incluídas nas intervenções sociais junto às comunidades, em vez de desviadas de suas verdadeiras funções e passar a fazer o papel de polícia, sem ser treinada para este fim.

"O Exército é uma tropa treinada para matar e atuar em tempos de guerra. As favelas nunca declararam guerra a ninguém. A favela nunca foi e nem jamais será uma área hostil. Somos compostos de homens e mulheres trabalhadoras que, com muita garra e dignidade, lutam pelo pão de cada dia. Somos a força de trabalho que move a cidade e o país", pontua.

A federação reforça que a ocupação de uma parcela das comunidades por marginais ocorre justamente "pela ausência do Estado em políticas públicas que possam garantir o desenvolvimento de nossas favelas".

"Nos últimos 54 anos, a Faferj vem lutando por democracia nas favelas do Rio. Lá a ditadura ainda não acabou. Ainda vemos a polícia invadindo residências sem mandados, pessoas sendo presas arbitrariamente ou até mesmo desaparecimentos, como o caso Amarildo, que repercutiu mundialmente", ressalta outro trecho da nota.

Para a federação, "intervenções militares são caras, longas, e ineficazes".

"Sugerimos que essas tropas sejam movimentadas para patrulharem as fronteiras do Brasil, pois é de conhecimento notório que é de lá que chegam as armas e as drogas que alimentam o comércio varejista de entorpecentes nas comunidades cariocas. Sugerimos também que se faça uma grande intervenção social nas favelas do Rio de Janeiro", frisa.

E finaliza: "Precisamos apenas de uma oportunidade para provar que somos a solução que o Brasil tanto precisa para se desenvolver e tornar-se um país mais justo para todos e todas. Favela é potência! Favela é resistência!". Fonte: http://www.ihu.unisinos.br