Atualmente, 14,8% do efetivo da corporação no estado é formado por mulheres

Foi em um jornal que Maria Cleydi Milanezi, 48 anos, viu o anúncio de uma oportunidade que viria a ser sua carreira para o resto da vida. Há 29 anos, quando tinha 19, ela viu uma propaganda do concurso da Polícia Militar da Bahia (PM-BA) para a primeira turma de policiais femininas do estado e fez a prova. Hoje, a major Milanezi é a primeira mulher a comandar uma Companhia Independente no estado.

Mas, conquistas pessoais à parte, mesmo 28 anos após o início da admissão de mulheres na PM-BA, o número de policiais femininas na corporação representa apenas 14,8% do total. Milanezi é uma das 4.500 mulheres, oficiais e praças, que compõem a corporação da PM-BA. Atualmente, segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), a PM tem pouco mais de 30 mil integrantes.

A representatividade feminina na PM ainda é baixa em comparação ao número de homens. Mas destaca-se entre outros segmentos da sociedade. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou um compilado de dados sobre a atuação das mulheres em diversas áreas de trabalho em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.

Nesse compilado, o último levantamento sobre a participação das mulheres na Polícia Militar baiana feito pelo IBGE, em 2013, mostra que o estado é o terceiro do país com o maior percentual de mulheres policiais do Brasil. Há cinco anos, a PM baiana possuía um efetivo de 31.039 policias dos quais 13,9% (4.325) eram mulheres.

No comparativo entre as duas policias, a militar e a civil, a Bahia ocupava o oitavo lugar no ranking nacional em 2013, com 5.658 (15,4%) policiais mulheres em um universo de 36.699 policiais das duas corporações. No Brasil todo, as mulheres eram, naquele ano, 72.843 (13.4%), de um total de 542.890 policiais.

Esforço
Quase três décadas depois do primeiro concurso para PFem (Policial Feminino), a diferença entre mulheres e homens nas corporações vai além dos números. A queixa de que elas se esforçam mais do que eles para serem reconhecidas no mercado de trabalho também é constante entre as policiais.

“Sou testada e acho que tenho que dar um pouco mais do que os comandantes masculinos”, diz Milanezi.

“Quando a primeira turma entrou, com o efetivo de 108 mulheres, a corporação tomou um susto. Já imaginou uma empresa com mais de 160 anos de tradição inteiramente masculina e, de um dia para o outro, algumas mulheres entram? Uns não sabiam nem como agir, porque ficavam na dualidade de mulher e policial. Nós fomos cobaias”, acrescenta.

Primeira mulher a comandar uma CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar) na Bahia, Milanezi acredita que a trajetória das mulheres na corporação, até hoje, é uma “guerra vencida”. “Foi algo que deu certo. Eu esperei 26 anos para comandar uma CIPM. Eu queria muito estar lá. Esse ano eu fecho 28 anos de corporação e vejo que a gente ocupou exatamente os lugares que queríamos ter ocupado. Para mim era uma angústia porque pensava que se o meu comando desse certo, todas comandariam, mas se desse errado, nenhuma comandaria”, pondera.

Nascida e criada no Nordeste de Amaralina e com uma infância difícil, foi procurando uma oportunidade de emprego que Silvana de Jesus Mendes, 41, entrou na corporação. “Eu fiz diversos concursos e me inscrevi para sargento. Eram 47 vagas e eu passei”, conta. Ela credita seu sucesso aos estudos. Hoje, Silvana passou a ser chamada de Aspirante Silvana, após a formatura no Curso de Formação de Oficiais Auxiliares (CFOA), na semana passada.

Silvana sentiu preconceito por ser mulher quando entrou na PM-BA. 

“Quando entrei, nós éramos poucas. Entrei como sargento e já comandava, era difícil me impor para a tropa e para a sociedade. As pessoas não respeitavam quando a gente abordava, determinava alguma ordem, então foi complicado. Era matar um leão por dia, e continua sendo”, relembra.

A aspirante também acredita que tem que se esforçar mais no trabalho por ser mulher. “A nossa vida é mais intensa do que a do homem, no sentido das tarefas desempenhadas ao todo. A gente tem uma jornada de trabalho normal e quando voltamos para a casa, tenho filhas. Temos que nos dividir entre armas, livros, conflitos dos filhos, panelas e administração do lar e tudo isso pesa muito para você enquanto mulher e enquanto policial”, enumera.

Para ela, na corporação ainda há preconceito com as mulheres. “Se você comete um erro, é porque é mulher, porque estava com medo e resistiu. Se você é homem, o erro aconteceu e ponto”, lamenta. Indo servir na 11ª CIPM - Barra, Silvana já formou outras mulheres no centro de formação de praças, já comandou viaturas no interior e serviu o batalhão de guardas.

Silvana tem duas filhas, gêmeas, de 14 anos, que também querem seguir a profissão de policial. Elas estudam no Colégio da Polícia Militar (CPM) e almejam seguir os passos da mãe. “Elas querem ser policiais, mas eu resisto um pouco a isso justamente pelo grau de exigência que uma mulher policial enfrenta. Eu não tenho essa vontade de que elas sigam a trajetória porque não é fácil e a gente sempre quer o melhor e menos doloroso para os nossos filhos”, acrescenta.

“Quando abriu o concurso, eu não perdi a oportunidade. Fiz a prova e graças a Deus, consegui. É uma conquista diária, até porque eu sou a única mulher no pelotão tático, que trabalha com confronto. E sou a segunda mulher em 18 anos a entrar lá", analisa.

A soldado afirma que tem que demonstrar mais força e garra no seu dia-a-dia para ser respeitada. Ela ingressou na polícia em uma turma exclusiva de mulheres. Eram 45 ao todo. “Todos ficavam questionando se a gente ia dar conta e hoje todas estão em posições que almejaram”, comemora.

Apesar de todas as dificuldades, Luísa acredita que as mulheres podem fazer qualquer função dentro da polícia, e destaca que pode exercer até muito melhor que os homens, caso treine. “O que me motiva é realmente o apreço pela função, eu estou exercendo algo que eu gosto de fazer. Trabalhar como PM é um serviço prazeroso para mim”, afirma.

Fonte: http://www.correio24horas.com.br