Um mês após a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, vários pontos do Rio de Janeiro amanheceram com homenagens para os dois. Intituladas “Amanhecer por Marielle e Anderson”, as ações essão organizadas pelo PSOL, partido da vereadora, e por movimentos sociais, e começaram ainda na madrugada. Além do município, grupos vão se reunir em Buenos Aires, na Argentina; e Budapeste, na Hungria; em Lisboa, em Portugal; e Gotemburgo, na Suécia.
Pouco antes das 6h, os primeiros participantes do ato em homenagem à parlamentar e seu motorista chegaram ao Largo do Machado, na Zona Sul. Eles colaram cartazes coloridos com frases de protesto - como "Lute como uma Marielle" e "Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?" - e encheram os balões, antes de pendurá-los em diversos pontos. A praça foi uma das ocupadas pela família, amigos e outras pessoas que quiseram homenagear a parlamentar e o motorista.
Por volta das 7h30, o grupo reunido cantava: "Marielle perguntou, eu também vou perguntar: quantos mais vão morrer, para essa guerra acabar?", além das frases "Marielle, presente" e "Anderson, presente".
Durante o ato no Largo do Machado, o deputado Marcelo Freixo disse que os crimes foram uma tentativa de calar a democracia:
— A ideia de pulverizar o ato em diversas praças é para que o maior número de pessoas possa participar e levar suas famílias. É uma resposta de afeto. Queremos justiça, não vingança. Esse foi um dos crimes mais complexos da política carioca, e queremos saber quem matou e quem mandou matar Marielle — afirmou Freixe, que informou que a viúva de Anderson, Mônica Benício, não participará dos atos deste sábado, porque não está com condições emocionais.
Vestida com uma blusa com a mensagem "Lute como Marielle", Anielle Silva, irmã da vereadora assassinada, contou que a mãe está devastada com a morte.
— Nenhuma mãe espera enterrar o filho. As demonstrações de carinho acalentam o coração dela, mas não trazem de volta — constatou.
Mais uma vez, Anielle disse que quer honrar o legado da irmã, porém, não pensa em começar na vida política.
— Eles erraram muito com esses tiros. Mexeram com um formigueiro. Eu sou da área da educação, não tenho intenção de vir como candidata, mas de criar uma fundação ou ONG.
Anielle e Freixo demonstraram confiança nas investigações realizadas pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil:
— Muito mais de quem fez, queremos saber quem mandou fazer — disse Anielle.
Pré-candidato à presidência, Guilherme Boulos também lamentou a barbaridade dos assassinatos.
— Quem teve essa atitude bárbara não conseguiu matar tudo que era Marielle. As ideias permanecem, e a homenagem que temos que prestar é seguir com as ideias. Quem diria que a gente seguiria tendo crimes políticos. Defender sua memória significa defender a democracia. Marielle vai estar sempre presente — decretou.
Moradora de Quintino, na Zona Norte, a personal organizer Deborah Nascimento, de 33 anos, fez questão de homenagear a memória de Marielle:
- Ela foi meu primeiro voto consciente e era incrível. Ela me representava, como mulher e negra. Não sou homossexual ou moradora de favela, mas são pautas importantíssimas para a nossa cidade e causas que eu também apóio. É muito revoltante saber que o assassinato não foi solucionado. Agora, mais importante de saber quem atirou é saber quem planejou um crime assim.
Já na Tijuca, o ato foi realizado na praça Seans Pena. Fitas em tom vermelho foram colados nas árvores e outras de diversas cores decoravam cordas, onde estavam pendurados cartazes com fotos de Marielle e Anderson, além de mensagens como "Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?", "Não calarão a nossa voz" e "favela é cidade". O deputado federal Chico Alencar (Psol) é um dos que estavam na manifestação. Para ele, o amanhecer em homenagem a Marielle e Anderson é uma forma de cobrar uma solução para o crime e também não deixar que ele caia no esquecimento.
— A péssima tradição da violência política no Brasil é a não apuração dos casos, homicídios, atrocidades, das chacinas. É recorrente ao longo da vida brasileira. Então, nesse primeiro mês desse profundo vazio e dor, estamos amanhecendo em diversas praças do Rio, do Brasil e em alguns lugares do mundo, para gritar que não aceitamos que o caso caia no esquecimento. Mas a gente quer apuração, queremos saber quem matou, quem mandou matar, que elos têm com aparatos de estado. Não vamos aceitar que esse crime fique impune. Porque quando uma polícia séria e investigava quer, ela descobre — disse ele.
Chico elogiou o fato de tantas pessoas diferentes, sobretudo jovens, estarem no ato na Seans Pena. Além de colocarem os adereços no local, também bradaram "Marielle, Presente" e "Anderson, Presente".
— Dialética da vida. A morte não é ter a última palavra. Você vê que a maioria aqui são de jovens, têm crianças e tem essa beleza toda que dá esperança na gente. Pessoal acordou bem cedinho para fazer valer a vida. É uma bela homenagem. Agora, a melhor maneira de homenagear os nossos queridos que se foram é continuar as lutas da Marielle. Isso aqui é maravilhoso — completou Alencar.
O vereador João Batista Oliveira de Araújo, o Babá, suplente que assumiu a cadeira de Marielle na Câmara, também esteve na manifestação, e afirmou que dará continuidade às pautas da colega.
— Não tem outra forma melhor de acompanhar esse processo do que também, junto com a bancada, dar continuidade às lutas que Marielle vinha implementando, com relação a mulher negra, os LGBTs, os jovens, uma grande preocupação dela é de todos. Para que o jovem negro não continue sendo morto em favelas. É uma batalha que temos que travar — disse ele, que acrescentou estar assumindo o posto com calma e que fará seu primeiro pronunciamento na próxima terça- feira. Fonte: https://extra.globo.com