Ela acha que o pai não está soterrado e reclama da falta de interesse das autoridades

BRUMADINHO (MG) —  No terceiro dia depois da tragédia do Córrego do Feijão, emBrumadinho (MG), familiares de pessoas que trabalhavam na mina da Vale reclamam da dificuldade de informações e da demora até mesmo de incluir nomes de desaparecidos nas listas oficiais. Gisele Santana Loures, 22 anos, disse que o celular de seu pai ainda toca e recebe mensagens. Para ela, pode ser um indício que ele pode estar machucado, mas não morto ou soterrado.

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— O celular do meu pai não está soterrado. Ele pode estar em algum lugar, precisando de ajuda, mas eles não querem essa informação que eu tenho para dar — diz Gisele.

Sebastião Santana Loures, o pai de Gisele, tem 58 anos e trabalhava como motorista da Della Volpi, uma das terceirizadas da Vale. A última mensagem que ele trocou por whatsapp com a família foi as 12h19 de sexta-feira. Mas Gisele acredita que ele pode não ter morrido porque o celular toca e recebe mensagens.

— A bateria pode estar quase acabando, mas o celular está ligado. Meu pai não tinha qualquer problema de saúde e era muito esperto. Se ele percebeu alguma movimentação na barragem ele conseguiu correr — diz a jovem.

Gisele disse que só no sábado incluiu o nome do pai na lista de desaparecidos e que a empresa Della Volpi não tem outras informações. 

- Eles têm a mesma informação que eu. Queria que usassem os dados da rede de celular para tentar achar meu pai, mas ninguém dá atenção - afirma Gisele.

Gisele mandou uma mensagem agora para o pai, às 12h47 deste domingo, e a resposta da rede é que a mensagem foi entregue.

Desabrigado pela segunda vez

Davi Laurindo Pereira,  39 anos, é um sobrevivente. Na sexta-feira, estava em casa com a mulher e os dois filhos, Isabela, 18 anos, e Iraci, um garoto de 13, quando a barragem desabou. Ao ouvir o estrondo, na hora do almoço, correram para um morro próximo. A família se salvou,mas perdeu tudo. Sem teto, Davi procurou abrigo na casa de parentes.

Na madrugada deste domingo, a sirene tocou pela primeira vez - e pela segunda vez Davi, a mulher e os filhos tiveram de sair às pressas. 

Eram quase 10h da manhã e o grupo estava num posto de saúde de um bairro na área rural de Brumadinho, ainda sem saber onde ir. 

— Hoje teve sirene. No dia que precisou nao teve nada — reclamava Davi.

Elaine Alves Teixeira, de apenas 15 anos e com a filha de 6 meses no colo, também aguardava para onde ir. Mora num cômodo da casa da mãe, Maria Pinheiro, de 41 anos, que hoje teve de ser evacuada por estar em área de risco do Rio Parauapeba.

— A água ainda não chegou. Estou aqui esperando para ver o que vão mandar a gente fazer — dizia Elaine.

Maria se conforma: 

— Não tem outro jeito, não tem o que fazer. Fonte: https://oglobo.globo.com