Gabriel Chiarelli, de 22 anos, decidiu expor sua situação aos motoristas depois de dez meses de desemprego que o levaram a abrir mão da faculdade de direito.
Por EPTV 2
Desde que perdeu o emprego há dez meses, Gabriel Chiarelli de Oliveira, de 22 anos, não desistiu. Bateu de empresa em empresa em Ribeirão Preto (SP), mas, sem a resposta esperada, precisou sacrificar a faculdade de direito que havia acabado de começar.
Ainda assim, não deixou se abater e decidiu chamar atenção. Imprimiu currículos e passou a distribui-los em semáforos na zona sul da cidade, ao mesmo tempo em que recorreu a uma mensagem com seu telefone e um apelo escrito em cartolina: "Não quero dinheiro, preciso de um trabalho. Você pode me ajudar?"
Com sonho de voltar a estudar, de ter condições para comprar uma moto e de sustentar, Gabriel atualmente tem contado com a ajuda da avó por conta da falta de dinheiro. Ele tem esperanças de que alguém vai atender seu chamado em breve e não está nem perto de desistir.
"Essa ideia não foi minha. Eu pesquisei na internet e usei outras pessoas como inspiração. Essas pessoas conseguiram, eu também vou conseguir. Se tem alguma pessoa desempregada, não custa fazer isso que fiz. Não vai cair um braço, não vai cair uma perna por ficar segurando um papel esperando alguém te ajudar. E tem muitas pessoas de bom coração que ajudam", diz.
Um dos 13,4 milhões de desempregados em todo o país, Gabriel está em uma das faixas etárias mais afetadas pela falta de oportunidades. No Estado de São Paulo, três em cada dez jovens estão sem trabalho.
Segundo o economista Luciano Nakabashi, os mais novos geralmente são os primeiros a sentir as consequências de uma recessão econômica por fatores como a falta de experiência. A qualificação, no entanto, é a melhor saída para obter mais chances, afirma.
"Quando a gente pega esse momento de crise que o Brasil atravessou que foi muito forte e essa recuperação lenta que quase não gera vagas, é muito mais difícil para quem não tem experiência, mais ainda se colocar no mercado de trabalho. Acho que esse período especificamente para os jovens está sendo muito ruim. Já é mais difícil naturalmente pela questão da experiência, mas nesse momento, com essa crise tão forte, acaba sendo ainda mais difícil para eles se colocar no mercado de trabalho", diz.
Da demissão ao semáforo
Gabriel conta que trabalhou por dois anos em cartórios de São Paulo e Ribeirão Preto e se matriculou para a faculdade de direito com o sonho de ser auditor da Receita Federal. Quando tudo parecia encaminhado, ele perdeu o emprego e precisou adiar o sonho do curso superior.
"Esse planejamento foi por água abaixo. O valor é muito alto das mensalidades. Conheço algumas pessoas lá, mas não deu certo abaixar o valor. Por isso, infelizmente tive que trancar, mas meu sonho é voltar e terminar o direito. É meu sonho. Não quero ser advogado, quero fazer direito e entra na Receita Federal para trabalhar na alfândega. Eu vou, tem que correr atrás, não pode parar", afirma.
Desempregado, Gabriel bem que tentou voltar ao mercado de trabalho, mas só encontrou portas fechadas.
"Um ano em cada cartório e eu só tive essas oportunidades, ninguém mais abriu portas para mim. Por isso eu vim aqui no semáforo, porque alguém vai abrir uma porta pra mim, porque eu estou disposto a aceitar qualquer proposta que me derem. Eu aceito qualquer tipo de trabalho."
Inspirado em exemplos semelhantes, decidiu expor sua situação publicamente aos motoristas que passam pela zona sul. As horas sob o sol já parecem estar surtindo efeito, segundo Gabriel, depois que os primeiros interessados em ajudá-lo começaram a entrar em contato.
"O retorno foi bom, fiquei muito emocionado porque não acreditei com um monte de empresa me ligando. Fiquei dez meses entregando currículo e nenhuma me ligava. Aí fiquei aqui cinco horas e recebi sete, oito ligações, tirando mensagem no Whatsapp", diz.
Depois das primeiras ligações, o jovem não esconde a esperança de que em breve sua história vai mudar e não deseja o que vive a ninguém. "Que todo mundo esteja empregado, porque não quero que ninguém fique nessa situação." Fonte: https://g1.globo.com