Músico diz ao ‘Le Monde’, entretanto, que não pretende se mudar para a capital francesa e reconhece 'muitas reservas' ao PT

 

Chico Buarque está em Paris,trabalhando no livro que começou a escrever neste ano, depois de encerrar a bem-sucedida turnê do disco “Caravanas” , lançado em 2017. Nada de anormal aí, a não ser o fato de que o compositor carioca, que acaba de completar 75 anos (no último dia 19), pediu um visto de permanência mais longa na capital francesa. Ele afirma, no entanto, que não pretende se mudar para lá. Chico falou ao jornal francês “Le Monde” (que o chama de “lenda sul-americana”) sobre o que chama de “cultura do ódio” que se instalou no Brasil, a polarização política e os novos hábitos que teve que adquirir depois das agressões verbais que sofreu em 2015.

“Estou aqui em Paris escrevendo o livro que comecei no início do ano. Aqui, eu fico mais tranquilo, posso me concentrar. Não penso em um novo exílio”, disse ao jornal francês. “A situação é muito diferente da de 1969 ( quando, lembra o “Monde”, ele se exilou em Paris e depois em Roma, por um ano ). Naquela época, havia um regime militar no poder, que literalmente perseguia os artistas. Hoje, os artistas e pessoas ligadas à cultura não são bem vistos pelo governo, mas não há perseguições policiais como aquelas. As ameaças ainda existem, mas não necessariamente contra os artistas e mais contra a esquerda em geral, os gays, as minorias, as mulheres”.

Chico falou ao “Monde” sobre as mudanças em sua vida no Rio, a partir da história das ofensas que ouviu em 2015, quando voltava de um restaurante, com amigos.

“Eu não frequento as redes sociais, fico protegido dessas coisas. Se fosse lá, ficaria aterrorizado!”, avalia ele. “Agressões verbais como aquelas acontecem de tempos em tempos nas ruas, e é por isso que eu não frequento mais determinados lugares, como alguns restaurantes. No Rio, eu vou a, no máximo, três ou quatro estabelecimentos. Moro no Leblon (descrito pelo jornal como “bairro chique” da cidade ) e estou habituado a andar livremente pelas ruas. Está tudo lá, é fácil, e eu gosto muito dessa vida. Hoje em dia, tenho que renunciar a isso, não posso mais caminhar pela orla. Tive, sim, que mudar meu estilo de vida. Como sou caseiro, isso não é tão grave”.

O compositor ainda falou longamente sobre o ex-presidente Lula e o PT, em relação ao qual diz ter “muitas reservas”, mas que teria sido alvo de uma “estigmatização inacreditável” nos últimos anos. Fonte: https://oglobo.globo.com