Salvadorenho e a filha de quase dois anos morrem ao tentar atravessar o rio Bravo para chegar aos Estados Unidos

 

O drama da crise migratória centro-americana foi capturado em uma foto. A descoberta nesta segunda-feira dos corpos sem vida de Óscar e Valeria Martínez, um salvadorenho e sua filha de um ano e 11 meses, afogados nas margens do rio Bravo abalou o país latino-americano. A tragédia na fronteira entre o México e os Estados Unidos ocorre em meio a um recrudescimento da política migratória mexicana, depois de chegar a um acordo com a Administração de Donald Trump. O pai, a menina e a mãe, que deu o aviso do que havia acontecido, tinham deixado El Salvador e empreendido viagem para os EUA por falta de recursos, segundo a família.

O acontecimento se deu no domingo à tarde. Ao chegar a Matamoros (Tamaulipas) no final da semana passada, a família salvadorenha encontrou uma cidade colapsada pela migração. A vontade de alcançar o território norte-americano e uma longa lista de espera para serem atendidos pela Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA motivaram a travessia do rio, como afirmou um irmão de Martínez à agência Efe. “Muitos têm a teoria de que se chegam nadando lhes darão asilo, e por desespero se lançam ao rio em vez de esperar em um centro migratório”, relata Abraham Pineda-Jácome, correspondente da agência na localidade.

 “A mãe nos contou que o marido tinha ido com a filha atravessar o rio até Brownsville (no Texas) e quando voltou para atravessar a mulher, a menina se jogou na água. Não sei se pensou que estava brincando, mas quando a corrente a levou lhes disse adeus”, conta a este jornal Julia Le Duc, uma das fotógrafas que presenciaram a operação. Os gritos e o desespero da mulher atraíram os que passavam pelo local, que acabaram chamando as forças de segurança de Matamoros. Durante a tarde de domingo uma operação foi montada, mas quando a noite chegou foi suspensa até segunda-feira de manhã, quando os agentes encontraram os dois corpos sem vida a cerca de 500 metros de onde se perderam.

Na imagem se pode ver a menina dentro da camiseta do pai e com um braço sobre o pescoço do homem. “Parece que, em desespero, ele colocou a menina na camiseta para não perdê-la na corrente e o que aconteceu é que a corrente os levou e ambos se afogaram”, disse Le Duc. Depois de partir de El Salvador em abril, a família tinha entrado México através do posto de fronteira de Tapachula (Chiapas), onde lhes deram um visto humanitário que lhes permitia residir legalmente no país enquanto tramitavam asilo nos Estados Unidos.

Depois do que aconteceu, uma parte da família que permanece em El Salvador pediu ajuda ao presidente Nayib Bukele para repatriar os corpos. “Senhor presidente, quero pedir, por favor, que nos ajude a repatriar o corpo de meu primo Óscar Alberto e de nossa pequena Angie Valeria que, por motivo de escassos recursos decidiram empreender caminho para os EUA”, publicou na segunda-feira no Twitter Enrique Gómez, primo de Martínez. O Executivo salvadorenho não demorou a responder ao pedido. “Nos unimos à dor por essa perda irreparável. Nenhum salvadorenho deveria se ver na necessidade de deixar seu país devido à falta de oportunidades. Pedimos que nos envie uma mensagem privada para iniciar a repatriação”. Por enquanto, a mãe e a esposa dos falecidos permanece em Matamoros esperando que lhe entreguem os corpos para voltar ao seu país.

A foto é uma amostra do drama que se vive nas fronteiras do México. “Era um barril de pólvora, uma tragédia que se pressentia pelo que se está vivendo nos acampamentos de migrantes em Matamoros”, aponta Le Duc sobre o colapso do sistema migratório mexicano. Nessa região do rio Bravo, pelo menos uma pessoa por mês morre afogada tentando chegar aos Estados Unidos, conta Pineda-Jácome. Apenas no ano passado 283 pessoas morreram tentando atravessar a fronteira. Além de Óscar e Valeria, nesta segunda-feira quatro guatemaltecos, três crianças e uma mulher, foram encontrados sem vida no deserto do Texas por causa da desidratação. Uma crise migratória que continua contando vítimas. Fonte: https://brasil.elpais.com