Blocos criticam anúncio em ano eleitoral e exigência de ambulâncias
Júlia BarbonAna Luiza Albuquerque
RIO DE JANEIRO
Em uma jogada de marketing, a prefeitura do Rio de Janeiro decidiu ampliar o período oficial do Carnaval para 50 dias neste ano. A folia começará já neste domingo (12), com um show nas areias de Copacabana, e acabará em 1º de março.
No ano passado, contando o pré e o pós-carnaval, foram 23 dias de folia oficial.
A ideia é aproveitar a estrutura montada para a festa de Réveillon e induzir turistas a permanecer na cidade por mais tempo, aumentando de 1,7 milhão para 1,9 milhão o número de visitantes, como divulgou a gestão Marcelo Crivella nesta quarta (8).
A quantidade de desfiles previstos também voltou a crescer: são 543 cadastrados até agora, ante 498 em 2019 e 608 em 2018. Os chamados megablocos continuarão concentrados no centro da cidade (veja programação ao final), que igualou a zona sul em total de cortejos (133).
Desde o ano passado, a prefeitura carioca vem trocando o bordão de "maior" pelo "melhor" Carnaval do Brasil, com a expansão da festa em outras capitais do país como São Paulo e Belo Horizonte.
Mesmo assim, Marcelo Alves, presidente da Riotur, empresa municipal responsável pelo evento, defende que essa será a maior folia que a cidade já viu. “A ocupação hoteleira está em 70% e chegará a 100%. [...] Mais de R$ 4 bilhões de movimentação econômica”, disse em entrevista coletiva.
Ele ressaltou a complexidade da organização da festa —com vários dias e um público mais jovem e com menos dinheiro do que as famílias que chegam para o Ano Novo— e deu uma alfinetada: "Todo mundo quer Carnaval, mas ninguém quer Carnaval na porta da sua casa".
O pano de fundo do evento é um prefeito com fama de inimigo do Carnaval por ser evangélico —reputação que ele nega. Crivella nunca foi a um desfile na Marquês de Sapucaí e extinguiu as verbas da prefeitura para escolas de samba.
Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, associação que reúne 12 blocos, incluindo o Simpatia É Quase Amor, vê o anúncio da ampliação do Carnaval como estratégia de um governo que quer se reeleger.
“Tiveram três anos para dar valor ao Carnaval de rua, para cuidar, para ajudar e incentivar. Não fizeram. Agora entram na reta final de um ano eleitoral”, critica ela, ressaltando que o Carnaval do Rio já dura quase dois meses há anos, independente de ser oficial ou não.
No último domingo (5), ao menos 25 blocos fizeram a abertura não-oficial do Carnaval do Rio, juntando milhares de pessoas no centro carioca sem autorização da prefeitura. A organização é feita pela Desliga dos Blocos, movimento “em defesa da liberdade criativa e contra a mercantilização do Carnaval de rua do Rio”.
IMPASSE DOS BLOCOS
As ligas de blocos têm vivido novamente um impasse com exigências que consideram ser de responsabilidade do poder público, que começaram a ser cobradas no ano passado e teriam se intensificado agora.
A principal delas é que os grandes cortejos banquem mais ambulâncias e equipes médicas. Com isso, alguns estão tendo dificuldades em conseguir autorizações obrigatórias do Corpo de Bombeiros. Segundo a corporação, até agora 80 dos cerca de 200 blocos que carecem da licença foram liberados.
“O Simpatia É Quase Amor, por exemplo, vai ter que colocar 6 ambulâncias, 50 maqueiros, 4 médicos e 4 enfermeiros, porque os bombeiros entenderam agora que o posto médico montado em Ipanema pela prefeitura não basta. Ninguém nunca vai conseguir cumprir isso”, diz Fernandes.
As ligas pedem a revisão de decretos estaduais de 2014 e 2016, que submetem os desfiles de Carnaval com trios elétricos ou outras estruturas às mesmas regras de eventos como shows e festivais.
“Não somos megaempresários do show business. Não tem cachê nem fomento”, diz Rodrigo Rezende, presidente da Liga dos Amigos do Zé Pereira, que reúne Orquestra Voadora e Céu na Terra, entre outros. "Se a segurança pública é responsabilidade da PM, por que a saúde pública deve ser responsabilidade do bloco?”, argumenta.
No ano passado ocorreu o mesmo impasse, mas, depois de quase três meses de debate com a prefeitura, a empresa que produz o Carnaval de rua carioca assumiu o ônus, em acordo com o Ministério Público e os Bombeiros.
Outra dificuldade tem sido a exigência de uma autorização da Polícia Militar, que é dada pelos batalhões das áreas dos desfiles, dependendo do entendimento de cada comandante. Em 2019, muitos cortejos tradicionais ameaçaram não sair a menos de dois dias do feriado. Neste ano, porém, a expectativa é que o problema seja resolvido antes.
Convidados, os órgãos estaduais não foram à entrevista coletiva desta quarta (8)
Os bombeiros afirmaram que as regras já estão previstas há tempos na legislação e que as exigências contra incêndio e pânico são estipuladas criteriosamente de acordo com uma série de fatores. Entre eles estão a existência de trio elétrico, o número de pessoas esperadas, a oferta de serviços médicos próximos, a distância de hospitais de referência e a simultaneidade com outros blocos.
A organização do Carnaval do Rio é exclusiva da prefeitura, que neste ano vai disponibilizar 33 mil banheiros, 7 postos médicos, 303 ambulâncias, 858 profissionais de saúde, 475 agentes de trânsito e 1.180 garis. São investidos em média, anualmente, R$ 100 milhões, sendo R$ 16 milhões no sambódromo.
Dentro desse valor está um aporte privado. Desde 2011, a produtora Dream Factory, através da Ambev, ganhou todas as licitações para bancar equipamentos públicos da festa (cerca de R$ 26 milhões por ano) em troca do direito de negociar verbas de patrocínio. O modelo foi criado na gestão de Eduardo Paes (então MDB).
MEGABLOCOS NO RIO
Costumam reunir mais de 200 mil pessoas*
2.fev (domingo) - Lexa
9.fev (domingo) - Carnaval Square (Claudia Leitte)
15.fev (sábado) - Chora Me Liga
16.fev (domingo) - Bloco da Preta
22.fev (sábado) - Bola Preta
25.fev (terça) - Fervo da Ludi
29.fev (sábado) - Poderosas
1º.mar (domingo) – Monobloco. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br