O caso aconteceu em Sergipe. A companhia aérea suspeitou que a doença da criança fosse contagiosa. Em entrevista à CRESCER, o pai explicou que a filha de 2 anos e 11 meses possui ictiose — uma condição rara que não passa de uma pessoa para outra

 

SABRINA ONGARATTO

Uma família viveu uma situação bastante constrangedora há pouco mais de uma semana, no aeroporto de Aracajú, em Sergipe. Marcus Vinicius Alexandre Silva, 28 anos, de Girau do Ponciano, tinha acabado de embarcar com a mulher, o pai e a filha de 2 anos e 11 meses em um voo da Gol com destino a São Paulo, quando foram convidados a se retirarem do avião. O motivo alegado pela companhia aérea era de que a menina tivesse uma doença contagiosa.

No entanto, a família estava indo para a capital paulista justamente em busca de tratamento para a pequena que sofre de ictiose — uma condição rara, mas que não passa de uma pessoa para outra. Em entrevista à CRESCER, ele, que está desempregado, contou em detalhes tudo o que aconteceu.

 

C: O que sua filha tem?

M: Ela nasceu perfeita, mas cerca de quinze dias depois, apareceu uma mancha vermelha ao redor da boca. Na época, a gente achou que fosse da chupeta. Depois de passar por alguns médicos, suspeitaram de dermatite. Ela melhorava e depois a mancha voltava a aparecer, mas nunca tinha ficado da maneira que está hoje. Há cerca de dez dias, ela entrou em uma crise e está com manchas no rosto e no corpo todo que doem, coçam bastante, escamam e dependendo da maneira como pegamos ela, machuca.

 

C: Foi a primeira vez que voaram com ela? O que vocês pretendiam fazer em São Paulo?
M: Sim, foi a primeira vez que ela voou. Moramos no interior e lá, os hospitais não têm muita estrutura, são mais limitados. Em São Paulo, o suporte é maior e as coisas são mais desenvolvidas. Estávamos desesperados em busca de atendimento para ela.

C: Onde e como vocês foram abordados?

M: Passamos por todo o processo normalmente — check in, raio x e portão de embarque —, ninguém falou nada até estarmos acomodados dentro do avião. Faltando menos de 10 minutos para decolar, fomos abordados por um funcionário da empresa. Ele perguntou se a minha filha estava com catapora, minha esposa disse que não e explicou o que ela tem. Disseram que parecia caxumba, novamente minha esposa explicou que não se tratava disso. Então, uma enfermeira especialista em dermatologia, que já tinha conversado conosco antes do embarque, tentou ajudar, explicando que se tratava de ictiose. Em seguida, veio uma aeromoça perguntando quantas bagagens tínhamos despachado. Minutos depois, outros funcionários vieram e fomos convidados e nos retirarmos do avião para conversar lá fora. Perguntei o motivo e disseram que minha filha tinha uma doença contagiosa. Tentamos explicar que não, a enfermeira também falou e, inclusive, responsabilizou-se por um laudo autorizando minha filha a viajar, mas disseram que ela não tinha competência para isso. Começamos a discutir no avião, minha filha começou a chorar... ficamos nervosos... Nesse meio tempo, um passageiro cobrou do comandante uma decisão. O piloto disse que se não saíssemos por bem, eles acionariam a Polícia Federal. Foi uma confusão e resolvemos sair. Quando descemos, o avião foi embora. Fonte: https://revistacrescer.globo.com