Uma das vítimas foi degolada na Basílica de Notre-Dame, na cidade. Perto de Avignon, homem é morto ao ameaçar pedestres; em Lyon, suspeito é detido com faca. País eleva alerta a nível máximo
O Globo e agências internacionais
NICE, França — Três pessoas morreram na cidade francesa de Nice em um ataque a faca na Basílica de Notre-Dame, no centro da cidade, nesta quinta. O incidente está sendo investigado como um atentado terrorista e ocorre menos de duas semanas após a decapitação do professor de História e Geografia Samuel Paty por um extremista islâmico, que gerou comoção no país.
O fato levou a França a elevar o estado de alerta a seu nível máximo. O presidente Emmanuel Macron anunciou novas medidas antiterror, com o deslocamento de milhares de soldados para aumentar a segurança de centros religiosos e escolas pelo país. Macron, que expressou seu apoio à comunidade católica, viajou para Nice horas após o ato criminoso.
— A França está sob ataque — disse o presidente, fazendo um apelo à unidade do povo francês. — Se nós somos atacados, é devido a nossos valores, nosso apreço pela liberdade e pela possibilidade de ter liberdade de crença em nosso territórrio (...). Hoje, digo novamente com muita clareza: nós não vamos ceder.
Segundo a polícia, o suspeito foi baleado pela polícia e levado para o hospital, onde está sob custódia. De acordo com o prefeito da cidade, Christian Estrosi, o homem gritou "Allahu Akbar" (Deus é grande) diversas vezes antes de ser preso.
O autor do atentado teria entrado na Europa através de um dos barcos de migrantes que chegam à ilha italiana de Lampedusa, confirmaram fontes de segurança do governo italiano. Aouissaoui Bahrain, de 21 anos, teria saído de Lampedusa para Bari. Segundo as informações, a ilha italiana foi o primeiro local de registro do homem.
Ainda conforme as fontes, estão em curso as investigações para fazer uma reconstituição dos deslocamentos do homem, que pode ter origem tunisiana, em uma parceria entre italianos e franceses.
A região da basílica, localizada em uma das avenidas mais movimentadas de Nice, foi isolada, e a Procuradoria Antiterrorismo foi acionada para liderar as investigações.
Dois dos mortos foram atacados dentro da igreja, a maior da cidade: o sacristão da basílica, de 45 anos, e uma idosa, que foi degolada. Segundo o jornal Le Monde, o autor do crime teria tentado decapitá-la, mas não conseguiu. Uma terceira mulher, mesmo ferida, conseguiu fugir para um café nas redondezas, mas não resistiu e morreu.
Mais três incidentes foram registrados nesta quinta, coincidindo com as festividades de Mulude, que marcam o aniversário do profeta Maomé. Logo após o crime em Nice, a polícia matou um homem que ameaçava pedestres em Montfavet, perto de Avignon, no Sul do país. Ele também gritava "Deus é grande", segundo a rádio Europe 1. Um outro homem, um afegão armado com uma faca de 30 cm, foi preso perto da estação ferroviária Perrache, em Lyon.
Na Arábia Saudita, um homem foi detido em Jedá após ferir um guarda do Consulado da França. Não há, no entanto, quaisquer evidências de que os episódios tenham sido coordenados.
Esforços antiterror
Os detalhes do crime em Nice remetem ao assassinato de Paty, morto no último dia 16. O responsável, um homem checheno, disse que buscava puni-lo por mostrar cartuns do profeta Maomé publicados pela revista satírica Charlie Hebdo durante uma aula. Em 2015, a redação do veículo foi alvo de um atentado que deixou 12 mortos, motivado também pela publicação dos desenhos, considerados uma blasfêmia por muçulmanos.
Nas últimas duas semanas, por diversas vezes, Macron disse que redobraria os esforços para impedir que crenças islâmicas conservadoras subvertessem os valores franceses como a liberdade de expressão e a laicidade do Estado e da educação, defendendo o direito de publicação dos cartuns. Isto gerou forte repúdio em alguns países islâmicos, com críticas dos governos de Qatar, Irã e Arábia Saudita.
Em diversas dessas nações estão sendo organizados manifestações e boicotes a produtos franceses — o Norte da África, em particular, é um mercado importante para Paris. A oposição é liderada pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que trava uma disputa pública com Macron. No sábado, Erdogan disse que o francês precisa de "um exame de saúde mental", o que levou Paris a chamar seu embaixador em Ancara. Fonte: Fonte: https://oglobo.globo.com