Por Pedro Doria
Ao longo de julho, YouTube, Instagram e a chinesa TikTok anunciaram mudanças grandes em suas plataformas. Num dos casos — o Instagram —, mudanças que incomodaram muito os usuários. Em todos, houve mostra de que um entrante com os bolsos recheados de dinheiro conseguiu abrir uma fissura em dois dos principais monopólios do Vale do Silício. Esta é uma história que ilumina a transformação por que o vídeo está passando no digital e, ao mesmo tempo, revela que a briga entre China e EUA na tecnologia está se acirrando para além dos aparelhos e algoritmos, chegando ao campo do conteúdo.
Alguns números revelam o cenário. Nesta quarta-feira, a holding do Google, Alphabet, anunciou que o YouTube faturou US$ 7 bilhões no segundo trimestre em publicidade, um crescimento de 83% em relação ao mesmo período no ano passado. Talvez não tenhamos o hábito de pensar no YouTube como uma empresa de streaming de vídeo — mas compare com a maior delas, a Netflix. Faturou ao todo US$ 7,34 bilhões no mesmo período. E cresceu menos de 20% em relação a 2020.
Ainda assim, a principal novidade do YouTube em julho foi o Shorts — vídeo vertical, com no máximo um minuto. A plataforma está incentivando ao máximo quem produz para ela a aproveitar esse formato. Afinal, é o formato-padrão de outra plataforma. O TikTok.
Outro número revelador: usuários de smartphones Android, nos EUA e no Reino Unido, passaram em média 24,5 horas de maio ligados no app chinês. Eles passaram 22 horas ligados no YouTube, segundo a App Annie, uma empresa que faz essas medições. Não é à toa que os californianos estão correndo atrás.
Pois a briga tem caminho de ida, mas também de volta. O YouTube lançou seu projeto de vídeos curtos, e o TikTok estendeu o limite de seus vídeos para três minutos. Não é difícil explicar — os vídeos de dancinhas e dublagens, das muitas moças de biquíni, até divertem, mas certos tipos de conteúdo exigem mais espaço. Para poder enfrentar o YouTube e atrair conteúdo mais profundo, o TikTok abriu o flanco da minutagem.
Quem ficou correndo atrás foi o Instagram, a rede social de fotografias do Facebook. Por um lado, já atingira um ponto de maturidade, com inúmeras celebridades próprias que criaram audiências para lá do milhão e fazem dinheiro na plataforma. Por outro, vinha perdendo espaço na briga do vídeo, crescendo em ritmo aquém dos concorrentes.
Neste mês, bateu o bumbo para novidades em dois momentos. No primeiro, falou de novas possibilidades para que os influenciadores façam mais dinheiro na plataforma. Tem de participação em publicidade a possibilidade de vender produtos. Umas semanas depois, anunciou que o Insta não é mais uma plataforma de fotos, puxou sua imitação de TikTok, o Reels, de 30 segundos para um minuto e revelou que o algoritmo apresentará cada vez mais vídeos e menos fotos. Além disso, muitos daqueles que criam no Insta perceberam que estão perdendo visibilidade de forma acelerada.
Ou seja: primeiro o Insta deu um prêmio — mais possibilidades de fazer dinheiro. Depois veio com o porrete, desestabilizou todo mundo.
O YouTube tomou o cuidado de não fazer isso. E não é à toa. Primeiro, está numa posição defensiva, mas tem gordura. Segundo e mais importante, este é um jogo em que, após anos sugando quem produz o que as pessoas veem, as plataformas começam a ter de disputar quem dominou a arte de produzir em sua linguagem. Quem de fato atrai o público. O Insta pode ter cometido um erro sério.
Por isso monopólios são ruins. Por isso concorrência funciona. E já está entrando com força outro chinês neste jogo. É a Kwai. Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com