Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Neste domingo, 12 de fevereiro, na Liturgia da Palavra da Missa do 6º Domingo do Tempo Comum (cf. Mt 5,17-37), continuando a leitura do Sermão da Montanha (capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho segundo Mateus), Jesus declara que não veio abolir a Lei (os Mandamentos) e os Profetas e proclama a necessidade de observar os Mandamentos sempre indo além da própria letra: “Eu não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. É preciso obedecer, praticar, ensinar. Porém, o Mestre faz uma afirmação que deve ser o critério para o entendimento e o verdadeiro cumprimento: “se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos céus”.
Jesus cita alguns mandamentos no trecho apresentado para este domingo: “não matarás”, “não cometerás adultério”, “não jurarás falso”. Mas, não se trata apenas de observar os Mandamentos como se fossem leis externas. Jesus insiste para que os mandamentos se tornem estilo de vida. Ele vive o que o Salmo 119 proclama: “Como poderá o jovem manter puro o seu caminho? Observando as tuas palavras… Por isso amo teus mandamentos, mais que o ouro, o ouro mais fino. São admiráveis os teus ensinamentos: por isso, minha alma os observa” (Sl 119,9.127.129). Certamente, Jesus exortava para que não houvesse hipocrisia na relação com os mandamentos. Quer evitar um cumprimento mínimo, quase como tirando tais proibições tudo era permitido. Ao contrário, Ele ensina o verdadeiro caminho da justiça. Não apenas “não matar”, mas nem sequer desrespeitar o outro, tratá-lo como se fosse inferior ou descartável; não apenas não cometer adultério, mas também não tratar a mulher como objeto manipulável; não apenas jurar falso, mas também nunca jurar por qualquer que seja a realidade. Os seguidores de Jesus não precisam jurar: o céu, a terra, Jerusalém, e até a nossa cabeça, tudo pertence ao Senhor e a partir de nossa comunhão com Ele, tudo pertence a nós.
A compreensão dos mandamentos como estilo de vida dos seguidores de Jesus se completa com duas reflexões: a primeira com a continuação do texto do Sermão da Montanha. Em Mt 5,38-48, que será lido no 7º Domingo do Tempo Comum, Jesus nos oferece exemplos concretos do seu ensinamento: jamais “olho por olho e dente por dente”. É preciso perdoar, não responder o mal com o mal. É preciso agir em favor do outro com mais disponibilidade e antecipando a caridade. É o que Jesus diz em relação a ir além, a um plus: não somente dar a túnica, mas também o manto; não só andar um quilômetro, mas dois; dar a quem pede e não se negar ao empréstimo. Mas, nenhum mandamento no contexto do Sermão da Montanha é tão exigente e grave do que amar os inimigos. É um mandamento que só podemos observar se temos o Espírito de Jesus, isto é, se aceitamos o seu convite: tornar a nossa justiça maior do que a dos fariseus. Que isso seja possível, Jesus mesmo, não somente nos dá a força que vem do alto, o Espírito Santo, mas Ele mesmo é o paradigma. Essa é uma verdade de fé que, unida ao dogma da Trindade de Pessoas e ao evento da encarnação do Verbo, formam a tríade dogmática por excelência. Refiro-me à presença do Espírito no fiel seguidor de Jesus. Sim, Ele nos deu seu Espírito prometido (cf. At 2,1-21; Jo 14,16-18.26; 15,26; 16,7-11.13-15).
A segunda reflexão é a síntese dos mandamentos no mandamento do amor que ele deixou (cf. Jo 13,34-35). Sim, Jesus exige que a nossa justiça seja maior, porque Ele mesmo a praticou: Ele nos amou por primeiro, afirma São João na sua primeira carta (cf. 1Jo 4,19). E ainda: “Nisto está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). Portanto, a justiça maior é a misericórdia divina, Deus que nos ama porque é Amor. Fonte: https://www.cnbb.org.br