Mãe de jogador morto após acidente de trânsito passa quatro horas velando o corpo no asfalto: 'Me deixem aqui'
Lucas de Oliveira, de 21 anos, voltava de um pagode em São Cristovão, quando o carro onde estava com amigos bateu em um poste e capotou
O jovem Lucas Oliveira, jogador de futsal, morre em acidente de carro na av Dom Hélder Câmara, próximo da entrada do Jacarezinho. A mãe chora ao lado do corpo. Gabriel de Paiva/ Agência O Globo
Por Jéssica Marques — Rio de Janeiro
A auxiliar administrativa Josi Durval acordou, nesta segunda-feira, com uma ligação por volta das 6h30. Era Pedro Wigg, de 21 anos, irmão de consideração de seu filho Lucas de Oliveira, da mesma idade. Na linha, ele deu a notícia sobre um acidente envolvendo o rapaz no viaduto de Benfica, Zona Norte do Rio. Sem saber detalhes, Josi saiu de casa imediatamente. Ela mora do outro lado da cidade, em Piedade, Zona Oeste, e, com o marido, dirigiu cerca de 20 minutos para ir ao encontro do filho. Ao chegar no local, o susto: Lucas estava morto e seu corpo estirado no chão. Ao lado dele, um carro destruído.
Os destroços espalhados pela via e a destruição do Nissan March, veículo onde estava Lucas, denunciavam a violência da batida. Segundo testemunhas, o carro atingiu um poste na descida do viaduto, rodou três vezes e parou cerca de 30 metros depois perto da calçada. Lucas foi arremessado para fora do carro, batendo a cabeça no asfalto. Entre os feridos, estavam ainda mais três amigos. Dois continuam internados, mas fora de perigo. O outro já recebeu alta.
A mãe do jogador ficou quatro horas à espera da perícia da Polícia Civil, uma saga de dor e tristeza observando o corpo do menino no asfalto. Aos gritos e choro, Josi se recusou a sair do lado de Lucas. “Meu filho, porque você se foi assim. Meu deus, não dá para acreditar! Me deixem aqui. Não quero sair daqui”, desabou.
Ajoelhada ao lado do corpo, coberto por uma manta de alumínio, e machada de sangue, Josi orava enquanto segurava a mão do filho, tinha esperança de que ele fosse sair daquela situação.
— A mãe dele está em choque. Ela não está em condições de falar com ninguém. Nenhuma mãe deveria passar por isso. É muito dolorido — afirmou Pedro Wigg, enquanto segurava os pertences dela e conversava com os policiais. Quanto mais os parentes tentavam tirar Josi do local para poupá-la do sofrimento, mais a mãe do jogador queria ficar.
O caso foi registrado na 25ºDP, no Engenho de Dentro, como homicídio culposo na direção de veículo automotor. O motorista, de 25 anos, era amigo das vítimas.
Férias no Brasil
Jogador de futsal em Portugal, Lucas estava na cidade há 18 dias aproveitando as férias. Ele passou uma temporada de 11 meses na Europa, longe da família e dos amigos. Segundo o pai, Rodrigo Pereira, o filho gostava de se divertir e estava animado por renovar o contrato com o time, o Boa Esperança, de Portugal.
Na noite anterior ao acidente, ele foi a um pagode em São Cristóvão. Na volta, saiu com quatro amigos: um ao volante, que saiu sem prestar socorro, foi identificado e chamado para depor, e outros três como passageiros, socorridos pelos bombeiros às 6h17.
O carro que transportava os jovens ficou totalmente destruído. A lataria traseira estava destroçada e com as portas arrancadas. O airbag foi acionado. No porta-malas estavam embalagens de cerveja amassadas e alguns pertencentes das vítimas, como tênis.
Enquanto a mãe de Lucas estava aos prantos, inconsolável, parentes, amigos e curiosos no local faziam silêncio. “Parece cena de um filme de terror”, comentou uma senhora.
O "rabecão" da Defesa Civil foi acionado às 11h06, chegando ao local 12 minutos depois para a remoção do corpo. Enquanto os agentes preparavam o saco para colocar Lucas, Josi passou mal e foi amparada por parentes. Ela foi a última a sair do local.
Notas da Polícia
Em nota, a Polícia Civil afirmou que agentes da 25ª DP foram comunicados do ocorrido às 9h45, quando a perícia foi acionada. E que "imediatamente, as equipes se mobilizaram para ir ao local e iniciar a apuração do crime. A polícia não comentou a espera de quatro horas pelos familiares da vítima".
Já a Polícia Militar informa que "a primeira equipe chegou ao local às 5h45, providenciando de imediato acionamento do Corpo de Bombeiros para socorrer as vítimas. Três foram socorridas para duas unidades de saúde - uma para o Hospital Municipal Souza Aguiar e duas para o Hospital Estadual Getúlio Vargas. Uma quarta vítima já estava em óbito no local do acidente, conforme constatato por médico da Defesa Civil". Fonte: https://oglobo.globo.com