Tema do 30.º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 30.º Domingo do Tempo Comum exorta-nos a viver com esperança. A nossa vida não tem de ser uma experiência sombria, sem horizontes e sem perspetivas; Deus dispõe-se, a cada passo, a libertar-nos da escuridão e a conduzir-nos em direção a uma vida livre e plenamente realizada. Basta que, da nossa parte, haja disponibilidade para aceitarmos os desafios e indicações de Deus.

 

A primeira leitura é um convite à alegria. Para o Povo que caminha pelos vales sombrias da vida e da história, Deus é um Pai que acompanha, que ampara e que cuida. Ele não deixará ninguém para trás, nem sequer os mais débeis – o cego, o coxo, a mulher grávida e a que tem dificuldade em manter o ritmo da caminhada pois transporta o seu bebé nos braços. Guiados pelo amor paternal e maternal de Deus, todos chegarão à terra sonhada, à meta da Vida verdadeira.

 

Na segunda leitura um catequista cristão – o autor da Carta aos Hebreus – apresenta-nos Jesus como um sumo-sacerdote que compreende as nossas fraquezas e que nos leva até Deus. Podemos confiar n’Ele e segui-l’O sem hesitações. Ninguém encontra a Vida verdadeira sem caminhar com Jesus, sem escutar as suas indicações, sem viver ao seu estilo. É uma mensagem destinado a acordar crentes adormecidos, conformados com uma fé morna, sem exigência e sem compromisso.

 

O Evangelho, através da história do cego Bartimeu, propõe-nos uma parábola sobre a passagem da escuridão para a luz, da vida velha para a vida nova. O encontro com Jesus é sempre uma oportunidade para abraçar uma existência com horizontes mais amplos, uma vida plena de luz e de sentido. Bartimeu, o homem que encontrou Jesus à saída de Jericó e O seguiu no “caminho” de Jerusalém, é o modelo de todos os discípulos.

 

EVANGELHO – Marcos 10,46-52

A situação inicial do cego Bartimeu – encerrado numa escuridão paralisante, acomodado à sua vida de hábitos e comportamentos velhos, aos seus medos, às suas hesitações, à sua vergonha – evoca um quadro que talvez não nos seja estranho… É a condição do homem que não consegue levantar os olhos do chão, que vive a prazo, que navega sempre à vista de terra, que se conforma com horizontes limitados e é incapaz de olhar para mais longe e mais alto; é a situação do homem prisioneiro do egoísmo, do orgulho, da ambição, dos bens materiais, da preguiça, que vive preso a preocupações rasteiras e materiais; é a realidade do homem refém dos seus vícios, hábitos e paixões, que “deixa correr” as coisas porque não se sente com capacidade para romper, com as suas frágeis forças, as cadeias que o impedem de construir uma vida mais digna e mais ditosa. A Palavra de Deus que escutamos neste domingo garante-nos que a vida não tem de ser vivida desta forma. Estamos conscientes disso? Estamos dispostos a vencer a tentação do imobilismo, da acomodação, do facilitismo, das apostas fáceis em “conquistas” que nunca saciam a nossa fome de vida eterna?

Para o cego Bartimeu, o momento decisivo para a transformação da sua vida foi o encontro com Jesus. Bartimeu sentiu, nesse instante, que Jesus lhe oferecia perspetivas novas de vida e de realização; percebeu que Jesus lhe trazia uma proposta irrecusável e que não podia deixar escapar a oportunidade que lhe era oferecida. Em Jesus, Bartimeu viu a oportunidade de deixar a escuridão e de nascer para a luz. O encontro com Jesus, se é verdadeiro, é sempre desafiante e transformador. Ora, esse mesmo Jesus que Se cruzou com o cego Bartimeu à saída de Jericó continua a cruzar-Se hoje, de forma continuada, com cada homem e com cada mulher nos caminhos da vida e a oferecer-lhes, sem cessar, a possibilidade de agarrarem uma vida nova, uma vida cheia de sentido, uma vida plenamente realizada… E isto diz-nos respeito: a salvação que Jesus oferece também é para nós. Ousaremos sair do nosso egoísmo, da nossa indiferença, da nossa autossuficiência para escutar e abraçar a proposta de Jesus?

Bartimeu confiou e colocou toda a sua vida nas mãos de Jesus. Atirou fora, sem hesitação, a vida que conhecia até aí, deu um salto qualitativo que alterou os seus horizontes e partiu para a aventura de seguir Jesus. Bartimeu apostou tudo em Jesus; e, ao fazer essa opção, deixou de estar sentado “à beira do caminho” para “ir com Jesus no caminho” ou para “fazer caminho com Jesus”. Jesus passou a ser a sua referência, o seu “mestre”, o seu “guia”, o seu “Senhor”. E nós? Quem é a nossa referência no caminho da fé? Vivemos a fé como seguimento incondicional de Jesus, ou como o simples cumprimento de rituais que herdamos dos nossos antepassados e que vivemos de forma desleixada, morna e pouco comprometida? Sentimo-nos discípulos decididos, que não querem perder Jesus de vista porque sabem que Ele é Caminho, Verdade e Vida?

Na história do encontro de Bartimeu com Jesus, aparecem diversos figurantes, com papéis vários. Uns são obstáculo ao encontro entre Bartimeu e Jesus (“muitos repreendiam-no para que se calasse”); mas outros apresentam-se como intermediários entre Jesus e Bartimeu e transmitem ao cego o “chamamento” de Jesus (“coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te”). Este facto serve para nos tornar conscientes do papel daqueles que nos rodeiam no nosso caminho da fé. Ao longo da nossa caminhada, encontraremos pessoas que nos levam até Jesus e que nos ajudam a tornarmo-nos discípulos; mas encontraremos também pessoas que, muitas vezes com ótimas intenções, tentam impedir-nos de nos comprometermos com Jesus e com o Reino de Deus. Assim, neste processo de aproximação a Jesus, temos de tentar perceber, com sentido crítico, a quem dar ouvidos, que indicações e conselhos devemos acolher ou rejeitar… Entre as pessoas que encontramos no nosso caminho, quem é que nos pode ajudar, genuinamente, a chegar a Jesus e a estabelecer contacto com Ele?

As pessoas que encorajam Bartimeu a aproximar-se de Jesus representam aqueles homens e mulheres genuinamente preocupados com o sofrimento dos seus irmãos, que não conseguem ficar indiferentes ao apelo de quem procura a luz, que têm um coração capaz de se compadecer com as lágrimas e as dores dos que vivem em dificuldade. Esses são, no meio do mundo, sinais vivos da misericórdia, da ternura e do amor de Deus; esses são filhos verdadeiros de um Deus que ama. Como nos posicionamos diante dos gritos dos nossos irmãos que sofrem? Preocupamo-nos em cuidar das feridas dos homens e mulheres que encontramos caídos nas estradas da vida e procuramos levá-los a Jesus a fim de que Ele os cure?

Quando alguém abandona a vida velha e decide tornar-se discípulo de Jesus, não tem todos os problemas resolvidos. Enfrenta desafios novos, fica fora da sua zona de conforto e tem de se adaptar a novas realidades, perde a segurança que os velhos hábitos davam, tem de enfrentar as críticas e as incompreensões de quem não compreende a sua opção… Aquele caminho de Jerusalém para o qual Jesus convoca os discípulos, é um caminho que passa pela cruz e pelo dom de si próprio. Não esqueçamos, no entanto, que esse caminho conduz à Vida nova, à ressurreição, à Vida definitiva. Jesus não arrasta os seus discípulos para um beco sem saída, mas leva-os ao encontro da Vida verdadeira, segundo o projeto do Pai. Quando avaliamos tudo isto, sentimo-nos com coragem para escolher Jesus e para O seguir? Estamos seguros de que vale a pena seguir Jesus, apesar de todas as dificuldades que teremos de enfrentar?.

*Leia a reflexão na íntegra. Clique ao lado o link- EVANGELHO DO DIA.