Motivo é a atuação de uma Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) comum no verão, mas que será prolongada nos próximos dias

  chuvas de verão, 

 

Morro da Oficina, um dos locais mais afetados em 2022: segundo mapeamento geológico do DRM, risco de deslizamentos segue alto em dez bairros e 6.311 moradias de Petrópolis — Foto: Agência O Globo / Márcia Foletto

 

Por Ana Lucia Azevedo

 — Rio de Janeiro

A chuva marcará os últimos dias de 2024 e o início de 2025 no Estado do Rio de Janeiro. O motivo é a atuação de uma Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), um enorme canal de umidade. ZCAS costumam ocorrer no verão, mas esta chama a atenção porque deve ser especialmente prolongada e pode causar deslizamentos, especialmente em cidades da Região Serrana como Petrópolis, explica Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

— O volume por dia não deverá ser excepcional. Mas o acumulado numa semana poderá chegar a 400 milímetros em várias localidades do Estado do Rio. É o equivalente à toda a chuva prevista para o mês concentrada numa semana. Tantos dias seguidos de chuva podem levar a deslizamentos. Sobretudo na Serra Fluminense — frisa Seluchi.

A ZCAS se estenderá pelo Centro-Oeste e o Sudeste do país. Nesta região, os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais (Sul e Zona da Mata) serão os mais afetados. Porém, como a ZCAS oscila um pouco para o Norte e para o Sul, São Paulo e Espírito Santo também deverão ter bastante chuva em alguns momentos.

Até sexta-feira, os modelos de previsão indicavam que a chuva mais forte e persistente será neste fim de semana. Na segunda-feira, continua a chover, por vezes com intensidade.

Segundo a previsão do Cemaden, até agora, na terça-feira do réveillon e no primeiro dia de 2025 a ZCAS deve se deslocar mais para o Espírito Santo. Com isso, a chuva diminui e se torna pontual no Rio.

Mas a trégua não durará muito. A chegada de uma frente fria na sexta-feira, dia 3, alimentará o canal de umidade e fará com que volte a chover com mais persistência e intensidade no estado. E há previsão de que o primeiro fim de semana de janeiro será sob chuva.

A banda de nebulosidade permanecerá sobre o Sudeste, ainda que com diferentes posições e intensidades, pelo menos até 6 de janeiro, diz Seluchi. Ele destaca que essa é a época mais chuvosa do ano. O período de 15 de dezembro a 15 de janeiro costuma concentrar os maiores volumes no Sudeste. A tragédia da Serra Fluminense que deixou mais de 900 mortos em 2011, por exemplo, aconteceu em 11 de janeiro e foi causada por uma tempestade antecedida por dias de chuva persistente trazida por uma ZCAS.

Zonas de convergência são imensos canais de umidade, que se estendem da Amazônia ao meio do Oceano Atlântico. Elas trazem dias cinzentos e abafados. A chuva persiste por dias, com pouco alívio para o calor.

— A característica principal desta ZCAS é a duração. Mas não há sinais até agora de que será intensa. Se houvesse, teríamos um risco de desastre muito maior — salienta Seluchi, acrescentando que o Cemaden está com a equipe reforçada.

 

Sem ligação com La Niña

Ele observa que essa ZCAS nada tem a ver com a La Niña, que dá sinais de que finalmente vai nascer no Pacífico — o fenômeno é causado pelo esfriamento anômalo das águas do Pacífico Equatorial e está associado a temperaturas um pouco menores em parte do Brasil. La Niña havia sido prevista para meados deste ano, mas frustrou todas as expectativas. Agora, há sinais de que existe um esfriamento mais consistente do Pacífico e que 2025 trará a esperada La Niña. No entanto, ela será fraca.

— Mesmo fraquinha, como o Pacífico influencia o clima global, ela deve fazer com que janeiro e fevereiro não batam recordes excepcionais de calor, como em 2023 e 2024. Mas, como o planeta está muito aquecido, as temperaturas deverão ficar acima da média para o verão, mas não muito — explica Seluchi.

E a fria Niña terá vida curta, sumindo em março. Até lá, pode trazer mais ZCAS para o Sudeste, diz Tércio Ambrizzi, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas da Universidade de São Paulo (USP).

 

Oceanos quentes

Ele explica que o fato de os oceanos estarem excepcionalmente quentes desde 2023 tem preponderado sobre fenômenos como La Niña e El Niño. É dado como certo que o ano de 2024 será o mais quente já registrado.

O cenário para 2025 segue incerto. Mas os modelos climáticos, por ora, indicam que ele deve ser menos tórrido do que 2023 e 2024. No entanto, ainda assim, marcado por temperaturas acima da média em todo o Brasil. A boa notícia em relação a este verão é que, após a seca recorde de 2024, 2025 promete começar mais úmido em boa parte do Brasil.

Janeiro deverá ser chuvoso no Rio e no restante do Sudeste. Porém, fevereiro, março e abril devem ter chuvas abaixo da média no estado do Rio, segundo projeção do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE).

 

Petrópolis emite alerta

A Defesa Civil de Petrópolis emitiu às 15h27, desta sexta-feira, um alerta via SMS de previsão de chuva moderada a ocasionalmente forte até segunda-feira de manhã. Nas recomendações, o pedido é para as pessoas evitarem áreas inundadas e ficarem atentas aos sinais de deslizamentos. Em caso de emergência, devem entrar em contato com a Defesa Civil pelo número 199 ou com o Corpo de Bombeiros pelo 193. Além disso, é possível que a população cadastre o CEP enviando uma mensagem de texto para o número 40199 para receber os alertas diretamente no seu celular. Fonte: https://oglobo.globo.com