*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam.

Durante a vida inteira carregamos a nossa  mortalidade,  mas mesmo assim existe o medo da morte.  Será que é por causa da escuridão? É normal preferir a luz.  Apesar de a vida ser para muitos, quem sabe para a maioria, uma mistura de preocupações, decepções e sofrimentos, com relativamente poucos relâmpagos de felicidade, mesmo assim existe o medo da morte.

Temos medo da escuridão quando vamos dormir? Não creio que seja a escuridão que mete medo, mesmo se crianças geralmente ficam apavoradas. O que provoca medo na escuridão é geralmente uma experiência que se deu na luz. Mas a escuridão que nos rodeia quando caímos no sono, normalmente não incute medo.  Inclusive no seu bojo carrega a promessa de um novo dia. Uma comparação válida para conciliar-nos com a nossa mortalidade sem a qual não haveria a escuridão da morte que é passagem para a luz da eternidade, onde seremos revestidos da imortalidade. É bom preparar-se na vida, não para a morte, mas para viver de acordo com o que aqui fica escrito.

Heidegger e Kierkegaard, constatando o caráter quotidiano da inquietação a explicam pela consciência da inalienabilidade da morte. Heidegger cita uma homilia medieval em que o autor afirma que “assim que um homem entra na vida, é já suficientemente velho para morrer".

Num artigo publicado em L’ Osservatore Romano  (de 01.08.2009, pp. 9-10), Inquietações e fugas do Cura d’Ars, o Cardeal James Francis Stafford fala também de uma inquietação de João Maria Vianney em relação à morte, mas que transcendia no seu significado as teses de Heidegger e Kierkegaard. Diz o autor do artigo: “Parece que a crescente consciência da inalienabilidade da morte era o motivo principal das suas três ‘dolorosas, misteriosas e perturbadoras’ tentativas de fuga de Ars. Mas na realidade era uma perspectiva original, derivada de uma perspectiva sacerdotal”. (...) A sua inquietação tinha-as raízes na sua experiência de confessor. Cada vez que ele entrava no confessionário, começava a sua morte, porque ele vivia aquilo que Jesus queria para aquele penitente.

Iluminadoras são a descrição que Hans Urs von Balthasar elaborou sobre a inquietação cristã e também a aplicação desta descrição à tarefa confessional do Cura: ‘Um cristão pode responsabilizar-se e ser solidário (para com os pecadores), precisamente na medida em que se separou do pecado. Pode entrar na inquietação, em nome do pecador, na medida em que se tiver, objetivamente, libertado da angustia do pecado”.

(Eremitério Fonte de Elias, Lídice/RJ. 8 de outubro de 2009)

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras- nas montanhas de Lídice- distrito do município de Rio Claro, Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.