Plínio Fraga
O que é importante? Todos os dias os jornalistas têm de responder a essa questão. O resultado, certo ou errado, está nas páginas, sejam impressas ou digitais. Há temas que parecem urgentes, como a política bandida, os bandidos da polícia, a origem do dinheiro do dinheiro no exterior, os habeas corpus que abrem cofres, os arranjos e desarranjos do ministério, velho tanto pelos nomes como por aquilo que representam.
Há ainda o caso da menina que ficou com o braço preso na porta do ônibus e foi arrastada por um quilômetro sem que o motorista percebesse ou acreditasse no aviso dos demais passageiros.
Os temas todos parecem urgentes, nos quais se mostram necessárias as devidas providências por parte das autoridades e da sociedade. Urgir é um verbo que combina com os vetustos editoriais dos jornais, mas mal se aplica às coisas mais comezinhas da vida.
Outra definição jornalística diz que homem quer saber o que se passa no seu quintal. Essa seria a essência das notícias, que andam tão ruins que talvez o levem a se entrincheirar no próprio quarto.
Mas de que adianta? Na década de 40, Sartre escreveu uma peça de teatro (“Entre Quatro Paredes”) em que três personagens chegam ao inferno. Esperavam encontrar lá instrumentos de tortura e carvões em brasa, mas apenas se veem trancados num quarto mobiliado com antiguidades feias. Não há espelhos, livros, escovas de dente, distrações. Tudo o que têm, por toda a eternidade, são uns aos outros. Estão ali um narcisista, um masoquista, um covarde. Um dos personagens diz a frase mais famosa da peça: “Cada um de nós é um carrasco para os outros. O inferno são os outros”.
As redes sociais parecem ter atualizado e potencializado Sartre. O quarto teatral passou a ser o mundo digital, em que somos os carrascos uns dos outros. A gente se vê por aí.
Fonte: www.br.noticias.yahoo.com