A dona de casa Helena Amaro, 35, sentiu alívio quando o telefone de casa tocou por volta das 22h de quinta (26). No outro lado da linha, ela acreditava estar o filho Reinaldo, 17, para avisar que havia chegado à casa da tia, em Santos.

Ele tinha o hábito de não deixar a família preocupada, por isso sempre telefonava para dar notícias.

O toque foi rápido e parou. Ao ligar de volta no celular do filho, um susto. Um membro da equipe médica de Cubatão atendeu e a informou sobre o acidente. A notícia da morte, porém, havia sido guardada pelos médicos, só para o contato pessoal com a família.

Helena custou a acreditar. A tragédia lhe parecia uma piada de mau gosto. O filho havia sido morto numa tentativa de roubo, quando um grupo de criminosos atirou pedras e galhos de árvore contra carros que passavam pela rodovia Imigrantes, na região de Cubatão, litoral sul paulista, na noite desta quinta-feira (26).

Helena já vinha trabalhando com a possibilidade de enfrentar a dor da perda precoce de um filho. Sua preocupação, porém, era com Juan, 16, diagnosticado com câncer no rosto em dezembro do ano passado.

Assim, quando surgiu a notícia da morte do filho de Helena, amigos logo pensaram em Juan, hospitalizado com frequência para combater o tumor.

Reinaldo, segundo familiares e amigos, era a pessoa que mais ajudava a cuidar do irmão mais novo, Arthur, de três anos, enquanto os pais corriam em busca de socorro para Juan.

"Ele [Reinaldo] era um filho que toda mãe quer. Não bebia, não fumava. Era um anjo. Talvez foi por isso que Deus o quis para perto Dele", disse Helena.

O adolescente completaria 18 anos no próximo dia 8 de junho. Tinha planos de escapar de uma convocação do Exército, comprar uma moto para passear e ir bem na faculdade de ciência de computação na qual havia ingressado neste ano.

Também planejava arrumar uma namorada. Tinha algumas paqueras, mas sua paixão, por ora, era apenas o Corinthians –clube que sofria para defender numa casa repleta de são-paulinos. "Brincávamos que era corintiano sofredor", diz Helena.

Também gostava de pescar. Adorava a adrenalina de tirar das águas as tilápias com mais de quilo. Fazia questão de registrar em foto seus "troféus".

Foi isso que fez com a família no feriado desta quinta, em um pesqueiro em Parelheiros (zona sul de São Paulo), antes de embarcar numa táxi clandestino em direção a Santos.

"Reinaldo pros amigos, Júnior pra família e, agora, um anjo pra todos nós", diz Helena.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br