O diretor Matheus Souza tem só 28 anos, mas há oito dirige filmes. Nesta semana, ele estreia seu terceiro longa em que volta a abordar aquele período nebuloso da vida em que se é jovem para ser velho e velho para ser jovem, como canta Sandy. Em "Tamo Junto", Leandro Soares e Sophie Charlotte vivem a crise dos quase 30. Ele termina o namoro e questiona se realmente precisa pegar todo mundo como se espera, e ela questiona o rumo da sua vida, que parece certo demais, com o casamento em vista.
No seu primeiro longa, "Apenas o Fim" (2008), Gregório Duvivier e Erica Mader viveram o dia do término de uma namoro feliz e, no segundo, Clarice Falcão tentava dar um rumo para sua vida em "Eu Não Faço a Menor Ideia do Que eu tô Fazendo com a Minha Vida" (2012), em um título bastante explicativo. O último filme já tem quatro anos e ele ainda recebe através das redes sociais mensagens de outros jovens que se identificaram com as histórias.
Matheus ainda se mantém como um dos poucos cineastas brasileiros que sabe falar bem sobre pessoas da sua geração e, para ele, os produtores ainda têm medo de colocar dinheiro na mão de jovens cineastas. "São oito anos de carreira e nunca tive a oportunidade de fazer filme com dinheiro. As pessoas que controlam a grana não querem coloca-la na mão dos jovens. O problema é que se você não é dessa geração e não nasceu com a internet, você não pode falar sobre o que é ser jovem. Outro dia ouvi um diretor dizendo que ele não assistiria o filme para jovem que ele fez. Aí está o problema", contou.
Respeito às diferenças
No novo filme, Matheus também volta a se debruçar sobre o loser: "desse assunto eu entendo", brinca ele, que sempre foi fã de séries, filmes, quadrinhos e heróis desde pequeno. "Tanto no meu filme, como em 'Harry Potter' ou mesmo em 'Homem-Aranha', o loser é o diferente e não existe mensagem mais importante ou atual do que você aceitar o outro do jeito que ele é. Na escola, eu era amigo de outros excluídos, como os gays e as mulheres, e isso me torna mais humano e um cara que adora o diferente".
O próprio Matheus está no filme, no papel de Paulo Ricardo, o melhor amigo do protagonista, que ainda é virgem, tem poucos amigos, coleciona vários bonecos de heróis e personagens de filmes cult, tem um poster da série "Game of Thrones" e cita Roupa Nova. Para Matheus, seu personagem tem função fundamental na humanização do protagonista. "Felipe (Leandro Soares) só encontra a felicidade quando ele passa a ser sensível, humano, respeitoso, quando passa a aceitar o meu personagem e quando reencontra o amor da infância [vivido por Sophie Charlotte]", conta.
"Agora que o mundo está dividido, com [Donald] Trump ganhando e o diferente sendo repelido, acho que essas são as narrativas mais importantes hoje. Fico incomodado quando dizem que meu filme é para uma classe social porque tem muita referência pop. Isso é de um preconceito enorme. O Twitter e o celular estão na mão de todo mundo, nossa vida é ditada por uma cultura pop", afirma o diretor.
Mesmo achando que consegue falar com todo mundo, Matheus quer, daqui para frente, só fazer roteiros em parcerias com pessoas diferentes dele. "Talvez minha voz de branco, hétero, classe média, esteja esgotada nesse momento. Meu foco nos filmes autorais agora é dar voz a outras pessoas. O próximo filme é um roteiro com um amigo gay. Quero que minhas histórias continuem relevantes".
Matheus diz não saber quanto custou "Tamo Junto". Ele só sabe que teve prejuízo. "Tive o cartão de crédito bloqueado e chegou uma hora que não conseguia usar mais o celular e tive que usar o da Sophie. "Sempre fico sem dinheiro quando faço filme, mas não há o que pague não ter alguém te dizendo o que você tem que fazer".
No entanto, consciente da chegada de sua fase adulta, também é necessário pagar as contas. Para isso, Matheus foi contratado pela Rede Globo, onde escreve uma série policial. Fonte: http://cinema.uol.com.br