Luiz André Medeiros
A morte “prematura” do gigante polonês Zygmunt Bauman, abre uma fecunda discussão sobre a continuidade de suas ideias e a percepção de quão vulnerável está essa “Multidão Solitária” chamada sociedade moderna – que habilmente o autor chamava de “sociedade líquida”.
Escrevendo sobre as mais diversas questões do mundo atual, Bauman partiu da constatação dos desastres sociais aos quais a sociedade contemporânea chegou: miséria, catástrofes ambientais, desigualdades sociais extremas e a barbárie que passamos. Para ele, muitos elementos contribuíram para a passagem do estado sólido da modernidade para uma qualidade fluida, identificando alguns fatores dessa passagem. Analisando a condição urbana, ele entende que as cidades são, por excelência, os locais onde acontecem todos as contradições, onde se vivem os paradoxos da globalização, principalmente os que derivam do mal-estar que leva a sensação generalizada de insegurança.
Sob sua óptica, analisando de forma profunda as relações de solidariedade, nossa sociedade vive o fenômeno em que as pessoas convivem lado a lado, mas dificilmente aprofundam os contatos, o que torna cada vez mais raro o relacionamento genuíno entre dois indivíduos. Entende que as pessoas se tornam coisas que podem ser adquiridas, consumidas e descartadas – critica: “é preciso diluir as relações para que possamos consumi-las”.
Quando me deparei com a leitura de “Amor Líquido” no começo do nosso século, já não conseguia perceber as nuances de um mundo em transformação, já que ainda vivia a vã esperança da ideologia. Ele jogou na nossa cara e percebeu que a pessoa se torna uma mera imagem sensual a ser consumida e ejetada sem maiores delongas do círculo de contatos e do próprio âmbito da percepção pessoal. A sandice das relações virtuais e a descartabilidade do que denominou como “relacionamentos de bolso” são a tônica do “amor líquido”, pois pode-se dispor quando necessário e depois guardá-lo.
Mostrou que, nesse mundo de incertezas, temos relacionamentos instáveis, pois as relações humanas estão cada vez mais flexíveis. Acostumados com o mundo virtual e com a facilidade de “desconectar-se”, as pessoas não conseguem manter um relacionamento de longo prazo. Pessoas estão sendo tratadas como bens de consumo, ou seja, caso haja defeito descarta-se.
Enfim, em linhas gerais, afirmou o paradoxo de um mundo em letargia, incapaz de conseguir alcançar forças para reagir. Deixa um legado e um ensinamento. Não nos mostra o caminho da salvação, mas diz o problema - a transformação que pode ser resumida nos seguintes processos: a metamorfose do cidadão, possuidor de direitos, em indivíduo em busca de afirmação no espaço social; a mudança de estruturas de solidariedade coletiva para as de competição; a queda dos sistemas de proteção estatal às vicissitudes da vida, possibilitando um permanente ambiente de incerteza; e a colocação da responsabilidade dos fracassos no plano individual.
Trouxe-nos a culpa como castigo para os “Indivíduos por Fatalidade”, incapazes de enxergar um palmo . Segue em paz gênio. Fonte: http://www.cadaminuto.com.br