Francisco mantém esperança nas chuvas, pois ainda não tem acesso à água da transposição.

Em 68 anos de vida, o agricultor Francisco Leonardo da Silva, 68 anos, conta que nunca viu uma seca tão prolongada, no Cariri paraibano. Casado com a também agricultora Maria das Graças Oliveira Silva, 59 anos, ele já viu três filhos deixarem a Paraíba depois de uma estiagem que já dura 5 anos. O casal mora no sítio Pata, na zona rural de Cabaceiras. Com a chegada das águas da transposição do Rio São Francisco, o “Velho Chico” traz nova esperança ao “Chico de Maria”, como é conhecido o agricultor na região.

Quando tem água, o casal planta feijão, capim e cria gado. Francisco e Maria têm cinco filhos, sendo três mulheres e dois homens. Marcone de 21 anos e Márcio de 36 se mudaram para o Rio de Janeiro depois que o Rio Paraíba secou e eles ficaram sem água para plantação irrigada. Uma das filhas foi morar em Caruaru, Pernambuco, outra se mudou para a zona urbana de Cabaceiras e apenas a filha mais nova, de 16 anos, continua morando com o casal na zona rural.

“Eu tenho dois filhos (homens) que já foram pro Rio [de Janeiro] porque não tinham do que viver quando o Rio [Paraíba] secou. Já são cinco anos. Não teve do que sobreviver e [eles] estão lá agora. Lá (no Rio de Janeiro) eles trabalham de porteiros”, conta a mãe.

Fé do homem do campo

Mesmo com as “perdas dos filhos” para a seca, o casal nunca abandonou a terra, sempre acreditando que um dia a situação iria melhorar. A fé de Francisco não se abala, apesar das dificuldades enfrentadas.

“Eu não reclamo de nada, não. Deus é quem sabe a hora que manda ou que não manda (a chuva), né? Pode estar ruim, pode estar bom, pode estar do jeito que estiver, eu não

Bênção de Deus

No leito do Rio Paraíba ainda com o chão rachado pela seca, Maria usa uma pequena garrafa plástica para coletar um pouco da água que acabara de chegar ao sítio. “Eu vou levar para minha menina (a filha) a ver. Isso aqui é uma benção de Deus. Mais de 5 anos [de seca], né Chico?”, diz Maria para o marido.

Retorno dos filhos

A chegada da água traz ao casal a esperança de reencontrar os filhos. Alguns já querem voltar para casa. “Eles ligam todas as semanas. O [meu filho] mais novo diz que a hora que o rio encher, vem embora para plantar. Ele me disse que estava pra vir logo agora pra ver a água do rio chegando, mas eu disse: 'tenha calma, deixe chegar e vamos ver como vai ficar'”, disse Maria.

Esperar um pouco mais

O casal sabe que, mesmo com a chegada das águas, não terá efeito imediato na produção agrícola. A prioridade será a recarga dos açudes que abastecem a população no estado. “Não vão deixar plantar agora não porque vai ter que deixar passar muito tempo para abastecer as cidades como Boqueirão e Campina Grande”, disse Maria.

Com a água de poços artesianos, o casal tem plantado para garantir o mínimo de sustento da filha de 16 anos. “A gente nunca parou de plantar não porque a gente tem poço [artesiano]. Mas a gora vai ficar mais fácil né?”, disse Francisco.

A transposição

A água da transposição do Rio São Francisco chega à cidade de Monteiro, na Paraíba, através do eixo leste. Neste trecho, a água é captada na cidade de Petrolândia, no Sertão de Pernambuco e viaja por 208 quilômetros até chegar a cidade paraibana. As águas chegaram a Monteiro, no dia 8 de março deste ano.

A água captada do Rio São Francisco passa por seis estações elevatórias de água, cinco aquedutos, 23 segmentos de canais e ainda 12 reservatórios. A intenção da criança dos reservatórios é beneficiar as comunidades onde foram construídos e também garantir que a água não pare de correr pelos canais, caso seja necessário fazer algum reparo no trecho.

Os 12 reservatórios são: Areais, Braúnas (o maior deles, com capacidade para mais de 14 milhões de metros cúbicos de água), Mandantes, Salgueiro (5,2 milhões de m³), Muquem, Cacimba Nova, Bagres, Copití, Moxotó, Barreiro, Campos (o segundo maior com 8 milhões de m³) e Barro Branco.

Passagem da água na Paraíba

Depois de chegar a Monteiro, as águas do “Velho Chico” vão para o Rio Paraíba e através dele segue pelos açudes de São José I e Poções, ainda na cidade de Monteiro; pelo açude de Camalaú; pelo açude de Boqueirão; pelo açude de Acauã, em Itatuba; pelo açude de Araçagi e depois segue para um perímetro irrigado no município de Sapé.

O açude São José I já está sangrando com a chegada das águas da transposição do Rio São Francisco. Já o açude Poções está com um volume de 6,6%, o açude de Camalaú está com 14,4%, o açude de Boqueirão está com 3%, o açude de Acauã está com 5,3% e o açude de Araçagi está com 71,3%. Fonte: http://g1.globo.com