Em homenagem ao Dia do Gari, comemorado nesta terça-feira (16), o G1 acompanhou algumas horas da rotina desses profissionais.
Manter limpa uma cidade como o Rio de Janeiro requer uma operação quase de guerra. É preciso preparo físico, um batalhão de profissionais e "armas" contra o preconceito. Em homenagem ao Dia do Gari, comemorado nesta terça-feira (16), o G1 acompanhou algumas horas da rotina desses profissionais e pôde comprovar o trabalho árduo e de extrema importância para a sociedade.
Durante 2h20, a repórter recolheu lixo público das ruas da Lapa e do Centro, entre entulhos e até comida estragada. Entre os pontos positivos, avaliou o carisma dos garis, o material de segurança usado pelos profissionais e agilidade do serviço. Já entre os negativos destacou as fezes dos moradores de rua misturadas ao lixo público e as dores no corpo pelo esforço físico.
"O trabalho é intenso, tem muita responsabilidade, mas é divertido também, a gente se vê todo dia e acaba criando uma amizade", conta Israel Moraes, de 39 anos, que trabalha há 13 como gari. Ele divide o espaço do caminhão de coleta de lixo com os amigos Alexandre Dias, de 42 anos, e William Robson, de 33.
"Não tenho vergonha nenhuma de falar que sou gari. Tenho o maior orgulho", declara Israel.
Atualmente, cerca de 15 mil garis trabalham na cidade. Na Gerência de Limpeza do Centro, uma das mais importantes, os profissionais de diferentes tipos de coletas são divididos em três turnos . De acordo com a Comlurb, os garis da varrição de logradouros recolhem, em média, 50 quilos por dia. Já os caminhões carregam cerca de 270 toneladas por turno.
A Avenida Rio Branco, no Centro, é uma das vias que exigem maior atenção da limpeza urbana porque a locomoção de pessoas é bem intensa. Ela é varrida quatro vezes ao dia. Além da Rio Branco, as ruas com maior quantidade de lixo público são a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana; Rua Coronel Agostinho, em Campo Grande; Avenida Presidente Vargas, no Centro; e Estrada do Portela, em Madureira.
Sobre o preconceito em relação a profissão, os garis afirmam que, apesar de o cenário ter mudado bastante nos últimos anos, a discriminação ainda existe. É aí que entra o bom humor dos profissionais para virar o jogo."A gente trabalha com lixo, mas anda cheirosinho", diverte-se Israel.
"Essa roupa de gari, na Baixada Fluminense, é muito valorizada. As pessoas veem a gente com admiração, perguntam quando vai abrir novo concurso (o último concurso aconteceu em 2015 e 80 mil pessoas se inscreveram)", acrescenta Alexandre, que mora em Queimados e sai às 3h40 de casa para começar o expediente às 7h, no Centro.
Atualmente, o piso salarial do gari é de R$ 1.382,88. "Não tenho do que reclamar. Aqui é minha segunda casa, minha mulher nem fica com ciúmes, até porque tudo que temos, todo meu sustento vem da Comlurb", conta Ernani Teixeira, de 67 anos, e há 35 na companhia de limpeza urbana.
Carinho da população
William Robson acha graça quando o assunto é paquera e assédio. "É difícil uma paquera, mas, quando rola, a gente agradece e segue o serviço", diz, aos risos. Um outro gari diz que já ganhou um apertão no bumbum de uma mulher quando estava no caminhão. "Ela estava de carona na garupa de uma moto e apertou meu bumbum, não entendi nada."
O carinho da população, segundo os garis, supera os poucos "olhares tortos" que recebem. "O pessoal dá bom dia pra gente, oferece água, comida. As pessoas ajudam a jogar o lixo no caminhão. O bom é que a população é simpática, vê a gente com bons olhos", afirma Willam. Até os turistas entram na dança e abusam das selfies com os profissionais, por conta do uniforme chamativo de cor laranja.
"Mesmo na correria, damos atenção para eles, tiramos fotos. Porque eles gostam, né?", justifica Alexandre, que, por conta da sua simpatia, recebeu como presente óculos de sol de um turista estrangeiro.
O lema é rir muito e reclamar pouco. Pra tirar a alegria deles só mesmo lixo mal embalado e entulhos proibidos. Além dos donos de animais que deixam os bichos urinarem nas sacolas de lixo.
"Muitos dos acidentes de trabalho acontecem porque as pessoas colocam vidros nos sacos plásticos e acabam cortando a gente. Fica o nosso apelo para que as pessoas embalem seus lixos pensando nos profissionais que vão manusear", pede William. Segundo a Gerência do Centro, a equipe de lá está há 85 dias sem acidentes. O recorde foi de 234 dias, no ano passado.
"O assunto está sempre em pauta. Todos os dias, antes deles saírem, promovemos o Minuto de Segurança, com uma palestra que fala sobre proteção pessoal e coletiva", explica o gerente Luiz Carlos de Souza.
Histórias para contar
Solange Arruda, gari de varrição, abre um sorrisão ao lembrar que já achou R$ 15 no lixo: "Uma vez, eu varrendo as folhas lá no Bairro de Fátima, vi um papelzinho enrolado e quando abri tinha R$ 15. Fiquei toda feliz. Depois, nunca mais achei."
Há 26 anos como gari, Sérgio Moraes, de 52 anos, tem muitas histórias pra contar. Ele conta que Já achou carteira cheia de documentos de uma médica no lixo, já carregou colega de trabalho bêbado dentro da caçamba para os chefes não verem, e também achou uma corrente de outro, que disse ser avaliada em R$ 3 mil. "Dei pra minha mulher e até hoje não sei onde ela enfiou", diverte-se.
Para Sérgio, não existe emprego melhor do que o dele. "Já tive oportunidade de estar em outros lugares, mas eu sempre digo e repito: Lugar de gari é na rua."
Programação para o Dia do Gari
Os garis serão homenageados em grande estilo pela Comlurb e pelos cariocas que passarem pela Praça Mauá, na Zona Portuária, que será palco de festividades na data comemorativa, a partir das 10 horas.
Como parte da ação, durante a operação de limpeza na cidade do Rio de Janeiro, serão mostradas por meio de simulação de situações do dia a dia as atividades dos garis. O grupo Chegando de Surpresa e o gari passista Renato Sorriso estarão presentes para alegrar a festa. Populares poderão posar para fotos com as vestes e equipamentos de trabalho dos trabalhadores.
Também em comemoração ao Dia do Gari, o Zoológico do Rio dará gratuidade no ingresso para todos os profissionais de limpeza urbana responsáveis pela conservação de ruas, praças e praias do Rio de Janeiro.
A ação é feita em parceria com o Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação - RJ (SIEMACO-RJ) e para ter acesso basta apresentar o crachá funcional ou contracheque na bilheteria do RioZoo e retirar a cortesia, válida apenas para o dia. Fonte: http://g1.globo.com