Centrais citam Papa Francisco e afirmam que se levantam contra "sanha exploradora".

As centrais sindicais aprovaram documento endereçado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em que expressam "nosso reconhecimento e nossa gratidão ao apoio claro e explícito que a Igreja Católica no Brasil manifestou à luta pela justiça dos trabalhadores e do povo brasileiro no período recente", com referência à greve geral realizada na última sexta-feira (28). A reportagem é de Vitor Nuzzi e publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 04-05-2017.

Segundo a carta, dirigida ao presidente da Conferência, o cardeal Sergio da Rocha, e lida durante reunião das entidades nesta quinta (4), "a coragem e a generosidade" de muitos bispos e as declarações "enérgicas" da própria assembleia geral da CNBB "provocaram um ânimo muito grande em nossa gente".

Os sindicalistas resolveram aprovar um documento por avaliar que a entidade passou a sofrer pressões do governo para mudar seu posicionamento crítico a respeito das reformas. "Queremos que o senhor saiba deste nosso reconhecimento porque sabemos também o quanto lhes custa tomar estas posições, e as pressões que os poderosos exercem em defesa de seus privilégios e de seus projetos que legalizam a exploração e a exclusão."

Fazem também citação ao papa. "Nós que já nos entusiasmávamos com as posições proféticas do Papa Francisco, constatamos agora, com muita alegria, que a Igreja no Brasil está seguindo seu Pastor e pondo em prática uma atuação que honra o Evangelho e a prática de Jesus Cristo", afirmam as centrais.

Os dirigentes dizem ainda não estar defendendo privilégios de grupos ou corporações. "Estamos lutando para que os mais pobres e excluídos deste Brasil não sejam ainda mais massacrados por reformas legais que falam em modernização mas que se constituem na prática formas cruéis de aumentar a exploração; lutamos para que nosso País não tenha alienados seus bens mais estratégicos, para que o sistema financeiro e o mercado não sejam a única orientação política deste País."

Eis a nota.

Para S. Eminência Reverendíssima

Dom Sérgio, Cardeal Rocha

  1. Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Prezado Dom Sérgio,

Reunidos em São Paulo nesta data, dirigentes sindicais das Centrais Sindicais – CSB – Central dos Sindicatos Brasileiros ; CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras no Brasil ; CGTB – Central Geral dos Trabalhadores do Brasil ; CUT - Central Única dos Trabalhadores ; CSP – Conlutas – Coordenação Nacional de Lutas; Força Sindical; Intersindical Central da Classe Trabalhadora; NCST – Nova Central Sindical de Trabalhadores; UGT – União Geral dos Trabalhadores, decidimos manifestar de forma oficial nosso reconhecimento e nossa gratidão ao apoio claro e explícito que a CNBB no Brasil manifestou à luta pela justiça dos trabalhadores e do povo brasileiro no período recente, e particularmente por ocasião da Greve Geral realizada no último dia 28 de abril.

A coragem e a generosidade reconhecidas de muitos Bispos ao publicarem explicitamente seu apoio ao Movimento, e sobretudo as declarações claras e enérgicas por parte da própria Assembleia, provocaram, dom Sérgio, um encorajamento, um ânimo muito grande em nossa gente.

Queremos que o Senhor saiba deste nosso reconhecimento porque sabemos também o quanto lhes custa tomar estas posições, e as pressões que os poderosos exercem em defesa de seus privilégios e de seus projetos que legalizam a exploração e a exclusão.

Dom Sérgio, esteja certo: não estamos lutando por privilégios de grupos ou corporações. Estamos lutando para que os mais pobres e excluídos deste Brasil não sejam ainda mais massacrados por reformas legais que falam em modernização mas que se constituem na prática formas cruéis de aumentar a exploração; lutamos para que nosso País não tenha alienados seus bens mais estratégicos, para que o sistema financeiro e o mercado não sejam a única orientação política deste País.

Confessamos ao Senhor e aos membros desta Assembleia que nem nós imaginávamos que este Governo fosse chegar tão longe em suas ações de retirada de direitos daqueles que historicamente já foram vítimas da exclusão. E a cada dia uma nova surpresa: veja, dom Sérgio o escândalo desta nova proposta de legislação trabalhista para o campo, que quer impor ao trabalhador condições análogas à escravidão: 18 dias de trabalho seguidos, jornada de 12 horas, pagamento em casa ou alimentação, venda total das férias... Veja o relatório da CPI da Funai e do Incra, criminalizando aqueles que ousam defender a população indígena, vítima extrema da espoliação.

Dom Sérgio, o combate que eles fazem ao financiamento sindical é outra tentativa de fragilizar a resistência a seus projetos; enquanto isso, as entidades Patronais auferem, através do sistema S, recursos infinitamente maiores.

É contra esta sanha exploradora que nos levantamos e vemos com satisfação que nosso grito se faz ouvir cada dia mais pela população e por entidades da importância da CNBB.

Muito obrigado, dom Sérgio, por podermos compartilhar esta luta pela justiça. Transmita, por favor a Dom Leonardo e a todos os Bispos, este nosso reconhecimento. Ao mesmo tempo, devemos lhe dizer que nossa luta deverá ser dura e muito longa. Continuamos, por isso, contando, com sua generosidade, sua coragem profética e seu apoio de Pastores.

São Paulo, 4 de maio de 2017. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br