Sexta-feira, 1º de novembro-2019. 30ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 1-6)
1Jesus entrou num sábado em casa de um fariseu notável, para uma refeição; eles o observavam. 2Havia ali um homem hidrópico. 3Jesus dirigiu-se aos doutores da lei e aos fariseus: É permitido ou não fazer curas no dia de sábado? 4Eles nada disseram. Então Jesus, tomando o homem pela mão, curou-o e despediu-o. 5Depois, dirigindo-se a eles, disse: Qual de vós que, se lhe cair o jumento ou o boi num poço, não o tira imediatamente, mesmo em dia de sábado? 6A isto nada lhe podiam replicar.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz mais um episódio de discussão entre Jesus e os fariseus, acontecido durante a longa viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém. É muito difícil de situar este fato no contexto da vida de Jesus. Existem semelhanças com um fato narrado no evangelho de Marcos (Mc 3,1-6). Provavelmente, trata-se de uma das muitas histórias transmitidas oralmente e que, na transmissão oral, foram sendo adaptadas de acordo com a situação, as necessidades e as esperanças do povo das comunidades.
Lucas 14,1: O convite em dia de sábado
“Num dia de sábado aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus, que o observavam”. Esta informação inicial sobre refeição na casa de um fariseu é o gancho para Lucas contar vários episódios que falam da refeição: cura do homem doente (Lc 14,2-6), escolha dos lugares à mesa (Lc 14,7-11), escolha dos convidados (Lc 14,12-14), convidados que recusam o convite (Lc 14,15-24). Muitas vezes Jesus é convidado pelos fariseus para participar das refeições. No convite deve ter havido também um motivo de curiosidade e um pouco de malícia. Querem observar Jesus de perto para ver se ele observa em tudo as prescrições da lei.
Lucas 14,2: A situação que vai provocar a ação de Jesus
“Havia um homem hidrópico diante de Jesus”. Não se diz como um hidrópico pôde entrar na casa do chefe dos fariseus. Mas se ele está diante de Jesus é porque quer ser curado. Os fariseus que o observam Jesus. Era dia de sábado, e em dia de sábado é proibido curar. O que fazer? Pode ou não pode?
Lucas 14,3: A pergunta de Jesus aos escribas e fariseus
“Tomando a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: "A Lei permite ou não permite curar em dia de sábado?" Com a sua pergunta Jesus explicita o problema que estava no ar: pode ou não pode curar em dia de sábado? A lei permite, sim ou não? No evangelho de Marcos, a pergunta é mais provocadora: “Em dia de sábado pode fazer o bem ou o mal, salvar ou matar?” (Mc 3,4).
Lucas 14,4-6: A cura
Os fariseus não responderam e ficaram em silêncio. Diante do silêncio de quem não aprova nem desaprova, Jesus tomou o homem pela mão, o curou, e o despediu. Em seguida, para responder a uma possível crítica, explicitou o motivo que o levou a curar: "Se alguém de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?" Com esta pergunta Jesus mostra a incoerência dos doutores e dos fariseus. Se qualquer um deles, em dia de sábado, não vê problema nenhum em socorrer a um filho ou até a um animal, Jesus também tem o direito de ajudar e curar o hidrópico. A pergunta de Jesus evoca o salmo, onde se diz que o próprio Deus socorres a homens e animais (Sl 36,8). Os fariseus “não foram capazes de responder a isso” . Pois diante da evidência não há argumento que a negue.
4) Para um confronto pessoal
1) A liberdade de Jesus diante da situação. Mesmo observado por quem não o aprova, ele não perde a liberdade. Qual a liberdade que existe em mim?
2) Há momentos difíceis na vida, em que somos obrigados a escolher entre a necessidade imediata de um próximo e a letra da lei. Como agir?
5) Oração final
Louvarei o Senhor de todo o coração, na assembleia dos justos e em seu conselho. Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração de todos os que as amam. (Sl 110, 1-2)
FESTA DE TODOS OS SANTOS: “Os santos nos ajudam a enfrentar a vida com coragem e esperança”. Francisco.
- Detalhes
“A recordação dos Santos leva-nos a erguer os olhos para o Céu: não para esquecer as realidades da terra, mas para enfrentá-las com mais coragem e esperança", disse o Papa Francisco ao rezar com os fiéis a oração mariana na Praça São Pedro por ocasião da Solenidade de Todos os Santos.
Cidade do Vaticano
“Somos todos chamados à santidade”: foi o que recordou o Papa Francisco ao rezar com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro o Angelus por ocasião da Solenidade de Todos os Santos, celebrada no dia 3 no Brasil. A data é festejada com um feriado não só no Vaticano, mas em toda a Itália.
“Os Santos e as Santas de todos os tempos não são simplesmente símbolos, seres humanos distantes, inalcançáveis. Pelo contrário, são pessoas que viveram com os pés no chão”, afirmou o Pontífice.
Eles experimentaram a fadiga diária da existência com os seus sucessos e fracassos, encontrando no Senhor a força para se levantar e continuar o caminho.
Isso demonstra que a santidade é uma meta que não pode ser alcançada apenas pelas próprias forças, mas é o fruto da graça de Deus e da nossa livre resposta a ela.
Santidade: dom e chamado
Portanto, acrescentou o Papa, a santidade é dom e chamado.
Enquanto graça de Deus, isto é, dom, explicou, é algo que não podemos comprar ou trocar, mas acolher, participando assim da mesma vida divina através do Espírito Santo que habita em nós desde o dia do nosso Batismo.
Trata-se de amadurecer sempre mais a consciência de que estamos enxertados em Cristo, como o ramo está unido à videira, e por isso podemos e devemos viver com Ele e Nele como filhos de Deus. “Então a santidade é viver em plena comunhão com Deus, já agora, durante a peregrinação terrena.”
Além de ser um dom, disse ainda Francisco, a santidade é também chamado, vocação comum dos discípulos de Cristo; é o caminho de plenitude que cada cristão é chamado a percorrer na fé, caminhando para a meta final: a comunhão definitiva com Deus na vida eterna.
A santidade torna-se assim uma resposta ao dom de Deus, porque se manifesta como assunção de responsabilidade. “Nesta perspectiva, é importante assumir um sério e cotidiano compromisso de santificação nas condições, deveres e circunstâncias da nossa vida, procurando viver tudo com amor, com caridade”, recomendou o Papa.
Compromisso
Olhando para as vidas dos santos, prosseguiu Francisco, somos encorajados a imitá-los. Entre eles, estão muitas testemunhas de uma santidade "da porta ao lado, daqueles que vivem perto de nós e são reflexo da presença de Deus".
“ A recordação dos Santos leva-nos a erguer os olhos para o Céu: não para esquecer as realidades da terra, mas para enfrentá-las com mais coragem e esperança. ”
Igreja do céu e da terra
Ao final da oração mariana, falando ainda da Solenidade de Todos os Santos e do Dia de Finados, o Papa disse que essas duas festas cristãs nos recordam o vínculo que existe entre a Igreja da terra e a do céu, “entre nós e os nossos entes queridos que passaram para a outra vida”.
E lembrou que no amanhã celebrará a Eucaristia nas catacumbas de Priscila, “um dos lugares de sepultura dos primeiros cristãos de Roma”.
“Nestes dias, em que, infelizmente, circulam também mensagens de cultura negativa sobre a morte e sobre os mortos, convido vocês a não negligenciarem, se possível, uma visita e uma oração ao cemitério”, foi o convite final do Pontífice. Fonte: www.vaticannews.va
Quinta-feira, 31 de outubro-2019. 30ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 13, 31-35)
31No mesmo dia chegaram alguns dos fariseus, dizendo a Jesus: Sai e vai-te daqui, porque Herodes te quer matar. 32Disse-lhes ele: Ide dizer a essa raposa: eis que expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e ao terceiro dia terminarei a minha vida. 33É necessário, todavia, que eu caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não é admissível que um profeta morra fora de Jerusalém. 34Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus, quantas vezes quis ajuntar os teus filhos, como a galinha abriga a sua ninhada debaixo das asas, mas não o quiseste! 35Eis que vos ficará deserta a vossa casa. Digo-vos, porém, que não me vereis até que venha o dia em que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor!
3) Reflexão Lucas 13, 31-35
O evangelho de hoje nos faz sentir o contexto ameaçador e perigoso no qual Jesus vivia e trabalhava. Herodes, o mesmo que tinha matado João Batista, quer matar Jesus.
Lucas 13,31: O aviso dos fariseus a Jesus
“Nesse momento, alguns fariseus se aproximaram, e disseram a Jesus: "Deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar". É importante notar que Jesus recebeu o aviso da parte dos fariseus. Algumas vezes, os fariseus estão juntos com o grupo de Herodes querendo matar Jesus (Mc 3,6; 12,13). Mas aqui, eles são solidários com Jesus e querem evitar a morte dele. Naquele tempo, o poder do rei era absoluto. Ele não prestava conta a ninguém da sua maneira de governar. Herodes já tinha matado a João Batista e agora está querendo acabar também com Jesus.
Lucas 13,32-33: A resposta de Jesus
“Jesus disse: "Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho”. A resposta de Jesus é muito clara e corajosa. Ele chama Herodes de raposa. Para anunciar o Reino Jesus não depende da licença das autoridades políticas. Ele até manda um recado informando que vai continuar seu trabalho hoje e amanhã e que só vai embora depois de amanhã, isto é, no terceiro dia. Nesta resposta transparece a liberdade de Jesus frente ao poder que queria impedi-lo da realizar a missão recebida do Pai. Pois quem determina os prazos e a hora é Deus e não Herodes! Ao mesmo tempo, na resposta transparece um certo simbolismo relacionado com a morte e a ressurreição ao terceiro dia em Jerusalém. E para dizer que não vai ser morto na Galiléia, mas sim em Jerusalém, capital do seu povo, e que vai ressuscitar no terceiro dia.
Lucas 13,34-35: Lamento de Jesus sobre Jerusalém
"Jerusalém, Jerusalém, você que mata os profetas e apedreja os que lhe foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis!” Este lamento de Jesus sobre a capital do seu povo evoca a longa e triste história da resistência das autoridades aos apelos de Deus que chegavam a elas através de tantos profetas e sábios. Em outro lugar Jesus fala dos profetas perseguidos e mortos desde Abel até Zacarias (Lc 11,51). Chegando em Jerusalém pouco antes da sua morte, olhando a cidade do alto do Monte das Oliveiras, Jesus chora sobre ela, porque ela não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la." (Lc 19,44).
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus qualifica o poder político como raposa. O poder político do seu país merece esta qualificação?
2) Jesus tentou muitas vezes converter o povo de Jerusalém, mas as autoridades religiosas resistiram. E eu, quanto vezes resisti?
5) Oração final
Procurai o SENHOR e o seu poder, não cesseis de buscar sua face. Lembrai-vos dos milagres que fez, dos seus prodígios e dos julgamentos que proferiu. (Sl 104, 4-5)
Quarta-feira, 30 de outubro-2019. 30ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 13, 22-30)
22Sempre em caminho para Jerusalém, Jesus ia atravessando cidades e aldeias e nelas ensinava.23Alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os homens que se salvam? Ele respondeu:24Procurai entrar pela porta estreita; porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não o conseguirão.25Quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, e vós, de fora, começardes a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos, ele responderá: Digo-vos que não sei de onde sois.26Direis então: Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste em nossas praças.27Ele, porém, vos dirá: Não sei de onde sois; apartai-vos de mim todos vós que sois malfeitores.28Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, e vós serdes lançados para fora.29Virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e sentar-se-ão à mesa no Reino de Deus.30Há últimos que serão os primeiros, e há primeiros que serão os últimos.
3) Reflexão Lucas 13, 22-30
O evangelho de hoje traz mais um episódio acontecido durante a longa caminhada de Jesus desde a Galileia até Jerusalém, cuja descrição ocupa mais de uma terça parte do evangelho de Lucas (Lc 9,51 a 19,28).
Lucas 13,22: A caminho de Jerusalém
“Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém”. Mais uma vez Lucas menciona que Jesus está a caminho de Jerusalém. Durante os dez capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas, constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). O que é claro e definido, desde o começo, é o destino da viagem: Jerusalém, a capital, onde Jesus será preso e morto (Lc 9,31.51). Raramente, informa o percurso e os lugares por onde Jesus passava. Só no começo da viagem (Lc 9,51), no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc 18,35; 19,1), ficamos sabendo algo a respeito do lugar por onde Jesus estava passando. Deste modo, Lucas sugere o seguinte ensinamento: temos que ter claro o objetivo da nossa vida, e assumi-lo decididamente como Jesus fez. Devemos caminhar. Não podemos parar. Nem sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o objetivo: Jerusalém, onde nos aguarda o “êxodo” (Lc 9,31), a paixão, morte e ressurreição.
Lucas 13,23: A pergunta sobre os número dos que se salvam
Nesta caminhada para Jerusalém acontece de tudo: informações sobre massacres e desastres (Lc 13,1-5), parábolas (Lc 13,6-9.18-21), discussões (Lc 13,10-13) e, no evangelho de hoje, perguntas do povo: "Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?" Sempre a mesma pergunta em torno da salvação!
Lucas 13,24-25: A porta estreita
Jesus diz que a porta é estreita: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão”. Será que Jesus diz isto só para encher-nos de medo e obrigar-nos a observar a lei como ensinavam os fariseus? O que significa esta porta estreita? De que porta se trata? No Sermão da Montanha Jesus sugere que a entrada para o Reino tem oito portas. São as oito categorias de pessoas das bem-aventuranças: (1) pobres em espírito, (2) mansos, (3) aflitos, (4) famintos e sedentos de justiça, (5) misericordiosos, (6) puros de coração, (7) construtores da paz e (8) perseguidos por causa da justiça (Mt 5,3-10). Lucas as reduziu para quatro: (1) pobres, (2) famintos, (3) tristes e (4) perseguidos (Lc 6,20-22). Só entra no Reino quem pertence a uma destas categorias enumeradas nas bem-aventuranças. Esta é a porta estreita. É o novo olhar sobre a salvação que Jesus nos comunica. Não há outra porta! Trata-se da conversão que Jesus pede de nós. Ele insiste: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: Senhor, abre a porta para nós! E ele responderá: Não sei de onde são vocês”. Enquanto a hora do julgamento não chegar, é tempo favorável para a conversão, para mudar nossa visão sobre a salvação e entrar em uma das oito categorias.
Lucas 13,26-28: O trágico mal-entendido
Deus responde aos que batem na porta: “Não sei de onde são vocês”. Mas eles insistem e argumentam: Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças! Não basta ter convivido com Jesus, de ter participado da multiplicação dos pães e de ter escutado seus ensinamentos nas praças das cidades e povoados. Não basta ter ido à igreja e de ter participado das instruções do catecismo. Deus responderá: Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!”. Mal-entendido trágico e falta total de conversão, de compreensão. Jesus declara injustiça aquilo que os outros consideram ser coisa justa e agradável a Deus. É uma visão totalmente nova sobre a salvação. A porta é realmente estreita.
Lucas 13,29-30: A chave que explica o mal-entendido
“Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos". Trata-se da grande mudança que se operou com a vinda de Deus até nós em Jesus. A salvação é universal e não só do povo judeu. Todos os povos terão acesso e poderão passar pela porta estreita.
4) Para um confronto pessoal
1) Ter o objetivo claro e caminhar para Jerusalém: Será que tenho objetivos claros na minha vida ou deixo-me levar pelo vento do momento da opinião pública?
2) A porta é estreita. Qual a visão que tenho da Deus, da vida, da salvação?
5) Oração final
Glorifiquem-vos, Senhor, todas as vossas obras, e vos bendigam os vossos fiéis. Que eles apregoem a glória de vosso reino, e anunciem o vosso poder. (Sl 144, 10-11)
Pastoral do Batismo: História e espiritualidade do Sacramento
- Detalhes
- História do Batismo no Brasil
- De uma carta, enviada do Brasil para Portugal, falando dos índios que encontraram por aqui: “Gente boa! Pena que não são batizados!” Ou seja: sem batismo a pessoa é condenada!
- Os índios tinham os seus ritos próprios de iniciação para proteger a vida da criança. Estes ritos se misturaram com os ritos da Igreja.
- No começo havia muito pouca preparação. Havia gente que se batizava duas ou três vezes. A partir de 1549, começa a formação das aldeias pelos padres Jesuitas.
- Em torno de 1600, a metade dos índios já tinha morrido por motivo de doenças, provocadas pelo contato com os brancos. Havia pagé que “desbatizava” as crianças! Achavam que podia ser motivo de morte. Daí, a preocupação do missionário em mostrar que o batismo era para dar um bem, e não para dar a morte!
- Na mente de muitos índios, o batismo era associado com morte e com entrega aos brancos. A lei vinda de Portugal exigia que o senhor do engenho batizasse os negros. Havia negros marcados com fogo para mostrar que eram batizados.
- A história do batismo no Brasil tem suas contradições. Mesmo assim, apesar de tudo, os negros e índios souberam transformar o sinal de morte em sinal de vida. Souberam fazer com que o batismo se tornasse sinal de cidadania e sinal de gente. O batismo tornou-se um sinal de poder participar de irmandades e de poder participar das festas. O Batismo, apesar de tudo, transformou-se em sinal de vida e de liberdade, de dignidade, de consciência nova de gente e de filho de Deus. Buscando o batismo, o povo buscava uma coisa boa e positiva!
- Se quisermos renovar a pastoral do batismo, não basta conversar sobre o batismo, mas temos que ver o que o povo vive e vê no batismo; o que o povo deseja e busca no Batismo. Quem precisa ser batizada é a igreja. Ela deve renovar-se e descobrir o sentido do batismo a partir do povo, com uma visão mais positiva e mais simpática para o povo!
- A renovação do Vaticano II e de Medellin
- O Concílio Vaticano II pede uma preparação dos pais e padrinhos para que possam participar melhor da celebração do batismo
- A Assembléia dos bispos de Medellin (1968) constata que 90% dos povos da América Latina buscam o batismo, mas não o conhecem nem o praticam. Aí disseram: quando o povo vem para batizar, vamos aproveitar para explicar melhor o que vem a ser o batismo. Os bispos uniram a catequese à preparação para a celebração do batismo.
- Quando começaram a crescer as Comunidades Eclesiais de Base, surgiu o costume de acentuar também a participação. Quando o pessoal das comunidades vinha pedir o batismo para os filhos, a preparação para o sacramento insistia muito no dever de os pais e padrinhos participarem da vida da Comunidade. Assim, junto com a preparação para celebração e a catequese, começa a insistência na participação, e na necessidade de voltar para a Igreja e de começar a participar, inclusive, dos movimentos populares.
- O Concílio Vaticano II, porém, pedia e pede, em primeiro lugar, que haja preparação para a celebração das cerimônia do Batismo.
- Os motivos que levam o povo a buscar o batismo
- Os motivos que levam o povo a pedir o batismo para os filhos são variados:
* por causa da tradição.
* para ser cristão: “Sem batismo está faltando algo. Não basta nascer!”
* para não chorar
* para não ter mau olhado e não ser vítima
* para poder ter a festa do batismo que é a festa do nascimento, da vida nova
* para homenagear o padrinho
* para dar um bem para a criança
* para garantir a vida depois da morte e não ser alma penada
* para tirar o pecado
* e vários outros
- Estas motivações são válidas, mas são incompletas. Elas não tem ligação com Jesus. Jesus é central na nossa fé. O povo não tem claro que o batismo está ligado a Jesus. Não sabe que está ligado com a Morte e Ressurreição de Jesus.
- Na realidade, mesmo sem saber, o povo já está vivendo o mistério da morte ressurreição de Jesus. Sua a vida é uma luta sem fim, de manhã até à noite! É a páscoa de Jesus acontecendo no dia a dia. Esta vida já é batismal. Sem o saber, o povo já participa da morte e ressurreição de Jesus. Jesus já está no centro da vida do povo. Ele mesmo diz: “Quando você ajudou aquele pobre,era eu!”
- Hoje, quem traz Jesus de volta para o centro das atenções do povo, são os evangélicos que pregam todos os dias no rádio. Falam de Jesus o tempo todo. “Jesus vai voltar!” Por isso, muita gente está levando criança para receber uma bênção nos crentes.
- O povo não sabe explicar bem, mas ele tem suas intuições de fé. O mistério de Deus, de Jesus, já está acontecendo em sua vida. O grande desafio nosso é fazer com que o povo descubra esta riqueza que ele possui e vive sem saber. Como revelar e comunicar esta riqueza, como partilhar esta experiência? Esta é a tarefa básica da PASTORAL DO BATISMO!
- As tarefas da Pastoral do Batismo
- A pastoral do batismo deve evangelizar pelo diálogo. Um ponto importante é: dialogar e partilhar com as pessoas para que descubram o mistério de Deus e de Jesus, presente em sua vida. Pois o povo também tem Deus e tem o Espírito de Deus. Este diálogo deve partir dos sentimentos que o povo tem, dos interesses deles. Deve partir do lugar onde a pessoa está.
- Para isto é importante tentar descobrir o sentido das intuições e metáforas que o povo usa. Por exemplo, o povo diz: “A criança é dada por Deus!” - “Deus é o doador da vida!” - “A criança é fraca e ameaçada, mas Deus defende a vida dela!” Com outras palavras, Deus está bem presente na vida dos pais e também das crianças. A nós da pastoral, cabe revelar que este Deus é o Deus de Jesus!
- Esta maneira de pensar combina com alguns pontos fundamentais da nossa fé e com alguns pontos fundamentais do próprio batismo:
* Deus é o defensor da vida, sob todos os seus aspectos
* O batismo consagra a vida e a coloca na mão de Deus
* A alegria dos pais de poder devolver a Deus o que dele receberam
* O batismo confirma a dignidade da criança como gente e filho da Deus
* O batismo é o momento para revelar o nome da criança
* O nascimento e o batismo ajudam a superar inimizades e unificam a família
* Em torno da criança e do seu batismo, a família se humaniza
* O batismo confirma a fé dos pais e dos avós (a tradição é positiva)
* O batismo aproxima da Igreja que é católica, universal
- O que deve ser aprofundado
- Foi feito um cochicho com a pergunta: o que deve ser mais aporfundado. A resposta do pessoal reflete os problemas e as dificuldades da prática:
* Preparação, quanto tempo?
* Hora da inscrição
* Variedade das religiões cristãs que tem batismo
* Ligar pastoral do batismo com pastoral familiar
* Pos-batismo ou pré-batismo: o que é mais importante?
* Preparação mais personalizada
* Batizar na mesma paróquia, sim ou não?
* Isto significa uma volta ao sacramentalismo?
* Como unir acolhimento e exigências?
* Pastoral do batismo e catequese
* O óleo no batismo é só para o sacerdote?
* Batizar e continuar na Igreja, como fazer?
* Visão mais ecumênica do batismo
* As normas de batismo na Diocese de Itaguaí
* Pastoral de conjunto na Diocese
- Reflexão do Padre Domingos
- A partir do resultado do cochichco, o padre Domingos refletiu sobre a fé dos pais de dos padrinhos, sobre as exigências que fazemos, e sobre a participação.
- Ele fez duas constatações muito importantes:
- a) A maior parte dos pais e padrinhos não participa.
- b) A pastoral do batismo não trouxe o pessoal de volta para a Igreja.
- Pais e padrinhos praticam a religião do jeito deles, não do nosso jeito. A prática deles, apesar de diferente, tem coisas boas. Por exemplo, revela uma confiança grande em Deus; uma atenção às pessoas com sentimento de justiça que acolhe os marginalizados; vão à igreja não por obrigação, mas sim quando o coração pede. Apesar de não praticar, eles se sentem ligados à Igreja Católica.
- Aí surge a questão: “Se o jeito deles também é bom, então o que estou fazendo na comunidade? Que sentido ainda tem eu me esforçar tanto?” Padre Domingos respondeu: Participar mais ativamente na comunidade é um dom, é vocação, é missão! No tempo de Jesus só havia doze pessoas na comunidade e depois mais setenta e dois! Doze e setenta e dois para todos! Na comunidade vivemos a religião a favor e em serviço de TODOS! Mas nem todos precisam estar na comunidade!
- Baseado nisso, ele distinguiu dois tipos de pastoral:
- a) Pastoral da fé: testemunhar a fé gratuitamente
- b) Pastoral do discipulato: atrair outros para participar.
- A comunidade anuncia gratuitamente a Boa Nova de Deus para todos, sem esperar retorno. Ela também se preocupa em fazer discípulos que possam continuar a tarefa da comunidade. Em qual das duas pastorais devemos situar a pastoral do batismo?
- Objetivo da pastoral do Batismo
- A pastoral do batismo pertence à pastoral da fé e não à pastoral do discipulato. A pastoral do batismo não é para atrair mais gente para dentro da comunidade, nem para levar as pessoas a participar mais da igreja. Ela existe para anunciar gratuitamente a Boa Nova de Deus
- Temos que superar a idéia de que só vive o batismo aquele que participa ativamente na comunidade. Uma coisa é o batismo de adulto, que deve ter muitas exigências. Outra coisa é o batismo de criança. A teologia do Batismo que está no NT é de batismo de adultos. O batismo que nós administramos é batismo de criança. O batismo de criança deve ressaltar antes de tudo o dom gratuito de Deus para esta criança!
- A pastoral do batismo não pode ser motivo para discriminar os não-participantes. Nem pode ser para dificultar o acesso ao batismo. Nem para levar a pessoa à participar mais na comunidade. Nem deve ser usada para para falar sobre os sacramentos, nem para aumentar o conhecimento da doutrina da Igreja.
- O Objetivo principal da pastoral do batismo é este: ACENDER, REANIMAR, INTENSIFICAR A FÉ dos pais e padrinhos
Acender, quando apagou!
reanimar, quando está fraca!
intensificar, quando está viva!
- Isto exige que conheçamos a vida de fé da família que pede o batismo. A fé que se exige para o batismo, não precisa ser uma fé perfeita. Basta que seja uma fé inicial, disposta a crescer. Fé não é sinônimo de participação na comunidade!
- Sobre o Batismo das Crianças
- Qual o significado da batismo das crianças? Como fazê-lo e o que fazer? O Batismo é sinal do amor de Deus na vida daquela criança. Mesmo havendo deficiência da nossa parte, o amor de Deus é maior do que a nossa deficiência! Por isso, o Batismo das crianças deve ser facilitado cada vez mais. Na América Latina, nunca pode ser negado o batismo aos pobres. Deveríamos criar dificuldade com o batismo dos ricos, isto sim!
- Devemos encontrar uma maneira de levar o batismo a todas as crianças, como sinal do Reino de Deus que chegou para todos, independente do merecimento nosso. Devemos levar o batismo com menos rancor, e muito mais como Boa Nova do amor de Deus para aquela criança. Este aspecto da Boa Nova do amor de Deus deve transparecer na celebração. Devemos ligar a intuição de fé do povo com a fé da Igreja e com o evangelho.
- O objetivo principal da pastoral do batismo não é conseguir a participação dos pais e dos padrinhos na comunidade. O objetivo principal é celebrar o amor gratuito de Deus para com esta criança! Isto não significa banalizar o Batismo. Pelo contrário! Mas é celebrar a chegada do Reino de Deus. Fazendo uma boa preparação para a celebração e fazendo uma boa e bonita celebração, muita gente vai despertar e querer participar. Exigindo menos, se consegue mais! Batismo de adulto, este sim, exige uma longa e profunda preparação.
- Então vamos cair de novo no cacramentalismo? Não! Na medida em que se exige menos, vamos ganhar mais. Fazendo uma boa celebração do batismo estamos evangelizando. Bem celebrado, o sacramento do batismo anima a fé. Todos os símbolos do batismo contribuem para isto:
* cruz | Estes símbolos expressam vida nova,
* óleo | expressam o mistério de Deus na vida,
*..luz | expressam a caminhada de Jesus,
* roupa nova | expressam a comunidade.
- No começo da igreja, o Padrinho era aquele que introduzia o batizando na fé. Era o “introdutor na fé”. Ou seja, a comunidade indicava alguém para acompanhar a pessoa ou a família. Este acompanhante era o laço entre a comunidade e a família. Hoje, além do padrinho que o povo indica, a comunidade poderia indicar alguém para ir acompanhando a família, mostrando interesse.
- A tendência atual é dar menos importância às palestras e insistir num acompanhamento mais personalizado em forma de diálogo, sem ter um conteúdo especial, mas com a preocupação de rezar a vida da criança e da família.
- Depois da celebração do batismo, voltar a visitar a família, de vez em quando, e rezar com ela o que se viveu na celebração do batismo, explicitando assim todo o seu conteudo para a vida da família e da criança. Até o vídeo do batismo pode ajudar na evangelização!
- Sugestões concretas vindas dos grupos
- Foi feito um trabalho de grupo com a seguinte pergunta: “Que meios concretos podemos adotar para acender, reanimar e intensificar a fé dos pais?” Padre Domingos pediu que, na discussão, tivêssemos bem presente que nós da equipe somos apenas colaboradores. Os pais é que são os principais responsáveis. No plenário, vieram as seguintes sugestões:
- Parati: Devemos acentuar mais o aspecto do batismo como bênção de Deus para a criança. O batismo é um momento importante de contato entre a Comunidade Cristã e a grande massa batizada. Devemos usar bem este momento. Um bom contato se faz muito melhor por meio do diálogo do que por meio de uma palestra. As Comunidades são o lugar por exclelência onde Cristo está vivo como Boa Nova de Deus
- Itaguaí: Devemos ajudar a buscar as raízes no contato com as pessoas. Usar de muito carinho, caso por caso. Usar de mais ardor e em grupos menores. Rezar e celebrar mais as datas que marcam a vida da família.
- Jacuacanga: Devemos visitar as famílias que pedem o batismo para a criança e aproximar-nos delas. Procurar re-inventar o “Introdutor da fé”, tentando unir pastoral familiar com a pastoral do batismo, de tal modo que haja contato antes, durante e depois da celebração.
- Angra dos Reis: Dialogar e ouvir mais as pessoas. Insistir mais nas visitas. Na celebração devemos usando mais e melhor os símbolos. Sobretudo devemos cuidar melhor do acolhimento.
- Não consegui tomar nota das respostas das outras paróquias ou municípios. No breve debate, apareceu uma sugestão muito útil de como usar melhor os símbolos:
* Uma pia batismal bem bonita e visível e não uma bacia de plástico.
* Um Círio grande e vistoso e não um toco de vela.
* Um recipiente digno para o óleo e não uma latinha.
- Complementações finais do Padre Domingos.
- Depois que os grupos das paróquias relataram suas conclusões, padre Domingos fez umas considerações finais, insistindo sobretudo em alguns pontos bem concretos de como preparar melhor o pessoal para a celebração do Batismo. Não consegui tomar nota de tudo, mas ele disse que tudo está no livrinho que escreveu e que pode ser adquirido
- Ele acentuou a importância da celebração como algo que tem grande valor em si mesmo para o anúncio da Boa Nova de Deus. Disse que a gente não deve querer explicar demais o rito, mas sim celebrá-los de tal maneira que o rito fale por si mesmo. Deve ser uma celebração de alegria e de ressurreição que possa trazer paz ao coração. Ele disse que não se deve insistir demais no moralismo e na responsabilidade. Celebrar sobretudo o dom e a graça de Deus que geram responsabilidade por si mesma!.
- Algumas sugestões concretas de como preparar melhorar a celebração:
- Não é necessário que tudo seja feito dentro de uma única celebração. Pode-se aproveitar de uma celebração dominical para apresentar a criança à Assembléia.
- O pedido de batismo: “O que vocês pedem?...” também pode ser feito antes, em outra ocasião.
- Em alguns lugares criaram um rito de acolhimento das gestantes, como preparação remota para o batismo.
- Nas celebrações dominicais rezar pelas crianças que vão ser batizadas, dizer os nomes dos pais e da criança que vai ser batizada.
- Usar as bênçãos para abençoar as famílias que se preparam para o batismo: usar hinos, orações e bênçãos na preparação. Que tudo seja bem orante!
- Rezar com eles, por ex., o salmo 23: “O Senhor é meu pastor” e comentá-lo.
- Toques e bênçãos para a criança. Rito “Effata!”...
- É importante que a preparação seja mais personalizada, menos na linha de aula e de curso; que a família sinta e experimente que alguém se preocupe com ela e com a criança; reza por ela e pela criança.
- Conteúdos básicos da teologia do Batismo a partir do NT
* A Boa Nova de Deus se revela no Batismo das Crianças
* Pontos importantes que podem ser acentuados na celebração através dos símbolos:
- passar pela água: água abundante, que possa significar o mergulho na morte e na ressurreição de Jesus (cf. Rom 6)
- banho de purificação: o batismo traz o perdão dos pecados e a comunhão com Deus; a misericórdia de Deus já está aí, o perdão já está garantido para o futuro da criança.
- a luz de Cristo: a iluminação trazida pela participação na morte e ressurreição de Jesus, que ilumina a vida da gente
- ser batizado no Espírito Santo: expresso na invocação, na alegria e no canto.
- o novo nascimento: a vida nova de Deus expressa pelo batismo une a criança a Jesus que é a fonte de vida nova
Bibliografia
- Procurando novos caminhos para a pastoral do batismo de crianças: 1ª parte: É da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Foi feito pelo Padre Domingos
- Número 125 da revista de Liturgia traz um artigo do Padre Domingos sobre como preparar a celebração do Batismo
OLHAR CARMELITANO: O Profeta Elias e o Silêncio Profético
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Frei Carlos Mesters, O. Carm
Na solidão do Monte Carmelo, onde viviam os primeiros carmelitas, reinava um grande silêncio. Não havia barulho, a não ser os ruídos da própria natureza que convidam ao silêncio. Mesmo assim, a Regra do Carmo recomenda com muita insistência o silêncio. Numa cidade barulhenta tem sentido insistir que se faça silêncio. Mas pedir que se faça silêncio naquela serra imensa do Carmelo, cheia de solidão, qual o sentido? Parece o mesmo que carregar água para o mar! Qual o silêncio que a Regra pede daqueles primeiros carmelitas do Monte Carmelo e, através deles, de todos nós da Família Carmelitana? Nas reflexões que seguem, eu me inspirei no comentário que Kees Waayman fez da Regra e dos textos bíblicos sobre o Profeta Elias.
Há muitas formas de silêncio: O silêncio que se pede numa biblioteca ou num hospital. O silêncio da noite ou da natureza. O silêncio da morte. O silêncio que precede à tempestade. O silêncio do medo ou do aluno que não sabe a resposta. O silêncio do censurado ou do povo silenciado. O silêncio do fulano frustrado, do jovem abafado, do lutador derrubado. O silêncio do namorado na presença da namorada. O silêncio de Deus que nunca aparece. O silêncio do místico. O silêncio da quebra interior quando tudo que a pessoa tinha imaginado e planejado até àquele momento cai no vazio e se desintegra. Tantos silêncios! Qual o silêncio que a Regra do Carmo pede e recomenda?
A recomendação do silêncio na Regra do Carmo
Para descrever o valor do silêncio, a Regra cita por inteiro duas frases do profeta Isaías: A justiça é cultivada pelo silêncio, e É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força. Trata-se de um silêncio que tem a sua origem nos profetas. Para nós, carmelitas, o silêncio profético evoca imediatamente o profeta Elias. As duas frases de Isaías indicam os dois passos do silêncio profético, ambos de grande atualidade.
Hoje em dia, o fluxo de palavras, de imagens e de falatório que nos envolvem, é tanto, que impede as pessoas de perceberem o que está acontecendo de fato. Envolve-nos de tal maneira, que acabamos achando normal aquilo que, na realidade, é uma situação de morte. Por exemplo, anos atrás, o povo se revoltava diante de assassinatos e de violência. Hoje em dia, a violência tornou-se uma coisa tão freqüente e tão presente, que já nos acostumamos. A miséria crescente do povo, a injustiça impune, o sofrimento dos que nunca cometeram algum mal, o abandono, o desemprego, a exclusão, a doença, a solidão, o desamor...! Vivemos numa situação de morte, e já não nos damos conta. Além disso, muitas vezes, o consumismo mata qualquer esforço de consciência crítica
O primeiro passo do silêncio profético está expresso na primeira frase de Isaías que diz: A justiça é cultivada pelo silêncio. Isaías compara a prática do silêncio com o trabalho do agricultor que cultiva sua roça para ter boa colheita. Esta primeira frase indica o esforço ativo nosso que visa atingir um determinado resultado. Devemos fazer silenciar tudo dentro de nós, para que a realidade possa aparecer do jeito que ela é em si mesma e não como aparece desfigurada através do muito falatório, do barulho da moda, ou através dos meios de comunicação, da ideologia dominante. Este trabalho ativo da prática do silêncio produz, aos poucos, o desmantelo das falsas idéias, da ideologia dominante ou dos preconceitos que tínhamos na cabeça, tanto religiosos como culturais. Faz nascer a visão justa das coisas. O cultivo do silêncio gera em nós a justiça.
Na hora em que se desmantela dentro da nossa cabeça o arcabouço ideológico que nos dava uma visão falsa e artificial da realidade, nesse momento é como se levássemos uma pancada forte. Como que de repente, despertamos do sono e somos confrontados com a situação de morte sem saída em que estamos vivendo e que grita por mudança e conversão. Nesse momento, tudo silencia dentro de nós. O falatório acabou, emudecemos. Perdemos os argumentos que nos sustentavam. É o momento da crise. Este momento do confronto com a situação de morte que faz silenciar, é o primeiro passo do silêncio profético, de que fala a Regra do Carmo. É fruto do esforço ativo nosso de fazer silenciar o muito falatório da propaganda, da ingenuidade sem consciência crítica.
O silêncio profético coloca o dedo na ferida escondida. Ele denuncia os caminhos sem saída em que estávamos caminhando e dos quais achávamos que fossem caminhos de vida, quando, na realidade, nos conduziam para a morte. O profeta aponta a morte, não porque gosta da morte, mas sim para que a vida possa manifestar-se. Agindo assim, ele dá pancada, faz silenciar. Faz silêncio para que possamos escutar e experimentar a morte e, passando pela morte, reencontrar a vida. É a caminhada da Noite Escura, de que fala São João da Cruz. É uma exigência da vida que sejam apontados os falsos e ilusórios caminhos da morte, para que possam provocar mudança e conversão, tanto na vida pessoal como na convivência social, e, assim, gerar justiça.
O segundo passo do silêncio profético está expresso na segunda frase do profeta Isaías: No silêncio e na esperança está a força de vocês. Esta segunda frase de Isaías sugere o contrário da primeira. Em vez de esforço ativo nosso em busca de um resultado, aqui a prática do silêncio é vista como a atitude de espera de algo que deve acontecer, mas que não depende do nosso esforço. Depende de Deus. O silêncio produzido em nós pelo confronto com a situação de morte, apesar de doloroso, é fonte de esperança. Dá força para poder resistir, porque acreditamos que da morte do trigo caído na terra vai brotar vida nova. Faz cantar. Canta a Noite Escura do povo, porque dentro dela já se articula a madrugada da ressurreição. Este segundo passo, fruto da ação de Deus, aparece em muitos lugares na Bíblia e de várias maneiras. Ele foi acontecendo na vida do profeta Elias na caminhada para o Monte Horeb (1Rs 19). Trata-se da experiência mística.
O silêncio profético na caminhada do profeta Elias
Elias parecia forte e invencível no confronto com os profetas de Baal (1Rs 18,20-40). Mas diante da ameaça de morte da parte de Jezabel, ele aparece como era na realidade: fraco e vulnerável, "igual a nós" (Tg 5,17). Com medo de ser morto, foge do país, vai para o deserto (1Rs 19,1-3). Cego, sem enxergar, não percebe o anjo de Deus que lhe traz comida. Ele só quer comer, beber, dormir e ficar longe de tudo (1Rs 19,5). Está desanimado. Quer morrer: Não sou melhor que meus pais! Mas Deus não desiste. O anjo volta uma segunda vez (1Rs 19,7). Finalmente, Elias desperta e, alimentado por Deus, recupera sua força. No silêncio do deserto, ele caminha quarenta dias e quarenta noites até o Horeb (Sinai), a Montanha de Deus (1Rs 19,8). Elias busca reencontrar Deus no mesmo deserto onde, séculos antes, na época do êxodo, havia nascido o povo.
Mas a busca parece não estar bem orientada. Alguma coisa não está dando certo. Elias diz ter muito zelo, mas, na realidade, está fugindo com medo de morrer (1Rs 19,10.14). Ele diz que ficou sozinho, mas havia sete mil que não tinham dobrado o joelho diante de Baal (1Rs 19,18). Elias tem a visão limitada. Ele pensa que é o único a defender a causa de Deus! (1Rs 19,14) Deus o manda sair da gruta e ficar na entrada, pois "Deus vai passar" (1Rs 19,11). Elias sai da gruta, mas a gruta não sai de Elias. Ele continua com a mesma visão limitada, achando ser ele o único que defende a Deus! (1Rs 19,14) Enquanto não mudar esta sua maneira limitada de perceber a presença de Deus, não poderá percebê-la na vida e nos fatos.
Deus vai passar! Primeiro, um furacão! Depois, um terremoto! Depois, um fogo! No passado, ao concluir a Aliança com o povo naquela mesma Montanha Horeb ou Sinai, na época do êxodo, Deus tinha se manifestado no furacão, no tremor da montanha e nos raios de fogo (Ex 19,16). Eram os sinais tradicionais da presença atuante de Deus no meio do povo. Eram estes os critérios que orientavam Elias na busca de Deus. Ele mesmo tinha experimentado a presença de Deus no fogo quando, no Monte Carmelo, enfrentou os profetas de Baal (1Rs 18,36-38).
Elias estava fazendo uma coisa certa. Ele buscava Deus voltando às origens do povo, à experiência de Deus no êxodo. Mas os critérios da sua busca estavam desatualizados. Ele vivia no passado. Encerrou Deus dentro dos critérios! Queria obrigar Deus a ser como ele, Elias, o imaginava e desejava. Por isso aconteceu o inesperado, a surpresa total: Deus não estava mais no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo que tinha sido sinal da presença de Deus, pouco antes, no Monte Carmelo! Parece até um refrão que volta três vezes: Javé não estava no furacão! Javé não estava no terremoto! Javé não estava no fogo! Se Ele não está nestes sinais, então onde está Deus? Onde encontrá-lo?
É a desintegração do mundo de Elias. A crise mais violenta e mais dolorosa que se possa imaginar! Cai tudo! Pois se Deus não está mais nestes sinais familiares e tradicionais de sempre, então Ele não está em canto nenhum! É o silêncio de todas as vozes! É a escuridão da noite! Ora, é neste momento, que se abre para Elias um novo horizonte. É no silêncio de todas as vozes que a voz de Deus se manifesta.
Este silêncio total, a língua hebraica expressa-o dizendo: “voz de calmaria suave”, (qôl demamáh daqqáh). As traduções costumam dizer: “Murmúrio de uma brisa suave” A palavra hebraica, demamáh, usada para indicar a calmaria, vem da raiz DMH que significa parar, ficar imóvel, emudecer. A brisa suave indica algo, uma experiência, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar. Esvazia a pessoa, para que Deus possa entrar e ocupar o lugar. Ou melhor, Deus entrando provoca o vazio e o silêncio. Silêncio sonoro, solidão povoada! Vacare Deo dizem até hoje os carmelitas, isto é, esvaziar-se para Deus!
Elias cobriu o rosto com o manto (1Rs 19,13). Sinal de que tinha experimentado a presença de Deus exatamente naquilo que parecia ser a ausência total de Deus! A escuridão se iluminou por dentro e a noite ficou mais clara que o dia. É a libertação de Elias. Reencontrando-se com Deus, ele se reencontra consigo mesmo e descobre que não é ele, Elias, que defende a Deus, mas sim que é Deus quem defende a Elias. Libertado por Deus, ele é livre para libertar os outros!
A experiência de Deus reconstroi a pessoa e lhe revela a sua missão (1Rs 19,15-18). Refeito pelo encontro com Deus, Elias redescobre sua missão (1Rs 19,15-18) e se preocupa em dar-lhe continuidade, indicando Eliseu como sucessor (Rs 19,19-21). Antes, ele queria morrer. Já não via mais sentido no que fazia. Agora, a nova experiência de Deus mudou tudo. Ele volta para o lugar onde queriam matá-lo. Já não tem medo. Em vez de querer morrer, quer que sobreviva a sua missão. Sinal de que novamente crê no que faz e deve fazer.
Resumindo. O silêncio profético recomendado pela Regra e vivido por Elias tem dois aspectos. O primeiro aspecto é fruto do esforço nosso, do cultivo, do trabalho. Exige disciplina e controle, estudo e reflexão, para que a gente possa perceber os mecanismos da opressão e da ideologia, dos preconceitos e das propagandas. É fruto da partilha, da troca de experiências, do trabalho comunitário. O segundo aspecto do silêncio profético é fruto da ação do Espírito de Deus em nós. Desobstruído o acesso à fonte pelo esforço ativo nosso, a água brota de dentro de nós e inunda o nosso ser.
Encontro de Francisco com o Pe. Martin repreende bispos conservadores, levanta algumas dúvidas sobre inclusão na Igreja
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“O encontro do papa com o Pe. Martin serviu como um sinal de apoio ao trabalho do padre em nome da comunidade LGBT. Foi também emblemático do papado de Francisco, que tem repreendido coerentemente um estilo de cristianismo voltado a guerras culturais que, desde a ascensão da direita religiosa nos Estados Unidos durante a década de 1980, vinha sendo o cenário padrão do cristianismo americano na política”. O comentário é de Robert Shine, editor do New Ways Ministry, publicado por News Way Ministry, 18-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
A audiência privada entre o Papa Francisco e o padre jesuíta James Martin reverberou em todos os lados do debate sobre igualdade LGBTQ na Igreja Católica. Mas, além da afirmação papal ao ministério LGBTQ do sacerdote americano, qual o significado deste encontro? A reflexão de hoje destaca dois comentários referentes ao assunto.
Diretor do programa católico Faith in Public Life, John Gehring escreveu no New York Times, sobre a audiência privada dizendo que era um “endosso do departamento eclesiástico de mais autoridade” ao livro de Martin, intitulado Building a Bridge, escrito a partir de uma palestra de 2016 quando da entrega do Prêmio Bridge Building, concedido pelo New Ways Ministry. Mas Gehring refletiu também sobre o significado para além deste primeiro sentido:
“O encontro do papa com o Pe. Martin serviu como um sinal de apoio ao trabalho do padre em nome da comunidade LGBT. Foi também emblemático do papado de Francisco, que tem repreendido coerentemente um estilo de cristianismo voltado a guerras culturais que, desde a ascensão da direita religiosa nos Estados Unidos durante a década de 1980, vinha sendo o cenário padrão do cristianismo americano na política”.
“Desde a sua eleição, há seis anos, o Papa Francisco tem proposto um modelo diferente de exemplo moral: engajando-se e persuadindo, reenquadrando questões contenciosas, afastando-as de ideologias estreitas e ampliando as imaginações morais (...) Os guerreiros culturais nos EUA já causaram um grande prejuízo à nossa imaginação política e moral coletiva. Mais marcados pelo poder do que fiéis ao Evangelho, tais lideranças eclesiásticas demonizam a comunidade LGBTQ, viram as costas aos migrantes que fogem do perigo e ignoram os clamores dos pobres enquanto alegam defender os valores cristãos. Um pastor humilde porém persistente em Roma nos recorda que há um caminho diferente para aqueles de nós que ainda acreditam em uma fé que busca por justiça”.
Os editores do National Catholic Reporter concordam que Francisco pretendeu enviar a “mensagem bastante clara” sobre o ministério do Pe. Martin, de que “Está tudo OK com [este] padre, então parem de incomodá-lo”. O evento foi positivo segundo as mensagens publicadas na internet pelo próprio religioso, e um encontro recebido com entusiasmo pelo New Ways Ministry. Ao mesmo tempo, os editores da publicação deram a entender que essa audiência privada levantou muitas outras dúvidas na questão da inclusão LGBTQ na Igreja:
“Se o papa está sinalizando uma nova atitude na Igreja em relação à comunidade LGBTQ, o que exatamente isso significa? Além disso, é mesmo justo esperar exatidão em uma área que por tanto tempo esteve repleta de contendas que podiam acabar em ódio? (...) Não queremos estragar este bom momento, mas nos sentimos obrigados a dizer: por maior que seja, é apenas um momento (…) Com certeza estamos esperançosos com a série de avanços que neste papado se misturaram com os ensinamentos e as atitudes que levaram católicos LGBTQs a ficar à margem. Ficaremos felizes com estes avanços, mas com o entendimento sóbrio de que, enquanto católicos LGBTQs estiverem às margens e enquanto os papas puderem mudar ao mesmo tempo em que o magistério católico sobre a sexualidade, em tantas áreas, permanece inalterado, haverá muito trabalho ser feito”.
Parte desse trabalho é o de defender o ministério do Pe. Martin contra os ataques da direita que ele tem recebido há dois anos. Na esteira do encontro papal e dos ataques abertos de Dom Charles Chaput contra o sacerdote, a iniciativa Faithful America lançou uma petição em apoio ao jesuíta, e já ganhou quase 14 mil assinaturas, dizendo:
“Estamos com o Pe. James Martin, SJ, e apoiamos o seu trabalho de tornar a Igreja mais inclusiva para os filhos e filhas LGBTQs de Deus. Obrigado, Padre Jim!”
Para adicionar o seu nome em apoio ao Pe. Martin e seu trabalho na construção de pontes de inclusão na Igreja. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
SÃO SIMÃO E SÃO JUDAS TADEU: Liturgia da Palavra
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 6, 12-19)
12Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus.13Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos:14Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,15Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador;16Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor.17Descendo com eles, parou numa planície. Aí se achava um grande número de seus discípulos e uma grande multidão de pessoas vindas da Judéia, de Jerusalém, da região marítima, de Tiro e Sidônia, que tinham vindo para ouvi-lo e ser curadas das suas enfermidades.18E os que eram atormentados dos espíritos imundos ficavam livres.19Todo o povo procurava tocá-lo, pois saía dele uma força que os curava a todos.
3) Reflexão Lucas 6, 12-19
O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) descreve a escolha dos doze apóstolos (Lc 6,12-16) e (2) informa que uma multidão imensa de gente queria encontrar-se com Jesus para ouvi-lo, tocar nele e ser curada (Lc 6,17-19).
Lucas 6,12-13: Jesus passa noite em oração e escolhe os doze apóstolos
Antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos, Jesus subiu a uma montanha e passou uma noite inteira em oração. Rezou para saber a quem escolher e escolheu os Doze, cujos nomes estão registrados nos evangelhos. A eles deu o título de apóstolo. Apóstolo significa enviado, missionário. Eles foram chamados para realizar uma missão, a mesma que Jesus recebeu do Pai (Jo 20,21). Marcos concretiza mais a missão e diz que Jesus os chamou para estar com ele e enviá-los em missão (Mc 3,14).
Lucas 6,14-16: Os nomes dos doze apóstolos
Com pequenas diferenças os nomes dos Doze são iguais nos evangelhos de Mateus (Mt 10,2-4), Marcos (Mc 3,16-19) e Lucas (Lc 6,14-16). Grande parte destes nomes vem do Antigo Testamento: Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que o nome de Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também se chamava Levi (Mc 2,14), que foi outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete tem nome que vem do tempo dos patriarcas: duas vezes Simão, duas vezes Tiago, duas vezes Judas, e uma vez Levi! Isto revela a sabedoria do povo. Através dos nomes dos patriarcas e das matriarcas, dados aos filhos e filhas, eles mantinham viva a tradição dos antigos e ajudavam seus filhos a não perder a identidade. Quais os nomes que nós damos hoje para os nossos filhos e filhas?
Lucas 6,17-19: Jesus desce da montanha e a multidão o procura
Ao descer da montanha com os doze, Jesus encontrou uma multidão imensa de gente que o procurava para ouvir sua palavra e tocá-lo, porque dele saía uma força de vida. Nesta multidão havia judeus e estrangeiros, pois vinham da Judéia e também lá de Tiro e Sidônia. É o povo abandonado, desorientado. Jesus acolhe a todos que o procuram. Judeus e pagãos! Aqui transparece o ecumenismo, a abertura universal da missão, tema preferido de Lucas que escreve para pagãos convertidos.
As pessoas chamadas por Jesus, consolo para nós.
Os primeiros cristãos lembraram e registraram os nomes dos Doze apóstolos e de outros homens e mulheres que seguiram Jesus de perto. Os Doze, chamadas por Jesus para formar com ele a primeira comunidade, não eram santos. Eram pessoas comuns, como todos nós, com suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada um deles. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós.
Pedro era uma pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o coração dele encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Chegou a ser satanás (Mc 8,33) e pedra de tropeço (Mt 16,23). Negou Jesus na hora do perigo (Lc 22,56-62). Jesus deu a ele o apelido de Pedra . Pedro, ele por si mesmo, não era Pedra. Tornou-se pedra (rocha), porque Jesus rezou por ele (Lc 22,31-32).
Tiago e João estavam dispostos a sofrer com e por Jesus (Mc 10,39), mas eram muito violentos (Lc 9, 54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3,17). João parecia ter um certo ciúme, pois queria Jesus só para o grupo dele e proibiu os outros usar o nome de Jesus para expulsar demônios (Mc 9,38).
Filipe tinha um jeito acolhedor. Sabia colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 12,20-22; 6,7). Às vezes, era meio ingênuo. Teve hora em que Jesus perdeu a paciência com ele: “Mas Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
André, irmão de Pedro e amigo de Filipe, era mais prático. Filipe recorre a ele para resolver os problemas (Jo 12,21-22). Foi André que chamou Pedro (Jo 1,40-41), e foi André que encontrou o menino com cinco pãezinhos e dois peixes (Jo 6,8-9).
Bartolomeu parece ter sido o mesmo que Natanael. Este era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46).
Tomé foi capaz de sustentar sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). Mas quando viu que estava equivocado, não teve medo de reconhecer seu erro (Jo 20,26-28). Era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11,16).
Mateus ou Levi era publicano, cobrador de impostos, como Zaqueu (Mt 9,9; Lc 19,2). Os publicanos eram pessoas comprometidas com o sistema opressor da época.
Simão, ao contrário, parece ter sido do movimento que se opunha radicalmente ao sistema que o império romano impunha ao povo judeu. Por isso tinha o apelido de Zelota (Lc 6,15). O grupo dos Zelotas chegou a provocar uma revolta armada contra os romanos.
Judas era o que tomava conta do dinheiro do grupo (Jo 13,29). Ele chegou a trair Jesus.
Tiago de Alfeu e Judas Tadeu, destes dois os evangelhos nada informam a não ser o nome.
4) Para um confronto pessoal
1) Jesus passou a noite inteira em oração para saber a quem escolher, e escolheu estes doze! Qual a lição que você tira deste gesto de Jesus?
2) Os primeiros cristãos lembravam os nomes dos doze apóstolos que estavam na origem das suas comunidades. Você lembra dos nomes das pessoas que estão na origem da comunidade a que você pertence? Você lembra o nome de alguma catequista ou professora que foi significativa para a sua formação cristã. O que mais lembra delas: o conteúdo que lhe ensinaram ou o testemunho que deram?
5) Oração final
Exaltai o Senhor nosso Deus, prostrai-vos ante seu santo monte, porque santo é o Senhor, nosso Deus. (Sl 99, 9)
Igreja abre a porta para ordenar homens casados na Amazônia
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Sínodo vota a recomendar que pessoas com família possam ser padres em regiões onde os fiéis não podem receber a eucaristia
O sínodo sobre a Amazônia, realizado durante o mês de outubro no Vaticano, termina com uma grande novidade. Duas das grandes propostas formuladas por um grande grupo de bispos da Amazônia, a ordenação de mulheres diaconisas e homens casados em regiões onde os fiéis não podem receber a eucaristia, ganharam neste sábado um importante impulso. A assembleia de bispos, da qual participaram 185 padres sinodais com direito a voto — e um grande número de especialistas e relatores —, recomendou que em algumas regiões possa ser estudada a possibilidade de ordenar homens com família. Uma decisão que o Papa deverá aprovar, mas que representa uma abertura histórica da Igreja e coloca sobre a mesa a questão do celibato.
A assembleia de bispos realizada no Vaticano desde o início de outubro tinha como objetivo discutir a proteção do meio ambiente na Amazônia, sobre as comunidades indígenas que o povoam e, particularmente, sobre a possibilidade de ordenar mulheres e homens casados para compensar a falta de sacerdotes. Este último ponto foi votado a favor por 128 membros e contra por 41. Uma aprovação baixa com relação ao restante das propostas, mas suficiente para que o Papa deva agora estudar sua aprovação na exortação apostólica que escreverá antes do fim do ano. Quanto à questão de ordenar diaconisas, também fortemente contestada, Francisco anunciou que reativará a comissão de estudos.
A decisão do sínodo tem caráter histórico e, embora o documento afirme explicitamente que se refere apenas à questão da eucaristia, trata colateralmente de uma questão tão espinhosa quanto o celibato no catolicismo. O setor ultraconservador da Igreja já expressou nas últimas semanas sua total rejeição a essa possível abertura, considerando que entraria em choque com a doutrina católica. Seus grandes promotores, como o bispo Erwin Kräutler, insistem que isso só tem a ver com a eucaristia. No entanto, esse prelado também apontou — em uma entrevista ao EL PAÍS — que a possibilidade de ter acesso aos sacramentos está acima da “graça do celibato”.
O ponto 111 do documento votado explica assim a questão: “Propomos estabelecer critérios e disposições por parte da autoridade competente […] de ordenar sacerdotes homens idôneos e reconhecidos da comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterado, podendo ter família legitimamente constituída e estável, para sustentar a vida da comunidade cristã por meio da pregação da palavra e da celebração dos sacramentos nas áreas mais remotas da região amazônica”.
A abertura, além disso, não afeta apenas a Amazônia. De acordo com o texto redigido, está escrito que “alguns se pronunciaram por uma abordagem universal do tema”. Uma nuance — “alguns” em termos do Vaticano significaria um número considerável — que amplia o horizonte da abertura e gerará um acalorado debate na Igreja nos próximos meses.
Francisco também adiantou que dotará de mais pessoal a comissão para estudar a possibilidade de ordenar diaconisas. Um órgão criado em 2016 que depois de dois anos de estudo chegou a um ponto morto sobre qual foi o papel ou se existiram as chamadas diaconisas nos primeiros anos do cristianismo. Durante esse sínodo, a necessidade de dar maior relevância à mulher na Igreja foi amplamente abordada, uma vez que nas comunidades amazônicas são essenciais para o funcionamento, como todos os participantes reconheceram. O papa disse que “recolhe a luva” lançada a ele pelas mulheres durante o sínodo para serem ouvidas.
O problema das mulheres, no entanto, é mais complicado. O diaconato permanente do sexo feminino não tinha muita chance de avançar, pois já havia sido analisado em paralelo na mencionada comissão. O caminho proposto até agora para aceitá-lo, alegando que nos primeiros tempos da Igreja havia ordenações de mulheres similares às dos homens, não goza de consenso relevante até o momento. Fonte: https://brasil.elpais.com
DOMINGO 27: AO VIVO- SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO, CARMELITA
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AO VIVO- SANTA MISSA COM FREI PETRÔNIO DE MIRANDA, CARMELITA. Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro, Rio de Janeiro. “Muitos são católicos, se confessam católicos, mas se esqueceram de ser cristãos e humanos", Papa Francisco. Domingo, 27 de outubro-2019. www.instagram.com/freipetronio
30º Domingo do Tempo Comum - Ano C: Um Olhar Orante
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A liturgia deste domingo ensina-nos que Deus tem um "fraco" pelos humildes e pelos pobres, pelos marginalizados; e que são estes, no seu despojamento, na sua humildade, na sua finitude (e até no seu pecado), que estão mais perto da salvação, pois são os mais disponíveis para acolher o dom de Deus.
O Evangelho define a atitude correta que o crente deve assumir diante de Deus. Recusa a atitude dos orgulhosos e autossuficientes, convencidos de que a salvação é o resultado natural dos seus méritos; e propõe a atitude humilde de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a acolher o dom de Deus. É essa atitude de "pobre" que Lucas propõe aos crentes do seu tempo e de todos os tempos.
EVANGELHO- ATUALIZAÇÃO (Lc 18,9-14)
Este texto coloca, fundamentalmente, o problema da atitude do homem face a Deus. Desautoriza completamente aqueles que se apresentam diante de Deus carregados de autossuficiência, convencidos da sua "bondade", muito certos dos seus méritos, como se pudessem ser eles a exigir algo de Deus e a ditar-Lhe as suas condições; propõe, em contrapartida, uma atitude de reconhecimento humilde dos próprios limites, uma confiança absoluta na misericórdia de Deus e uma entrega confiada nas mãos de Deus. É esta segunda atitude que somos convidados a assumir.
Este texto coloca, também, a questão da imagem de Deus... Diz-nos que Deus não é um contabilista, uma simples máquina de recompensas e de castigos, mas que é o Deus da bondade, do amor, da misericórdia, sempre disposto a derramar sobre o homem a salvação (mesmo que o homem não mereça) como puro dom. A única condição para "ser justificado" é aceitar humildemente a oferta de salvação que Ele faz.
A atitude de orgulho e de autossuficiência, a certeza de possuir qualidades e méritos em abundância, acaba por gerar o desprezo pelos irmãos. Então, criam-se barreiras de separação (de um lado os "bons", de outro os "maus"), que provocam segregação e exclusão... Isto acontece com alguma frequência nas nossas comunidades cristãs (e até em muitas comunidades religiosas). Como entender isto, à luz da parábola que Jesus hoje nos propõe?
Nos últimos séculos os homens desenvolveram, a par de uma consciência muito profunda da sua dignidade, uma consciência muito viva das suas capacidades. Isto levou-os, com frequência, à presunção da sua autossuficiência... O desenvolvimento da tecnologia, da medicina, da química, dos sistemas políticos convenceram o homem de que podia prescindir de Deus pois, por si só, podia ser feliz. Onde nos tem conduzido esta presunção? Podemos chegar à salvação, à felicidade plena, apenas pelos nossos próprios meios?
O que está no centro da parábola não é o fariseu nem o publicano. É Deus. Deus deu a Lei a Moisés, mas nunca disse que Se identificava pura e simplesmente com os preceitos jurídicos. Pelo contrário, com os profetas, não pára de dizer que é um Deus que não faz senão amar o seu povo.
O sentido da história: Jesus não põe em causa a justiça destes homens, como não põe em causa a retidão e a generosidade do fariseu que ultrapassa as exigências da Lei; o que Jesus critica ao fariseu da parábola e, sobretudo, aos seus ouvintes é que eles desprezavam todos os outros. Ora, não se pode entrar em relação com Deus quando se manifesta desprezo em relação aos irmãos: "Aquele que diz que ama a Deus e não ama o seu irmão é um mentiroso".
*Leia a reflexão na íntegra. Clique ao lado no link- EVANGELHO DO DIA.
Quinta-feira, 24 de outubro-2019. 29ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 12, 49-53)
49Eu vim lançar fogo à terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso? 50Mas devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra! 51Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas separação. 52Pois de ora em diante haverá numa mesma casa cinco pessoas divididas, três contra duas, e duas contra três; 53estarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz algumas frases soltas de Jesus. A primeira sobre o fogo na terra só ocorre em Lucas. As outras têm frases mais ou menos paralelas em Mateus. Isto nos remete para o problema da origem da composição destes dois evangelhos que já fez correr muita tinta ao longo dos últimos dois séculos e só será resolvido plenamente quando pudermos conversar com Mateus e Lucas, depois da nossa ressurreição.
Lucas 12,49-50: Jesus veio trazer fogo sobre a terra
"Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso! Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra!” A imagem do fogo ocorre muito na Bíblia e não tem um sentido único. Pode ser imagem de devastação e castigo e também pode ser imagem de purificação e iluminação (Is 1,25; Zc 13,9). Pode até evocar proteção como transparece em Isaías: “Se passar pelo fogo, estarei contigo” (Is 43,2). João Batista batizava com água, mas depois dele Jesus haveria de batizar pelo fogo (Lc 3,16). Aqui, a imagem do fogo é associada à ação do Espírito Santo que desceu no dia de Pentecostes sob a imagem de línguas de fogo (At 2,2-4). Imagens e símbolos nunca têm um sentido obrigatório, totalmente definido, que não permitiria divergência. Nesse caso já não seria imagem nem símbolo. É da natureza do símbolo provocar a imaginação dos ouvintes e expectadores. Deixando liberdade aos ouvintes, a imagem do fogo combinado com a imagem do batismo indica a direção na qual Jesus quer que a gente dirija a imaginação. Batismo é associado com água e é sempre expressão de um compromisso. Em outro lugar o batismo aparece como símbolo do compromisso de Jesus com a sua paixão: “Você podem ser batizados com o batismo com que serei batizado?”. (Mc 10,38-39).
Lucas 12,51-53: Jesus veio trazer a divisão
Jesus sempre fala em paz (Mt 5,9; Mc 9,50; Lc 1,79; 10,5; 19,38; 24,36; Jo 14,27; 16,33; 20,21.26). Então, como entender a frase do evangelho de hoje que parece dizer o contrário: “Vocês pensam que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu lhes digo, vim trazer divisão”. Esta afirmação não significa que Jesus estivesse a favor da divisão. Não! Jesus não quer a divisão. Mas o anúncio da verdade de que ele, Jesus de Nazaré, era o Messias tornou-se motivo de muita divisão entre os judeus. Dentro da mesma família ou comunidade, uns eram a favor e outros radicalmente contra. Neste sentido a Boa Nova de Jesus era realmente uma fonte de divisão, um “sinal de contradição” (Lc 2,34) ou, como dizia Jesus: “Ficarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra”. Era o que estava acontecendo, de fato, nas famílias e nas comunidades: muita divisão, muita discussão, como conseqüência do anúncio da Boa Nova entre os judeus daquela época, uns aceitando, outros negando. O mesmo vale para o anúncio da fraternidade como o valor supremo da convivência humana. Nem todos concordavam com este anúncio, pois preferiam manter seus privilégios. Por isso, não tinham medo de perseguir os que anunciavam a fraternidade e a partilha. Esta é a divisão que surgia e que está na origem da paixão e morte de Jesus. Era o que estava acontecendo. Era o julgamento em andamento. Jesus quer é a união de todos na verdade (cf. Jo 17,17-23). Até hoje é assim. Muitas vezes, lá onde a Igreja se renova, o apelo da Boa Nova se torna um “sinal de contradição” e de divisão. Pessoas que durante anos viveram acomodadas na rotina da sua vida cristã, já não querem ser incomodadas pelas “inovações” do Vaticano II. Incomodadas pelas mudanças, elas usam toda a sua inteligência para encontrar argumentos em defesa de suas opiniões e para condenar as mudanças como contrárias ao que elas pensam ser a verdadeira fé.
4) Para um confronto pessoal
1) Buscando a união, Jesus era causa de divisão. Isto já aconteceu com você?
2) Diante das mudanças na Igreja, como me situo?
5) Oração final
Exultai no Senhor, ó justos, pois aos retos convém o louvor. Celebrai o Senhor com a cítara, entoai-lhe hinos na harpa de dez cordas. (Sl 33, 1-2)
Papa Francisco tem o seu próprio ''Sínodo do Cadáver''
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O Papa Francisco investiu os sínodos dos bispos com uma relevância que não se via há séculos, então talvez seja justo que ele tenha agora a sua própria versão da mais renomada cúpula de todas, o infame “Sínodo do Cadáver”, do ano 897. A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada em Crux, 22-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Acredite-se ou não, a principal manchete da ação dessa segunda-feira no Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que ocorre entre os dias 6 e 27 de outubro, envolveu um vídeo de dois homens que roubaram estátuas indígenas que representavam uma mulher grávida nua que estava em exibição em uma igreja romana e depois, um por um, jogaram pedaços quebrados das imagens no Rio Tibre, em frente à fortaleza papal de Castel Sant’Angelo.
Até o momento em que este texto foi escrito, cerca de 115.000 pessoas haviam assistido ao vídeo do incidente no Youtube.
O porta-voz vaticano, o leigo italiano Paolo Ruffini, disse em resposta aos repórteres na segunda-feira que o furto e a destruição das estátuas eram “um ato de desafio” e um “golpe” que era “contra o espírito de diálogo”, enquanto o padre jesuíta italiano Giacomo Costa acrescentou que “roubar objetos nunca é construtivo”.
Na terça-feira, os participantes indígenas do Sínodo da Amazônia divulgaram uma declaração, denunciando o incidente por refletir “a intolerância religiosa, o racismo, atitudes vexatórias, que (...) demonstram uma resposta negativa para construir novos caminhos para a renovação da nossa Igreja”. Eles também alertaram que “esses atos podem se repetir ou subir o tom, e gerar efeitos maiores”.
O incidente ocorreu em meio a uma onda constante de críticas por parte de meios de comunicação católicos tradicionalistas, que definiram a estátua – que apareceu durante uma cerimônia de oração envolvendo o Papa Francisco, no Vaticano no dia 4 de outubro, bem como na procissão de abertura do Sínodo –como uma imagem pagã e sugerindo que sua presença em espaços e ritos católicos equivalia a sacrilégio.
Como disse uma vez o falecido cardeal Francis George, tudo na Igreja Católica já ocorreu pelo menos uma vez. De fato, existe um precedente para a mise-en-scène dessa segunda-feira, envolvendo não o fato de lançar uma estátua no Tibre, mas sim um papa.
Le Pape Formose et Étienne VII (“O Papa Formoso e Estevão VII”), óleo sobre tela, Jean-Paul Laurens, 1870 (Credit: Stock image/Crux)
Em 896, um novo pontífice chamado Estevão VI chegou ao poder sob o patrocínio da influente família Spoleto de Roma. O clã ainda mantinha um antigo rancor contra um papa anterior, Formoso, que havia apoiado seus rivais carolíngios como Sacro Imperador Romano.
Foi assim que, um ano depois, Estevão ordenou que os restos de Formoso fossem desenterrados e postos sob julgamento. O cadáver foi colocado em um trono durante os procedimentos, e um diácono foi até nomeado para falar em sua defesa – embora, como observam os historiadores, não de um modo muito agressivo.
Estevão acusou Formoso de várias formas de heresia e usurpação, e o falecido pontífice foi obedientemente considerado culpado. Seu papado foi declarado nulo, três dedos da mão direita usados para administrar as bênçãos foram cortados, e seus restos mortais foram jogados sem qualquer cerimônia no Tibre, de acordo com o antigo costume romano, quando o objetivo é uma damnatio memoriae, obliterando até mesmo a memória de um inimigo derrotado.
Sem dúvida, existem diferenças entre 1.100 anos atrás e a última segunda-feira.
Por um lado, ninguém jogou o papa no Tibre desta vez, embora esse contraste possa ser menos significativo do que pareça. Obviamente, as pessoas por trás do minidrama dessa segunda-feira viam as estátuas como símbolos daquilo que eles não gostam no Papa Francisco – o fato de ele abraçar as culturas e crenças não cristãs, sua agenda “terceiro-mundista” e progressista, sua indiferença à costumeira pompa e circunstância do rito tradicional, e assim por diante.
Em outras palavras, se aqueles dois homens tivessem a opção de jogar o próprio Francisco no rio, eles o teriam feito. As estátuas foram simplesmente o mais próximo que elas realmente puderam chegar.
Talvez a diferença mais relevante seja que o que aconteceu em 897 não foi realmente um “sínodo”, mesmo que Estevão tenha obrigado um punhado de prelados a estarem presentes para dar uma certa credibilidade superficial aos procedimentos. No máximo, o que aconteceu poderia ser chamado de um julgamento eclesiástico, embora isso seja exagerado.
Na realidade, foi apenas uma farsa realizada para conseguir alguns pontos políticos baratos – o que, pensando bem, talvez sugira que isso não foi tão diferente do que aconteceu na segunda-feira.
O que resta saber é se as consequências da ação dessa segunda-feira terão alguma semelhança com o que aconteceu com o Papa Estevão depois do Sínodo do Cadáver.
Todo o caso azedou a opinião pública sobre o novo papa, e começaram a surgir rumores de que o corpo de Formoso havia chegado às margens do Tibre com o poder de realizar milagres. Uma revolta popular levou à prisão de Estevão, e ele foi estrangulado até a morte na prisão, apenas seis meses depois.
Provavelmente, ninguém vai estrangular os homens que roubaram as estátuas na segunda-feira – embora algumas discussões acaloradas no Twitter indiquem que existem pelo menos algumas almas capazes disso por aí. No entanto, veremos se o ato, no entanto, se voltará contra os especialistas e os meios de comunicação que levaram as pessoas a um frenesi, oferecendo uma espécie de reductio ad absurdum teatral sobre todo o debate.
Enquanto isso, o Sínodo da Amazônia seguirá em frente, produzindo presumivelmente um conjunto de recomendações ao Papa Francisco que podem fornecer o esboço para uma nova abordagem pastoral para a maior floresta tropical do mundo. É um assunto sério, sendo conduzido por pessoas que levam a sério aquilo que está em jogo.
Não obstante, daqui a alguns anos, o que as pessoas realmente podem se lembrar desse sínodo não serão as suas conclusões, mas o seu cadáver... o que, se você pensar bem a respeito, é praticamente o oposto daquilo que uma damnatio memoriae bem executada supostamente deve fazer. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Quarta-feira, 23 de outubro-2019. 29ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 12, 39-48)
39Sabei, porém, isto: se o senhor soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria forçar a sua casa. 40Estai, pois, preparados, porque, à hora em que não pensais, virá o Filho do Homem. 41Disse-lhe Pedro: Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos? 42O Senhor replicou: Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo? 43Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier! 44Em verdade vos digo: confiar-lhe-á todos os seus bens. 45Mas, se o tal administrador imaginar consigo: Meu senhor tardará a vir, e começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar e na hora em que ele não pensar, e o despedirá e o mandará ao destino dos infiéis. 47O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. 48Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir.
3) Reflexão Lucas 12,39-48
O evangelho de hoje traz novamente uma exortação à vigilância com outras duas parábolas. Ontem, a parábola era de patrão e empregado (Lc 12,36-38). Hoje, a primeira parábola é do dono de casa e do ladrão (Lc 12,39-40) e a outra fala do proprietário e do administrador (Lc 12,41-47).
Lucas 12,39-40: A parábola do dono da casa e do ladrão
“Fiquem certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que lhe arrombasse a casa. Vocês também estejam preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que vocês menos esperarem”. Assim como o dono da casa não sabe a que hora chega o ladrão, assim ninguém sabe a hora da chegada do Filho do Homem. Jesus deixa bem claro: "Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos, nem o Filho, mas somente o Pai!" (Mc 13,32). Hoje, muita gente vive preocupada com o fim do mundo. Nas ruas das cidades, se vê escrito nas paredes: Jesus voltará! Teve até gente que, angustiada com a proximidade do fim do mundo, chegou a cometer suicídio. Mas o tempo passa e o fim não chega! Muitas vezes, a afirmação “Jesus voltará” é usada para meter medo nas pessoas e obrigá-las a freqüentar uma determinada igreja! De tanto esperar e especular em torno da vinda de Jesus, muita gente já nem percebe mais a presença dele no meio de nós, nas coisas mais comuns da vida, nos fatos do dia-a-dia. Pois o que importa mesmo não é saber a hora do fim deste mundo, mas sim ter um olhar capaz de perceber a vinda de Jesus já presente no meio de nós na pessoa do pobre (cf Mt 25,40) e em tantos outros modos e acontecimentos da vida de cada dia.
Lucas 12,41: A pergunta de Pedro
“Então Pedro disse a Jesus: "Senhor, estás contando essa parábola só para nós, ou para todos?" Não se vê bem o porquê desta pergunta de Pedro. Ela evoca um outro episódio, no qual Jesus respondeu a uma pergunta semelhante dizendo: “A vocês é dado conhecer o mistério do Reino de Deus, mas aos outros tudo é dado a conhecer em parábolas” (Mt 13,10-11; Lc 8,9-10).
Lucas 12,42-48ª: A parábola do proprietário e do administrador
Na resposta à pergunta de Pedro Jesus formula uma outra pergunta em forma de parábola: "Quem é o administrador fiel e prudente, que o senhor coloca à frente do pessoal de sua casa, para dar a comida a todos na hora certa?” Logo em seguida, o Jesus mesmo, na própria parábola, já dá a resposta: bom administrador é aquele que cumpre sua missão de servidor, nunca usa os bens recebidos em proveito próprio, e está sempre vigilante e atento. Talvez seja uma resposta indireta à pergunta de Pedro, como se dissesse: “Pedro, a parábola é realmente para você! É para você saber administrar bem a missão que Deus lhe deu como coordenador das comunidades. Neste sentido, a resposta vale também para cada um de nós. E aí toma muito sentido a advertência final: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”.
A chegada do Filho do Homem e o fim deste mundo
A mesma problemática havia nas comunidades cristãs dos primeiros séculos. Muita gente das comunidades dizia que o fim deste mundo estava perto e que Jesus voltaria logo. Alguns da comunidade de Tessalônica na Grécia, apoiando-se na pregação de Paulo, diziam: “Jesus vai voltar logo!” (1 Tes 4,13-18; 2 Tes 2,2). Por isso, havia até pessoas que já não trabalhavam, porque achavam que a vinda fosse coisa de poucos dias ou semanas. Trabalhar para que, se Jesus ia voltar logo? (cf 2Ts 3,11). Paulo responde que não era tão simples como eles imaginavam. E aos que já não trabalhavam avisava: “Quem não quiser trabalhar não tem direito de comer!” Outros ficavam só olhando o céu, aguardando o retorno de Jesus sobre as nuvens (cf At 1,11). Outros reclamavam da demora (2Pd 3,4-9). Em geral, os cristãos viviam na expectativa da vinda iminente de Jesus. Jesus viria realizar o Juízo Final para encerrar a história injusta deste mundo cá de baixo e inaugurar a nova fase da história, a fase definitiva do Novo Céu e da Nova Terra. Achavam que isto aconteceria dentro de uma ou duas gerações. Muita gente ainda estaria viva quando Jesus fosse aparecer glorioso no céu (1Ts 4,16-17; Mc 9,1). Outros, cansados de esperar, diziam: “Ele não vai voltar nunca! (2 Pd 3,4). Até hoje, a vinda final de Jesus ainda não aconteceu! Como entender esta demora? É que já não percebemos que Jesus já voltou, já está no nosso meio: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo." (Mt 28,20). Ele já está do nosso lado na luta pela justiça, pela paz, pela vida. A plenitude ainda não chegou, mas uma amostra ou garantia do Reino já está no meio de nós. Por isso, aguardamos com firme esperança a libertação plena da humanidade e da natureza (Rm 8,22-25). E enquanto esperamos e lutamos, dizemos acertadamente: “Ele já está no meio de nós!” (Mt 25,40).
4) Para um confronto pessoal
1) A resposta de Jesus a Pedro serve também para nós, para mim. Será que sou um bom administrador, uma boa administradora da missão que recebi?
2) Como faço para estar vigilante sempre?
5) Oração final
Do nascer ao pôr-do-sol seja louvado o nome do Senhor. O Senhor é excelso sobre todos os povos, mais alta que os céus é sua glória. (Sl 112, 3-4)
Vozes que desafiam. Dorothy Stang, profetisa e mártir da Amazônia
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Por: Cleusa Maria Andreatta, Susana Rocca, Wagner Fernandes de Azevedo
Uma década antes de a encíclica Laudato Si’ ser publicada, nas terras de Anapu, na Amazônia brasileira, era “plantada em solo brasileiro” a semente de um modo de pensar, de se relacionar com o mundo, com a construção de novos valores, partindo da perspectiva de que "Deus está em todas coisas" e caminha com os desfavorecidos. Em 12 de fevereiro de 2005, a missionária estadunidense Dorothy Stang foi vítima daquilo que enfrentava: a exploração da terra e dos pobres em favor do lucro e da ganância de poucos. O seu legado ainda brota e se constitui como inspiração para o ponto de inflexão que se encontra a Igreja e todo o mundo.
Dorothy Stang nasceu em 1931, em Dayton, Ohio, Estados Unidos. Chegou ao Brasil na década de 1960, era missionária da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur. A irmã Dorothy desempenhou seu trabalho diretamente nas comunidades amazônicas, reconhecendo a realidade marcada pela desigualdade e pelas relações construídas pela exploração da floresta e das populações empobrecidas, indígenas, ribeirinhos e trabalhadores.
Dorothy Stang foi uma religiosa fruto de uma Igreja que se faz pobre com os pobres. Em entrevista especial à IHU On-Line, David Stang, irmão de Dorothy e também missionário, relata que "nós dois tínhamos o desejo de ajudar os pobres e aqueles que tinham muito pouco, os desejos do Vaticano II de que abríssemos os nossos corações às pessoas e descobríssemos com elas as suas necessidades, tanto físicas quanto espirituais".
Na entrevista concedida em 2009, David destacava as percepções da mística de Dorothy Stang, que antes de entrar no centro do debate da Igreja com a encíclica Laudato Si', compreendia a necessidade de uma mística associada com a ecologia. "Dorothy acreditava que o divino está em todo o lugar, que Deus nos deu esta grande terra para ser compartilhada por todos nós".
Irmã Dorothy não construiu um legado apenas místico, mas teve na sua ação pastoral uma ação transformadora. A irmã Margarida Montoja, do Comitê Dorothy Stang, que concedeu entrevista à IHU On-Line em 2011, apontou a capacidade de organização e articulação política de Dorothy:
"1. Mapeou toda área de seu interesse e andava com estes mapas sempre em sua “boroca” (sacola de pano);
2. Fez levantamento dos possíveis donos dos lotes, descobriu onde havia grilagens e denunciou aos órgãos competentes;
3. Não trabalhava sozinha;
4. Descobriu o Projeto, Plano de Desenvolvimento Sustentável – PDS, que foi elaborado pelo governo FHC. Portanto, PDS não é invenção de Dorothy, é coisa de governo, pensado por uma equipe técnica. Ela descobriu isso que estava guardadinho em algum lugar e fez o governo executá-lo;
5. Escrevia tudo que acontecia, mesmo documentos, tudo com sua letrinha trêmula de idosa, mas, “tá tudo lá registrado, pra quem quiser ver e comprovar”, até citando nomes de seus algozes com muita antecedência;
6. Informava aos interessados toda caminhada feita pelo seu povo e pelos fazendeiros e madeireiros;
7. Ia à delegacia, ao Ibama, no MPF e estadual e onde pudesse denunciar os crimes;
8. Fazia parcerias com entidades e pessoas estratégicas para suas lutas e para realizar seus sonhos;
9. Sempre se colocava ao lado do povo e do meio ambiente;
10. Andava somente com o necessário em suas viagens;
11. Conhecia muito bem o alvo de sua luta;
12. Era minuciosa em suas anotações
13. Era uma grande mística que, aliada a seu espírito de luta, fez dela uma grande mulher, soube unir ação e oração".
A religiosa, portanto, soube conciliar a espiritualidade e a ação política. Em uma de suas frases marcantes expressava: "Não vou fugir nem abandonar a luta desses trabalhadores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor, numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar". Em entrevista à IHU On-Line, o procurador Felício Pontes Júnior definiu Dorothy como o "Anjo da Amazônia". "Tudo que ela tentou estabelecer foi o desenvolvimento integral dos povos da floresta. Isso implica também na relação do homem com a natureza. Ela trouxe para a prática a Teologia da Libertação em pleno século XXI", afirmou Felício.
O reconhecimento do trabalho de Dorothy foi mundial. Nos Estados Unidos, após a sua morte, foi premiada em diversas universidades com o título honoris causa, teve proclamado o "Dia Dorothy Stang", no estado do Colorado, e recebeu o prêmio de Direitos Humanos da ONU. Em memória dos 12 anos de sua morte, o portal National Catholic Reporter publicou um editorial intitulado "Dorothy Stang. A mais rara coragem cristã". A publicação fazia referência ao envolvimento direto de Dorothy com as populações amazônicas, destacando que "Suas sementes já brotaram, é o compromisso do Brasil em acelerar os acordos de terra para locais de desenvolvimento sustentável a agricultores pobres". Anos mais tarde, padre Amaro Lopes, também em Anapu, foi preso acusado de incitar conflitos de terra na região amazônica. Amaro, em entrevista ao Portal das CEBs, em fevereiro de 2019, declarou que a irmã Dorothy "ajudou-me a entender como se vive na prática o Evangelho. Defendendo os pequenos e pequenas em qualquer situação que ameaça a sua integridade física e de sobrevivência. Para mim foi uma mãe".
A declaração de Amaro é um exemplo do quão impossível é deter a semente que foi plantada na Amazônia brasileira com a irmã Dorothy Stang. Seus assassinos tentaram pará-la com seis tiros, em 14 de fevereiro de 2005. Embora cinco pessoas tenham sido condenadas como mandantes ou participantes do crime, hoje nenhum deles está preso. No entanto, nem Dorothy está morta. De 06 de outubro a 27 de outubro de 2019, toda luta que empenhou por três décadas na Amazônia é o centro das atenções da Igreja. Como destaca o jornalista espanhol Luis Miguel Modino: "Dorothy está viva na memória de quem continua lutando em defesa da Amazônia. Quem a matou nunca pensou que se converteria em um símbolo de novos caminhos, um legado que está sendo posto em pauta através do processo sinodal".
A série Vozes que Desafiam. Mulheres na Igreja produzida pela equipe de Teologia Pública do Instituto Humanitas Unisinos tem como objetivo recuperar e visibilizar figuras de mulheres e contribuir no reconhecimento do lugar delas na vida da Igreja. Abaixo, compartilhamos entrevistas, artigos e reportagens publicadas pelo Instituto Humanitas Unisinos que resgatam o legado profético de Dorothy Stang.
Irmã Dorothy: mártir, profeta, mística e santa proclamada pelo povo. Entrevista especial com David Stang
Relembrando alguns episódios de sua infância com a Irmã e sua irmã Dorothy, David Stang, em entrevista exclusiva por e-mail à página IHU On-Line, testemunha toda a admiração pela vida e pela entrega de Dorothy, derramando seu sangue “que corre nas terras brasileiras que ela tanto amou, levantando-se em nome dos que não têm direito e em nome da Floresta Amazônica”.
Ex-missionário católico no Quênia e na Tanzânia, e hoje residente no Colorado, EUA, David Stang critica ainda a justiça e alguns setores da imprensa brasileira, por seu preconceito em retratar sua irmã como uma revolucionária e traficante de armas, uma “agente norte-americana” – sem levar em consideração a sua cidadania brasileira e o seu trabalho de mais de 30 anos no Brasil – e por insultar a sua fé católica e “a bela e simples cruz católica que ela sempre trazia ao redor de seu pescoço”. E afirma que a família Stang ainda luta para que o caso seja federalizado.
Mas muito além dos limites da justiça terrena, David Stang relata a sua esperança naquilo que sua irmã, com o seu martírio, plantou na sociedade e na Igreja brasileiras. “Nós dois tínhamos o desejo de ajudar os pobres, os desejos do Vaticano II de que abríssemos os nossos corações às pessoas e descobríssemos com elas as suas necessidades”, afirma. “Ambos sentíamos o Espírito Santo dentro de nós e o Reino de Deus em nossos corações. Com a grandeza de Deus dentro de nós, não tínhamos por que ter medo”.
E é daí que surge a sua convicção em afirmar que sua Irmã Dorothy o “encorajou a estar vivo” e a dizer, sem hesitar, que Dorothy é uma mártir, uma profeta, uma mística e uma santa, tão proclamada pelo povo. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Terça-feira, 22 de outubro-2019. 29ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 12, 35-38)
35Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas. 36Sede semelhantes a homens que esperam o seu senhor, ao voltar de uma festa, para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. 37Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos digo: cingir-se-á, fá-los-á sentar à mesa e servi-los-á. 38Se vier na segunda ou se vier na terceira vigília e os achar vigilantes, felizes daqueles servos!
3) Reflexão
Por meio da parábola o evangelho de hoje traz uma exortação à vigilância.
Lucas 12,35: Exortação à vigilância
"Estejam com os rins cingidos e com as lâmpadas acesas”. Cingir-se significava amarrar um pano ou uma corda ao redor da veste talar, para que ela não atrapalhasse os movimentos do corpo. Estar cingido significava estar preparado, pronto para ação imediata. Na véspera da saída do Egito, na hora de celebrar a páscoa, os israelitas deviam estar cingidos, isto é, preparados, prontos para poder partir imediatamente (Ex 12,11). Quando alguém ia trabalhar, lutar ou executar uma tarefa ele se cingia (Ct 3,8). Na carta aos Efésios, Paulo descreve a armadura de Deus e diz que os rins devem estar cingidos com o cíngulo da verdade (Ef 6,14). As lâmpadas deviam estar acesas, pois a vigilância é tarefa tanto para o dia como para a noite. Sem luz não se anda na escuridão da noite.
Lucas 12,36: A parábola
Para explicar o que significa de estar cingido, Jesus conta uma pequena parábola. “Sejam como homens que estão esperando o seu senhor voltar da festa de casamento: tão logo ele chega e bate, eles imediatamente vão abrir a porta”. A tarefa de aguardar a chegada do patrão exige uma vigilância constante e permanente, sobretudo quando é de noite, pois, o patrão não tem hora marcada. Ele pode voltar a qualquer momento. O empregado deve estar atento, vigilante sempre!
Lucas 12,37: Promessa de felicidade
“Felizes dos empregados que o senhor encontra acordados quando chega. Eu garanto a vocês: ele mesmo se cingirá, os fará sentar à mesa, e, passando, os servirá”. Aqui, nesta promessa de felicidade, os papeis se invertem. O patrão se torna empregado e começa a servir ao empregado que virou patrão. Evoca Jesus na última ceia que, mesmo sendo senhor e mestre, se fez servidor e empregado de todos (Jo 13,4-17). A felicidade prometida tem a ver com o futuro, com a felicidade no fim dos tempos, e é o oposto daquilo que Jesus prometeu numa outra parábola que dizia: “Se alguém de vocês tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: Venha depressa para a mesa? Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: 'Prepare-me o jantar, cinja-se e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai comer e beber'? Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado? Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam: Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer" (Lc 17,7-10). .
Lucas 12,38: Repete a promessa de felicidade
“E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão se assim os encontra!” Repete a promessa de felicidade que exige vigilância total. O patrão pode voltar meia noite, três da madrugada, ou qualquer outra hora. O empregado deve estar acordado, cingido, pronto para poder entrar em ação.
4) Para um confronto pessoal
1) Somos empregados de Deus. Devemos estar cingidos, de prontidão, atentos e vigilantes, vinte e quatro horas por dia. Você está conseguindo? Como faz?
2) A promessa de felicidade futura é a inversão do presente. O que isto nos revela sobre a bondade de Deus para conosco, para comigo?
5) Oração final
Escutarei o que diz o Senhor Deus, porque ele diz palavras de paz ao seu povo, para seus fiéis, e àqueles cujos corações se voltam para ele. Sim, sua salvação está bem perto dos que o temem, de sorte que sua glória retornará à nossa terra. (Sl 84, 9-10)
Pacto das Catacumbas pela Casa Comum
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Pacto das Catacumbas pela Casa Comum: Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana
Nós, participantes do Sínodo Pan-amazônico, partilhamos a alegria de habitar em meio a numerosos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, migrantes, comunidades na periferia das cidades desse imenso território do Planeta. Com eles temos experimentado a força do Evangelho que atua nos pequenos. O encontro com esses povos nos interpela e nos convida a uma vida mais simples de partilha e gratuidade. Marcados pela escuta dos seus clamores e lágrimas, acolhemos de coração as palavras do Papa Francisco:
“Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja.
Por eles, com eles, caminhemos juntos”[1].
Evocamos com gratidão aqueles bispos que, nas Catacumbas de Santa Domitila, ao término do Concílio Vaticano II, firmaram o Pacto por uma Igreja servidora e pobre[2]. Recordamos com veneração todos os mártires membros das comunidades eclesiais de base, de pastorais e movimentos populares; lideranças indígenas, missionárias e missionários, leigas e leigos, padres e bispos, que derramaram seu sangue, por causa desta opção pelos pobres, por defender a vida e lutar pela salvaguarda da nossa Casa Comum[3]. À gratidão por seu heroísmo unimos nossa decisão de continuar sua luta com firmeza e coragem. É um sentimento de urgência que se impõe ante as agressões que hoje devastam o território amazônico, ameaçado pela violência de um sistema econômico predatório e consumista.
Diante da Trindade Santa, de nossas Igrejas particulares, das Igrejas da América Latina e do Caribe e daquelas que nos são solidárias na África, Ásia, Oceania, Europa e no norte do continente americano, aos pés dos apóstolos Pedro e Paulo e da multidão dos mártires de Roma, da América Latina e em especial da nossa Amazônia, em profunda comunhão com o sucessor de Pedro, invocamos o Espírito Santo, e nos comprometemos pessoal e comunitariamente com o que se segue:
- Assumir, diante da extrema ameaça do aquecimento global e da exaustão dos recursos naturais, o compromisso de defender em nossos territórios e com nossas atitudes a floresta amazônica em pé. Dela vêm as dádivas das águas para grande parte do território sul-americano, a contribuição para o ciclo do carbono e regulação do clima global, uma incalculável biodiversidade e rica socio diversidade para a humanidade e a Terra inteira.
- Reconhecer que não somos donos da mãe terra, mas seus filhos e filhas, formados do pó da terra (Gn 2, 7-8)[4], hóspedes e peregrinos (1 Pd 1, 17b e 1 Pd 2, 11)[5], chamados a ser seus zelosos cuidadores e cuidadoras (Gn 1, 26)[6]. Para tanto, comprometemo-nos com uma ecologia integral, na qual tudo está interligado, o gênero humano e toda a criação porque a totalidade dos seres são filhas e filhos da terra e sobre eles paira o Espírito de Deus (Gn 1, 2).
- Acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado: “De minha parte, vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência, com todos os seres vivos que estão convosco, aves, animais domésticos e selvagens, enfim, com todos os animais da terra que convosco saíram da arca (Gn 9, 9-10 e Gn 9, 12-17[7]).
- Renovar em nossas igrejas a opção preferencial pelos pobres, em especial pelos povos originários, e junto com eles garantir o direito de serem protagonistas na sociedade e na Igreja. Ajudá-los a preservar suas terras, culturas, línguas, histórias, identidades e espiritualidades. Crescer na consciência de que estas devem ser respeitadas local e globalmente e, consequentemente favorecer, por todos os meios ao nosso alcance, que sejam acolhidas em pé de igualdade no concerto mundial dos demais povos e culturas.
- Abandonar, como decorrência, em nossas paróquias, dioceses e grupos toda espécie de mentalidade e postura colonialista, acolhendo e valorizando a diversidade cultural, étnica e linguística num diálogo respeitoso com todas as tradições espirituais.
- Denunciar todas as formas de violência e agressão à autonomia e direitos dos povos originários, à sua identidade, aos seus territórios e às suas formas de vida.
- Anunciar a novidade libertadora do evangelho de Jesus Cristo, na acolhida ao outro e ao diferente, como sucedeu com Pedro na casa de Cornélio: “Vós bem sabeis que a um judeu é proibido relacionar-se com um estrangeiro ou entrar em sua casa. Ora, Deus me mostrou que não se deve dizer que algum homem é profano ou impuro” (At 10, 28)[8].
- Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cristãs no anúncio inculturado e libertador do evangelho, e com as outras religiões e pessoas de boa vontade, na solidariedade com os povos originários, com os pobres e pequenos, na defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum
- Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida sinodal, onde representantes dos povos originários, missionários e missionárias, leigos e leigas, em razão do seu batismo, e em comunhão com seus pastores, tenham voz e voto nas assembleias diocesanas, nos conselhos pastorais e paroquiais, enfim em tudo que lhes compete no governo das comunidades.
- Empenhar-nos no urgente reconhecimento dos ministérios eclesiais já existentes nas comunidades, exercidos por agentes de pastoral, catequistas indígenas, ministras e ministros e da Palavra, valorizando em especial seu cuidado em relação aos mais vulneráveis e excluídos.
- Tornar efetiva nas comunidades a nós confiadas a passagem de uma pastoral de visita a uma pastoral de presença, assegurando que o direito à Mesa da Palavra e à Mesa de Eucaristia se torne efetivo em todas as comunidades.
- Reconhecer os serviços e a real diaconia do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia e procurar consolidá-los com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade.
- Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades onde atuamos, com protagonismo de leigos e jovens, com atenção às suas periferias e aos migrantes, aos trabalhadores e aos desempregados, aos estudantes, educadores, pesquisadores e ao mundo da cultura e da comunicação[9].
- Assumir diante da avalanche do consumismo um estilo de vida alegremente sóbrio, simples e solidário com os que pouco ou nada tem; reduzir a produção de lixo e o uso de plásticos, favorecer a produção e comercialização de produtos agroecológicos, utilizar sempre que possível o transporte público.
- Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profético serviço de denúncia e reparação de injustiças, de defesa da terra e dos direitos dos pequenos, de acolhida e apoio a migrantes e refugiados. Cultivar amizades verdadeiras com os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos, exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio que trazem alento e renovam a esperança.
Conscientes de nossas fragilidades, de nossa pobreza e pequenez diante de tão grandes e graves desafios, confiamo-nos à oração da Igreja. Que sobretudo nossas Comunidades Eclesiais nos socorram com sua intercessão, afeto no Senhor e, sempre que necessário, com a caridade da correção fraterna.
Acolhemos de coração aberto o convite do Cardeal Hummes para nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo nestes dias do Sínodo e no retorno às nossas igrejas:
“Deixem-se envolver no manto da Mãe de Deus e Rainha da Amazônia. Não deixemos que nos vença a auto-referencialidade, mas sim a misericórdia diante do grito dos pobres e da terra. Será necessária muita oração, meditação e discernimento, além de uma prática concreta de comunhão eclesial e espírito sinodal. Este sínodo é como uma mesa que Deus preparou para os seus pobres e nos pede a nós que sejamos aqueles que servem à mesa”[10].
Celebramos esta Eucaristia do Pacto como “um ato de amor cósmico. “Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja de aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo”. A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O mundo saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração: no Pão Eucarístico “a criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador”. “Por isso, a Eucaristia é também fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e leva-nos a ser guardiões da criação inteira”.[11]
Catacumbas de Santa Domitila
Roma, 20 de outubro de 2019
[1] Homília do Papa Francisco na Missa de abertura do Sínodo, Roma 06-10-2019
[2] Pacto por uma Igreja servidora e pobre. Catacumbas de Santa Domitila, Roma 16 de novembro de 1965. O Pacto assinado por 42 concelebrantes, recebeu em seguida a adesão de cerca de 500 padres conciliares.
[3] DAp 98, 140, 275, 383, 396.
[4] “7 Então o SENHOR Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e Ele tornou-se um ser vivente. 8 Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, a oriente, e pôs ali o homem que havia formado”.
[5] “... vivei no temor o tempo de vossa permanência como migrantes” (1 Pd 1, 17b) e “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros...” (1 Pd, 2, 11).
[6] “26 Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine [cuide] sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que
se movem pelo chão’. 27 Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou”.
[7] 12 E Deus disse: “Eis o sinal da aliança que estabeleço entre mim e vós e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações futuras. 13 Ponho meu arco nas nuvens, como sinal de aliança entre mim e a terra. 14 Quando eu cobrir de nuvens a terra, aparecerá o arco-íris nas nuvens. 15 Então me lembrarei de minha aliança convosco e com todas as espécies de seres vivos, e as águas não se tornarão mais um dilúvio para destruir toda carne. 16 Quando o arco-íris estiver nas nuvens, eu o contemplarei como recordação da aliança eterna entre Deus e todas as espécies de seres vivos sobre a terra”. 17 Deus disse a Noé: “Este é o sinal da aliança que estabeleço entre mim e toda a carne sobre a terra”.
[8] 4 Então, Pedro tomou a palavra: “De fato”, disse, “estou compreendendo que Deus não faz discriminação entre as pessoas. 35 Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença (At 10, 34-35).
[9] Cfr DSD 302.1.3
[10] HUMMES, Card. Cláudio, 1ª. Congregação Geral do Sínodo Amazônico, Relação introdutória do Relator Geral, Roma, 07-10-2019 (BO 792).
[11] Laudato Si’, 237.
O Sínodo. Com os mártires da Amazônia viajo para o coração do Evangelho
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Missionários e religiosos que compartilharam o destino muitas vezes trágico dos índios mostram o rosto da Igreja
Este é o testamento: "Sim, quero que você entenda que o que está acontecendo não é o resultado de nenhuma ideologia ou facção teológica, ou mesmo da minha personalidade. Há apenas uma razão: Deus me chamou com o dom da vocação sacerdotal e eu respondi. Ele me chamou para servi-lo nesses pobres camponeses indefesos, pessoas oprimidas pela sede de lucro dos fazenderos, nas muitas violadas e despejadas, mulheres e crianças abandonadas, sem pão e sem teto. Se eu calar a boca, quem os defenderá? Agora eu quero que você entenda isso: 'O discípulo não é maior que o Mestre. Se eles me perseguirem, também o perseguirão ". Tudo o que está acontecendo é a consequência de estar ao lado de Cristo, a quem recebo dessas pessoas pobres. Pelo bem do evangelho que me levou a assumir as últimas consequências ».
Padre Josimo Morais Tavares levou um tiro nas costas ao subir as escadas do edifício episcopal da diocese de Imperatriz, no estado do Maranhão, no meio da Amazônia brasileira, agora a oeste do agronegócio e da agricultura intensiva. Ele tinha 33 anos, em 1986, coordenou a Comissão para o cuidado pastoral da terra e, por algum tempo, sua presença foi desconfortável para os potentados locais por causa de queixas e missão entre o povo das aldeias rurais, pessoas de quem ele era muito amado. "Celebrarei a missa diante de seu povo - um dos bispos históricos do Brasil, dom Luciano Mendes de Almeida, recordando depois seu funeral -. Uma das freiras que trabalharam com ele pegou a camisa molhada com o sangue e a colocou em uma cruz como sinal do dom da vida, mostrando as pessoas que cruzam com a camisa perfurada por balas ». Ainda hoje sua memória está muito viva entre essas pessoas. Para o padre Josimo, uma causa de canonização ainda não foi introduzida.
É precisamente esse padre que abre uma lista de poucos sacerdotes, religiosos e missionários leigos assassinados na Amazônia, apresentados nos últimos dias ao papa antes da assembleia no sínodo. Uma proposta formal feita pelo bispo brasileiro de Rio Branco, Joaquim Fernandez, pede o reconhecimento de seu martírio. Entre essas figuras, cujas biografias exemplares foram publicadas no site do Vaticano, há também a irmã Dorothy Stang, uma missionária norte-americana que operava na região do Xingu, no Estado do Pará, no Brasil, território onde a rodovia transamazônica foi construída.
A irmã Dorothy também teve que enfrentar sérias situações de conflito pela terra. Ele denunciou a violência e as ações injustas e predatórias de grandes proprietários de terra contra pequenos trabalhadores rurais e indígenas, cujas terras eram tentadoras e, portanto, foram invadidas por invasão ou tomadas à força. Ele defendeu os direitos dos últimos e, com eles, inventou formas de trabalho para obter uma pequena renda, associando-os a projetos de reflorestamento ativos. Ela foi assassinada em Anapu, em 2005, aos 73 anos, por ordem de um proprietário de terras. Pouco antes de ser morto, ele declarou: "Não quero fugir, nem abandonar a luta desses fazendeiros que não têm ninguém para protegê-los aqui, na floresta. Eles têm o direito sagrado a uma vida melhor em uma terra onde possam viver e produzir colheitas com dignidade e sem devastar o meio ambiente ». Uma manhã na floresta, a arma foi apontada para ela e perguntou se ela estava armada. Ele mostrou a Bíblia. “Aqui está minha arma!” Ele respondeu, também leu algumas passagens das Escrituras Sagradas para quem as atirou abertamente. A irmã Doroty a chama de "mártir da criação".
Outros já iniciaram uma causa de canonização, como o frade capuchinho equatoriano Alexandro Labaka Ugarte, o franciscano Agnese Arango Velsquez, a irmã brasileira Cleusa Coelho, missionária agostiniana, no Estado do Amazonas, em meio ao massacre dos índios. A irmã Cleusa tomou a defesa: em 1986, pouco antes dos 52 anos, ela foi assassinada no rio Paciá enquanto tentava resgatar algumas crianças indígenas. O corpo do missionário, massacrado e mutilado, foi encontrado dois dias depois. Esse também foi o caso do missionário paduan de origem paduanense, padre Ezechiele Ramin, assassinado em Rondônia em 1985 por sua missão ao lado dos suru índios: ele foi chamado para patrocinardo Sínodo. Ramin faz parte das fileiras de mulheres e homens que, movidos pela fé, foram para essas terras e não como colonos. No meio de populações consideradas aves de caça para caçar e caçar, escravizadas ou dizimadas desde a chegada dos colonizadores europeus, esses missionários eram testemunhas do Evangelho, cuidaram do respeito ao próximo e ao meio ambiente, tornando-se defensores da inculturação. "Desde o início, o testemunho e a solidariedade com os povos indígenas têm sido praticados ao alto preço da perseguição, pressão de todos os tipos, acusações difamatórias. Muitas vezes, missionários e obreiros da Igreja foram assassinados. Muitos foram os mártires! “Disse o cardeal brasileiro Claudio Hummes várias vezes. Não são apenas membros da Igreja,
A Igreja, porém, só pode recordar os muitos missionários que nesta região, rios e florestas, ofereceram suas vidas pelo amor de Jesus Cristo e os povos amazônicos, viveram naqueles lugares até o final, e há eles estão enterrados. Histórias heróicas e exemplares. Como sementes de um futuro mais humano e mais cristão ", cuja memória é fonte de esperança para os povos amazônicos". «Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam pesadas cruzes e aguardam o consolador libertador do Evangelho, a carícia de amor da Igreja. Para eles, com eles, caminhamos juntos. Muitos irmãos e irmãs deram e estão dando suas vidas pela Amazônia - lembrou o Papa na missa de abertura do Sínodo -. Fiéis ao fogo do Evangelho, que não destrói, mas unifica e aquece ».
De resto, esse é o sentido católico do martírio, imitando o Cordeiro que venceu o pecado, o mal do mundo, para regenerar a humanidade. A história das missões é, portanto, a história do martírio de Cristo, sempre renovada de acordo com a 'bem-aventurança das perseguições', prevista e garantida por Jesus aos seus discípulos. E se o martírio é uma vocação, uma dádiva que se adapta a Cristo, o testemunho frutífero dos mártires tem a particularidade de tornar manifesta uma mensagem: a salvação de Cristo, mesmo que em nossa cultura atual essa natureza do martírio cristão se perca de vista. . Mas o próprio Sínodo, focado na missão, quer mostrar total aderência a Cristo, aceitando a centralidade dos pobres, como apresentado no Evangelho. Reconhecê-los como verdadeiros construtores do Reino e ouvir seu clamor como o da Terra significa uma conversão missionária. Este é o significado da Via Crucis para a Amazônia quefoi realizada em Roma, em memória de seus mártires, com os padres sinodais a caminho de Castel Sant'Angelo, a caminho de San Pietro. Fonte: https://www.avvenire.it
Roma. Roubo de estatuetas de igrejas na Amazônia. Ruffini: gesto sem sentido
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Segunda-feira 21 de outubro 2019
Algumas estátuas de madeira, que representavam mulheres nativas grávidas, foram roubadas da igreja de Santa Maria em Traspontina e jogadas no Tibre. Nenhuma reivindicação
Algumas estatuetas de madeira, que representavam mulheres nativas grávidas, foram roubadas da igreja de Santa Maria em Traspontina, a poucos passos da Piazza San Pietro - onde outros objetos da Amazônia são exibidos , em conexão com o extraordinário Sínodo dos bispos na Amazônia , em andamento no Vaticano - para depois ser jogado no Tibre, como evidenciado pelo vídeo filmado pelos mesmos autores do roubo e publicado na internet.
Nos quatro minutos do vídeo, um homem é visto entrando na igreja e subtraindo as estátuas de Pachamama exibidas em uma delas nos corredores. Então ele começa em direção a Ponte Sant'Angelo, onde joga as estátuas na água. O vídeo está sem comentários ou reivindicações de qualquer tipo.
"Aprendemos com as redes sociais desse gesto - comentou Paolo Ruffini, prefeito do ministério da comunicação do Vaticano -. Só posso dizer que roubar algo de um lugar, além disso sagrado, é um golpe, um gesto sem sentido, que contradiz o espírito de diálogo que deve sempre animar a todos: um roubo que fala por si ".
As estatuetas foram trazidas por um grupo de povos indígenas ao Sínodo da Amazônia e a cerimônia foi exibida pela primeira vez, no início do Sínodo, nos jardins do Vaticano e eles acenderam , imediatamente, as paixões da ultra blogfera, que os transformou em um "caso" paralelo ao Sínodo. Segundo a interpretação de um jornalista, a imagem teria sido uma má representação da Virgem Maria ou uma sacralização de Pachamama , a Mãe Terra.
Em vão, tanto o prefeito do Departamento de Comunicação, Paolo Ruffini , como o padre Giacomo Costa , secretário da Comissão de Comunicação, explicaram que a estátua não escondia nenhum significado oculto. Era exatamente o que era: uma mulher nativa grávida. Certamente, dado que, para os nativos, a Amazônia está associada à imagem feminina, poderia estar associada à região, portadora de vida para si e para o mundo. Ruffini também convidou para não ver o mal onde ele não existe. Agora o epílogo, com o roubo das estátuas e o lançamento no Tibre. Fonte: https://www.avvenire.it
Coletiva Sínodo: defesa dos povos indígenas e diaconato permanente
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No início da terceira e última semana de trabalhos sinodais, na Sala de Imprensa da Santa Sé, o cardeal Schönborn, arcebispo de Viena; o bispo de Rieti, dom Pompili; Pe. Dario Bossi, provincial dos Missionários Combonianos no Brasil; e a representante do grupo étnico Sateré Mawé, no Brasil, Marcivana Paiva
Alessandro Di Bussolo / Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“Com este Sínodo, o Papa Francisco quer despertar a consciência de toda a Igreja sobre o destino dos povos indígenas da Amazônia, que há 500 anos vivem sob ameaça de extinção. Os missionários serviram a essas populações, mas a situação permanece dramática.”
O arcebispo de Viena, na Áustria, cardeal Christoph Schönborn, na coletiva na Sala de Imprensa da Santa Sé esta segunda-feira (21/10) sobre o Sínodo para a Amazônia, admitiu que jamais esteve na região, mas como padre sinodal “aprendeu muito sobre a coragem dos povos indígenas”.
“Nós como herdeiros das potências coloniais devemos estar muito atentos e conscientes do que significa para estes povos encontrar-se em risco de extinção. O Papa nos pede para prestar atenção a quem não tem voz, aos povos e aos pobres esquecidos”, ressaltou.
Em Viena 180 diáconos permanentes
O ex-aluno do teólogo Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI, e colaborador de São João Paulo II, recordou aos jornalistas ter falado na Sala do Sínodo sobre a experiência da diocese que guia há 21 anos.
“Em Viena temos 180 diáconos permanentes, em sua maioria casados. Uma experiência nascida graças à intuição de meu predecessor cardeal Koning, que colocou em prática um das novidades trazidas pelo Concílio Vaticano II”, destacou.
“Hoje nossos diáconos permanentes prestam serviço em paróquias, nas comunidades, nas Caritas e também nos cárceres. O diaconato permanente pode ajudar realmente a pastoral na Amazônia”, observou o purpurado.
Schönborn: toda a Igreja é corresponsável pela Amazônia
Para o cardeal Schönborn, outra ajuda à Igreja na Amazônia pode vir de uma mais equânime “distribuição do clero”. A Colômbia – foi o exemplo que deu – “tem mais de 1200 padres nos EUA, no Canadá e na Espanha. Se ao menos uma parte pudesse transferir-se para a Amazônia seria uma grande ajuda”.
A Europa, em relação aos outros continentes, acrescentou o presidente dos bispos austríacos, “tem uma superabundância de sacerdotes, mesmo porque, devemos admitir, a remuneração é melhor do que em zonas pobres”.
Em suma, para o purpurado, “toda a América Latina, aliás, toda a Igreja católica é corresponsável pela Amazônia. Se há uma necessidade de ajuda, a Igreja deve esforçar-se para enviar missionários, como já fez no passado”. E deve fazer autocrítica: “Tivemos a confiança de buscar, de confiar realmente nas vocações dos indígenas?”, perguntou-se Schönborn.
“A Amazônia é decisiva para o clima do mundo – concluiu o cardeal, tocando o tema da ecologia integral – e nós devemos perguntar-nos qual é a nossa contribuição para aumentar os perigos para a Amazônia. Por exemplo, usando celulares construídos com os minerais extraídos da floresta amazônica.”
Pompili: a questão ecológica é "a questão"
Suas palavras foram ressoadas nas do bispo da diocese italiana de Rieti, dom Domenico Pompili: “Agora a questão ecológica é a questão. A Laudato si’ demonstrou que não há desenvolvimento no médio-longo prazo, se este não é sustentável”.
“Não precisamos nem dos negacionistas, que negam a evidência do problema, nem dos terroristas que veem o fim do mundo cada vez mais próximo, mas ninguém hoje pode evitar refletir seriamente, como nós estamos fazendo no Sínodo”, observou.
Justamente para ajudar os padres sinodais nesta reflexão, informou o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, o diretor emérito do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático, o climatologista alemão Hans J. Schellnhuber interveio esta segunda-feira na Sala do Sínodo.
A tragédia do terremoto de 2016 no centro da Índia – foi o testemunho de dom Pompili – “é a amostra de um difícil e não resolvido problema na relação homem-ambiente. E hoje a reconstrução, aliás, a ‘regeneração’ deve ser feita seguindo rigorosos critérios e eco-sustentáveis. Infelizmente, ainda há dezenas de milhares de deslocados”.
Pe. Bossi: não ao ouro nas liturgias, extração causa poluição
O superior provincial dos missionários combonianos no Brasil – que são membros da Repam e da rede Igreja e Mineração, Pe. Dario Bossi, há 15 anos na Amazônia, falou na coletiva sobre os danos ao ambiente e às populações da Amazônia provocados pelas indústrias da extração minerária.
“Seria um sinal muito forte se a Igreja conseguisse eliminar o uso do ouro em suas liturgias e sacramentos”, disse respondendo a uma pergunta. Os garimpeiros, denunciou o comboniano, “para o equivalente a um anel de ouro reviram centenas de quilos de terras e poluem os rios com mercúrio e cianeto”. Somente 10% do ouro é usado para processos efetivamente úteis, como a utilização na medicina, o restante é armazenado ou utilizado para joalheria”.
“Em nosso território de Piquiá de Baixo, no distrito industrial de Açailândia (MA) – contou o missionário – encontra-se a maior mineradora a céu aberto de extração de ferro do mundo, com um processo de exportação ao longo de 900Km, que atravessa mais de 100 comunidades.”
Os frutos deste “modelo extrativista predatório”, esclareceu, são o desmatamento e a poluição. Para não falar das tragédias ocorridas com a ruptura das barragens minerárias, como as de Mariana em 2015 e de Brumadinho este ano.
A extração minierária é o mal comum da Amazônia
“A associação entre governo e grandes empresas é muito perigosa – denunciou o provincial dos combonianos –, modificam-se as leis e se reduz a fiscalização.” A Igreja encontra-se ao lado das comunidades atingidas, com a rede ecumênica Igrejas e Mineração, e uma comissão ad hoc do episcopado brasileiro.
“Ninguém mais suporta esse sistema”, denunciou Pe. Bossi. A extração minerária é um mal comum da Amazônia, e em 25% do território amazônico já foram identificados novos pontos apropriados para a extração.”
Felizmente, as com unidades indígenas reagem: “há 10 anos a comunidade de Piquiá de Baixo está se organizado para pedir ressarcimentos integrais 0pelos danos sofridos, e agora estão conseguindo construir um novo bairro distante das áreas poluídas”.
Paiva: pedido de apoio a quem se torna "invisível" na cidade
“Para os indígenas que chegam às cidades o maior perigo é a invisibilidade: quando se é invisível, não se tem direitos.” Quem explicou isso foi a brasileira Marcivana Rodrigues Paiva, representante do grupo étnico Sateré Mawé, que falou da questão da “urbanização”, fenômeno sempre crescente para os povos indígenas, que obrigados a deixar suas terras migram para os grandes centros urbanos.
Somente em Manaus, por exemplo, “há 45 populações indígenas, 35 mil habitantes ao todo, que falam 16 línguas”. “Sem território, não têm direito à nossa identidade”, denunciou Marcivana, lançando um apelo “em favor das populações indígenas que chegam às cidades” mediante uma “pastoral indígena” endereçada a eles.
Ruffini: o precesso de escuta no Sínodo não terminou
O prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Paolo Ruffini, informou que o relator geral do Sínodo, o cardeal Claudio Hummes – arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Repam eclesial pan-amazônica (Repam), apresentou na manhã desta segunda-feira na Sala do Sínodo o esboço do documento final da Assembleia especial.
Quatro temas principais: “O caminho do povo da Amazônia, a conversão integral à plenitude e à vida, a conversão pastoral, sinodal e missionária, e, por fim, a conversão cultural e ecológica, portanto, a questão da inculturação”. Mas, concluiu Ruffini, “o cardeal esclareceu que o processo de escuta não terminou”.
Estátuas roubadas: "furto que se comenta por si mesmo"
Por fim, o prefeito Ruffini interveio, respondendo a um jornalista, para comentar o gesto na manhã desta segunda-feira, praticado por desconhecidos que roubaram da igreja de Santa Maria in Traspontina – nas adjacências do Vaticano – e jogaram no rio Tibre as estátuas de madeira representando mulheres indígenas grávidas utilizadas durante a cerimônia no Vaticano, em 4 de outubro, na presença do Papa Francisco. O gesto foi filmado pelos autores que depois publicaram em redes sociais.
“Já dissemos nesta sede mais vezes que essas estátuas representavam a vida, a fertilidade, a mãe terra. É um gesto, parece-me, que contradiz o espírito de diálogo que deveria sempre animar todos. Não sei o que mais poderia dizer a não ser que se trata de um furto, e que talvez se comente inclusive por si mesmo”, esclareceu Ruffini. Fonte: https://www.vaticannews.va
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