A Arena Fonte Nova recebeu 49 mil admiradores de Santa Dulce dos Pobres
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Palco de partidas de futebol e shows de música, a Arena Fonte Nova, em Salvador , se converteu em uma “grande catedral”, como definiu um mestre de cerimônias do evento, na tarde de domingo, 20 de outubro, para sediar a celebração pela canonização da freira baiana Irmã Dulce . Uma semana depois de ela se tornar a Santa Dulce dos Pobres , com a canonização no Vaticano, 49 mil admiradores da religiosa praticamente lotaram o estádio de futebol para o evento que culminou em uma missa, iniciada por volta das 17h e conduzida pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger.
Os três anéis da arena, reformada para a Copa do Mundo de 2014, estavam quase totalmente tomados. A tarde foi repleta de música católica e homenagens à santa. A principal delas foi a espetáculo “Império de Amor”.
Antes de celebrar a “missa santa”, dom Murilo Krieger declarou a jornalistas que o espatáculo lhe tocou por demonstrar a obra que Irmã Dulce deixou é viva. Fazem parte do grupo que se apresentou 550 crianças e adolescentes do Centro Educacional Santo Antônio (CESA), núcleo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), além de idosos.
O bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disse ser uma alegria estar em Salvador e participar da celebração brasileira em ação de Graças pela canonização de Santa Dulce dos Pobres. “Hoje é festa na Bahia, no Brasil, no mundo inteiro e no céu. Para dom Joel, Santa Dulce dos Pobres marcou a vida praticando a solidariedade num mundo no qual a indiferença está globalizada, segundo o Papa Francisco”, disse.
O governador Rui Costa participou da celebração, acompanhado da primeira-dama e presidente das Voluntárias Sociais da Bahia (VSBA), Aline Peixoto, e de José Maurício Moreira e Cláudia Araújo, que receberam a graça da cura, reconhecida pelo Vaticano. Para Rui, Santa Dulce dos Pobres está acima das religiões pela generosidade, história e cuidado com o próximo.
“Com a canonização de Santa Dulce dos Pobres, a Bahia torna-se uma referência ainda maior do que já é da fé, com suas mais de 300 igrejas, como a do Bonfim, de Nossa Senhora da Conceição da Praia, do Rosário dos Pretos e de São Francisco. Isso vai ser muito bom também para reforçar o destino religioso que é a nossa capital”, afirmou o governado
A cantora Margareth Meneses também participou da homenagem. “Ter participado da canonização, cantado na cerimônia, e agora estar nessa homenagem é para mim uma grande emoção. A energia, a força que ela teve e que continua, tudo isso é muito bonito. Proporcionar acolhimento aos seres humanos mais abandonados não tem preço”.
A superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e sobrinha de Santa Dulce dos Pobres, Maria Rita Lopes Pontes, disse que a canonização fortalece a obra e permite que a missão de Irmã Dulce seja ampliada. “Não é somente o atendimento de saúde. A gente tem que acolher bem as pessoas que chegam para conhecer a história de Irmã Dulce e o seu memorial”. A instituição realiza 2,2 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano e 12 mil cirurgias.
Dom Murilo Krieger ressaltou que a canonização de Santa Dulce dos Pobres não é importante somente para religião católica. “Ela é um exemplo para todos nós. Eu tenho certeza que os nossos irmãos, sejam de que religião forem, reconhecem a generosidade de Irmã Dulce e também que ela fez o bem para todos, sem perguntar de qual religião era a pessoa que recebia a ajuda. Assim, todos vamos aprendendo a nos respeitar mutuamente”. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Sínodo: 14ª Congregação Geral
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Teve início na manhã desta segunda-feira com a oração da Hora Média, na Sala do Sínodo, no Vaticano, a última semana de trabalhos dos Sínodo dos Bispos dedicado à região Pan-amazônica.
Silvonei José - Cidade do Vaticano
Na presença do Santo Padre realizou-se a 14ª Congregação Geral, durante a qual o Relator-geral, cardeal Cláudio Hummes, apresentou o Projeto do Documento final do Sínodo. Na segunda parte da manhã e no período da tarde novamente os Círculos Menores.
A reflexão proposta no início dos trabalhos sinodais nesta manhã de segunda-feira foi feita pelo arcebispo de Trujillo, Peru, Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte.
O arcebispo peruano iniciou a sua meditação propondo o Salmo 110,22: “Bendigam ao Senhor todas as suas obras”. O Papa Francisco escolheu como início de sua Encíclica Laudato Si, a poesia do Cântico do Irmão Sol. O Papa também confiou a São Francisco este Sínodo, nos jardins do Vaticano, no dia 4 de outubro. É por isso que convido vocês a percorrer uma parte do caminho espiritual de São Francisco, disse dom Vidarte.
Francisco substitui a beleza medieval, reservada apenas aos poderosos, com a beleza destes últimos, no tocar e beijar o leproso. Esta oração, composta no Monte Averna, nos diz que o Deus de Francisco não é mais um Deus guerreiro, mas o Deus sofredor, o Deus que padece e compadece a dor do ser humano, ferido pela mortalidade. Embriagado pelo encontro com o Deus da ternura, Francisco está sempre pronto a louvar o Senhor.
Não há nuvens que possam obscurecer a dignidade da pessoa, prodígio de Deus; não há nuvens que obscureçam o valor da vida, maravilha de Deus; nem nuvens que ameacem o dom dos irmãos, que o perdão pode fazer brilhar. Sim, porque para Francisco a beleza não é uma questão de estética, mas de amor, de fraternidade a todo custo, de graças a todo custo. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, pelo ar e pelas nuvens, pelo sereno e todo tempo... Tu és beleza! Conhecer o Sumo Bem, reconhecer seus benefícios e devolver ao Sumo Bem o louvor (conhecer, reconhecer e retribuir), são os verbos que marcam o ritmo do caminho espiritual de São Francisco de Assis. O Deus conhecido por Francisco é o todo: meu Deus e meu tudo. Deus et Omnia é repetido por Francisco no seu louvor ao Deus Altíssimo, Deus todo em todos. (1º Cor 15,28).
Francisco se refere ao Salmo 110,22: "Bendizei ao Senhor por todas as suas obras" e ao Salmo 18,2: "Os céus narram a glória de Deus. Também os qualificadores: belo, radiante, claro, precioso, expressam as qualidades divinas que tornam as criaturas aptas a ajudar o homem que, tendo pecado, é incapaz de um louvor digno.
Os louvores do Senhor feitos por São Francisco e que começam: "Altíssimo, Todo-Poderoso, Bom Senhor", o título: Cântico do Irmão Sol, que é a criatura mais bela. Pela manhã, quando o sol nasce, todo homem deveria louvar a Deus, que criou aquela estrela, pela qual nossos olhos são iluminados durante o dia. E à tarde, ao cair da noite, todo homem deveria louvar a Deus por aquela outra criatura: o irmão Fogo, por quem os nossos olhos são iluminados durante a noite”.
Ele ainda diz: "Somos todos como cegos e o Senhor ilumina os nossos olhos através destas duas criaturas. Por elas e por as outras criaturas, que usamos todos os dias, devemos sempre louvar o Criador glorioso”. São Francisco descobre em Deus o lugar da Criação, devolve a Criação a Deus, vê Deus em todas as coisas e ousa chamá-las irmãs. Ele é o irmão universal (cf. LS 11), porque vê em Deus não só o Pai de todos, mas o Pai de todas as coisas. Fonte: https://www.vaticannews.va
Festa da Padroeira: Os Zabumbeiros
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Imagens da comemoração da Festa de Nossa Senhora Aparecida/2019- Comunidade Capim, Paróquia São Maximiliano Maria Kolbe em Lagoa da Canoa/AL- Diocese de Penedo. Sábado, 12 de outubro-2019-Missa das 19h- CÂMERA: Plínio de Miranda. www.olharjornalistico.com.br www.instagram.com/freipetronio
Segunda-feira, 21 de outubro-2019. 29ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos a graça de estar sempre ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 12, 13-21)
13Disse-lhe então alguém do meio do povo: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança. 14Jesus respondeu-lhe: Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós? 15E disse então ao povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas. 16E propôs-lhe esta parábola: Havia um homem rico cujos campos produziam muito. 17E ele refletia consigo: Que farei? Porque não tenho onde recolher a minha colheita. 18Disse então ele: Farei o seguinte: derrubarei os meus celeiros e construirei maiores; neles recolherei toda a minha colheita e os meus bens. 19E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te. 20Deus, porém, lhe disse: Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão? 21Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus.
3) Reflexão Lucas 12, 13-21
O episódio narrado no evangelho de hoje só se encontra no Evangelho de Lucas e não tem paralelo nos outros evangelhos. Ele faz parte da longa descrição da viagem de Jesus, desde a GalilEia até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), na qual Lucas colocou a maior parte das informações que ele conseguiu coletar a respeito de Jesus e que não se encontram nos outros três evangelhos (cf. Lc 1,2-3). O evangelho de hoje traz a resposta de Jesus à pessoa que lhe pediu para ser mediador na repartição de uma herança.
Lucas 12,13: Um pedido para repartir herança
“Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: "Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo". Até hoje, a distribuição da herança entre os familiares sobreviventes é sempre uma questão delicada e, muitas vezes, ocasião de brigas e tensões sem fim. Naquele tempo, a herança tinha a ver também com a identidade das pessoas (1Rs 21,1-3) e com a sua sobrevivência (Nm 27,1-11; 36,1-12). O problema maior era a distribuição das terras entre os filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o perigo de a herança se esfacelar em pequenos pedaços de terra que já não poderiam garantir a sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o esfacelamento ou desintegração da herança e manter vivo o nome da família, o mais velho recebia o dobro dos outros filhos (Dt 21,17. cf. 2Rs 2,11).
Lucas 12,14-15: Resposta de Jesus: cuidado com a ganância
“Jesus respondeu: "Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?" Na resposta de Jesus transparece a consciência que ele tinha da sua missão. Jesus não se sente enviado por Deus para atender ao pedido de arbitrar entre os parentes que brigam entre si por causa da repartição da herança. Mas o pedido do homem despertou nele a missão de orientar as pessoas, pois “ele falou a todos: Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens". Fazia parte da sua missão esclarecer as pessoas a respeito do sentido da vida. O valor de uma vida não consiste em ter muitas coisas mas sim em ser rico para Deus (Lc 12,21). Pois, quando a ganância toma conta do coração, não há como repartir a herança com equidade e paz.
Lucas 12,16-19: Parábola que faz pensar no sentido da vida
Em seguida, Jesus conta uma parábola para ajudar as pessoas a refletir sobre o sentido da vida: "A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita”. O homem rico está totalmente fechado dentro da preocupação com os seus bens que aumentaram de repente por causa de uma colheita abundante. Ele só pensa em acumular para garantir-se uma vida despreocupada. Ele diz: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!”
Lucas 12,20: Primeira conclusão da parábola
“Mas Deus lhe disse: Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?” A morte é uma chave importante para redescobrir o sentido verdadeiro da vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o que perece e o que permanece. Quem só busca o ter e esquece o ser perde tudo na hora da morte. Aqui transparece um pensamento muito freqüente nos livros sapienciais: para que acumular bens nesta vida, se você não sabe para quem vão ficar os bens que você acumulou, nem sabe o que vai fazer o herdeiro com aquilo que você deixou para ele (Ecl 2,12.18-19.21).
Lucas 12,21: Segunda conclusão da parábola
“Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus”. Como tornar-se rico para Deus? Jesus deu várias sugestões e conselhos: quem quer ser o primeiro, seja o último (Mt20,27; Mc 9,35; 10,44); é melhor dar que receber (At 20,35); o maior é o menor (Mt 18,4; 23,11; Lc 9,48) preserva vida quem perde a vida (Mt 10,39; 16,25; Mc 8,35; Lc 9,24).
4) Para um confronto pessoal
1) O homem pediu a Jesus para ajudar na repartição da herança. E você, o que você pede a Deus nas suas orações?
2) O consumismo cria necessidades e desperta em nós a ganância. Como você faz para não ser vítima da ganância provocado pelo consumismo?
5) Oração final
Aclamai o Senhor, por toda a terra. Servi o Senhor com alegria. Vinde, entrai exultantes em sua presença. (Sl 99, 1-2)
Juíza ordena parar estátua e retirar monumentos a Nossa Senhora em Aparecida
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Ação judicial foi movida por associação de ateus e agnósticos que alegaram desrespeito à laicidade do Estado
Uma associação de ateus e agnósticos moveu ação judicial para impedir a construção de uma estátua da Padroeira do Brasil na cidade de Aparecida, SP, e para que sejam retirados cinco monumentos, já instalados em rótulas da cidade, que evocam episódios milagrosos relacionados com Nossa Senhora Aparecida. As peças foram elaboradas como parte das celebrações pelos 300 anos do encontro da imagem original de Nossa Senhora da Conceição no Rio Paraíba do Sul, em 12 de outubro de 1717.
No processo, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) alega o uso de verba e espaços públicos para promover uma religião em particular, a católica, ferindo-se com isto a laicidade do Estado.
As obras
A estátua gigante de Nossa Senhora Aparecida foi feita e doada pelo artista plástico Gilmar Pinna. A montagem da obra foi interrompida e as peças podem ser vistas amontoadas no local de construção, junto à Via Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Com uma interpretação que parece mais antirreligiosa do que laica sobre o conceito de laicidade do Estado, os autores do processo dizem que, mesmo tratando-se de uma doação, a prefeitura não pode subsidiar monumentos ligados a manifestação alguma de fé.
Quanto aos demais monumentos instalados em cinco rotatórias da cidade, a alegação é de uso indevido de espaços públicos para privilegiar, novamente, uma religião em particular, muito embora o projeto tenha usado legalmente recursos do governo estadual já destinados exclusivamente a investimentos em turismo. O turismo religioso, a propósito, além de ser legal, constitui a mais importante atividade econômica do município.
Prefeitura vai recorrer
É com base na legalidade dos investimentos públicos em turismo religioso que a prefeitura de Aparecida informou que vai recorrer assim que for oficialmente notificada da decisão judicial.
O prefeito afastado de Aparecida, Ernaldo Cesar, divulgou a seguinte nota:
Sobre a decisão proferida pela Justiça de Aparecida, em relação aos investimentos realizados pela Prefeitura para fomentar o turismo, tenho a informar:
- A existência histórica da cidade de Aparecida, DEVE-SE EXCLUSIVAMENTE ao encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, sem a qual, não só a cidade não existiria, mas também os mais de 12 MILHÕES DE TURISTAS que visitam a cidade, não a visitariam anualmente;
- Ao instalar em PROPRIEDADES EXCLUSIVAS do Município (e não em áreas doadas a terceiros, como alude a decisão), monumentos de caráter turístico, já que a vocação do turismo em Aparecida é religiosa, a Prefeitura buscou criar novos roteiros e eixos turísticos que já estão beneficiando o comércio local e trazendo recursos para os espaços localizados fora da área tradicionalmente frequentada, colaborando assim para o desenvolvimento da cidade como um todo;
- Os recursos efetivamente investidos, são oriundos do Governo do Estado de São Paulo, PARA INVESTIMENTO EXCLUSIVO EM TURISMO, dada a condição de Estância Turística de nossa cidade;
- Os monumentos turísticos instalados, assim como toda política de desenvolvimento municipal do turismo, é realizada com ampla discussão e aprovação do Conselho Municipal de Turismo e beneficia a pessoas de diferentes crenças religiosas, já que entre comerciantes e hoteleiros, há pessoas de fé católica, evangélica, espírita, umbandistas e até ateus, que ganham seu sustento do turismo religioso que é vocação de Aparecida há séculos.
ERNALDO CÉSAR MARCONDES
Prefeito Municipal de Aparecida
A decisão judicial
O Ministério Público se manifestou pela improcedência da demanda apresentada pela associação ateia, mas a juíza Luciene Ferreira Allemand considerou que a investigação feita por esse órgão, via inquérito civil, foi unilateral “e tem índole meramente informativa, destinada apenas a colher elementos para o ajuizamento, se for o caso, da ação civil pública, por isso não se fazendo necessário estabelecer o contraditório“.
A decisão da juíza considera:
“Por certo que o Município é conhecido por abrigar o Santuário Nacional e possuir um vasto comércio religioso e turístico, que fomenta a economia local. Porém, não se pode permitir a subvenção de uma religião específica pelo Poder Público, tampouco que as verbas públicas sejam utilizadas para construção de obras religiosas quando existentes outras destinações de suma importância”.
A juíza acrescentou a sua perspectiva de que a população católica tem o direito de defender os seus interesses, mas não pode ser “algoz do espaço [democrático] de todas as outras crenças”.
Ela determinou ainda à prefeitura a “proibição definitiva” de financiar obras ligadas à religião. Fonte: https://pt.aleteia.org
Um Cristo amazônico... e mulher?
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Por que um encontro de católicos assusta Bolsonaro, os generais e os destruidores da floresta
Dizem que Deus tem senso de humor. Para alguns, um senso de humor bastante estranho. Talvez isso explique como num mundo povoado por déspotas de direita —Donald Trump, Jair Bolsonaro, Viktor Orbán, Recep Erdogan, Rodrigo Duterte etc— e de esquerda —Daniel Ortega e Nicolás Maduro—, aquele que desponta como o mais importante defensor da democracia, da igualdade e da diversidade seja justamente o representante de uma instituição paquidérmica e com um passado bastante tenebroso. Papa Francisco é puro alento para quem testemunha o autoritarismo se alastrar pelo mundo. Em especial quando faz um discurso como o da abertura do Sínodo da Amazônia, no domingo de 6 de outubro: “Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos. O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus [...] alimenta-se com a partilha, não com os lucros. [..] O fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”. O recado é claro como água benta. Expressa também o anseio de que o Sínodo da Amazônia seja “histórico” e marque um reposicionamento da Igreja Católica, o que tem assustado desde bispos e fiéis ultraconservadores até o antipresidente Jair Bolsonaro (PSL), seus generais, grileiros e exploradores da Amazônia.
Fazia muito tempo que uma reunião da Igreja Católica não recebia tanta atenção. Tanta que até nos interiores de Mato Grosso do Sul surgiram outdoors: “Por Igrejas Sem Partido: Não ao Sínodo da Amazônia”, numa paródia com o projeto ideológico “Escola Sem Partido”, que busca censurar conteúdos e professores nas escolas. Bolsonaro e seus generais colaboraram bastante para aumentar as expectativas referentes ao Sínodo, ao considerarem o encontro uma ameaça à soberania nacional, admitirem que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está monitorando a reunião e forçar a diplomacia brasileira a passar o vexame de pedir para o governo participar – e ouvir um “não” como resposta.
O Sínodo da Amazônia foi idealizado quando a ideia de Bolsonaro ser presidente do Brasil era só uma piada ruim. Sua concepção surgiu tanto do conhecimento do Papa Francisco sobre o papel da maior floresta tropical do mundo na emergência climática quanto da percepção dos bispos da região da acelerada destruição do bioma e de seus povos. No Brasil, a devastação e as políticas contra as populações da floresta já tinham avançado nos governos de Dilma Rousseff (PT) e se acelerado com Michel Temer (MDB). Com Bolsonaro, têm alcançado níveis de tragédia. O aumento dos alertas de desmatamento e dos incêndios em 2019 colocaram o planeta em estado de alarme, gerando uma crise internacional e dando um significado ainda maior para o Sínodo.
Por obra e graça do Papa, a Amazônia estará no noticiário até pelo menos 27 de outubro, quando a reunião que reúne 185 bispos, 57 deles brasileiros, além de especialistas e convidados, será encerrada com um documento que irá balizar e sustentar a atuação da Igreja Católica na região. Embora a Amazônia se espalhe por nove países, é o Brasil que abriga 60% da floresta e é o Brasil que tem um governante cujo principal projeto é abrir a floresta para a exploração predatória, gerando uma crise internacional após outra.
Em seu discurso na abertura da Organização das Nações Unidas, Bolsonaro chegou a atacar Raoni, um dos maiores líderes indígenas do país, indicado para o Nobel da Paz, assim como negar as chamas que o mundo inteiro testemunhou por imagens. O pânico que a irresponsabilidade violenta de Bolsonaro tem provocado multiplicou a atenção do planeta para o Sínodo e emprestou ao Papa Francisco luzes ainda mais celestiais em meio às trevas do autoritarismo.
O Papa compreendeu cedo que o desafio é o clima, mas enfrenta o desafio de empurrar uma instituição pesada e lenta para a vanguarda
O documento “Instrumentum Laboris”, elaborado para orientar os debates do Sínodo a partir da consulta a mais de 80 mil pessoas na Amazônia, defende exatamente o oposto do que é a política do governo brasileiro para a floresta. E reivindica um outro tipo de desenvolvimento, colocando a Amazônia no centro e os povos da floresta como protagonistas. Enquanto o Bolsonaro quer assimilar os indígenas para mudar a Constituição e abrir as terras hoje públicas e protegidas para terras para exploração e lucros privados, o Sínodo propõe um Cristo com “face amazônica”. Um dos principais caminhos seria a "interculturação", uma ideia de que a Igreja deve se abrir para os conhecimentos dos povos indígenas e ser mudada por estas outras experiências de ser e de apreender o mundo. Uma espécie de multiculturalismo ao modo do Vaticano.
A ideia da Amazônia como “Casa Comum”, propagada pelo Papa Francisco, é compartilhada pela juventude que protagoniza os grandes protestos pelo clima, inspirada pela adolescente Greta Thunberg. A ativista alertou que “Nossa casa está em chamas”, referindo-se à emergência climática vivida pelo planeta, muito antes de o presidente francês Emmanuel Macron usar uma frase similar para referir-se aos incêndios da Amazônia, o que provocou ataques de Bolsonaro que viu na afirmação uma “ameaça à soberania”. O documento que resultará de 21 dias de debates deverá ser levado em dezembro à Cúpula do Clima, no Chile, esta que Bolsonaro não quis que acontecesse no Brasil.
O Papa está afinado com sua época e compreendeu antes da maioria das pessoas públicas do mundo que o grande desafio é o clima. Para isso precisa escolher desafinar dos déspotas que se alastram como peste e, ao mesmo tempo, empurrar uma Igreja que se move muito lentamente para um papel de vanguarda. O Papa parece ter entendido que o tempo mudou. Em todos os sentidos. Se sua Igreja entendeu é o que veremos.
Os idealizadores do Sínodo da Amazônia têm a ambição de que a reunião possa significar um marco histórico para o reposicionamento da Igreja Católica, um novo momento de “opção pelos pobres” a partir da Amazônia e da crise climática. Também o Papa propõe um deslocamento da Amazônia para o centro, lugar que ela obrigatoriamente ocupa, mas que não é nem compreendido nem reconhecido por governantes e também por parcelas da população.
Ordenar homens casados e dar oficialmente mais poder às mulheres estão entre as estratégias em debate para enfrentar a perda de fiéis para os evangélicos
O Sínodo tem ainda o desafio de solucionar problemas bem urgentes da própria Igreja Católica na região amazônica, como a crescente e acelerada perda de fieis para as igrejas evangélicas, em especial as neopentecostais. Segundo pesquisa do Datafolha, a região é a única em que há o mesmo número de católicos e de evangélicos no Brasil. No restante do país, os católicos ainda são maioria, mas diminuindo a cada pesquisa. No Xingu, por exemplo, há 800 comunidades e apenas 30 padres, a maioria com mais de 65 anos e dificuldades para se deslocar numa região difícil. Entre os temas mais espinhosos do Sínodo está a possibilidade de abrir espaço para a ordenação de homens casados, com “uma vida cristã exemplar”, o que tornaria possível que indígenas pudessem se tornar essa figura inédita. Se isso acontecer, a Igreja Católica pode mudar a correlação de forças com os evangélicos e aumentar sua presença desde dentro, o que é uma mudança enorme para quem acompanha a trajetória desta instituição de dois milênios.
A Igreja Católica também tem sofrido grande pressão para reconhecer a importância das mulheres, abrindo mais espaço formal para elas, como a possibilidade de presidir a eucaristia. O protagonismo das mulheres é um fato na Amazônia brasileira, onde elas já lideram uma parcela significativa dos movimentos sociais e das comunidades. As freiras costumam estar muito mais presentes e inseridas no cotidiano e nas lutas que os padres. É raro encontrar um movimento de emancipação que não tenha uma freira ocupando um lugar chave. Lacrar os olhos para a realidade explícita, recusando às mulheres a necessária resposta oficial, é uma estupidez que tem custado caro à Igreja Católica. Uma estupidez, porém, que é abraçada com adoração pelos católicos ultraconservadores, como se pode perceber pela sua reação carregada de rancor às propostas de inovação do Sínodo. Estes dias de outubro no Vaticano podem mostrar que pode ser mais fácil conferir feições amazônicas a Cristo do que dar a ele um rosto de mulher.
O Sínodo da Amazônia pretende – e vai – afetar muito mais do que o mundo católico. Para nos ajudar a compreender o que está em debate, entrevistei o padre argentino Augusto Zampini-Davies, hoje diretor de Desenvolvimento e Fé do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, no Vaticano. Um dos especialistas que elaborou o “Instrumentum Laboris”, documento que deu as diretrizes e conduz os debates no Sínodo, aos 50 aos ele é também um dos mais influentes teólogos que representam e difundem o pensamento do papado de Francisco. Formado em Direito, filho de tradicional família argentina, antes de ser padre e se tornar um PhD em Teologia, trabalhou com bancos e multinacionais, o que teria dado a ele o conhecimento profundo de como negociam os que hoje com frequência combate. Segundo a imprensa italiana, recebeu “o chamado para mudar” numa viagem com a namorada. E mudou.
A entrevista foi feita por Skype dias antes do início do Sínodo da Amazônia. Ela mostra por que o Papa Francisco usou 13 vezes a palavra “fogo” em seu discurso de abertura.
Pergunta. O Sínodo fala sobre “Novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral". Isso implica uma autocrítica da Igreja Católica sobre a sua atuação na Amazônia?
Resposta. Não necessariamente. Implica que os caminhos atuais, ou os antigos, não alcançam responder à realidade atual. Nunca havíamos vivido uma escala de exploração e de destruição de populações indígenas e de ecologia integral como a que vivemos hoje. Necessitamos novos caminhos, primeiro, para responder a essa realidade nova. Não se pode responder a um problema novo com uma solução antiga. A Igreja também vai evoluindo, vai mudando. Alguns contextos, inclusive dentro da Igreja, têm que ser revisados.
- Mas, no passado, a igreja foi uma grande destruidora de culturas indígenas e da floresta...
“A Igreja não quer estar ao lado dos opressores e dos neocolonizadores”
- Exato. O ser humano sempre mudou o meio ambiente, não? Mas é certo que na época da colonização, os colonizadores, os que vinham em nome de imperadores católicos, vinham com uma ideia de colonizar e de explorar. Por sorte que havia missionários católicos também que tratavam de frear isso. O certo é que agora temos uma oportunidade histórica de esclarecer que a Igreja está do lado do pobre, do lado dos oprimidos, do lado do cuidado, do lado da criação. E essa é uma oportunidade histórica. Não só para sanar feridas passadas, mas também para marcar um rumo em direção ao futuro. Não queremos estar ao lado dos opressores e dos neocolonizadores.
- Neocolonizadores?
- Podemos dizer opressores ou neocolonizadores, que é o nome dado àqueles que defendem um determinado modelo que oprime as pessoas ou destrói o planeta. O que acontece hoje em dia é que algumas opressões são um pouco mais sutis. Assim, muita gente acredita que não seriam opressores, porque supostamente estariam promovendo um determinado modelo de agroindústria, o que traria benefícios para o país. Nós dizemos: isso é exploração. Isso é uma exploração que está destruindo a Amazônia e que está destruindo esses povos.
- Quando o senhor se refere a neocolonizadores, está se referindo, por exemplo, aos ruralistas no Brasil?
- Estou me referindo à exploração, ao desmatamento irracional em nome da agroindústria. O que ocorreu com os incêndios na floresta é um exemplo. Estamos nos referindo à exploração da mineração, a ilegal, mas também a legal, que às vezes é legal apenas porque tem autorização, mas está invadindo territórios indígenas. E estamos nos referindo à indústria do petróleo. Estamos nos referindo aos que contaminam a floresta, os rios, e estamos nos referindo também aos grandes megaprojetos, os que se dizem a favor do desenvolvimento latino-americano, mas que estão destruindo o coração da América Latina e o coração do mundo.
- Quando se fala em novos caminhos para a Igreja, de que forma isso atinge as mulheres da Igreja que estão atuando na floresta? Quem acompanha o cotidiano na Amazônia percebe claramente que as freiras têm muito mais presença e protagonismo, pelo menos na Amazônia brasileira, do que os padres. Mas elas não têm o mesmo reconhecimento, não podem fazer o que os padres fazem, o que é uma limitação que tem afetado a Igreja. Tanto que a grande mártir deste século é uma freira, a missionária americana Dorothy Stang, que foi assassinada a tiros em Anapu, no Pará, em 2005, por defender projetos de desenvolvimento sustentável de pequenos agricultores.
“As mulheres dizem: “Nós não queremos ser cidadãs de segunda classe dentro da Igreja”
- Na realidade, não temos muitos padres na Amazônia. E as comunidades necessitam líderes. E há comunidades na Amazônia que são matriarcados, cujas líderes são mulheres. E há outras comunidades onde, ainda que não sejam matriarcados, as mulheres têm uma participação importante. Isso surgiu no processo de consulta, que durou mais de um ano e meio. Fizemos mais de 350 assembleias locais e foram consultadas mais de 80 mil pessoas. O tema da mulher saiu com força neste processo, porque as mulheres dizem: “Bom, nós somos protagonistas ativas e queremos mais protagonismo. E não queremos ser cidadãs de segunda dentro da igreja”. Além disso, as mulheres têm muito o que aportar. Elas mantêm relação com a vida e o cuidado e também a concepção de uma economia mais circular, que flui e que inclui. Elas nos disseram que têm muito o que aportar e que querem que a Igreja revise os ministérios e também as funções que as mulheres têm dentro da Igreja.
- E qual é a perspectiva de que uma mudança real neste sentido aconteça a partir do Sínodo?
- Bom... O certo é que as mulheres já têm uma influência real nas comunidades da Amazônia.
- Mas não têm o reconhecimento formal, da Igreja, em termos de igualdade, certo?
- Algum reconhecimento, sim. O que precisa ser discutido é se as mulheres podem assumir outras funções dentro da Igreja para poder contribuir com a evangelização e, sobretudo, para contribuir com esta Igreja que quer promover caminhos de ecologia integral. Elas querem ter mais protagonismo e liderança. Agora, como os padres sinodais vão responder a esse pedido, teremos que esperar para ver.
- Hoje, grande parte das lideranças dos movimentos sociais e dos povos da floresta são mulheres. E não só na Amazônia. Em todos os lugares e também no ativismo climático, com adolescentes como Greta Thunberg,Anuna de Wever, Adélaïde Charlier e Luisa Neubauer...
- Por isso é importante. Se a Igreja quer se preparar frente a essa nova realidade ecológica, o papel das mulheres está comprovado. Ou seja, como a Igreja vai ler este sinal dos tempos para poder propor caminhos que realmente sejam caminhos de mudança? De uma cultura de destruição a uma cultura de cuidado. De uma cultura de individualismo a uma cultura comunitária, que é o que Jesus nos ensinou. E as mulheres têm uma chave, hoje em dia, sobretudo na Amazônia, muito, muito importante para aportar. E os padres sinodais terão que dar lugar para ver como poderão no futuro canalizar esse aporte de uma maneira mais contundente.
- Parece que elas não estão pedindo licença...
- E não é só o problema das mulheres, o problema também é que não há padres. A Igreja terá que buscar caminhos para que possamos ter líderes da comunidade que não sejam os clássicos padres que temos agora, porque eles não estão lá.
- Como equacionar a emergência representada pelo colapso climático e pela destruição acelerada da Amazônia com a famosa lentidão, para tomar decisões e reconhecer erros, que caracteriza a Igreja Católica?
- É verdade que a Igreja é lenta, mas nós somos também uma das instituições mais avançadas deste momento na defesa da Amazônia. Quando recentemente todo mundo estava falando dos incêndios na Amazônia, e abrindo os olhos, para nós essa preocupação já estava colocada há anos. Muita gente acredita que o Papa convocou o Sínodo pelos incêndios. Mas faz dois anos que estamos preparando o Sínodo. Os incêndios ocorrem todos os anos, e cada vez é pior. Agora, captaram a atenção da mídia pela magnitude. Mas isso vem acontecendo há anos. Assim como a contaminação dos rios por mercúrio, pela atividade de mineração. Eu estive há pouco com um líder indígena cuja mulher tem câncer devido ao mercúrio da água. E ela não pode se curar com suas medicinas tradicionais, precisa se curar com medicinas que estão baseadas justamente em plantas da Amazônia, mas quem hoje produz os medicamentos é um laboratório. Isso é uma injustiça e isto vem ocorrendo faz tempo. Assim como há anos existem governos permitindo atividades que exploram a Amazônia e que não a cuidam. Nesse sentido, a Igreja está antecipando-se um pouquinho aos problemas, e, por uma vez, acredito que estamos na vanguarda, não?
- Por isso a preocupação de alguns governos como o de Jair Bolsonaro com o Sínodo?
- Talvez tenha muita gente preocupada com o Sínodo porque justamente o Sínodo não é uma convocatória sobre o Papa ou sobre os bispos nem sobre alguns especialistas, mas um encontro que tem a autoridade moral de ter consultado mais de 80 mil pessoas. Tem um peso grande. Não podem dizer: “Ah, isso disse o Papa!”. Sim, disse o Papa porque o Papa está fazendo eco do clamor das pessoas. O problema da ecologia integral é urgente. Não podemos esperar 10 anos para responder a um tema urgente. E estamos aproveitando este momento para nos renovarmos, aprendendo com os povos indígenas, isso que chamamos de “interculturação”. As comunidades católicas têm muito o que aportar, mas também temos muito o que aprender. Precisamos "interculturar" para promover uma cultura do cuidado em toda a Amazônia. É verdade que a Igreja também é um pouquinho lenta, mas, bom, às vezes também dá passos firmes, não? Às vezes, quando se vai muito rápido, depois não se pode prosseguir. Esperemos que não sejamos tão lentos desta vez.
“Não podemos esperar 10 anos para responder a um tema urgente como a destruição da Amazônia”
- Que tipo de ações podem sair desse Sínodo?
- O Sínodo trata sobre o documento que se chama "Instrumentum Laboris", que está online. Por exemplo, o tema da exploração mineral, da exploração petrolífera, da exploração madeireira, da soja... Como vamos ajudar para que isso não seja exploração? Outro tema é o modelo de desenvolvimento. Os países fazem isso, e me refiro a todos os países, não só ao Brasil. Porque isso ocorre no Brasil de Bolsonaro e também na Venezuela de Maduro, não? Todos os países exploram a Amazônia em nome do "nós queremos desenvolver". E isso é o que queremos mudar. Que a ideia de desenvolvimento não seja um desenvolvimento destrutivo. Por exemplo: propostas para que a comunidade internacional também reconheça a importância da Amazônia para o mundo, e que se criem instrumentos financeiros para que os países possam cuidar dela. Outro tema que vai ser tratado é o direito à água. Na Amazônia, a vida é dada pela água, pelos rios, que agora estão contaminados. Como vamos fazer para que isso não ocorra mais e para que os que contaminaram paguem e limpem? E também para que, no modelo de business plan, se entenda que não dá para contaminar porque é muito caro. Outro tema é como a Igreja vai se posicionar frente às migrações e aos deslocamentos internos. Na Amazônia a maioria vive em urbes, em grandes urbes. E nas grandes urbes acontece o de sempre, não? Tráfico de pessoas, narcotráfico, perda de identidade, alcoolismo, perda de trabalho. O que vamos fazer diante disso? E como a Igreja vai se posicionar frente aos governos? Profetismo significa denunciar, mas também propor.
- Profetismo?
- A voz profética, sim. Só denúncia não é profetismo. O profeta denuncia, mas propõe. Isso está mal, mas o que podemos fazer? E também os novos caminhos da interculturação. Isso é muito importante, porque, como dissestes antes, tínhamos um conceito de impor nossa própria cultura, não? Bom, agora nós vamos nos interculturar.
- E o que significa "interculturar" neste contexto?
- Esse foi um grito que saiu em quase todas as consultas. Esse movimento de interculturalidade, que é trazer a mensagem de Jesus, mas aprender também com as sabedorias ancestrais dos povos. E dessa interculturalidade promover uma comunidade rica em espírito, que possa cuidar do território e da população.
- E como essa "interculturação" funcionaria na prática? Como é que um representante da Igreja Católica chega num povo indígena, que tem outra língua e outra linguagem, e que vive numa outra linguagem, que tem a sua própria vivência do que os brancos ocidentais chamam espiritualidade, e eles chamam inclusive de outra coisa ou nem chamam. Como pode a Igreja dialogar sem que isso seja uma violência?
- Em milhares de comunidades há alguns indígenas que são cristãos, não necessariamente católicos, mas o Cristianismo já está em parte das comunidades, não? E as que não são têm muita afinidade, também, com o Cristianismo, e isso muito graças ao Papa Francisco. Mas a interculturação é mais para a Igreja do que para os outros. Temos que aprender com os povos indígenas, aprender sobre a sua relação com a natureza que, às vezes, nós perdemos. Como essa relação com a natureza pode ser incorporada no ensino do catequismo, nas práticas litúrgicas, nas celebrações.
- Isso significa que a Igreja mudaria com o aporte de outros pensamentos e modos de pensar, de outras maneiras de se relacionar com a natureza e com o humano?
- Sim, e melhoraríamos, ou deveríamos melhorar. Uma chave para entender o Sínodo é a palavra "conversão". Mudar. Uma Igreja que sai para as periferias, que está aberta ao diálogo, que não impõe. É uma conversão à ecologia integral, uma conversão de que temos que mudar o modo que compramos, assim como o modo que descartamos. Temos que mudar inclusive o modo como utilizamos os materiais de nossos templos, o modo como consumimos, o modo como viajamos. Uma igreja sinodal que caminha junto a outros, e que vai encontrando novos caminhos para melhorar o modo de se relacionar com os demais, consigo mesma, com a natureza e com Deus. Nós não nos juntamos para falar o que já sabemos. Isso sabemos, está bem. Nos juntamos para discutir quais são os novos caminhos. Novos caminhos são novos, não são velhos. E isso significa conversão. Significa mudar. Ou seja, não é só dizer aos demais o que tem que mudar. A Igreja também quer mudar.
“Os melhores aliados para a mudança que precisa acontecer na Igreja e no mundo são os povos indígenas”
- E no que é mais urgente mudar no que se relaciona à Amazônia?
- Temos que começar a aplicar essa ideia de ecologia integral em todas as nossas atividades. Como gerar alianças para esse cuidado da Casa Comum e esse coração da Casa Comum que é a Amazônia? Isso é transversal. Não só a Igreja precisa mudar, mas o mundo inteiro precisa mudar. Queremos predicar com o exemplo, queremos promover também uma mudança nossa. Na Amazônia, contamos com a vantagem de que os melhores aliados para essa mudança são as populações indígenas. Então, isso é novo. Encontrar novos caminhos de ecologia integral com as populações indígenas... Só isso já é novo e uma mudança enorme. Queremos uma mudança radical para uma ecologia integral. Esperamos que isso tenha um efeito dominó para regiões fora da Amazônia. Queremos conseguir fazer isso desde a Amazônia, com essa ideia de que a Amazônia é uma periferia, e agora a periferia vai ao centro. E vai ao centro também da Igreja. E deste centro vamos sair para outras regiões.
- Nunca houve um interesse tão grande no Brasil por um Sínodo... A que o senhor atribui? “A Amazônia tem um efeito direto sobre o planeta, então todos têm o direito de opinar. E quem mais têm direito de opinar são os povos indígenas”
- A Amazônia é como se fosse um coração do planeta. O Papa Francisco costuma dizer que tudo o que acontece na Amazônia acontece no mundo. A Amazônia é destruída para manter um determinado estilo de vida. Os nove países amazônicos têm que mudar seu modelo de exploração destrutiva por um modelo mais harmônico. E, bom, ninguém tem a receita. Por que tanto interesse? Porque isso está no centro da agenda de todos os países amazônicos, está no centro da agenda das Nações Unidas, está no centro do que vai ocorrer nos próximos 10 anos. Isso alimenta também o conflito político interno do Brasil neste momento, e por isso desperta interesse. Outro interesse muito importante é que aqui estamos falando de muito dinheiro. De muito dinheiro mesmo. Tem gente que ganha muito dinheiro com a exploração da Amazônia e por isso não vai querer mudar. Não estamos falando de uma questão acadêmica. É uma conversão importante que vai custar dinheiro. E então a oposição vai ser grande. Tudo isso gera muito interesse, e sobretudo agora, com o lamentável acontecimento dos incêndios.
- O governo brasileiro já manifestou várias vezes sua preocupação com o Sínodo. Tanto Bolsonaro quanto os generais Augusto Heleno, Villas Bôas, referem-se a questões de soberania, a uma ação política de esquerda do Vaticano. O governo admitiu inclusive que a Abin está monitorando o Sínodo. Como o Vaticano analisa essas preocupações e ações?
- Nós esclarecemos ao governo Bolsonaro. Isto não é contra a soberania, ao contrário. Primeiro, que o Sínodo é um Sínodo da Igreja, não é um Sínodo de Governo. E, segundo, que não é um Sínodo da Amazônia brasileira. É um Sínodo de toda a Amazônia. E é um Sínodo, sim, que vai tratar de um modelo de desenvolvimento que vai contra a ecologia integral. Então, o que está em discussão é esse modelo de desenvolvimento, e não a soberania. As Forças Armadas brasileiras têm um papel importante porque elas estão presentes na Amazônia. Nós não temos problema com isso. O tema é estar presente para quê? Se estão presentes para cuidar da Amazônia, para que os direitos humanos dos indígenas sejam respeitados, para que as leis sejam respeitadas, para que não se contamine os rios e para que quem contamine tenha que pagar.... Se isso é soberania, vai ter nosso apoio. Assim, não têm nada a temer. Agora, se o que entendem por soberania é “eu estou aí com a força para deixar que meus amigos façam o que querem”, bom, isso não é soberania. O que dissemos aos militares brasileiros é que não se preocupem, porque ninguém vai discutir a soberania brasileira sobre a Amazônia. O que estamos discutindo é que toda a Amazônia, e não só a brasileira, tem um efeito direto no que ocorre com o planeta. Então as pessoas têm direito a opinar. E os que mais têm direito a opinar são os habitantes da Amazônia. E estes são os que escutamos. E eles estão nos dizendo que temos que discutir tudo isso.
- Como é ser visto como inimigo?
- Os governos podem ver como uma aliança, mais do que como um inimigo. O mais importante é mudar o modelo de desenvolvimento, de forma a cumprir os objetivos de desenvolvimento sustentável que todos os países assinaram. Agora, se a política é não respeitar os objetivos de desenvolvimento sustentável, se a política é conceber o desenvolvimento só como uma questão material e não cultural nem espiritual nem do bem viver, se este desenvolvimento é só uma questão de explorar a natureza para ter mais ganhos, bom, então, sim, alguém pode tomar o Sínodo como uma ameaça. A Igreja já vem dizendo desde o final dos anos 1960 que desenvolvimento não é isso. Desenvolvimento é desenvolvimento integral, que engloba todas as pessoas e que engloba a natureza. Se nós desenvolvemos causando iniquidade e desigualdade, isso não é desenvolvimento, isso não é progresso. No Brasil, se usa muito a palavra progresso, não? Bem, isso não é progresso. Progresso é progredir com as pessoas, é progredir com a natureza. É isso que todos esses movimentos juvenis estão dizendo: “Que tipo de mundo vão nos deixar?”. Tem que mudar urgente esse modelo. Estamos tentando implementar essa ideia de bem viver, essa ideia de crescer e de aproveitar junto com outros, não à custa de outros, e não à custa da destruição da floresta e de seus povos.
- Este é o caso do atual governo brasileiro?
“Não importa se é Bolsonaro, Maduro ou Morales. Se há um modelo de desenvolvimento que está destruindo o planeta, como poderíamos ficar calados?”
- O que dissemos ao governo brasileiro é: a soberania não é nenhum problema. Ou seja, os militares podem ficar tranquilos. E sobretudo os militares brasileiros, que se gabam de não ser corruptos. Se eles querem impor um cuidado sobre a Amazônia, para cumprir as leis, não têm razão para se preocupar.
- Todos os textos que eu li sobre o Sínodo defendem uma política oposta a do governo Bolsonaro. Por exemplo, a demarcação das terras indígenas. É um governo que interrompeu qualquer demarcação de terra indígena e quer inclusive rever as que já foram demarcadas. Então, claramente há um embate de visões sobre a Amazônia e sobre desenvolvimento.
- Mas todas essas propostas não foram feitas pensando em Bolsonaro. Essas propostas foram feitas pensando nas pessoas que pedem, que necessitam. Todas essas discussões foram e são matéria de foros internacionais, não? Não é uma invenção do Sínodo.
- Sim, mas acontece que, nesse momento, o Sínodo diz uma coisa e o governo do Brasil diz outra...
“Quem é o inimigo da pátria? O que fala em favor do povo de um território ou o que não quer escutar o povo de um território?”
- A Igreja é uma igreja também profética, não? Isso não é contra Bolsonaro. A Igreja quer propor um modelo de desenvolvimento que respeite a ecologia integral e quer ter uma voz profética frente à destruição do outro. Se tem um modelo de desenvolvimento que está destruindo o planeta, como não vamos falar? Se este modelo de desenvolvimento está afetando todas as pessoas, toda a população? Se está afetando todas as futuras gerações? Como não vamos falar? Temos que ficar calados? Não importa se é Bolsonaro ou se é Evo Morales ou se é Maduro. O que importa é proteger as populações indígenas e o território. E, protegendo-o, propor um modelo de desenvolvimento que seja realmente sustentável e harmônico, e que a Amazônia possa exercer sua missão. Do contrário, todos seremos afetados.
- Os bispos da Amazônia fizeram uma carta onde eles dizem que estão sendo tratados como “inimigos da pátria” e estão sendo criminalizados pelo governo Bolsonaro. Como o senhor analisa essa afirmação?
- Essa é a tática para caçar as vozes proféticas. Em vez de discutir o tema, se ataca as pessoas. Eles não são nenhum inimigo da pátria, são amigos da pátria. Queria que existissem mais bispos como os da Amazônia. São um exemplo de pastores. E não são inimigos de ninguém. Mas, se o que estão dizendo dói a um determinado partido político, ou a um governo, o que tem que discutir é o tema. Por que os bispos estão dizendo isso? Porque eles estão fazendo eco das vozes indígenas, das vozes da terra. E isso não é ser inimigo da pátria. Ao contrário. Agora, quem é o inimigo da pátria? O que fala em favor do povo de um território ou o que não quer escutar o povo de um território?
- Vocês foram procurados pelo governo brasileiro?
- Sim, o governo enviou uns diplomatas ao Vaticano para conversar. As pessoas que vieram eram muito profissionais.
- E o que que eles queriam?
“A pobreza é um tema de poder — e de falta de poder”
- Um enviado de Bolsonaro veio nos visitar para conversar sobre o Sínodo, para ver a possibilidade de participação. Nós lhes explicamos que não poderiam participar porque era um Sínodo da Igreja, não um Sínodo político. Explicamos que tudo o que vai ser tratado no Sínodo vai estar em um documento. Não há segredos.
- Vocês foram procurados pelos governos de outros países amazônicos? Ou só pelo Brasil?
- Recebemos algumas perguntas de outros governos, mas por escrito. De forma direta, só pelo Brasil.
- Há uma visão que marca a Igreja Católica e que aparece nos documentos e manifestações sobre o Sínodo que é a “opção pelos pobres”. No caso da Amazônia, os povos da floresta são tratados nos documentos como pobres. Mas minha experiência é de que os povos da floresta não se veem como pobres. Eles não estão nessa equação de pobres e ricos. Quando precisam se colocar, eles se colocam como ricos, não como pobres. Isso não é um equívoco da Igreja no modo de olhar?
- Nós sabemos disso. E foi motivo de discussão. Mas a opção pelos pobres não é no sentido de pobres ou ricos. A opção pelos pobres é um conceito teológico que vem da Bíblia. Pobre não é só aquele que não tem dinheiro. Pobre é o que pode ser explorado. Também pode ser pobre espiritualmente. Ou pode ser o vulnerável. Não podemos dizer que Jesus era pobre, ou Maria. Mas, bom, eram pobres em comparação com os poderosos. É um tema de poder, e de falta de poder. Esta é uma opção por todos os que estão na periferia, por todos os que estão empobrecidos no sentido amplo. No Brasil, particularmente, há muita discussão. Mas, quando dizemos "opção pelos pobres", esta é uma opção por todos os que têm uma desvantagem, como aquele que tem menos poder que outro. Portanto, requer um cuidado especial, porque senão os outros os comem. E é o que acontece com as comunidades indígenas, não só na Amazônia, mas em todo o mundo neste momento. As grandes companhias, os governos podem destroçar as comunidades indígenas. Além disso, a opção pelos pobres é uma resposta. Nem toda a população da Amazônia é indígena. E nem toda a população indígena vive na floresta. Muitos vivem nas cidades. E, nas cidades, normalmente os que migraram sofrem exploração e falta de trabalho. Então é isso também a opção pelos pobres. Então, quando se diz "opção pelos pobres" é uma opção pelos que não têm poder.
- Mas o entendimento do que é ser pobre e do que é ser rico é um entendimento muito forte e muito imediato —e com grandes efeitos políticos. Então, quando os povos da floresta se contrapõem a essa lógica dizendo sobre si mesmos que são ricos, porque têm a floresta para se alimentar, pra fazer sua casa, porque têm a sua cultura e o seu lazer, tratá-los como pobres não seria algo quase colonialista, porque impõe sua própria lógica sobre o outro? Não seria aculturar —e não interculturar?
- Não, isso vem de um conceito nosso, um conceito de nossa fé. É um conceito que ganhou relevância em muitas partes do mundo e em quase todas as partes do mundo este conceito de pobreza se entende. O Brasil, em particular, é um dos poucos países onde o termo "opção pelos pobres" teve uma certa oposição. Mas isso não significa que não se possa usar como conceito teológico. O que estamos dizendo é que os territórios dos indígenas estão sendo destroçados, e que há um grito, um clamor pela defesa. Então, estão em desvantagem. Quando nós lemos a opção pelos pobres, todos nos incluímos.
- A Teologia da Libertação, as comunidades eclesiais de base significavam uma opção pelos pobres. E me parece que essa opção faz sentido em várias questões. Porém, o que os povos da floresta estão tentando evitar é justamente serem convertidos em pobres nas periferias das cidades. Na floresta, eles são ricos. Na periferia urbana, eles são convertidos em pobres. Ao responder que são ricos a quem os chama de pobres, como faz o próprio Bolsonaro com o objetivo de abrir a floresta para a exploração predatória, defendem-se justamente de quem os considera pobres por não viver segundo o conceito ocidental capitalista de riqueza. O que quero dizer é que, quando os povos da floresta entram nesta equação, esses conceitos se complicam. É a esta realidade que me refiro.
- Sim, mas se eu estou doente, não sou pobre, mesmo se for rico? E se eu estou preso, mesmo sendo rico não me torno pobre? Jesus disse...
- Acho que Jesus não conhecia a floresta amazônica...
“Se não mudarmos a forma de tratar a Amazônia, não haverá salvação”
- Sim, mas Jesus foi o que saiu às periferias. Os leprosos não necessariamente eram pobres porque não tinham bens materiais. Eram pobres porque estavam excluídos da sociedade. Os povos da Amazônia estão excluídos de um modelo. E, pior, um modelo que quer destruí-los. O pobre é um conceito amplo, mas é um conceito que nós aplicamos a todos, não só aos da floresta.
- A ideia de fazer um Sínodo sobre a Amazônia também vem de uma preocupação de que os evangélicos, especialmente os neopentecostais, estão crescendo muito no Brasil. Hoje, algumas das principais lideranças na Amazônia são evangélicas...
- Sim, pois se não há há pastores, não há padres e não há igreja, não há celebrações, não há missa... Bom, e os evangélicos, sim. Pessoas vieram e disseram: “Vejam, eu continuo sendo católico, mas não há padre, não há missa, e aqui tenho todos os domingos uma celebração (evangélica) cheia de vida, cheia de gente. Então eu vou”. Então, claro que é uma preocupação. E também é uma preocupação a relação com os evangélicos, como melhorar o diálogo com os pastores e com as comunidades.
- O Papa falou em 2013 que a Amazônia é como um teste decisivo, é "um banco de provas para a Igreja e a sociedade". O que significa isso?
- Todo o mundo está vivendo o problema da crise ecológica. E todo mundo está vivendo esta necessidade de conversão, de relação melhor consigo mesmo, com o outro, com a natureza e com Deus. Todos vivemos. Mas nem todos nos damos conta. Como respondemos à Amazônia é um banco de provas de como vamos responder ao mundo. E o mesmo com as mudanças de conversão. Porque se nós não mudarmos a maneira como estamos tratando a Amazônia... À custa de destruir o planeta... Isso é também um banco de provas. Se isso não mudar, não há salvação. Mas se na Amazônia houver mudanças, isso vai ser um banco de provas que poderemos aplicar ou replicar ou coordenar em outras regiões.
- O senhor acha que o Sínodo poderá influenciar os debates e decisões da Cúpula do Clima, no Chile, aumentando a discussão e a pressão para discutir soluções para a Amazônia? Este é um dos objetivos?
“Ter uma Igreja com rosto amazônico é trazer a periferia ao centro”
- Eu acredito que sim, porque há muito interesse no Sínodo. Há muita abertura de vários países, incluindo os organizadores da COP-25, para que possamos contribuir com os resultados do Sínodo, que seguramente serão riquíssimos para todos, e não só para a Igreja.
- Como o Sínodo pode impactar positivamente em situações emergenciais como a que está acontecendo agora, na Volta Grande do Xingu, no Pará? Além da destruição do ecossistema e de espécies endêmicas, povos indígenas e ribeirinhos desta área estão em alto risco de perder seu modo de vida, por causa do controle e da administração predatória da água pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O Ministério Público Federal considera que está em curso um ecocídio e também um genocídio. Belo Monte, aliás, é uma das principais produtoras de violência e de destruição naquela região. Como o Sínodo pode impactar realidades urgentes como esta?
- Não acredito que o Sínodo vá atuar em realidades urgentes como essa. O que o Sínodo faz é recolher testemunhos do que acontece e discutir linhas de ação, caminhos. Depois, são as pessoas do local que vão implementar estes caminhos, mas com o apoio de uma decisão do Papa com todos os bispos. Já será, então, uma decisão da Igreja, o que dá mais peso para poder fazer o que é necessário fazer. O Sínodo vai discutir as grandes linhas de ação para que depois os agentes de todos os países que estão sofrendo possam responder com mais força.
- O que significa afirmar uma “Igreja com rosto amazônico”?
- A palavra "Sínodo" é caminhar... Caminhar juntos. E uma igreja sinodal é uma igreja que caminha com outros. Eu gosto muito dessa imagem. Caminha com outros para melhorar o mundo, para cuidar do mundo. E, depois, uma igreja com "rosto amazônico". Muita gente se escandaliza: “Isso significa que temos que pintar os rostos?”. Não, isso é uma ideia de trazer a periferia ao centro. Agora temos rosto amazônico, porque eles (os indígenas) estão em risco, porque é essa riqueza que queremos proteger. Não está mal que emprestemos o rosto amazônico, assim como em representações culturais, muitas vezes, se desenha um rosto muito europeu, de um Jesus ou uma Virgem Maria. Assim, não está mal, agora, pensar em uma igreja com um rosto amazônico por um momento, não? Para que, desde a Amazônia, possamos encontrar esses novos caminhos. Essas duas imagens, a de caminhar junto com outros e a de um rosto amazônico, me enchem de esperança.
- Como um dos articuladores do Sínodo, o que deixa o senhor mais entusiasmado? Quais são as potências deste encontro que lhe dão mais alegria?
- Para começar, eu nunca vi tanta esperança. Há muita gente com grandes esperanças. Eu tive que ler quase todas as consultas e isso foi uma lufada de ar fresco, isso foi... espetacular. Porque, mais além do que escutar os gritos e as dores da Amazônia, com essa consulta foi possível descobrir também a riqueza. Há uma vida aí que nos enche de esperança, que nos enche de entusiasmo, e isso é o que nos dá energia para protegê-la. E também essa possibilidade de mudança. Porque vamos discutir quais são os novos caminhos. E isso me entusiasma como perito, como especialista, como sacerdote, como católico, como ser humano. Que nós possamos aportar algo ao mundo através da fé e da Igreja, nas comunidades, para o cuidado da Casa Comum, para uma ecologia integral. Se pudermos fazer isso, vai ser um momento histórico da Igreja. E isso me enche de entusiasmo e de orgulho. Queremos um caminho de cuidado e não de destruição, queremos caminhos de integração e não de expulsão, queremos que o progresso seja verdadeiramente para viver melhor, e não para destruir as futuras gerações. Estamos realmente colocando-nos ao lado do oprimido e tecendo uma rede para dizer: isso, assim, não pode ser.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Brasil, Construtor de Ruínas, Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Fonte: https://brasil.elpais.com
29º Domingo do Tempo Comum: O poder da oração
- Detalhes
A oração deve nos tornar responsáveis pelo que pedimos; caso contrário, ela não passa de magia e de superstição. (...) Deus não pode fazer nada sem a nossa participação, o que explica a sua ausência e sua impotência quando a oração não comporta nenhum compromisso.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá, e publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 29º Domingo do Tempo Comum – Ciclo C do Ano Litúrgico. A tradução é de André Langer.
Referências bíblicas:
Segunda leitura: 2 Tm 3,14-4,2
Evangelho: Lc 18,1-8
Eis o texto.
Quem está no caminho do Reino? No domingo passado, vimos que é aquele que voltou no caminho, que voltou atrás, para tomar e abrir novos caminhos, que se encontra no caminho do Reino. Hoje, vemos que é aquela que reza com insistência e perseverança que se encontra no caminho do Reino. Por outro lado, a oração deve nos tornar responsáveis pelo que pedimos; caso contrário, não passa de magia e de superstição: “A oração não nos dispensa de lutar, mas ela deve permitir que as armas da nossa luta sejam aquelas do Evangelho. Nós, talvez, resolveríamos os problemas da nossa comunidade e da Igreja em geral com maior serenidade, se soubéssemos rezar com efetividade e sem jamais nos cansar” (A.-M. Bernard). Mas o que devemos compreender da Palavra de Deus que nós proclamamos hoje?
A oração como expressão da fé
No evangelho de hoje, através de uma parábola que coloca em cena um juiz iníquo e uma mulher completamente privada, primeiramente porque ela é mulher e também viúva, portanto, sem recursos, o Cristo do Evangelho de Lucas nos diz que é preciso rezar com insistência e perseverança. Eu teria vontade de dizer: dize-me como tu rezas e eu te direi em que tipo de Deus tu acreditas! O que me faz dizer isso é a resposta de Jesus, no final do evangelho, traduzida em uma pergunta: “Mas, o Filho do Homem, quando voltar, encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18,8b).
Com efeito, no momento em que Lucas escreve, muitos haviam perdido toda esperança. Eles acreditavam que Jesus voltaria logo para inaugurar o Reino que ele havia anunciado. Mas não veio nada, nem o Senhor, nem os tempos novos. Eles continuam suplicando. E nada! Por que, então, os fazia esperar assim? Teria Deus ficado surdo aos seus apelos assim como o juiz iníquo implorado com insistência por esta pobre viúva. Não parece ser esta, de certa forma, a nossa atitude em relação a Deus, que parece estar ausente da nossa vida e surdo às nossas orações? Pessoalmente, é exatamente isso que estou vivendo atualmente, diante desta terrível doença que me atinge e que me tira todas as minhas energias. Quando rezamos, em que Deus acreditamos? O que lhe pedimos? Recordemos aquilo que dizia o cardeal francês Etchegaray em relação à oração: “A oração não é nem refúgio, nem fuga, nem apelo ao milagre. A verdadeira oração exige que nós procuremos fazer aquilo que pedimos para Deus fazer”.
Esta é uma coisa mais do que difícil de fazer! Por outro lado, se a viúva do evangelho obtém justiça, não é por causa desse juiz iníquo. Foi simplesmente por sua tenacidade, por sua perseverança e por seu compromisso que ela obteve justiça. O mesmo vale para cada um de nós; não é porque Deus se pareça a esse juiz iníquo. Não! Simplesmente porque Deus não pode fazer nada sem a nossa participação, o que explica a sua ausência e sua impotência quando a oração não comporta nenhum compromisso. O cardeal Etchegaray continua: “Se eu peço o pão nosso de cada dia, devo eu mesmo dar esse pão para quem ele falta. Se eu rezo pela paz, devo eu mesmo me comprometer com o estabelecimento da paz. A oração não é feita de palavras ao vento: nós só podemos rezar quando estamos inteiramente comprometidos com o que pedimos”.
Assim, diremos, Deus é paciente e foi o que disse o religioso francês, André Rebré: “Em relação à paciência de Deus, o que significa a nossa impaciência? Ela desqualifica os homens chamados a serem parceiros de Deus para tornarem a terra mais humana, e aumentar a paz, a justiça e a liberdade. Para isso é necessário tempo, todo o tempo da história, mas também o trabalho, as iniciativas e as lutas dos homens, o testemunho de fé dos crentes. Porque o tempo da paciência de Deus reclama a nossa atividade, como aquela da viúva que multiplica as tratativas. Teremos nós a mesma obstinação, a mesma confiança, a mesma fé que ela? É a pergunta que Jesus nos faz: O Filho do Homem quando vier, encontrará fé sobre a terra?”.
A fé como compromisso
Mas, qual é o fundamento da nossa fé? Os dogmas? A regras? As leis? Não! A nossa fé se fundamenta sobre a Palavra de Deus. Uma Palavra que nós encontramos, em primeiro lugar, nos textos sagrados e que nos fala de justiça, paz, liberdade. Mas também uma Palavra que deve ser dita hoje, para o mundo de hoje. É por isso que a Palavra não pode ficar fechada nos textos sagrados; ela precisa ser atualizada. Se a Palavra é viva e pode ainda falar de justiça, de paz e de liberdade às mulheres e aos homens do nosso tempo, ela necessita desta liberdade de palavra para exprimir uma Palavra nova de Deus; caso contrário, que paremos de afirmar que a Palavra de Deus é viva.
Na segunda leitura a Timóteo, Paulo nos diz: “Proclama a palavra, insiste, no tempo oportuno e no inoportuno, refuta, ameaça, exorta com toda a paciência e doutrina” (2 Tm 4,2). Existe um risco de dizer e proclamar a Palavra, porque a Palavra deve necessariamente perturbar, porque ela fala de justiça, de paz e de liberdade; o que perturba todo o mundo. É e por isso que Paulo acrescenta: “Pois virá um tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina... Desviarão os seus ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas” (2 Tm 4,3-4). O que isto quer dizer? Ao interpretar, muitas vezes, os textos bíblicos de maneira literal, não fizemos destes relatos fábulas que afastaram e que ainda afastam mais de um crente? Como, então, exprimir uma Palavra nova de Deus, uma Palavra que liberta e que dá esperança a pessoas que já não querem mais ouvir a Palavra, porque se desiludiram com as interpretações fundamentalistas que fizemos? Os missionários do Evangelho necessitam, pois, de honestidade para reconhecer seus erros e a humildade de não pretender deter a verdade sobre Deus e sobre o mundo.
A fé não pode ser uma certeza; ela só pode ser uma esperança. Foi, sem dúvida, o que fez Bernanos dizer: “Minha fé é 24 horas de dúvida, menos um minuto de esperança”. A fé cristã não é um saber, nem uma ideologia; ela é o encontro com alguém, com Cristo, com o Filho de Deus, que João chama de Palavra: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Comprometer-se a segui-lo é tornar-se Palavra e Verbo de Deus: “Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). E mais ainda: “Ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1,13). A fé como compromisso nos torna, pois, filhos e filhas de Deus, dos Cristos ressuscitados, dos Cristos vivos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
29º Domingo do Tempo Comum: “Faze-me justiça contra o meu adversário!” (Lc 18,3).
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A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro, padre jesuíta, comentando o evangelho do 29° Domingo do Tempo Comum - Ciclo C (20/09/2019) que corresponde ao texto bíblico de Lucas 18,1-8.
O maior poder do mundo não é a bomba, nem o grande capital, nem um estado autoritário e violento, nem uma igreja triunfante, mas o rosto impotente do órfão, da viúva, do refugiado, do excluído..., o rosto que sofre e se indigna, que olha e suplica, pois carrega no mais profundo de si mesmo toda a energia de Deus; este é o poder que desestabiliza, o grito dos indignados. Falamos da eficácia do “rosto suplicante”, ou seja, do argumento dos indignados que gritam com seu rosto, exigindo justiça.
Vivemos em um mundo que parece dominado pela voz daqueles que vivem para impor e abafar a voz dos mais vulneráveis, um mundo fundado na propaganda de um sistema que quer silenciar todos os gritos e enganar-nos a todos com o circo midiático das mentiras organizadas (fake news).
Para que este mundo se transforme e a justiça se faça presente, continua sendo necessário o grito das viúvas, a indignação dos pobres e excluídos, a voz de todos os oprimidos da terra, aos quais o mesmo Jesus diz: “juntai-vos e gritai ao Deus onipotente”.
Pois bem, é chegado o momento de nos comprometer a elevar a voz, como tantos homens e mulheres de nosso tempo. Chegou o momento dos(das) grandes indignados(as), como a viúva do evangelho com sua palavra suplicante e com sua voz que denuncia todo tipo de injustiça.
“É muito bom gritar através das personagens o que quero gritar para o mundo” (Adriana Esteves)
Em um mundo onde a realidade feminina era invisível, Jesus tornou-a visível. Sua conduta e seu ensinamento foram radicalmente “contra-culturais” com relação à mulher. Ele foi um autêntico reformador e inclusive revolucionário. Considerando seus gestos e palavras, percebe-se que Jesus se mostrava sensível a tudo o que pertencia à esfera feminina, em contraposição ao mundo masculino cultural, centrado na dominação e submissão da mulher.
Com sua presença e sua linguagem Jesus faz emergir o mundo vital das mulheres; ao tirá-las do seu anonimato e trazê-las à luz, Ele realça e louva os traços característicos da mulher. Por isso, Jesus narrou preciosas parábolas tendo as mulheres como protagonistas, especialmente as mais pobres, como no Evangelho deste domingo: Jesus deu voz àquela que, por sua condição de viuvez, não tinha chance nenhuma de expressar seu clamor por justiça.
A mensagem e a prática de Jesus, portanto, significam uma ruptura com a situação imperante e a introdução de um novo tipo de relação, fundado não na ordem patriarcal da subordinação, mas no amor como mútua doação que inclui a igualdade entre homem e mulher. A mulher irrompe como pessoa, filha de Deus, destinatária do sonho de Jesus e convidada a ser, junto com os homens, também discípula e membro de um novo tipo de comunidade.
Em um contexto social e religioso no qual as relações se estabelecem através do poder, da hierarquia, da maneira de exercer a autoridade, onde o mais forte se impõe sobre o fraco, o rico sobre o pobre, o homem sobre a mulher, o que possui informação sobre o ignorante, a cena da parábola deste domingo nos introduz em uma nova ordem das relações que devem caracterizar o Reino.
A maneira de Jesus tratar as pessoas marginalizadas, sobretudo as viúvas, pôs em marcha um movimento de inclusão que quebrava toda pretensão de poder e de imposição.
Na tradição bíblica, as viúvas são, juntamente com os órfãos e os estrangeiros, as pessoas mais indefesas, as mais pobres entre os pobres. A viúva, de modo especial, é o símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada; ela não tem marido nem filhos que a defendam e não conta com nenhum apoio social. É nesta situação de total abandono que sua vida se converte em um grito: “Fazei-me justiça!”.
Na Bíblia, as viúvas aparecem submetidas à arbitrariedade dos poderosos, mas tem uma voz que chega até Deus. Elas ocupam um lugar especial no evangelho de Lucas, visibilizada aqui na parábola da viúva suplicante, aquela do grito que tudo consegue. Sua persistência inspira em todos nós a luta por libertação das estruturas de dominação, em todas as dimensões da vida.
Contrariamente àqueles que pensam que não vale a pena sair às ruas para gritar e protestar (no plano social e religioso, político e eclesial), o evangelho deste domingo nos situa diante do grito da viúva, capaz de mudar a ordem injusta do sistema.
Muitas vezes, tudo parece ficar restrito a um grito, mas esse grito é mais profundo e eficaz que todas as vozes opressoras, ocas, prepotentes, intolerantes, do sistema dominante. Esse grito da viúva que chega ao coração de Deus (e à cabeça do juiz injusto), continua sendo promessa de vida para nós.
Jesus também foi um indignado que adotou uma atitude crítica e rebelde frente ao sistema político e religioso de seu tempo; Ele se comportou como um “transgressor”, frente à ordem estabelecida, centrada no poder e na exclusão.
O conflito, nascido de sua indignação, define seu modo de ser, caracteriza sua forma de viver e constitui o critério ético de sua prática libertadora. A transgressão e a resistência foram as opções fundamentais durante os anos de sua atividade pública, tanto no terreno religioso como no político, ambos inseparáveis em uma teocracia que não suportava sua liberdade e tornou-se a chave para explicar seu trágico final.
A indignação de Jesus de Nazaré com os poderes econômicos, religiosos, políticos e patriarcais constitui um desafio para os cristãos e cristãs de hoje e um chamado a incorporar-se ao movimento dos indignados. E não para sacralizá-lo, mas para mobilizar e somar forças no empenho por “um outro mundo possível”.
Precisamos alimentar uma espiritualidade da indignação, quando é preciso reagir frente à impiedade, à violência e à injustiça que campeiam e envenenam as relações entre as pessoas. Somos habitados pelo mesmo Espírito que movia Jesus a ser presença original e provocativa no contexto do seu tempo.
Na vivência do seguimento de Jesus, há algo contraditório entre nós cristãos: somos seguidores do maior transgressor da história e, no entanto, nos acovardamos escondidos atrás de leis, doutrinas, ritos, que nos levam a alimentar uma cultura de indiferença e de frieza frente à realidade que nos cerca. Precisamos ativar a atitude evangélica da denúncia nesta sociedade perplexa que somos, neste tempo incerto que vivemos, neste planeta ameaçado que habitamos.
Em definitiva, trata-se de deixar ressoar o clamor dos(as) “descartados”, tantas pessoas e grupos hoje excluídos do direito ao pão, ao trabalho, à terra, ao teto, à justiça...; deixar ecoar o grito da terra frente a tanta destruição; deixar fluir últimos e dos excluídos é escutar a voz do próprio Deus que “derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes”.
Para meditar na oração
Orar, como diz S. Inácio de Loyola, é buscar e encontrar Deus em todas as o grito de tantas vítimas da violência institucionalizada. Se pararmos para escutar, ouviremos gritos insistentes. Há um clamor uníssono tão forte capaz de atravessar os céus, ultrapassar as nuvens e não deixar de ser escutado. No fundo, é o próprio Deus que grita nos seus filhos e filhas; escutar o grito dos coisas, detectar sua presença como anúncio ou como denúncia, como carícia ou como grito. A oração é sempre um clamor, é uma aspiração, é gemido do Espírito em nós, expressão dos desejos mais profundos da humanidade e do próprio coração.
A oração, portanto, não é nunca um clamor estéril, nem sequer um desafogo psíquico, mas um desejo esperançado, fundado na confiança de que o Deus, todo misericórdia e cuidado a partir dos últimos, não abandona nunca.
- Frente ao contexto social e político no qual vivemos, sua voz está a serviço de quem?
- Sua voz é prolongamento do grito indignado da viúva ou é voz conivente com a morte?. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Sínodo, coletiva de imprensa: entre as propostas, a de um rito amazônico
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Sínodo, coletiva de imprensa: entre as propostas, a de um rito amazônico
Apresentados na Sala de Imprensa da Santa Sé os relatórios dos Círculos Menores. Entre os participantes estavam dom Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima (Brasil), dom Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Mauricio Lopez, secretário executivo Repam e irmã Daniela Adriana Cannavina, secretária geral da Clar (Colômbia).
Amedeo Lomonaco, Silvonei José - Cidade do Vaticano
Os relatórios dos Círculos Menores não são textos definitivos, mas são um primeiro passo de um tecido nascido da escuta e orientado pelo discernimento. Em alguns grupos, o debate e o confronto estão abertos. As posições dos padres sinodais nem sempre coincidem, mas cada um oferece a sua própria contribuição. Com essa premissa, o padre Giacomo Costa, secretário da Comissão de Informação, abriu a coletiva para a apresentação dos relatórios dos Círculos Menores na Sala de Imprensa da Santa Sé.
Renovação e fortalecimento da vida consagrada
O Sínodo sobre a Região Pan-amazônica é também uma exortação. Irmã Daniela Adriana Cannavina, secretária geral da Clar (Colômbia) reiterou que o convite é pensar na Amazônia e abrir novos caminhos para a Igreja. É necessário torná-los possíveis e praticáveis, indo além dos medos. Ir. Daniela Adriana Cannavina lembrou também que durante o trabalho sinodal foi dado espaço às contribuições das mulheres. Referindo-se à vida consagrada, indicou uma prioridade: a de continuar a promover uma vida centrada no Evangelho. Devemos resistir à indiferença, acrescentou, porque a vida consagrada é um ícone da aceitação da vida. Ela também indicou quatro chaves fundamentais. A primeira é a da inculturalidade. A segunda é a itinerância que assegura a presença de uma Igreja em saída. As outras duas chaves para abrir novos caminhos são o fortalecimento da presença missionária, a partir dos carismas, e a promoção do diálogo entre pastores e leigos em um ambiente de co-responsabilidade.
Universalidade e complementaridade
A experiência do caminho sinodal é única. Cada Sínodo é uma emoção intelectual cada vez mais profunda. Dom Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, sublinhou que o Sínodo nos exorta a refletir também sobre o significado da universalidade da Igreja. A Igreja, disse ele, é uma só, mas é composta por muitos povos, um diferente do outro. Todos os povos devem ser respeitados e isto, explicou dom Fisichella, implica também o reconhecimento da complementaridade: cada povo, cada cultura e cada tradição têm algo a dizer para que o patrimônio comum possa ser compreendido e iluminado. Cada cultura da Amazônia, acrescentou, expressa algum elemento que nos permite compreender a grandeza da fé cristã.
Rito amazônico
Dom Rino Fisichella lembrou também que foi feita uma proposta para seguir o caminho de um "rito amazônico" que permita desenvolver sob o aspecto espiritual, teológico, litúrgico e disciplinar, a singular riqueza da Igreja Católica na Amazônia. Os ritos, explicou o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, são a expressão da evangelização: quando o anúncio do Evangelho atinge uma cultura, é inculturado através das formas mais coerentes para expressar o mistério. Na época contemporânea, um rito, limitado apenas à liturgia, foi concedido para o caminho neocatecumenal. No caso do rito amazônico, especificou dom Fisichella, "estamos diante de uma proposta que diz respeito ao rito em sua totalidade".
Abrir novos caminhos
Este Sínodo é uma oportunidade que temos para nos colocarmos em contato com a vida, com o ambiente, mas sobretudo com a vida das comunidades. Dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima (Brasil), ressaltou que a assembléia sinodal é uma oportunidade para escutar a voz da Amazônia. É uma oportunidade para reconhecer os caminhos já traçados pelos mártires e abrir novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. Recordando a realidade da sua diocese, identificou a migração como um dos principais desafios. Há uma crise humanitária e o Papa Francisco, explicou, nos convida a sermos capazes, como Igreja, de acolher, proteger, promover e integrar os migrantes. Também são necessários novos colaboradores para chegar até mesmo às pequenas comunidades, longe das pequenas cidades. Entre as propostas há também a dos "viri probati", isto é, a ordenação de adultos casados. O celibato, disse o prelado, é um dom da Igreja e deve ser considerado como algo muito precioso. Dom Mário Antônio da Silva recordou então que o Papa Francisco nos pede que prestemos atenção a toda a Criação. A ecologia integral, acrescentou, leva-nos a pensar também nas gerações futuras.
Ver a realidade com o olhar de Deus
A coletiva de imprensa também teve um momento de silêncio e reflexão que durou 30 segundos. A propor esse momento de silêncio foi Mauricio Lopez, secretário da Rede Eclesial Panamazônica (Repam), depois de fazer a pergunta: qual é o olhar de Deus sobre a realidade amazônica? É necessário observar a realidade, disse ele, com o olhar de Deus. Quero voltar ao lugar onde trabalhamos todos os dias e dizer ao povo da Amazônia, destacou Mauricio Lopez, que honramos suas vidas. Quero dizer, as vozes de vocês foram ouvidas. As periferias, acrescentou, não querem roubar o lugar do centro: trata-se de iluminar o centro a partir das periferias. E não se deve perder de vista o que é realmente importante: as pessoas. Seguindo o itinerário proposto pelo Papa Francisco, disse Mauricio López, devemos promover uma autêntica conversão pastoral, ecológica e sinodal, a conversão ecológica.
Pecados ecológicos
Em resposta às perguntas dos jornalistas, os participantes da coletiva de imprensa focaram sobre o tema dos pecados ecológicos. Irmã Daniela Adriana Cannavina disse que a exclusão dos irmãos indígenas, a pobreza por causa das atividades de mineração, são pecados. Tudo isso, disse ela, que aproxima a vida à morte é pecado. Dom Rino Fisichella explicou que o pecado é o fechamento do homem em si mesmo: quem vive neste fechamento corre o risco de morrer de asfixia. O pecado fundamental é o comportamento do homem que se fecha diante de Deus. A criação, observou dom Fisichella, é uma manifestação de Deus. Quando alguém não reconhece Deus na criação, disse, não há desculpa e se cai numa dimensão de pecado. Dom Mário Antônio da Silva pediu uma conversão sincera: tudo isso, explicou ele, que nos leva ao uso necessário e sensato dos bens da Criação é virtuoso. Tudo o que, pelo contrário, nos leva a utilizar os bens da criação para o lucro não só "fede", mas traz consigo a injustiça.
Fundos e solidariedade
Uma jornalista recordou que a Fundação Ford, que não é contrária ao aborto, conseguiu fundos para a Rede Eclesial Panamazônica (Repam). Dom Mário Antônio da Silva lembrou que a Igreja defende a vida desde a concepção até o fim natural. Os fundos, disse ele, devem ser utilizados para promover a vida das crianças, das mulheres e das famílias. A Repam, sublinhou o prelado, usa as doações feitas por fundações para promover a vida. O Prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, disse que considera uma coisa boa que o dinheiro seja usado para promover obras de caridade.
Sínodo: trabalhos em andamento
A coletiva de imprensa terminou com um breve retrato da situação atual dos trabalhos sinodais. As propostas feitas até agora, disse finalmente dom Mário Antônio da Silva, são até o momento discussões que estão em andamento. Esta é ainda uma fase de coleta das propostas que serão depois confiadas ao discernimento. A próxima fase, concluiu, será a do documento final a ser confiado ao Papa e ao seu discernimento. Fonte: https://www.vaticannews.va
SÍNODO PARA A AMAZÔNIA: Os desafios de vocações para o sacerdócio indígena entram na pauta do Sínodo
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Padre Justino Sarmento Resende é um dos raros sacerdotes indígenas e o único a participar do Sínodo para Amazônia. Salesiano, ele vem da tribo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e é especialista em espiritualidade indígena e pastoral inculturada. Nas discussões do Sínodo de hoje, dia 17 de outubro, padre Justino falou sobre as barreiras para a formação de sacerdotes indígenas.
A história pessoal do padre já mostra como a sociedade tem dificuldade de enxergar que indígenas podem e devem ser sacerdotes, caso sejam chamados a essa vocação. Segundo padre Justino, sua vocação surgiu ainda muito jovem, quando viu missionários catequizando seus avós, com muita boa vontade, mas com grande dificuldade de comunicação e de entender a língua Tuyuka. “Foi aí que eu pensei que poderia ser sacerdote para transmitir a Palavra de Deus na minha própria língua”.
Quando decidiu estudar num seminário, sofreu resistência de todos os lados, inclusive de um padre. “Os não indígenas achavam que nós não tínhamos capacidade de compreender as disciplinas exigentes da formação de sacerdotes. Meus familiares também não apoiaram. Minha mãe chorou porque queria criar os netos e essa questão da família é muito forte para os nossos povos. Meu avô disse que ser padre não é para nós Tuyukas. Até o padre que acompanhava de vez em quando nossa tribo falou que ser sacerdote não é para indígenas, nós deveríamos era jogar bola”, contou padre Justino.
O caminho não foi simples: “tive que estudar muito e continuo estudando até hoje, depois de 25 anos de sacerdócio. Precisei de uma formação básica para ser padre. Depois de concluir o seminário, voltei a estudar missiologia. Quando percebi a importância de ter mais pessoas envolvidas na educação escolar indígena, fiz um mestrado em educação. Sigo estudando para encontrar respostas para a pergunta: como nós podemos ajudar a construir novas maneiras de evangelizar na Amazônia?”, indaga o sacerdote.
Padre Justino realiza oficinas e encontros sobre inculturação e evangelização para indígenas. Ele escreveu o livro “A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”, que ainda não foi publicado, mas já é usado como texto base nas catequeses das tribos onde atua. “Trouxe ao Sínodo essa ideia de que a inculturação é um processo importante e necessário, não é descaracterizar a eucaristia nem impor o catolicismo aos indígenas, é levar a Palavra dentro da nossa cultura, da nossa língua. Os indígenas precisam viver a mensagem de Jesus da melhor forma possível.”
Quando questionado sobre a proposta de ter sacerdotes casados nas tribos da Amazônia e sobre a dificuldade de os indígenas viverem o celibato, padre Justino foi enfático: “o celibato não é fácil para ninguém. É um dom de Deus. Pessoas de qualquer cultura no mundo podem vivê-lo. Deve ser uma decisão livre, não imposta. É difícil para mim como para qualquer outro padre não indígena”.
Manuela Castro – Cidade do Vaticano. Fonte: http://www.cnbb.org.br
Festa do evangelista São Lucas: Liturgia
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
1) Oração
Ó Deus, que escolhestes São Lucas para revelar em suas palavras e escritos
o mistério do vosso amor para com os pobres, concedei aos que já se gloriam do vosso nome perseverar num só coração e numa só alma, e a todos os povos do mundo ver a vossa salvação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 10, 1-9)
1Depois disso, designou o Senhor ainda setenta e dois outros discípulos e mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e lugares para onde ele tinha de ir.2Disse-lhes: Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe.3Ide; eis que vos envio como cordeiros entre lobos.4Não leveis bolsa nem mochila, nem calçado e a ninguém saudeis pelo caminho.5Em toda casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa! 6Se ali houver algum homem pacífico, repousará sobre ele a vossa paz; mas, se não houver, ela tornará para vós.7Permanecei na mesma casa, comei e bebei do que eles tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não andeis de casa em casa.8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que se vos servir.9Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo.
3) Reflexão
* Hoje, festa do evangelista São Lucas, o evangelho traz o envio dos setenta e dois discípulos que devem anunciar a Boa Nova de Deus nos povoados, aldeias e cidades da Galileia. Os setenta e dois somos todos e todas nós que viemos depois dos Doze. Através da missão dos discípulos e discípulas, Jesus tenta resgatar os valores comunitários da tradição do povo que estavam sendo abafados pelo duplo cativeiro da dominação romana e da religião oficial. Jesus procura renovar e reorganizar as comunidades para que sejam novamente uma expressão da Aliança, uma amostra do Reino de Deus. Por isso, ele insiste na hospitalidade, na partilha, na comunhão de mesa, na acolhida aos excluídos. Esta insistência de Jesus transparece nos conselhos que dava aos discípulos e às discípulas quando os enviava em missão. No tempo de Jesus havia vários outros movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver, por exemplo, João Batista, os fariseus e outros. Eles também formavam comunidades de discípulos (Jo 1,35; Lc 11,1; At 19,3) e tinham seus missionários (Mt 23,15). Mas como veremos havia uma grande diferença.
Lucas 10,1-3: A Missão.
Jesus envia os discípulos para os lugares aonde ele próprio deve ir. O discípulo é porta-voz de Jesus. Não é dono da Boa Nova. Ele os envia dois a dois. Isto favorece a ajuda mútua, pois a missão não é individual, mas sim comunitária. Duas pessoas representam melhor a comunidade.
Lucas 10,2-3: A Co-responsabilidade.
A primeira tarefa é rezar para que Deus envie operários. Todo discípulo e discípula deve sentir-se responsável pela missão. Por isso deve rezar ao Pai pela continuidade da missão. Jesus envia seus discípulos como cordeiros no meio de lobos. A missão é tarefa difícil e perigosa. Pois o sistema em que eles viviam os discípulos e ainda vivemos era e continua sendo contrária à reorganização do povo em comunidades vivas.
Lucas 10,4-6: A Hospitalidade.
Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus não podem levar nada, nem bolsa, nem sandálias. Mas devem levar a paz. Isto significa que devem confiar na hospitalidade do povo. Pois o discípulo que vai sem nada levando apenas a paz, mostra que confia no povo. Acredita que vai ser recebido, e o povo se sente respeitado e confirmado. Por meio desta prática o discípulo critica as leis de exclusão e resgata os antigos valores da convivência comunitária. Não saudar ninguém pelo caminho significa que não se deve perder tempo com coisas que não pertencem à missão.
Lucas 10,7: A Partilha.
Os discípulos não devem andar de casa em casa, mas sim permanecer na mesma casa. Isto é, devem conviver de maneira estável, participar da vida e do trabalho do povo do lugar e viver do que recebem em troca, pois o operário merece o seu salário. Isto significa que devem confiar na partilha. Assim, por meio desta nova prática, eles resgatam uma antiga tradição do povo, criticam a cultura de acumulação que marcava a política do Império Romano e anunciam um novo modelo de convivência.
Lucas 10,8: A Comunhão de mesa.
Os fariseus, quando iam em missão, iam prevenidos. Achavam que não podiam confiar na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Por isso, levavam sacola e dinheiro para poder cuidar da sua própria comida. Assim, em vez de ajudar a superar as divisões, as observâncias da Lei da pureza enfraqueciam ainda mais a vivência dos valores comunitários. Os discípulos de Jesus devem comer o que o povo lhes oferece. Não podem viver separados, comendo sua própria comida. Isto significa que devem aceitar a comunhão de mesa. No contato com o povo, não podem ter medo de perder a pureza legal. Agindo assim, criticam as leis da pureza em vigor e anunciam um novo acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.
Lucas 10,9a: A Acolhida aos excluídos.
Os discípulos devem tratar dos doentes, curar os leprosos e expulsar os demônios (Mt 10,8). Isto significa que devem acolher para dentro da comunidade os que dela foram excluídos. Esta prática solidária critica a sociedade excludente e aponta saídas concretas. É o que hoje faz a pastoral dos excluídos, migrante e marginalizados.
Lucas 10,9b: A chegada do Reino.
Caso todas estas exigências forem preenchidas, os discípulos podem e devem gritar aos quatro ventos: O Reino chegou! Anunciar o Reino não é em primeiro lugar ensinar verdades e doutrinas, mas sim levar a uma nova maneira de viver e de conviver como irmãos e irmãs a partir da Boa Nova que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai/Mãe de todos nós.
4) Para um confronto pessoal
1) Hospitalidade, partilha, comunhão de mesa, acolhida aos excluídos: são as pilastras que sustentam a vida comunitária. Como isto está sendo realizado na minha comunidade?
2) O que é para mim ser Cristão ou ser Cristã? Numa entrevista na TV, alguém respondeu ao repórter: “Sou cristão procuro viver o evangelho, mas não participo na comunidade da Igreja”. O repórter comentou: “Então você se considera um bom jogador de futebol, mas não faz parte de nenhum time!” É o meu caso?
5) Oração final
Glorifiquem-vos, Senhor, todas as vossas obras, e vos bendigam os vossos fiéis. Que eles apregoem a glória de vosso reino, e anunciem o vosso poder. (Sl 144, 10-11)
Ordenação de homens casados como solução para a Amazônia? Uma voz discordante
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Pela primeira vez nos informes diários à imprensa feitos pelo Vaticano durante o Sínodo dos Bispos para a Amazônia deste ano uma voz discordante surgiu hoje, quarta-feira, para falar da ideia de ordenação de homens casados como forma de resolver a escassez sacerdotal na região. A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 16-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Não vejo no celibato o obstáculo principal” para se ter mais padres, disse Dom Wellington Vieira, da Diocese de Cristalândia, no Tocantins, enfatizando que ninguém o nomeara porta-voz da assembleia sinodal, mas mesmo assim fez questão de acrescentar: “Acho que muitos no sínodo compartilham da minha opinião”.
“Com certeza, o maior problema é a nossa incoerência, é a nossa infidelidade, são os escândalos, a falta de santidade que, muitas vezes, por meio dos ministros ordenados, tornam-se um impedimento para que os jovens decidam seguir esse caminho”, disse o religioso.
“Temos que permitir que as pessoas possam ouvir o chamado de Jesus, e às vezes por causa das nossas ações elas ficam incapacitadas de ouvir”, disse Dom Wellington Vieira.
“Eu tenho a certeza que tendo uma vida santa, não terei falta de ministros ordenados em minha Igreja particular. Muitos jovens, com todas as ofertas do mundo contemporâneo, estão perdidos, procurando valores nos quais se apoiar”, continuou o bispo de Cristalândia, acrescentando: “Não posso acreditar que Jesus tenha perdido o seu poder de atração”.
O prelado brasileiro também trouxe uma outra dimensão do debate em torno da escassez de padres, que é o desequilíbrio na forma como estes estão distribuídos. Dentro dos países, disse ele, às vezes os padres não querem assumir os trabalhos em lugares normalmente considerados difíceis.
“Temos um problema com uma distribuição igualitária no nível local”, disse. “A falta de padres poderia ser mitigada se distribuíssemos melhor, mas às vezes nem sempre existe um espírito missionário, uma disposição para ir a regiões de fronteira e áreas difíceis”.
Reconhecendo que a questão de como resolver a escassez de padres e garantir que as pessoas tenham acesso aos sacramentos vem sendo discutida no Sínodo dos Bispos, Dom Wellington falou que “temos muitas ideias que são também diferentes”.
Contudo, o prelado de 51 anos afirmou que não tem havido desentendimentos no encontro.
“As pessoas acham que estamos discutindo ou brigando uns contra os outros, mas não é o caso”, disse ele, alegando que o sínodo está sendo marcado por um “ambiente muito fraternal de um respeito grande e mútuo”.
Os assessores oficiais do Vaticano, no entanto, se esforçaram em salientar, nesta quarta-feira, que os participantes não querem o que os debates fiquem centrados em alguns problemas específicos, e sim que querem focalizar o quadro mais amplo das temáticas.
“Olhamos para a árvore, não para os ramos”, disse Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, ao tentar expressar aquilo que descreveu como um sentimento comum dentro da assembleia sinodal.
“Estamos mais ou menos na metade do caminho, e o que surgiu ontem com bastante força é uma necessidade compartilhada por toda a assembleia, e nos pequenos grupos também: não focalizar os temas individuais que dividem o processo sinodal, mas identificar uma visão comum e unificada”, disse Ruffini.
Em seguida, Ruffini destacou vários temas gerais que, segundo disse, emergiram nos debates até o momento.
- A proteção do meio ambiente amazônico como parte da “casa comum” da humanidade, que leva a um chamado à conversão ecológicae denuncia os pecados ecológicos.
- A interculturalidade e o diálogo como partes-chave da missão da Igreja.
- O acesso aos sacramentos.
- A educação/formação do clero e dos leigos.
- Leigos e leigas.
- A migração, o despovoamento de áreas rurais e a vida nas cidades.
- Os direitos humanos.
O destino dos povos indígenas amazônicos foi destacado quarta-feira por Yesica Patiachi Tayori, agente pastoral do Vicariato Apostólico de Puerto Maldonado, no Peru, e especialista na língua e cultura do povo Harakbut.
“Os indígenas no sínodo são os guardiões da floresta, mas cuidar da nossa casa comum é responsabilidade de todos”, disse ela.
“Estamos com medo de perder os nossos idiomas, sermos extintos, sufocados por modelos de desenvolvimento que vêm de fora”, explicou Patiachi Tayori.
“Pedimos que o Santo Padre leve a nossa mensagem às autoridades internacionais, nos ajudando a não sermos extintos, respeitando os nossos costumes, as nossas tradições e os nossos idiomas, bem como o nosso direito de viver a autodeterminação”, concluiu.
Houve algumas palavras sobre o papel da mulher nos informes à imprensa dados nesta quarta-feira, com Dom Wellington Vieira e Dom Pedro José Conti, da Diocese de Macapá, destacando os papéis na linha de frente desempenhados por elas na região. Nenhum deles, no entanto, respondeu diretamente a perguntas sobre a possibilidade de mulheres ordenadas ao diaconato ou sobre a representação delas no próprio sínodo.
Finalmente, um jornalista do sítio LifeSite News perguntou sobre uma estátua indígena de uma mulher grávida nua exibida na cerimônia nos jardins do Vaticano pouco antes de a assembleia sinodal começar. O profissional de imprensa perguntou qual era precisamente o significado espiritual da estátua.
Ruffini disse que iria procurar mais informações sobre o assunto, porém respondeu dizendo que, a seu ver, era simplesmente uma estátua a representar a vida e que “procurar ver um símbolo pagão é ver o mal onde não existe o mal”.
O padre jesuíta italiano Giacomo Costa, que também tem ajudado nos informes diários à imprensa, falou que a sua impressão era a de que a estátua retratava uma “indígena que traz a vida e que representa a vida”.
“Penso que seja só uma figura feminina sem nenhum valor sagrado ou pagão”, disse ele, expressando um ceticismo com os que dizem que a estátua poderia ser também uma representação indígena da Virgem Maria.
Na quarta e na quinta-feira desta semana, os participantes do Sínodo dos Bispos estarão reunidos em 12 pequenos grupos de trabalho organizados por idioma, que estão divididos em cinco grupos espanhóis, quatro de língua portuguesa, dois italianos e um inglês/francês. É o segundo ciclo das sessões em pequenos grupos, com a ideia sendo a de produzir ideias para a comissão redatora que tem trabalhado sobre uma versão preliminar do documento final do sínodo.
Na quarta-feira, Ruffini informou que o Vaticano deseja divulgar cópias dos relatórios produzidos nos pequenos grupos na sexta-feira de tarde. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
A Igreja deve fazer um exame de consciência sobre seus investimentos em mineração, afirma Dom Pedro Brito, arcebispo de Palmas
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Dom Pedro Brito propôs no Sínodo da Amazônia, a urgência de confessar nossos pecados ecológicos. Porém, em torno do investimento em mineração por parte das congregações religiosas e a Igreja Católica, confessa não ter feito essa reflexão anteriormente. “Não tinha essa reflexão”, diz levantando as sobrancelhas. “Porém é evidente que com esse tipo de investimentos estamos ajudando a manter essas empresas que degradam o ambiente, matam o ambiente e tiram vidas. É importante que façamos um exame de consciência nesse sentido. Um exame de consciência sobre como estamos contribuindo para matar a vida – onde está Deus -, pensando somente no lucro econômico”. A reportagem é publicada por REPAM, 15-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Dom Pedro Brito Guimarães, arcebispo de Palmas, Brasil, defende que falar dos pecados ecológicos “não é uma criação própria”, se fundamenta em estudos acadêmicos profundos de teologia dos sacramentos que realizou na Universidade Gregoriana. “Então, eu falo da compreensão que tenho dos sacramentos. E entre esses sacramentos está o da penitência. Se nós olharmos os manuais de teologia dos sacramentos, encontramos que se fala muito de pecados pessoais, como desobedecer, não ir à missa, falar mal de alguém, esses pecados são existenciais, individualistas”, explica.
Nesses manuais, diz dom Brito, “não existe o pecado que é mais grave, matar o homem que Deus criou”. Um pecado ecológico é um pecado contra Deus, porque ele é o criador de todas as coisas. Eu acredito em Deus, o pai criativo de todas as coisas. O decálogo fala de amar a Deus acima de todas as coisas, de não matar, de roubar, de não querer as coisas dos outros e o que mais fazemos é isso”, assegura decisivamente.
Poluímos as águas, os rios e o ar que respiramos estão cheios de veneno, os alimentos que ingerimos causam câncer. Nós não confessamos esses pecados. “Confesso que ainda não confessei, mas pedirei por eles em confissão”.
Se queremos viver uma ecologia integral, em que tudo está interligado, devemos confessar que, quando matamos a natureza, estamos pecando contra Deus e contra as gerações que vieram depois de nós. Que mundo vamos entregar para nossos filhos, netos e descendentes?
Referindo-se à proposta de uma Campanha de Desinvestimento, proposta pela Rede Igrejas e Mineração, ele diz: “a natureza é uma entidade de direitos, assim como tenho o direito de comer, me vestir, respeitar as leis, a natureza também tem direitos. Ela tem o direito de sobreviver. Mas nós avalizamos seus direitos – ela não fala, ela não pode apresentar uma lei – mas ela é sujeita de direitos. Ela tem o direito de viver. Os rios têm o direito de correr, as nuvens o direito de cair livremente como a chuva, porque são os direitos da natureza. Se violarmos esses direitos, estaremos violando uma lei, a lei de Deus”.
Segundo o padre Dário Bossi, religioso comboniano da Rede Igrejas e Mineração, essas são algumas das razões pelas quais as congregações religiosas e as várias entidades e instituições da Igreja Católica devem desinvestir em empresas de mineração e outras indústrias extrativistas:
- As organizações da Igreja ou de inspiração Católica não deveriam investir em projetos de morte.
- Um projeto de morte é uma iniciativa econômica que leva à destruição de ecossistemas, afeta modos de vida e viola os direitos humanos.
- Investir não é uma atividade trivial e inconsciente é uma maneira de decidir que tipo de atividades econômicas serão promovidas. Os fluxos de capital são o caminho para alimentar e "nutrir" práticas econômicas.
- Os investimentos como expressão de decisões e valores não devem privilegiar a lucratividade, mas também levar em consideração os impactos nas áreas de influência dos projetos e os estilos de vida que eles sustentam e promovem.
- Investir em combustíveis fósseis, fracking, mineração e agronegócio produz impactos negativos irreversíveis. Muitos projetos de morte estão localizados na bacia amazônica.
- Os investimentos católicos podem ser uma oportunidade para promover estilos de vida sustentáveis no contexto em que uma mudança sistêmica global está ocorrendo.
- No entanto, não se deve esquecer que as novas tecnologias promovidas como parte da mudança global do modelo de energia também exigem matérias-primas como o lítio (para baterias de carros elétricos). Essa extração tem um impacto nos ecossistemas e comunidades que devem ser considerados na hora de investir. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Quinta-feira, 17 de outubro-2019. 28ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita
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1) Oração
Ó Deus, sempre nos preceda e acompanhe a vossa graça para que estejamos sempre atentos ao bem que devemos fazer. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 11, 47-54)
Naquele tempo disse Jesus: 47Ai de vós, que edificais sepulcros para os profetas que vossos pais mataram. 48Vós servis assim de testemunhas das obras de vossos pais e as aprovais, porque em verdade eles os mataram, mas vós lhes edificais os sepulcros. 49Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, mas eles darão a morte a uns e perseguirão a outros. 50E assim se pedirá conta a esta geração do sangue de todos os profetas derramado desde a criação do mundo, 51desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o templo. Sim, declaro-vos que se pedirá conta disso a esta geração! 52Ai de vós, doutores da lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar. 53Depois que Jesus saiu dali, os escribas e fariseus começaram a importuná-lo fortemente e a persegui-lo com muitas perguntas, 54armando-lhe desta maneira ciladas, e procurando surpreendê-lo nalguma palavra de sua boca.
3) Reflexão Lucas 11,47-54
Novamente, pela enésima vez, o evangelho de hoje fala do conflito entre Jesus e as autoridades religiosas da época.
Lucas 11,47-48: Ai de vocês, que constroem túmulos para os profetas
“Ai de vocês, porque constroem túmulos para os profetas; no entanto, foram os pais de vocês que os mataram. Com isso, vocês são testemunhas e aprovam as obras dos pais de vocês, pois eles mataram os profetas, e vocês constroem os túmulos”. Mateus diz que se trata de escribas e fariseus (Mt 23,19). O raciocínio de Jesus é claro. Se os pais mataram os profetas e os filhos construíram os túmulos, é porque os filhos aprovaram o crime dos pais. Além disso, todo mundo sabe que profeta morto não incomoda. Deste modo os filhos tornam-se testemunhas e cúmplices no mesmo crime (cf. Mt 23,29-32).
Lucas 11,49-51: Pedir contas do sangue derramado desde a criação do mundo
“É por isso que a sabedoria de Deus disse: 'Eu lhes enviarei profetas e apóstolos. Eles os matarão e perseguirão, a fim de que se peçam contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário'. Sim, eu digo a vocês: pedirão contas disso a esta geração”. Comparado com o evangelho de Mateus, Lucas costuma oferecer uma versão abreviada do texto de Mateus. Mas aqui ele acrescentou a observação: “derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel”. Ele fez a mesma coisa com a genealogia de Jesus. Mateus, que escrevia para os judeus convertidos, começa em Abraão (Mt 1,1.2.17), enquanto Lucas vai até Adão (Lc 3,38). Lucas universaliza e inclui os pagãos, pois escreve o seu evangelho para os pagãos convertidos. A informação sobre o assassinato de Zacarias no Templo é dada pelo livro das Crônicas: “Então o espírito de Deus se apoderou de Zacarias, filho do sacerdote Joiada. Ele se dirigiu ao povo e disse: "Assim fala Deus: Por que é que vocês estão desobedecendo aos mandamentos de Javé? Vocês vão se arruinar. Vocês abandonaram Javé, e ele também os abandona!" Então eles se reuniram contra o profeta e, por ordem do rei, o apedrejaram no pátio do Templo de Javé”. (2Cr 24,20-21). Jesus conhecia a história do seu povo até nas minúcias. Ele sabe que vai ser o próximo na lista de Abel até Zacarias. Até hoje a lista continua aberta. Muita gente é morta pela causa da justiça e da verdade.
Lucas 11,52: Ai de vocês, especialistas em leis
“Ai de vocês, especialistas em leis, porque vocês se apoderaram da chave da ciência. Vocês mesmos não entraram, e impediram os que queriam entrar". Fecham o Reino como? Eles pensam ter o monopólio da ciência a respeito de Deus e da lei de Deus e impõem o seu modo de ver aos outros, sem deixar margem para um pensamento diferente. Apresentam Deus apenas como juiz severo e em nome de Deus impõem leis e normas que não têm nada a ver com os mandamentos de Deus, falsificam a imagem do Reino e matam nos outros o desejo de servir a Deus e ao Reino. Uma comunidade que se organiza ao redor deste falso deus “não entra no Reino”, nem é expressão do Reino, e impede que seus membros entrem no Reino. É importante notar a diferença entre Mateus e Lucas. Mateus fala da entrada no Reino do céu e a frase é redigida na forma verbal do presente: "Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem vocês entram, nem deixam entrar aqueles que desejam” (Mt 23,13). A expressão entrar no Reino do Céu pode significar entrar no céu depois da morte, mas é mais provável que se trate da entrada na comunidade ao redor de Jesus e nas comunidades dos primeiros cristãos. Lucas fala da chave da ciência e a frase é redigida na forma verbal do passado. Lucas simplesmente consta que a pretensão dos escribas de possuir a chave da ciência a respeito de Deus e da lei de Deus impediu a eles de reconhecer Jesus como Messias e impediu que o povo judeu reconhecesse Jesus como messias: Vocês se apoderaram da chave da ciência. Vocês mesmos não entraram, e impediram os que queriam entrar.
Lucas 11,53-54: Reação contra Jesus
A reação das autoridades religiosas contra Jesus foi imediata. “Quando Jesus saiu daí, os doutores da Lei e os fariseus começaram a tratá-lo mal, e a provocá-lo sobre muitos pontos. Armavam ciladas, para pegá-lo de surpresa em qualquer coisa que saísse de sua boca”. Considerando-se os únicos intérpretes verdadeiros da lei de Deus, tentam provocar Jesus em torno da interpretação da Bíblia para poder pegá-lo de surpresa em qualquer coisa que saísse de sua boca. Assim, continua e cresce a oposição contra Jesus e cresce o desejo de elimina-lo (Lc 6,11; 11,53-54; 19,48; 20,19-20; 22,2).
4) Para um confronto pessoal
1) Muitas pessoas que queriam entrar foram impedidos de entrar ou deixaram de crer por causa de atitudes ante-evangélicas de sacerdotes. Você tem experiência neste ponto?
2) Os escribas começaram a criticar Jesus que pensava e agia diferente deles. Não é difícil encontrar motivos para criticar quem pensa diferente de nós. Você tem experiência neste ponto?
5) Oração final
O Senhor fez conhecer a sua salvação. Manifestou sua justiça à face dos povos. Lembrou-se de sua bondade e de sua fidelidade em favor da casa de Israel. Os confins da terra puderam ver a salvação de nosso Deus. (Sl 97, 2-3)
Quarta-feira, 16 de outubro-2019. 28ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Deus, sempre nos preceda e acompanhe a vossa graça para que estejamos sempre atentos ao bem que devemos fazer. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 11, 42-46)
Naquele tempo disse Jesus: 42Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de diversas ervas e desprezais a justiça e o amor de Deus. No entanto, era necessário praticar estas coisas, sem contudo deixar de fazer aquelas outras coisas. 43Ai de vós, fariseus, que gostais das primeiras cadeiras nas sinagogas e das saudações nas praças públicas! 44Ai de vós, que sois como os sepulcros que não aparecem, e sobre os quais os homens caminham sem o saber. 45Um dos doutores da lei lhe disse: Mestre, falando assim também a nós outros nos afrontas. 46Ele respondeu: Ai também de vós, doutores da lei, que carregais os homens com pesos que não podem levar, mas vós mesmos nem sequer com um dedo vosso tocais os fardos.
3) Reflexão
No Evangelho de hoje continua o relacionamento conflituoso entre Jesus e as autoridades religiosas da época. Hoje, na igreja acontece o mesmo conflito. Numa determinada diocese, o bispo convocou os pobres a participar ativamente. Eles atenderam ao pedido e em grande número começaram a participar. Surgiu um grave conflito. Os ricos diziam que foram excluídos e alguns sacerdotes começaram a dizer: “O bispo só faz política e esquece o evangelho!”
Lucas 11,42: Ai de vocês, que deixam de lado a justiça e o amor
“Ai de vocês, fariseus, porque vocês pagam o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixam de lado a justiça e o amor de Deus. Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”. Esta crítica de Jesus contra os líderes religiosos daquela época pode ser repetido contra muitos líderes religiosos dos séculos seguintes, até hoje. Muitas vezes, em nome de Deus, insistimos em detalhes e esquecemos a justiça e o amor. Por exemplo, o jansenismo tornou árida a vivência da fé, insistindo em observâncias e penitências que desviaram o povo do caminho do amor. A irmã carmelita Santa Teresa de Lisieux foi criada nesse ambiente jansenista que marcava a França no fim do século XIX. Foi a partir de uma dolorosa experiência pessoal, que ela soube recuperar a gratuidade do amor de Deus como a força que deve animar por dentro a observância das normas. Pois, sem a experiência do amor, as observâncias fazem de Deus um ídolo.
A observação final de Jesus dizia: “Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”. Esta advertência faz lembrar uma outra observação de Jesus que serve de comentário: "Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. Eu garanto a vocês: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem sequer uma letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça. Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino do Céu. Com efeito, eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu" (Mt 5,17-20)
Lucas 11,43: Ai de vocês, que gostam dos lugares de honra
“Ai de vocês, fariseus, porque gostam do lugar de honra nas sinagogas, e de serem cumprimentados em praças públicas”. Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento hipócrita de alguns fariseus. Estes tinham gosto em circular pelas praças com longas túnicas, receber as saudações do povo, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes (cf. Mt 6,5; 23,5-7). Marcos acrescenta que eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de dinheiro! Pessoas assim vão receber um julgamento mais severo (Mc 12,38-40). Hoje acontece o mesmo na nossa igreja.
Lucas 11,44: Ai de vocês, túmulos escondidos
“Ai de vocês, porque são como túmulos que não se vêem, e os homens pisam sobre eles sem saber". Lucas modificou a comparação. Em Mateus se diz: “Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23,27-28). A imagem de “sepulcros caiados” fala por si e não precisa de comentário. Por meio dela, Jesus condena os que mantêm uma aparência fictícia de pessoa correta, mas cujo interior é a negação total daquilo que querem fazer aparecer para fora. Lucas fala em sepulcros escondidos: “Ai de vocês, porque são como túmulos que não se vêem, e os homens pisam sobre eles sem saber". Quem pisa ou toca num sepulcro torna-se impuro, mesmo quando o sepulcro existe escondido debaixo do chão. A imagem é muito forte: por fora, o fariseu de sempre parece justo e bom, mas esse aspecto é um engano, pois dentro dele existe um sepulcro escondido que, sem o povo se dar conta, espalha um veneno que mata, comunica uma mentalidade que afasta de Deus, sugere uma compreensão errada da Boa Nova do Reino. Uma ideologia que faz do Deus vivo um ídolo morto!
Lucas 11,45-46: Crítica do doutor da lei e a resposta de Jesus
“Um especialista em leis tomou a palavra, e disse: "Mestre, falando assim insultas também a nós!" Na resposta Jesus não voltou atrás mas deixou bem claro que a mesma crítica valia também para os escribas: "Ai de vocês também, especialistas em leis! Porque vocês impõem sobre os homens cargas insuportáveis, e vocês mesmos não tocam essas cargas nem com um só dedo”. No Sermão da Montanha, Jesus expressou a mesma crítica que serve de comentário: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vocês devem fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,2-4).
4) Para um confronto pessoal
1) A hipocrisia mantém uma aparência enganadora. Até onde atua em mim a hipocrisia? Até onde a hipocrisia atua na nossa igreja?
2) Jesus criticava os escribas que insistiam na observância disciplinar das coisas miúdas da lei como dízimo da hortelã, da arruda e de todas as ervas, e esqueciam de insistir no objetivo da lei que é a prática da justiça e do amor. Vale para mim esta crítica?
5) Oração final
Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite. (Sl 1, 1-2)
Sexta-feira, 27 de setembro-2019. 25ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,18-22)
18Num dia em que ele estava a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem que eu sou? 19Responderam-lhe: Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas.20Perguntou-lhes, então: E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: O Cristo de Deus.21Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem a ninguém.22Ele acrescentou: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia.
3) Reflexão Lucas 9,18-22 (Mc 8,27-29)
O evangelho de hoje retoma o mesmo assunto do evangelho de ontem: a opinião do povo sobre Jesus. Ontem, era a partir de Herodes. Hoje, é o próprio Jesus que faz um levantamento da opinião púbica e os apóstolos respondem dando a mesma opinião de ontem. Em seguida, vem o primeiro anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Lucas 9,18: A pergunta de Jesus depois da oração.
“Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou: Quem dizem as multidões que eu sou?". No evangelho de Lucas, em várias oportunidades importantes e decisivas Jesus aparece rezando: no batismo quando assume sua missão (Lc 3,21); nos 40 dias no deserto, quando vence as tentações do diabo com a luz da Palavra de Deus (Lc 4,1-13); na noite antes de escolher os doze apóstolos (Lc 6,12); na transfiguração, quando com Moisés e Elias conversa sobre a paixão em Jerusalém (Lc 9,29); no horto, quando enfrenta a agonia (Lc 22,39-46); na cruz, quando pede perdão pelo soldado (Lc 23,34) e entrega o espírito a Deus (Lc 23,46).
Lucas 9,19: A opinião do povo sobre Jesus
“Eles responderam: "Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou." Como Herodes, muitos achavam que João Batista tivesse ressuscitado em Jesus. Era crença comum que o profeta Elias devia voltar (Mt 17,10-13; Mc 9,11-12; Ml 3,23-24; Eclo 48,10). E todos alimentavam a esperança da vinda do profeta prometido por Moisés (Dt 18,15). Resposta insuficientes.
Lucas 9,20: A pergunta de Jesus aos discípulos.
Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro respondeu: “O Messias de Deus!” Pedro reconhece que Jesus é aquele que o povo está esperando e que vem realizar as promessas. Lucas omite a reação de Pedro tentando dissuadir Jesus de seguir pelo caminho da cruz e omite também a dura crítica de Jesus a Pedro (Mc 8,32-33; Mt 16,22-23).
Lucas 9,21: A proibição de revelar que Jesus é o Messias de Deus
“Então Jesus proibiu severamente que eles contassem isso a alguém”. Eles estão proibidos de revelar ao povo que Jesus é o Messias de Deus. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, como já vimos, todos esperavam a vinda do Messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, outros como doutor, guerreiro, juiz, ou profeta! Ninguém parecia estar esperando o messias servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Quem insiste em manter a idéia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Continuará cego, como Pedro, trocando gente por árvore (cf. Mc 8,24). Pois sem a cruz é impossível entender quem é Jesus e o que significa seguir Jesus. Por isso, Jesus insiste novamente na Cruz e faz o segundo anúncio da sua paixão, morte e ressurreição.
Lucas 9,22: O segundo anúncio da paixão
E Jesus acrescentou: "O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia". A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém. O Caminho do seguimento é o caminho da entrega, do abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação do conflito, sabendo que haverá ressurreição. A cruz não é um acidente de percurso, mas faz parte deste caminho. Pois num mundo, organizado a partir do egoísmo, o amor e o serviço só podem existir crucificados! Quem faz da sua vida um serviço aos outros, incomoda os que vivem agarrados aos privilégios, e sofre.
4) Para um confronto pessoal
1) Acreditamos todos em Jesus. Mas um entende Jesus de um jeito, outro o entende de outro jeito. Qual é, hoje, o Jesus mais comum no modo de pensar do povo?
- Como a propaganda interfere no meu modo de ver Jesus? O que faço para não cair na arapuca da propaganda? O que, hoje, nos impede de reconhecer e de assumir o projeto de Jesus?
5) Oração final
Bendito seja o Senhor, meu rochedo, meu benfeitor e meu refúgio, minha cidadela e meu libertador, meu escudo e meu asilo (Sl 144, 1-2)
Quinta-feira, 26 de setembro-2019. 25ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,7-9)
7O tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que Jesus fazia e ficou perplexo. Uns diziam: É João que ressurgiu dos mortos; outros: É Elias que apareceu; 8e ainda outros: É um dos antigos profetas que ressuscitou. 9Mas Herodes dizia: Eu degolei João. Quem é, pois, este, de quem ouço tais coisas? E procurava ocasião de vê-lo.
3) Reflexão
O evangelho de hoje traz a reação de Herodes diante da pregação de Jesus. Herodes não sabe situar Jesus. Ele já tinha matado João Batista e agora quer ver Jesus de perto. Ameaças aparecem no Horizonte.
Lucas 9,7-8: Quem é Jesus?
O texto começa com um balanço das opiniões do povo e de Herodes sobre Jesus. Alguns associavam Jesus com João Batista e Elias. Outro o identificavam como um Profeta, isto é, como alguém que fala em nome de Deus, que tem a coragem de denunciar as injustiças dos poderosos e que sabe animar a esperança dos pequenos. É o profeta anunciado no Antigo Testamento como um novo Moisés (Dt 18,15). São as mesmas opiniões que o próprio Jesus vai colher dos discípulos quando perguntou: "Quem dizem as multidões que eu sou?" (Lc 9,18). As pessoas procuravam compreender Jesus a partir das coisas que elas mesmas conheciam, acreditavam e esperavam. Tentavam enquadrá-lo dentro dos critérios familiares do Antigo Testamento com suas profecias e esperanças, e da Tradição dos Antigos com suas leis. Mas eram critérios insuficientes. Jesus não cabia lá dentro. Ele era maior!
Lucas 9,9: Herodes quer ver Jesus
“Então Herodes disse: "Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?" E queria ver Jesus”. Herodes, homem supersticioso e sem escrúpulo, reconhece ser ele o assassino de João Batista. Agora ele quer ver Jesus. Lucas sugere assim que ameaças começam a aparecer no horizonte da pregação de Jesus. Herodes não teve medo de matar João. Também não terá medo de matar Jesus. Por outro lado, Jesus, também não tem medo de Herodes. Quando lhe disseram que Herodes procurava prendê-lo, mandou dizer: “Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho” (Lc 13,32). Herodes não tem poder sobre Jesus. Quando na hora da paixão, Pilatos manda Jesus para ser investigado por Herodes, Jesus lhe dá nenhuma resposta (Lc 23,9). Herodes não merecia resposta.
De pai para filho
Às vezes se confundem os três Herodes que viveram naquela época, pois os três aparecem no Novo Testamento com o mesmo nome: 1) Herodes, chamado o Grande, governou sobre toda a Palestina de 37 a 4 antes de Cristo. Ele aparece no nascimento de Jesus(Mt 2,1). Matou as crianças de Belém(Mt 2,16). 2) Herodes, chamado Antipas, governou sobre a Galileia de 4 antes a 39 depois de Cristo. Ele aparece na morte de Jesus(Lc 23,7). Matou João Batista(Mc 6,14-29). 3) Herodes, chamado Agripa, governou sobre toda a Palestina de 41 a 44 depois de Cristo. Aparece nos Atos dos Apóstolos(At 12,1.20). Matou o apóstolo Tiago(At 12,2).
Quando Jesus tinha mais ou menos quatro anos, morreu o rei Herodes. Aquele que matou as crianças de Belém (Mt 2,16). O território dele foi dividido entre os filhos. Arquelau, um dos seus filhos, recebeu o governo sobre a Judeia. Ele era menos inteligente que o pai, mas mais violento . Só na tomada de posse dele, foram massacradas em torno de 3000 pessoas na praça do Templo! O evangelho de Mateus informa que Maria e José, quando souberam que este Arquelau tinha assumido o governo da Judeia, tiveram medo de voltar para lá e foram morar em Nazaré, na Galilea (Mt 2,22), governada por um outro filho de Herodes, chamado Herodes Antipas (Lc 3,1). Este Antipas ficou mais de 40 anos. Durante todos os trinta e três anos que Jesus viveu nunca houve mudança de governo na Galileia.
Herodes o Grande, o pai de Herodes Antipas, tinha construído a cidade de Cesaréia Marítima, inaugurada em no ano 15 antes de Cristo. Era o novo porto de escoamento dos produtos da região. Devia competir com o grande porto de Tiro no Norte e, assim, ajudar a desenvolver o comércio na Samaria e na Galileia. Por isso, já desde os tempos de Herodes o Grande, a produção agrícola na Galileia começava a orientar-se não mais a partir das necessidades das famílias como era antes, mas sim a partir das exigências do mercado. Este processo de mudança na economia continuou durante todo o governo de Herodes Antipas, mais de quarenta anos, e encontrou nele um organizador eficiente. Todos estes governantes eram subservientes. Quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era Roma, o Império.
4) Para um confronto pessoal
1) É perguntar sempre: quem é Jesus para mim?
2) Herodes quer ver Jesus. Era curiosidade mórbida e supersticiosa. Outros querem ver Jesus porque querem encontrar um sentido para a vida. E eu qual a motivação que me empurra para ver e encontrar Jesus?
5) Oração final
Cumulai-vos desde a manhã com as vossas misericórdias, para exultarmos alegres em toda a nossa vida. Que o beneplácito do Senhor, nosso Deus, repouse sobre nós. Favorecei as obras de nossas mãos. Sim, fazei prosperar o trabalho de nossas mãos (Sl 89, 14.17)
Quarta-feira, 25 de setembro-2019. 25ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
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1) Oração
Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 9,1-6)
Naquele tempo, 1Reunindo Jesus os doze apóstolos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curar enfermidades. 2Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos. 3Disse-lhes: Não leveis coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas. 4Em qualquer casa em que entrardes, ficai ali até que deixeis aquela localidade. 5Onde ninguém vos receber, deixai aquela cidade e em testemunho contra eles sacudi a poeira dos vossos pés. 6Partiram, pois, e percorriam as aldeias, pregando o Evangelho e fazendo curas por toda parte.
3) Reflexão Lucas 9,1-6
O evangelho de hoje traz a descrição da missão que os Doze receberam de Jesus. Mais adiante, Lucas fala da missão dos setenta e dois discípulos (Lc 10,1-12). Os dois se completam e revelam a missão da igreja.
Lucas 9,1-2. Envio dos doze para a missão.
“Jesus convocou os Doze, e lhes deu poder e autoridade sobre os demônios e para curar as doenças. E os enviou a pregar o Reino de Deus e a curar”. Chamando os doze, Jesus intensificou o anúncio da Boa Nova. O objetivo da missão é simples e claro: eles recebem poder e autoridade para expulsar os demônios, para curar as doenças e para anunciar o Reino de Deus. Assim como o povo ficava admirado diante da autoridade de Jesus sobre os espíritos impuros e diante da sua maneira de anunciar a Boa Nova (Lc 4,32.36), o mesmo deverá acontecer com a pregação dos doze apóstolos.
Lucas 9,3-5. As instruções para a Missão
Jesus os enviou com as seguintes recomendações: não podem levar nada “nem bastão, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas”. Não podem andar de casa em casa mas “em qualquer casa onde entrarem, fiquem aí, até se retirarem do lugar” Caso não forem recebidos, “sacudam a poeira dos pés, como protesto contra eles". Como veremos, estas recomendações estranhas para nós tem um significado muito importante.
Lucas 9,6. A execução da missão
E eles foram. É o começo de uma nova etapa. Agora já não é só Jesus, mas é todo o grupo que vai anunciar a Boa Nova de Deus ao povo. Se a pregação de Jesus já dava conflito, quanto mais agora, com a pregação de todo o grupo.
Os quarto pontos básicos da missão
No tempo de Jesus havia vários outros movimentos de renovação: essênios, fariseus, zelotes. Também eles procuravam uma nova maneira de conviver em comunidade e tinham os seus missionários (cf. Mt 23,15). Mas estes, quando iam em missão, iam prevenidos. Levavam sacola e dinheiro para cuidar da sua própria comida. Pois não confiavam na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus receberam recomendações diferentes que nos ajudam a entender os pontos fundamentais da missão de anunciar a Boa Nova:
1) Devem ir sem nada (Lc 9,3; 10,4). Isto significa que Jesus os obriga a confiar na hospitalidade. Pois quem vai sem nada, vai porque confia no povo e acredita que vai ser recebido. Com esta atitude eles criticam as leis de exclusão, ensinadas pela religião oficial, e mostravam, pela nova prática, que tinham outros critérios de comunidade.
2) Devem ficar hospedados na primeira casa até se retirar do lugar (Lc 9,4; 10,7). Isto é, devem conviver de maneira estável e não andar de casa em casa. Devem trabalhar como todo mundo e viver do que recebem em troca, “pois o operário merece o seu salário” (Lc 10,7). Com outras palavras, eles devem participar da vida e do trabalho do povo, e o povo os acolherá na sua comunidade e partilhará com eles casa e comida. Isto significa que devem confiar na partilha. Isto também explica a severidade da crítica contra os que recusavam a mensagem: sacudir a poeira dos pés, como protesto contra eles (Lc 10,10-12), pois não recusam algo novo, mas sim o seu próprio passado.
3) Devem tratar dos doentes e expulsar os demônios (Lc 9,1; 10,9; Mt 10,8). Isto é, devem exercer a função de “defensor” (goêl) e acolher para dentro do clã, dentro da comunidade, os excluídos. Com esta atitude criticam a situação de desintegração da vida comunitária do clã e apontam saídas concretas. A expulsão de demônios é sinal de que chegou o Reino de Deus (Lc 11,20).
4) Devem comer o que o povo lhes dava (Lc 10,8). Não podem viver separados com sua própria comida mas devem aceitar a comunhão de mesa. Isto significa que, no contato com o povo, não devem ter medo de perder a pureza tal como era ensinada na época. Com esta atitude criticam as leis da pureza em vigor e mostram, pela nova prática, que possuem outro acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.
Estes eram os quatro pontos básicos da vida comunitária que deviam marcar a atitude dos missionários ou das missionárias que anunciavam a Boa Nova de Deus em nome de Jesus: hospitalidade, partilha, comunhão de mesa, e acolhida aos excluídos (defensor, goêl). Caso estas quatro exigências fossem preenchidas, eles podiam e deviam gritar aos quatro ventos: “O Reino chegou!” (cf. Lc 10,1-12; 9,1-6; Mc 6,7-13; Mt 10,6-16). Pois o Reino de Deus que Jesus nos revelou não é uma doutrina, nem um catecismo, nem uma lei. O Reino de Deus acontece e se faz presente quando as pessoas, motivadas pela sua fé em Jesus, decidem conviver em comunidade para, assim, testemunhar e revelar a todos que Deus é Pai e Mãe e que, portanto, nós, seres humanos, somos irmãos e irmãs uns dos outros. Jesus queria que a comunidade local fosse novamente uma expressão da Aliança, do Reino, do amor de Deus como Pai, que faz de todos irmãos e irmãs.
4) Para um confronto pessoal
1-A participação na comunidade tem ajudado você a acolher e a confiar mais nas pessoas, sobretudo nos mais simples e pobres?
2- Qual o ponto da missão dos apóstolos que tem maior importância para nós hoje? Por que?
5) Oração final
Afastai-me do caminho da mentira, e fazei-me fiel à vossa lei. Mais vale para mim a lei de vossa boca que montes de ouro e prata. (Sl 118, 29.72)
Terça-feira, 24 de setembro-2019. 25ª Semana do Tempo Comum. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.
- Detalhes
1) Oração
Ó Pai, que resumistes toda lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 8,19-21)
Naquele tempo, 19A mãe e os irmãos de Jesus foram procurá-lo, mas não podiam chegar-se a ele por causa da multidão. 20Foi-lhe avisado: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e desejam ver-te. 21Ele lhes disse: Minha mãe e meus irmãos são estes, que ouvem a palavra de Deus e a observam.
3) Reflexão Lucas 8,19-21
O evangelho de hoje traz o episódio em que os parentes de Jesus, inclusive sua mãe, quiseram conversar com ele, mas Jesus não lhes deu atenção. Jesus teve problemas com a família. Às vezes, a família ajuda a viver o evangelho e a participar da comunidade. Outras vezes, ela atrapalha. Assim foi com Jesus e assim é conosco.
Lucas 8,19-20: A família procura Jesus
Os parentes chegam na casa onde Jesus estava. Provavelmente tinham vindo de Nazaré. De lá até Cafarnaum são uns 40 quilômetros. Sua mãe veio junto. Eles não entram, pois havia muita gente, mas mandam recado: "Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem te ver". Conforme o evangelho de Marcos, os parentes não querem ver Jesus. Eles querem é levá-lo de volta para casa (Mc 3,32). Achavam que Jesus tinha enlouquecido (Mc 3,21). Provavelmente, estavam com medo, pois conforme a história informa, havia uma vigilância muito grande da parte dos romanos com relação a todos que, de uma ou de outra maneira, tinha liderança popular (cf. At 5,36-39). Em Nazaré na serra seria mais seguro do que na cidade de Cafarnaum.
Lucas 8,21: A resposta de Jesus
A reação de Jesus é firme: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática." Em Marcos a reação de Jesus é mais concreta. Marcos diz: “Então Jesus olhou para as pessoas que estavam sentadas ao seu redor e disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,34-35). Jesus alargou a família! Ele não permite que a família o afaste da missão: nem a família (Jo 7,3-6), nem Pedro (Mc 8,33), nem os discípulos (Mc 1,36-38), nem Herodes (Lc 13,32), nem ninguém (Jo 10,18).
É a palavra de Deus que cria a nova família ao redor de Jesus: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática.". Um bom comentário deste episódio é o que diz o evangelho de João no prólogo: “A Palavra estava no mundo, o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a conheceu. Ela veio para a sua casa, mas os seus não a receberam. Ela, porém, deu o poder de se tornarem filhos de Deus a todos aqueles que a receberam, isto é, àqueles que acreditam no seu nome. Estes não nasceram do sangue, nem do impulso da carne, nem do desejo do homem, mas nasceram de Deus. E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (João 1,10-14). A família, os parentes, não entenderam Jesus (Jo 7,3-5; Mc 3,21), não fazem parte da nova família. Só fazem parte da nova comunidade aqueles e aquelas que recebem a Palavra, isto é, que acreditam em Jesus. Estes nascem de Deus e formam a Família de Deus.
A situação da família no tempo de Jesus.
No tempo de Jesus, tanto a conjuntura política, social e econômica como a ideologia religiosa, tudo conspirava para o enfraquecimento dos valores centrais do clã, da comunidade. A preocupação com os problemas da própria família impedia as pessoas de se unirem em comunidade. Ora, para que o Reino de Deus pudesse manifestar-se, novamente, na convivência comunitária do povo, as pessoas tinham de ultrapassar os limites estreitos da pequena família e abrir-se para a grande família, para a Comunidade. Jesus deu o exemplo. Quando sua própria família tentou apoderar-se dele, reagiu e alargou a família (Mc 3,33-35). Criou comunidade.
Os irmãos e as irmãs de Jesus
A expressão “irmãos e irmãs de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso? Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos bem mais para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Não o impeçam! Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40).
4) Para um confronto pessoal
1-A família ajuda ou dificulta a sua participação na comunidade cristã?
2-Como você assume o seu compromisso na comunidade cristã sem prejudicar nem a família e nem a comunidade?
5) Oração final
Escolhi o caminho da verdade, impus-me os vossos decretos. Ensinai-me a observar a vossa lei e a guardá-la de todo o coração. (Sl 118, 30.34)
Nigéria. Bispos condenam ataques ao Papa Francisco
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No final da sua recente Plenária, os Bispos Católicos da Nigéria disseram que os ataques dirigidos ao Papa Francisco são inoportunos e os descrevem como “o proverbial mau vento que não traz nada de bom a ninguém, tendo em vista que existem outras vias mais legítimas para expressar opiniões ao Santo Padre”.
Cidade do Vaticano
A Segunda Assembleia Plenária da Conferência Episcopal da Nigéria (CBCN) teve lugar no Centro Pastoral da Divina Misericórdia, em Abeokuta, Estado de Ogun, de 11 a 20 do corrente mês de setembro.
Ataques são inoportunos
No seu comunicado, divulgado no final da Plenária, os Bispos criticam particularmente aqueles que dentro da Igreja estão a atacar o Papa Francisco. “O Santo Padre o Papa Francisco tem sido vítima de ataques nos últimos tempos. Mais preocupantes são os ataques provenientes de alguns níveis mais altos da Igreja em algumas partes do mundo. Como membros do Colégio Episcopal, do qual o Santo Padre é a Cabeça, consideramos esses ataques como o proverbial mau vento que sopra sem trazer nada de bom a ninguém, sobretudo tendo em mente que existem outras vias mais legítimas e tradicionalmente confirmadas para exprimir as nossas opiniões. ao Santo Padre”, escrevem os Bispos.
O Romano Pontífice è o sucessor de S. Pedro
Segundo os Prelados nigerianos, “para podermos conduzir o rebanho de Cristo na direção certa num mundo cheio de vozes contraditórias e confusas, nós, como Colégio, devemos falar com uma só voz. Nós reconhecemos, portanto, que "o Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é a fonte perene e visível e o fundamento da unidade tanto dos Bispos como de toda a comunidade dos fiéis". Reafirmamos a nossa fé e compromisso com o pontificado do Papa Francisco. Conseqüentemente, comprometemos-nos a dar a nossa lealdade e disponibilidade a ele no exercício do seu ministério petrino, e prometemos continuar a colaborar plenamente com ele no cumprimento do seu mandato divino como pastor da Igreja Universal”, lê-se no comunicado.
Bispos condenam xenofobia na África do Sul
No comunicado os bispos nigerianos condenam ainda os ataques xenófobos na África do Sul, e elogiam os seus colegas, os Bispos sul-africanos, por falarem clara e profeticamente, e também pela sua solidariedade para com as vítimas da xenofobia.
“Denunciamos os terríveis ataques xenófobos na África do Sul, nos quais muitos estrangeiros, incluindo nigerianos, perderam suas vidas e/ou viram suas propriedades saqueadas e/ou se sentiram forçados a fugir do país para salvar suas vidas. Condenamos as infelizes represálias sobre investimentos percebidos como sul-africanos nalgumas partes da Nigéria, pois a soma de dois erros não é a verdade! Rezamos pelo repouso eterno dos que perderam a vida e mostramos nossa proximidade para com os enlutados e aqueles que sofreram ferimentos e pesadas perdas ”, dizem os Bispos no comunicado.
Insegurança contínua na Nigéria
Os Bispos também denunciam a contínua insegurança e o desrespeito pela vida humana predominante na sociedade nigeriana. E pedem ao governo para que priorize a segurança e a estabilidade da nação. Parte da solução, segundo os Prelados, está na criação de um ambiente propício para um desenvolvimento significativo. Fonte: https://www.vaticannews.va
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