OLHAR CARMELITANO: Fatos da Vida de Teresinha
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A visão da Igreja
No tempo de Santa Teresinha, no fim do século passado, na França, a visão de igreja que predominava era proveniente do rigorismo do Jansenismo. Deus ficou distante. Um Deus exigente e moralista. A vida comunitária do Carmelo era marcada por esta visão de Deus. Havia um manual, feito em 1842, chamado “O Tesouro do Carmelo”. Era um resumo da espiritualidade dos mosteiros da França. Mistura proveniente de Santa Teresa e do Cardeal Bérulle. Tinha forte influência do rigorismo de Jansênio. O uso frequente deste manual fez com que não se liam os grandes mestres espirituais. De S. João da Cruz só se lia a Subida do Monte Carmelo. Espiritualidade rigorista, ascética, moralista e individualista. Na Biblioteca do mosteiro de Lisieux só havia um único exemplar da Bíblia traduzida para o francês e este nem sequer era completo, pois faltavam os livros deuterocanônicos. Para uma irmã poder ler a Bíblia precisava de licença da superior.
Teresinha nasce e cresce dentro deste contexto. Quando ela está no fim da sua vida, a gente capta dos escritos dela uma visão de igreja que significa uma ruptura com este modo de ser e de viver. Para avaliar a novidade de tudo isto que apareceu na vida dela, convém não esquecer que ela era uma moça de apenas 15 anos quando entrou no convento. Ela nunca frequentou escola nenhuma. Tinha vários problemas, mas decidida em seguir a vocação que sentia dentro de si mesma.
Deus como amor e ternura.
Em Teresinha transparece uma nova imagem de Deus, fruto da sua experiência. O seu jeito de lidar com Deus era uma crítica ao jansenismo. Na história de uma alma a gente consegue seguir mais ou menos a gênese desta novidade. A experiência da vivência do próprio pai, o trauma que viveu com a perda da mãe. A experiência vivida na noite de Natal em que de repente conseguiu superar o seu problema afetivo e ter um domínio maior.
Ela soube viver todos estas aspectos da sua vida em estreita ligação com a sua fé. Ela fazia da sua vida pessoal o que nós tentamos fazer hoje: ligar fé e vida. E houve uma iluminação mútua. Talvez aqui esteja uma das maiores contribuições de Teresinha: a nova imagem de Deus e a repercussão que isto tem na vida pessoal e comunitária das pessoas.
No coração de minha mãe a igreja eu serei o amor
Por exemplo, lendo sua vida, como jovem, sentia impulsos grandes e desejos enormes. Ela queria ser tudo ao mesmo tempo e percebia que isto não era possível. Mas por outro lado pensava, se este desejo existe em mim, deve haver um caminho para realiza-lo. Lendo a Bíblia, ela descobriu: “N coração de minha mãe a Igreja, eu serei o amor!”
Cinco anos com o Papa Francisco
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O primeiro Papa jesuíta, primeiro proveniente das Américas, primeiro com o nome do Pobrezinho de Assis, Francisco, 265º Sucessor de Pedro, deseja uma Igreja com as portas abertas que saiba anunciar a todos a alegria do Evangelho.
Sergio Centofanti, Silvonei José – Cidade do Vaticano
Cinco anos atrás, no dia 13 de março de 2013, era eleito Papa Francisco. Alguns dados para sintetizar esses anos de Pontificado: duas encíclicas (Lumen fidei, sobre a fé, que continua o que fora escrito por Bento XVI e Laudato si, sobre o cuidado da casa comum, preservar a Criação não é dever dos verdes, mas dos cristãos), duas Exortações apostólicas (Evangelii gaudium, texto programático do Pontificado para uma Igreja em saída, fortemente missionária, e Amoris laetitia sobre o amor na família), 23 Motu próprio (reforma da Cúria Romana, gestão e transparência econômica, reforma do processo de nulidade matrimonial, tradução de textos litúrgicos, com indicações para uma maior descentralização e mais poderes às Conferências Episcopais), dois Sínodos sobre a família, um Jubileu dedicado à Misericórdia, 22 viagens internacionais com mais de 30 países visitados e 17 visitas pastorais na Itália, 8 ciclos de catequese na audiência geral das quartas-feiras (Profissão de fé, Sacramentos, Dons do Espírito Santo, Igreja, família, misericórdia, esperança cristã, Santa Missa), quase 600 homilias sem texto nas Missas em Santa Marta, mais de 46 milhões de seguidores no Twitter e mais de 5 milhões no Instagram. Sem contar os inúmeros discursos, mensagens e cartas, e os milhões de homens, mulheres e crianças de todo o mundo, encontrados, abraçados, acariciados.
Uma igreja com as portas abertas
O primeiro Papa jesuíta, primeiro proveniente das Américas, primeiro com o nome do Pobrezinho de Assis, Francisco, 265º Sucessor de Pedro, deseja uma Igreja com as portas abertas que saiba anunciar a todos a alegria e a frescor do Evangelho. Uma igreja acolhedora, “onde há espaço para todos com sua vida fadigada”, não um dogma que controle a graça em vez de facilitá-la. Uma Igreja que corra o risco de ser “ acidentada, ferida e suja” para chegar e estar no meio do povo, em vez de uma Igreja doente pelo fechamento e o conforto de se apegar às suas próprias seguranças”. Pede para abandonar um estilo defensivo e negativo, de mera condenação, para propor a beleza da fé, que é encontrar Deus.
O Espírito Santo perturba
O convite de Francisco é um convite para deixar-se surpreender pelo Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da Igreja, que continua a falar e a nos contar coisas novas. Uma das palavras fortes do Pontificado, Francisco a pronunciou em Istambul em novembro de 2014: o Espírito Santo “perturba”, porque “move, faz caminhar, empurra a Igreja a ir para frente”, enquanto é muito mais fácil e mais seguro” reclinar-se nas próprias posições estáticas e inalteradas”. É muito mais reconfortante acreditar que a verdade seja “possuir” um pacote de doutrinas, muito bem confeccionado, que possamos gerenciar bem, ao invés de pertencermos nós mesmos à Verdade: é o Espírito que nos guia à verdade toda inteira. O cristão ainda tem muito a aprender porque Deus revela-se cada vez mais. Tanto que Francisco pode dizer que ele tem muitas dúvidas: “em um sentido positivo” - explica – “são um sinal de que queremos conhecer melhor Jesus e o mistério de seu amor por nós”. “Essas dúvidas nos fazem crescer”. Também Pedro, diante dos pagãos pôde dizer: ““Estou compreendendo que Deus não faz discriminação entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (Atos 10: 34-35). Cresce a inteligência da fé.
Papa de direita ou de esquerda?
Inicialmente, todos ou quase falavam bem de Francisco. Aos poucos as críticas chegaram. Uma boa notícia recordando as palavras de Jesus: “Ai de vocês quando todos falarão bem de vocês”. A direita acusa o Papa de ser comunista, porque ele ataca o atual sistema econômico liberal: “é injusto na raiz”, “esta economia mata”, prevalece a “lei do mais forte” que “come o mais fraco”. E fala demais sobre os migrantes e sobre os pobres: hoje “os excluídos não são só explorados, mas são resíduos, são restos”. A esquerda, acusa o Papa de estar parado em questões éticas: defende a vida, contra o aborto e a eutanásia: “não é ser progressista pretender resolver problemas eliminando uma vida humana”. Defende a família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher, condena a teoria do gênero, “erro da mente humana” e a ditadura do pensamento único e as colonizações ideológicas, também nas escolas, que correm o risco de se tornarem campos de reeducação. Ele adverte sobre questões da diminuição do direito à objeção de consciência. Ele observa a proliferação de direitos individuais, “individualistas”, diz, mas sem se preocupar com os deveres, e enquanto se fala de novos direitos - afirma - há pessoas que ainda passam fome.
Crítica interna
Aumentaram também as críticas dentro da Igreja. Há quem que até mesmo chama de herege o Papa, que diz que rompe com a Tradição secular da Igreja, que se irrita porque “bate” em quem está perto e acaricia quem está distante; há quem o contrapõe aos Papas precedentes. No entanto, Bento XVI já havia convidado a refletir sobre o discernimento para a Comunhão aos divorciados e recasados em certos casos especiais. João Paulo II já havia respondido a Dom Lefebvre, 40 anos atrás, explicando o verdadeiro significado da Tradição que “tem origem nos Apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo”. De fato, “a compreensão, tanto das coisas quanto das palavras transmitidas, cresce (...) com a reflexão e o estudo dos crentes”. Mas é “acima de tudo contraditória” – afirmava São João Paulo II – “uma noção de Tradição que se opõe ao Magistério universal da Igreja, do qual é detentor o Bispo de Roma e o Corpo dos Bispos. Não se pode permanecer fiel à Tradição, rompendo o vínculo eclesial com o qual Cristo mesmo, na pessoa do apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na sua Igreja”. “A autodestruição ou o fogo amigo - afirma o Papa Francisco - é o perigo mais sorrateiro. É o mal que ataca de dentro; e, como disse Cristo, todo reino dividido acaba em ruínas”. O Papa cita frequentemente o diabo: é Ele que tenta destruir a Igreja. A sua “é uma guerra suja” e “nós ingénuos estamos ao seu jogo”.
Canteiros abertos
Duas ações fortemente promovidas por Francisco estão ainda em andamento: a primeira é a reforma da Cúria, devido à complexidade da reorganização de uma instituição secular (“fazer reformas em Roma é como limpar a Esfinge do Egito com uma escova de dentes” disse o Papa, citando Dom De Mérode). Mas também os escândalos, como Vatileaks2, não detém Bergoglio. A segunda ação é a luta contra os abusos sexuais na Igreja. Alguns membros da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, criada por Francesco, renunciaram, denunciando resistências e atrasos. O Papa reitera a “tolerância zero” porque “não há lugar no ministério para aqueles que abusam de crianças”. E vai avante.
Diplomacia da paz
Francisco promove a cultura do encontro, em campo ecuménico, inter-religiosos, na frente social e política e no nível meramente humano. Ele se move em direção à unidade, mas sem cancelar as diferenças e as identidades. Importante o seu papel no desgelo entre os Estados Unidos e Cuba, assim como no processo de paz na Colômbia e na África Central. Ataca quem fabrica e vende armas. Ao mesmo tempo denuncia fortemente as perseguições dos cristãos, talvez hoje mais graves do que ontem, no “silêncio cúmplice de tantas potências” que podem detê-las. Lança apelos contra o tráfico de seres humanos, “uma nova forma de escravidão”.
Tempo de misericórdia, mas até um certo ponto
É incontestável que a palavra central deste pontificado seja “misericórdia”: é o sentido da Encarnação do Verbo. É uma palavra que escandaliza. Francisco percebe isso. Deus é excessivo no amor pelas suas criaturas. No entanto, há um limite: a corrupção. O corrupto é quem não sabe que é corrupto, que recusa a misericórdia divina. E Deus não se impõe. Existe um juízo final. É por isso que o Papa sempre propõe o capítulo 25 do Evangelho de Mateus: “Eu estava com fome e você me deu comer...”. No ocaso da vida, seremos julgados pelo amor.
Menos clericalismo na Igreja, mais espaço aos leigos, mulheres e jovens
Francisco se opõe ao clericalismo, porque o pastor deve “servir” e ter “o cheiro das ovelhas”. Ele afirma que os leigos devem descobrir cada vez mais sua identidade na Igreja: eles não devem permanecer à margem das decisões. Basta com os “bispos piloto”. Relança o papel das mulheres, mas olhando para o seu mistério, não à sua funcionalidade: não se trata de uma luta pelo poder ou de reivindicações impossíveis, como o sacerdócio. Trata-se de refletir sobre a hermenêutica da mulher porque - reitera - Maria é mais importante do que os Apóstolos. Convida os jovens a terem um maior protagonismo e a incomodarem os pastores com sua criatividade.
Evangelizadores com Espírito
O Papa pede a todos os cristãos que sejam “evangelizadores com Espírito” para “anunciar a novidade do Evangelho com audácia, em voz alta e em todos os momentos e lugares, também contracorrente”, tocando “a carne sofrida dos outros”, dando “razão da nossa esperança, mas não como inimigos que apontam o dedo e condenam”. “Se eu consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor - afirma Francesco - isso já é suficiente para justificar o dom da minha vida”. Fonte: http://www.vaticannews.va
Dom Oscar Romero e Paulo VI serão canonizados juntos
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No dia 06 de março de 2018, o Papa Francisco autorizou a promulgação dos decretos que reconhecem os milagres atribuídos, respectivamente, à intercessão do beato Paulo VI e do beato Óscar Arnulfo Romero, o arcebispo de El Salvador que foi assassinado enquanto celebrava a missa. Para o papa que conduziu os trabalhos do Concílio e para o pastor mártir que se tornou o símbolo da defesa dos últimos, as portas da canonização se abriram. A informação foi dada por Stefania Falasca no jornal Avvenire. E reforça-se a hipótese de uma proclamação durante a mesma cerimônia em outubro, no final do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens. A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 07-03-2018. A tradução é de André Langer.
No dia 6 de fevereiro passado, a reunião dos cardeais e bispos do dicastério expressou por unanimidade o seu parecer favorável, reconhecendo o milagre que é devido à intercessão do Papa da Bréscia, ou seja, o desenvolvimento completo de uma gravidez de alto risco, da qual nasceu uma menina completamente saudável. No mesmo dia, os cardeais e bispos também aprovaram o milagre atribuído a Romero, a cura de uma mulher que estava em perigo de morte devido ao parto.
Durante as primeiras semanas de maio, acontecerá o consistório durante o qual o Papa Francisco anunciará aos cardeais a data exata da canonização. É provável que seja num dos domingos de outubro, e que a cerimônia aconteça durante o Sínodo dos Bispos(instituído precisamente por Paulo VI como uma instituição que auxilia e assessora o pontífice), dedicado nesta ocasião aos jovens.
Mas a canonização de Romero também poderá ser acontecer na América Latina. E poderá ser celebrada pelo Pontífice em janeiro de 2019 no Panamá, durante a Jornada Mundial da Juventude. Este seria o desejo dos bispos salvadorenhos, devido à importância do arcebispo martirizado na América Latina. O bispo auxiliar de San Salvador, o cardeal Gregório, disse há um ano que a canonização no Panamá “nos daria o tempo necessário para trabalhar com afinco e obter o que eu chamo de ‘milagre da paz’”.
Além das decisões sobre a data e a proclamação conjunta na mesma cerimônia (ou deslocada com a proclamação de Romero em sua terra), a harmonia entre os dois novos santos é mais do que evidente. Paulo VI foi um papa muito atento à América Latina. Montini participou, em 1968, da Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano de Medellín, que decretou a opção preferencial pelos pobres, chamando a atenção para páginas importantes da doutrina social da Igreja. Não se pode esquecer a importante encíclica ‘montiniana’ Populorum Progressio.
Romero, por sua vez, agia na linha do magistério de Paulo VI e da exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, documento ainda atual e fonte de inspiração para o próprio Papa Francisco. O arcebispo mártir conservava no coração a lembrança do último encontro com Montini: “Paulo VI apertou a mão direita e segurou-a longamente entre as suas mãos, e eu também apertei com as minhas duas mãos a mão do papa”. “Eu entendo sua difícil tarefa – disse o Papa Montini –, é um trabalho que pode ser mal interpretado e requer muita paciência e fortaleza. Mas siga em frente com coragem, paciência, força e esperança”. O Pontífice referia-se às dificuldades e às incompreensões que Romero viveu em El Salvador, onde sua proximidade evangélica com os pobres e sua defesa dos últimos foi vista como “marxista”.
Independentemente de se suas canonizações forem celebradas juntas em Roma durante o Sínodo dos Bispos em outubro, ou separadamente (Sínodo e Jornada Mundial da Juventude), os dois novos santos serão novos modelos para a Igreja, especialmente dedicados aos jovens. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
HOMILIA DO PAPA NESTA SEGUNDA, 12: “Não ser cristãos estacionados, buscar o Senhor sem medo”.
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Comentando as leituras do dia, Francisco recordou que o verdadeiro cristão não se satisfaz com a primeira graça recebida, mas vai sempre avante.
Cidade do Vaticano (12/03/2018)
O Papa Francisco começou a semana celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta. Na homilia, comentou o Evangelho do dia, em que Jesus dirige uma crítica ao funcionário do rei que vai até a Galiléia para pedir a cura do filho doente. “Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais”, é a crítica de Jesus, que parece perder a paciência com o fato de o prodígio ser a única coisa que conta:
"Onde está a fé? Ver um milagre, um prodígio e dizer: ‘Mas Tu tens a potência, Tu és Deus’, sim, é um ato de fé, mas pequenino assim. Porque é evidente que este homem tem um poder forte; mas ali começa a fé, que depois deve ir avante. Onde está o seu desejo de Deus? Porque a fé é isto: ter o desejo de encontrar Deus, encontrá-Lo, estar com Ele, ser feliz com Ele."
Mas qual é, ao invés, o grande milagre que o Senhor realiza? A primeira leitura extraída do livro do profeta Isaías explica isso, disse o Papa: “Eis que eu criarei novos céus e nova terra. Haverá alegria e exultação sem fim em razão das coisas que eu vou criar”. O Senhor atrai o nosso desejo para a alegria de estar com Ele.
"Quando o Senhor passa na nossa vida e faz um milagre em cada um de nós, e cada um de nós sabe o que o Senhor fez na sua vida, ali não termina tudo: este é o convite a ir avante, a continuar a caminhar, 'buscar a face de Deus', afirma o Salmo; buscar esta alegria."
O milagre, portanto, é somente o início e o Papa se questiona o que pensará Jesus de muitos cristãos que param ali na primeira graça recebida, que não caminham, como as pessoas que, no restaurante, se saciam com a entrada e voltam para casa sem saber que o melhor está por vir.
“Porque existem muitos cristãos parados, que não caminham; cristãos atolados nas coisas de todos os dias – bons, bons! – mas não crescem, permanecem pequenos. Cristãos estacionados: se estacionam. Cristãos enjaulados que não sabem voar com o sonho a esta bela coisa para a qual o Senhor nos chama”.
É uma pergunta que cada um pode fazer, prosseguiu Francisco. “Como é o meu desejo? (…) Busco o Senhor assim? Ou tenho medo, sou medíocre? (…) Qual é a medida do meu desejo? A entrada ou todo o banquete?” E concluiu: é importante “proteger o próprio desejo: não se ajeitar muito, ir mais além, arriscar. O verdadeiro cristão arrisca, sai da segurança”. Fonte: http://www.vaticannews.va
Pregação e hospitalidade enchem as igrejas
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"Mesmo antes de ver este relatório eu já sustentava que o necessário para termos uma paróquia de sucesso é haver uma boa pregação, uma boa música, uma comunidade acolhedora e programas para crianças. Infelizmente, esse questionário não envolveu questões sobre músicas". O comentário é de Thomas Reese, jornalista e jesuíta, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 25-08-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
No passado, as pessoas geralmente eram batizadas, se casavam e eram enterradas em sua igreja local, mas hoje cerca de metade dos americanos em algum momento de suas vidas procuram por uma nova congregação, seja em sua própria denominação, seja em outra. Isso normalmente ocorre quando elas se mudam.
Se você quiser atrair alguns desses candidatos para a sua congregação ou paróquia, o que é preciso fazer?
Segundo um estudo publicado esta semana pelo Centro de Pesquisas Pew (Pew Research Center), o que importa para as pessoas que buscam uma nova congregação é uma boa pregação, o sentimento de ser bem-vindo e o estilo de culto da congregação. Além disso, se tiverem filhos, os programas para crianças são importantes.
Ao procurar por uma nova congregação:
- 83% dos americanos dizem que a qualidade da pregação teve um papel importante na escolha da nova congregação;
- o sentimento de ser bem recebido pelos líderes da congregação é considerado importante para 79 %;
- cerca de três quartos dos entrevistados dizem que o estilo de culto foi importante na hora da escolha;
- 70 % dos participantes relataram que a localização da congregação foi importante;
- entre os casais com filhos, 65% dizem que haver programas para crianças importou na hora de escolher uma congregação.
Entre os sete fatores apresentados aos entrevistados, os cinco acima (pregação, ser bem-vindo, estilo, localização e programas educacionais para crianças) são os que mais receberam uma resposta positiva. Menos pessoas disseram ser importante ter familiares e amigos na congregação (48%) ou haver oportunidades de trabalho voluntário disponíveis (42%).
Estes são os números para todos os americanos que procuraram uma nova congregação. Os católicos diferem significativamente na relação com os protestantes.
Eles estão menos propensos a procurarem uma nova congregação (41% para os católicos, 62% para os protestantes). E mostram-se mais propensos a continuarem em sua própria denominação quando buscam uma nova congregação na comparação com os protestantes (63% contra 50%).
Os católicos que procuraram uma congregação demonstraram um percentual menor em todos os fatores analisados no estudo, exceto um deles.
Para os católicos que buscam uma nova comunidade para frequentar, o fundamental é a localização.
- Três quartos dos católicos em busca de uma nova comunidade dizem que a localização da igreja é importante. O mesmo vale para 71% dos protestantes.
- O sentimento de ser bem recebido é também menos importante para os católicos (71% contra 84%).
- Quanto à pregação, há uma diferença enorme, com 67% dos católicos dizendo que ela é importante, em contraste com os 92% dos protestantes que afirmam mesmo.
- Finalmente, o estilo de culto também é importante para a maioria dos católicos (63%), mas não no mesmo grau que é para os protestantes (79%).
De forma semelhante, na escolha de uma congregação, a presença de familiares e amigos e de oportunidades de voluntariado importa menos para os católicos (45% e 36%) do que para os protestantes (51% e 47%).
Por que a localização é tão importante para os católicos?
A importância da localização me faz lembrar de uma descoberta do Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado – CARA (departamento da Universidade de Georgetown, EUA), segundo a qual a disponibilidade de estacionamento influi na frequência às missas em regiões como Dallas, Fênix e Houston.
“Não existem paróquias em que se pode ir caminhando”, explicou ao National Catholic Reporter o padre jesuíta Thomas Gaunt, diretor-executivo do CARA. “Todos os fiéis dirigem. E eles estão sobrecarregados. É aí onde começamos a encontrar a diminuição no número de batismos.
Os dados sugerem que não é uma secularização; é a falta de estacionamento. Se a pessoa está lá com um bebê de colo, e vai ter de chegar uma hora mais cedo para tentar conseguir uma vaga para estacionar e entrar”, disse ele, o número de pessoas frequentando irá diminuir assim como estes primeiros sacramentos.
Ou talvez alguns católicos ainda acham de devem comparecer à comunidade católica mais próxima, mesmo que isso não seja mais exigido pelo direito canônico. Talvez os católicos estejam simplesmente acostumados a ir à igreja mais próxima e preferem que continue assim. Ou talvez muitos católicos enxergam pouca diferença na pregação, na hospitalidade e no estilo de culto entre as paróquias e, portanto, não esperam que esses fatores estejam em jogo quando buscam uma nova comunidade.
A Igreja Católica é uma franquia onde os católicos esperam que o produto tenha a mesma qualidade em todos os locais. Sendo iguais todas as outras coisas, os católicos vão à igreja mais próxima. Por que ir para longe?
Uma consequência disso é que 83% dos católicos que buscam uma nova congregaçãodizem que foi fácil ou muito fácil de encontrar o que queriam. Este número fica acima dos 68% entre os respondentes protestantes.
Os leitores deste artigo que se queixarem de que esses dados não refletem a sua própria experiência estão provavelmente entre os católicos mais “mimados”: estes fazem parte dos 17% para os quais é difícil encontrar uma congregação ao seu gosto.
Apesar do fato de que mais católicos destacam mais a localização do que o fazem com outros fatores, os pastores não devem se mostrar complacentes. Mais de 60% dos que buscam uma nova congregação dizem que a pregação, o sentir-se bem acolhido e o estilo de culto são importantes em suas escolhas. São números que os pastores não podem ignorar.
Além disso, não temos dados históricos para traçar uma comparação com estes resultados, mas podemos crer que as gerações anteriores foram ainda mais complacentes do que a atual geração. Nenhum cientista social se surpreenderia se, a daqui dez anos, este estudo fosse refeito e os pesquisadores descobrissem que os católicos estariam se parecendo, cada vez mais, com os protestantes em suas respostas.
Quando estão à procura de uma nova congregação, os católicos fazem uma sondagem significativa, mas menos do que os protestantes. Três quartos dos católicos participam de uma missa antes de se juntar a uma congregação, em contraste com os 90% dos protestantes que visitam os cultos com antecedência antes de se decidir.
Mais da metade (57%) dos católicos que buscam uma nova comunidade
eclesialperguntam a amigos e membros da congregação sobre a própria congregação. Mais uma vez, os protestantes estão mais propensos a perguntar a seus conhecidos (71%) do que os católicos. Os protestantes (61%) também estão mais propensos a falar com o ministro antes de se juntar à nova congregação do que os católicos (40%).
Quais as lições práticas deste estudo?
Em primeiro lugar, as paróquias precisam ter um trabalho social especial junto às pessoas que se mudam para os seus territórios. Os católicos já estão inclinados a ir à igreja local; tudo o que precisam é de um empurrãozinho. Não deveríamos esperar que eles venham ao nosso encontro; devemos ser pró-ativos e irmos ao encontro deles, porque este é um momento crítico de transição em suas vidas. As pessoas precisam se sentir bem-vindas e convidadas para frequentar a paróquia. Se elas não se sentirem assim, poderão virar as costas e não mais aparecer.
Em segundo lugar, é preciso dar espaço aos visitantes e fazê-los se sentirem acolhidos. Eles podem estar em busca de um lugar para frequentar em definitivo. Isso é particularmente importante para os paroquianos, uma vez que católicos estão menos propensos a conversar com o padre.
Em terceiro lugar, apesar do fato de sermos uma igreja sacramental, a pregação é importante para a maioria dos católicos, embora eles possam ter expectativas mais baixas quanto a seus ministros na comparação com os protestantes. Um maior cuidado deve ser dado à formação e à reciclagem dos padres para que sejam bons pregadores. Um pobre pregador significa uma igreja vazia.
O quarto fator crítico na busca por uma nova congregação é o “estilo de culto”. Infelizmente, esta questão é tão vaga no estudo realizado que é impossível saber o que tal expressão significa. Sem dúvida, cada entrevistado tinha a sua própria ideia do estilo ideal de culto que buscava em uma nova comunidade religiosa. Como consequência, as respostas não são úteis no sentido de nos dar diretrizes para o planeamento litúrgico.
Curiosamente, as paróquias que oferecem uma variedade de experiências litúrgicasparecem ser as mais bem-sucedidas. Uma missa de vigília aos sábados para famílias que têm planos para o domingo. Uma missa no começo do dia para o que trabalham (às 9h, por exemplo). Missas para famílias com crianças pequenas, uma missa mais tarde para casais mais velhos cujos filhos já saíram de casa, e uma missa dominical à noite para jovens adultos. Além disso, é claro, missas em línguas diferentes para grupos étnicos significativos. Cada missa teria o seu próprio estilo musical e de pregação. Há de se ter sorte para fazer tudo isso em uma paróquia com um único padre.
Mesmo antes de ver este relatório eu já sustentava que o necessário para termos uma paróquia de sucesso é haver uma boa pregação, uma boa música, uma comunidade acolhedora e programas para crianças. Infelizmente, esse questionário não envolveu questões sobre músicas. Se tivesse perguntado, poderíamos ter condições de pedir por um aumento no orçamento para a música litúrgica.
“Se construirmos igrejas, as pessoas virão” era a crença dos líderes eclesiásticos no passado. Esta crença está se tornando cada vez menos verdadeira hoje.
O relatório publicado e aqui analisado pode ser lido de duas formas. Por um lado, como outros estudos do Centro de Pesquisas Pew, ele mostra que a Igreja Católica está, em geral, se saindo melhor em comparação com as denominações protestantes no que diz respeito a reter seus fiéis e mantê-los felizes. Por outro lado, ele pode ser lido como um alerta que exige uma resposta vigorosa.
Não devemos ser complacentes. Se a Igreja é um hospital de campanha, como diz o Papa Francisco, podemos nos satisfazer com o fato de estarmos fazendo um trabalho melhor do o nosso vizinho da rua de baixo, mas ignorar os problemas e preocupações dos pacientes não é nem bom para o hospital nem bom para os pacientes. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Cinco sugestões para a homilia
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Foi publicado há pouco na Alemanha um livro, considerado um best-seller, de Erik Flügg, com o título provocador Die Kirche verreckt um ihrer Sprache ("A Igreja sucumbe por causa da sua linguagem"). O texto reflete sobre como deveria ser a anunciação da Igreja. O comentário é de Johann Pock, publicado por Settimana News, 23-02-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Johann Pock, teólogo e docente austríaco, professor de teologia pastoral na Faculdade Católica Teológica da Universidade de Viena, recolheu algumas indicações a partir da convicção de que, há algum tempo, a pregação é uma arte que nem todo sacerdote possui. Mas como ter certeza de que um sermão pode ser chamado de "bom"?
Os sermões (que podem ser homilias ou outras formas de intervenção nos serviços litúrgicos) - escreve J. Pock - constituem uma forma especial de linguagem espiritual no contexto das celebrações litúrgicas. O Papa Francisco expressou-se sobre isso na Exortação Apostólica Evangelii gaudium (135) em que afirma: "A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e capacidade de encontro de um pastor com o seu povo". A partir desta afirmação, J. Pock compôs para o katholisch.de (20/02/2018) as seguintes cinco sugestões:
Ser apaixonado
A anunciação do Evangelho requer pregadores animados e apaixonados. O entusiasmo e o envolvimento não são apenas estimulantes para a comunidade, mas também para aqueles que pregam. Eu também sinto a mesma alegria pelo sermão? Sinto-me feliz, como pregador, por conseguir transmitir algo da minha fé? Infundem-me alegria os rostos cheios de expectativa e uma viva comunidade litúrgica? A Boa Nova precisa de uma proclamação apaixonada e de pregadores animados. Os sermões não devem ser pacotes espirituais de pílulas soporíferas e nem mesmo discursos piedosos ou mornos. É mais um testemunho, que não deveria ser um martírio para os ouvintes, mas algo que expresse o fogo da fé do pregador.
Conhecer a Bíblia
A Bíblia representa o ponto de partida central e de referência para as pregações. A comunidade tem o direito de saber que são biblicamente fundamentadas. Portanto, não são lições científicas. As pessoas devem perceber facilmente que o pregador conhece a Bíblia. A própria Bíblia com seus gêneros literários oferece um grande exemplo: parábolas, fábulas, crônicas, cartas, discursos jurídicos, textos legais, sermões morais e histórias de milagres, ou seja, toda uma retórica de escritos que convidam a mergulhar na leitura e estimulam a imitação. Mesmo a esse respeito, vale o princípio da retórica: que não percebe nada, nada entrará em sua cabeça. Pregar geralmente significa empreender uma viagem de descoberta na Sagrada Escritura, considerar as diferentes traduções e se deixar surpreender pela Bíblia.
Chegar ao ponto
Os sermões deveriam ser curtos e atraentes, como recomendado pelo Papa Francisco. A "brevidade" depende de cada situação. O Papa Francisco fala de cerca de 10 minutos. Os hábitos de escuta das pessoas mudaram. As pessoas vêm à missa, a uma celebração, e uma parte dela, embora limitada, é composta pelo sermão. Por outro lado, os sermões breves precisam de mais preparação do que os discursos longos.
Na brevidade, surgem mais aromas. Mas não necessariamente a brevidade torna um sermão "atraente", mas sim a clareza e a compreensão dos pensamentos. Um discurso plástico, capaz de despertar imagens na mente dos ouvintes, é mais agradável do que longas e abstratas explicações.
Seja você mesmo
Uma palavra mágica na formação para a pregação é "autenticidade" ou – de forma mais familiar - "não se deveria pregar água e beber vinho". Se o anúncio e a pessoa estão em harmonia entre si, os ouvintes aceitarão até mesmo a pobreza de estilo na maneira de falar e na estrutura. No entanto, esse princípio não significa simplesmente retomar sermões de outros. Os sermões são uma mensagem que deve ter atravessado a pessoa - e isso precisa ser sentido.
Prestar atenção para a situação
Cada sermão acontece em uma determinada situação - na Missa dominical, em uma celebração sacramental ou em serviços ocasionais. De acordo com a teoria da comunicação, um pregador precisa se adaptar ao seu auditório e não o contrário. Isso é verdade se quiser conseguir alguma coisa, edificar, consolar e instruir. Portanto, já a preparação do sermão deve ser adaptada à situação (nas palavras de Rolf Zerfass é o que se chama de "bissociação", ou seja, o confronto com as diferentes circunstâncias sociais).
Mas o sermão também precisa de pregadores atuais. Isso significa não só ter a capacidade de reagir diante de uma situação incomum, mas também a confiança de que o Espírito de Deus completa o que falta para o pregador. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Papa Francisco celebra os 60 anos de vida religiosa
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Para recordar a data, o Vatican News entrevistou o Superior da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, que afirmou, que "o Papa tem uma sensibilidade social que sai pelos poros, algo que foi desenvolvido pela Companhia desde os primórdios, especialmente após o Concílio, com esse vínculo entre a promoção da fé e a luta por justiça social"
Griselda Mutual – Cidade do Vaticano
Em 13 de março de 2018 completam-se cinco anos da eleição do primeiro Papa jesuíta, do primeiro Papa proveniente da América Latina, do primeiro pontífice que não é nativo da Europa, Oriente Médio ou África do Norte.
Há sessenta anos, Jorge Mario Bergoglio ingressava na Companhia de Jesus. Era o dia 11 de março de 1958.
Como era a Companhia nos jovens anos de Bergoglio? O padre Arturo Sosa Abascal, eleito em 2016 como o XXXI Superior Geral dos Jesuítas, respondeu a esta e outras perguntas a nossa colega Griselda Mutual do Vatican News:
É uma pergunta difícil para mim, porque eu era uma criança dez anos de idade na época, porém eu estava estudando em um Colégio da Companhia de Jesus em Caracas, Venezuela. Era um momento de esperança pelo Concílio: o Concílio estava em preparação, era a etapa prévia. Era uma Companhia de Jesus no estilo como foi formada com a restauração no século XIX. No entanto, surgiram alguns elementos importantes que logo florescem no Concílio. Em particular, na Europa, surge uma profunda reflexão teológica, com outra perspectiva, mais aberta às mudanças que foram observadas no meio ambiente. Na América Latina, começava-se a falar sobre a criação de centros de ação e pesquisa social. O padre Janssens convidou todas as províncias latino-americanas a criarem centros de reflexão, pesquisa e ação social, e enviou muitos jovens jesuítas ao estudo das ciências sociais. Começa a abertura ao que chamamos lugar da enculturação na Índia, na África, na Ásia. A Companhia passa a ter interesse em lançar raízes em cada cultura. É um momento em que por fora não são vistas muitas mudanças, mas há sim esforços para encontrar uma maneira de enfrentar um mundo cada vez mais complicado. Esse foi a etapa do padre Bergoglio. Foi ordenado durante o Concílio Vaticano II com a eleição do padre Arrupe. Sua vida apostólica começa precisamente quando tudo isso aparece e dá frutos. Na América Latina, o Concílio foi uma explosão de esperança e a Igreja sentiu um vento forte que levou a procurar novos caminhos para viver a vida cristã e levou a estar mais comprometidos com a sorte dos povos. Era um período em que a América Latina estava buscando novas formas de desenvolvimento; era um momento muito entusiasmante para os jovens jesuítas da época e para aqueles os que estavam ao redor da Companhia de Jesus naquele momento.
De mais de 35 mil membros nos anos sessenta, para cerca da metade em nossos dias. Padre Arturo Sosa Abascal, por que?
É uma pergunta também difícil, porque não se pode dar uma "única" resposta. Somente dizer que a Companhia de Jesus desde suas origens, não está preocupada com os números, mas com a qualidade. Oxalá fossem muitos, mas a mentalidade não é a de buscar pessoas. Estamos preocupados em manter a qualidade dos jesuítas que decidem permanecer na SI. A Companhia nasceu com dez, depois cresceu, foi suprimida, então cresceu novamente, tudo em circunstâncias muito diferentes. Além disso, os crescimentos e reduções foram geograficamente muito desiguais, não é o mesmo fenômeno em todos os lugares. Hoje, certamente, somos menos e seremos menos nos próximos anos por razões puramente demográficas. Porém essa demografia também indica outras coisas: por exemplo, a diminuição muito forte é na Europa e nos EUA e um crescimento muito forte na África, no Sul da Ásia e no Pacífico. Isso ocorre porque a Europa experimentou um processo muito complexo de secularização, o que tem um efeito, e viveu também um processo demográfico muito diferente, ou seja, hoje há muito menos jovens na Europa do que há cinquenta anos atrás, o que faz com que mesmo as universidades consideram se podem continuar ou não. O mesmo pode ser dito dos EUA. Em contrapartida, a demografia na América Latina ou na África ou na Ásia é distinta: são predominantemente jovens continentes, com a diferença de que os católicos são minorias, ou seja, são muitos elementos. Por outro lado, eu diria que se tomássemos as obras apostólicas que a Companhia de Jesus tinha sob sua responsabilidade quando havia 35 mil jesuítas, e quantas temos agora, elas são mais agora do que antes, porque aprendemos a colaborar. Aprendemos que não podemos fazer as coisas sozinhos: não podemos e não queremos fazê-las sozinhas; e aprendemos que a Companhia vive porque é capaz de gerar outras dinâmicas e que é possível, em vez de ter um colégio com trinta ou quarenta jesuítas, ter uma rede com vinte colégios e você tem os mesmos 30 jesuítas, com muitas outras pessoas que participam na mesma missão: é outro estilo. Por isso também repito que esta é a Companhia de Jesus, isto é, aquele que vai cuidar disso é o Senhor Jesus.
Papa Francisco como Sumo Pontífice, cumpriu as expectativas da Companhia?
Não cabe a nós julgar um Papa, eu diria que deveria ser perguntado ao Papa Francisco se a Companhia correspondeu às expectativas do Papa. A Companhia de Jesus nasceu para se colocar a serviço da Igreja através do que o Papa considera que são os pontos nos quais a Companhia pode ajudar melhor com a missão da Igreja. Certamente, quisemos fazer um esforço para apoiar este Papa como fizemos com os anteriores, desde o Concílio Vaticano II que é esse ponto de referência tão importante para nós, porque com o Papa Paulo VI houve uma colaboração muito estreita. O Papa Paulo VI pediu especificamente à Companhia para trabalhar no tema da secularização, da expansão cultural e no enraizamento em outras culturas. Do mesmo modo, no longo pontificado de João Paulo II, a Companhia estava tentando ajudar no que fosse possível àquela que era essa visão mais missionária que João Paulo II queria ter na Igreja e, é claro, com o Papa Francisco, nos sentimos chamados a apoiar essa linha com a qual ele insistiu tanto, que está muito o coração dos jesuítas, que é tema do discernimento. Ele insistiu que a Igreja deve ser capaz de discernir como Deus atua na história e como nós podemos acompanhar esse processo. Nos disse na Congregação Geral, oxalá que pudéssemos contribuir para que a Igreja seja uma Igreja com maior capacidade de discernimento, mais sinodal, mais capaz de buscar as orientações de hoje, com maior integração da Igreja nesse processo.
No que se torna evidente que estamos diante de um Papa jesuíta?
Este tema é fundamental: acredito que o Papa se caracterize por essa liberdade que torna possível o discernimento, que são elementos medulares da espiritualidade inaciana que nós jesuítas buscamos viver. Sua insistência na oração, em estar realmente próximos da pessoa de Jesus, que não é apenas dos jesuítas, mas também de todos os cristãos, porém existe um modo muito específico de fazê-lo que marca a Companhia em sua formação. Também sua extraordinária sensibilidade social: o Papa tem uma sensibilidade social que sai pelos poros, algo que foi desenvolvido pela Companhia desde os primórdios, especialmente após o Concílio, com esse vínculo entre a promoção da fé e a luta por justiça social, o diálogo com todas as culturas, a abertura ao mundo. O Papa se caracteriza por ser uma das poucas figuras mundiais que realmente tem uma consciência do mundo em um sentido muito amplo e que leva em consideração acima de tudo as pessoas e povos que mais sofrem e o sofrimento do planeta. Eu acredito que ao ter tomado essa linha - que ninguém gosta - em defesa da natureza e da biodiversidade do planeta, mostra uma pessoa que esteve no que a Companhia tentou fazer nos últimos cinquenta anos.
O Santo Padre em suas viagens apostólicas geralmente reserva um espaço para conhecer seus irmãos que são membros da Companhia de Jesus: ainda existe um vínculo especial hoje?
Esta entrevista é por ocasião de lembrar os sessenta anos de sua entrada no noviciado e isso cria um vínculo que, mesmo que ele tenha bastante tempo como bispo e agora como Papa, não se perde. Esse ar familiar está lá e é bom para todos. Para ele, nas vezes que o encontrei com grupos de jesuítas, fica evidente que agrada a ele sentir-se no meio dos irmãos jesuítas. E para nós também é uma benção ter um irmão que está cumprindo este importante papel na Igreja, o que não é nada fácil neste momento da história, e muito menos como o está enfrentando Papa Francisco enfrentou. É uma maneira de reconhecer que existe um vínculo e uma maneira de dizer-nos mutuamente que contamos uns com os outros. Usufruímos, depois, quando alguém se reúne com a família, o que é sempre muito bom. Fonte: http://www.vaticannews.va
D. Ladaria: "Doutrina da fé é tarefa pastoral"
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Confira a entrevista exclusiva do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer SJ, ao Vatican News.
Cidade do Vaticano
Às vésperas do quinto aniversário de Pontificado do Papa Francisco, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer, 73, concedeu uma entrevista exclusiva ao Vatican News.
Segunda-feira, 12 de março, o arcebispo espanhol, jesuíta, apresentará uma coletânea intitulada “A Teologia do Papa Francisco”.
Em fins de janeiro, os membros da Congregação foram recebidos pelo Papa, que lhes disse que sua missão tem um rosto “eminentemente pastoral”. O que representa isso no trabalho cotidiano do arcebispo e de seus colaboradores?. Fonte: http://www.vaticannews.va
UM AMOR GRATUITO: 4º Domingo da Quaresma.
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"Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, do mesmo modo é preciso que o Filho do Homem seja levantado. Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna”.
“Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele. Quem acredita nele, não está condenado; quem não acredita, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus.”
“O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal, tem ódio da luz, e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam desmascaradas. Mas, quem age conforme a verdade, se aproxima da luz, para que suas ações sejam vistas, porque são feitas como Deus quer.”
Evangelho de João capítulo 3,14-21 (Correspondente ao Quarto domingo de Quaresma, Ano Litúrgico, ciclo B). O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Um amor gratuito
Continuamos nos preparando neste tempo para a celebração da Páscoa do Senhor. No Evangelho de hoje aparecem dois simbolismos que Jesus usa em várias oportunidades. Neste momento apresenta uma atitude que favorece a vida, a luz, e outro comportamento que leva à morte e à obscuridade.
O capítulo três do Evangelho inicia-se com um diálogo estabelecido entre Jesus e Nicodemos. O evangelista sinala que Nicodemos foi visitar Jesus à noite. Será que Nicodemos deseja permanecer oculto aos olhos dos judeus e por isso vai vê-lo durante a noite? Ele era chefe dos judeus!
João destaca este detalhe e Jesus revela-se como luz que brilha nas trevas. Nicodemos tinha ficado impressionado com os sinais que Jesus realizava e, como tantos outros, reconhece o valor profético da pessoa de Jesus.
Ao longo do evangelho aparece uma progressiva aproximação de Nicodemos a Jesus. A primeira conversa de Jesus com Nicodemos é sobre a necessidade de “nascer de novo”. Frase que num momento é entendida literalmente e Jesus tenta explicar-lhe que está falando de outra coisa, a necessidade de nascer da água e do Espírito. Mas Nicodemosnão compreende. Logo depois se estabelece o trecho sobre o qual estamos meditando neste momento.
Disse Jesus: “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto”. Moisés lembra um deus egípcio, representado por uma serpente, símbolo do bem e do mal: morte e vida. Os israelitas que tinham sido mordidos por serpentes venenosas e olhavam para a serpente levantada por Moisés no deserto, eram curados (Nm 21, 8-9).
Essa serpente erguida é um símbolo da morte de Jesus na cruz, que será elevado na cruz. Humilhado e exaltado ao mesmo tempo. Jesus é levantado no alto e recebe assim a Vida em plenitude, vida definitiva que comunica para toda a humanidade. Sua morte oferece Vida.
Por isso quem olha com olhos de fé e de amor para Jesus crucificado experimenta essa Vida definitiva que ele oferece. A cruz é a expressão suprema do amor de Deus pelos homens. A Misericórdia de Deus que nos liberta do egoísmo, da escravidão, de tudo aquilo que nos aliena e não humaniza e recebe a Vida Nova do Ressuscitado.
Assim “nasce de novo” como tinha dito anteriormente a Nicodemos. Nasce para uma vida que não morre mais e gera nele a capacidade de oferecer essa vida para outros e outras.
Assim é o amor de Deus: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. Jesus não exclui ninguém da possibilidade de participar na misericórdia de Deus. Pelo contrário.
Que sentiria Jesus quando disse estas palavras a Nicodemos? Ele sabe que não é um caminho fácil que deve percorrer, mas é esta vida definitiva, que Deus entrega por meio dele a todas as pessoas, que o alenta. Desde o início Jesus tem discussões com os fariseus, os sacerdotes, e sofre na sua própria vida a autossuficiência dos
orgulhosos, os que se consideram poderosos e experimenta a fragilidade dos pobres, os que sofrem pelas leis que os escravizam, os marginalizados. Eles são os que creem nele. Por isso dirá: “Quem acredita nele não está condenado”!
O amor de Deus que se traduz em misericórdia, num amor gratuito, que não se mede segundo méritos ou erros. Papa Francisco afirma que Deus ama as pessoas “como uma mãe” e que “A ‘compaixão’ que Deus sente pela ‘miséria humana’ é comparável à reação de uma mãe ‘diante da dor dos filhos’”.
Mas, apesar disso, há alguns que preferem as trevas à luz e por isso rejeitam Jesus, porque permanecer perto dele exige uma mudança de atitude, de critérios, de religiosidade.
E o amor de Deus não se mede pelas nossas atitudes. Permanentemente se faz presente no nosso mundo, na nossa história através de pessoas que vivem como Jesus entregando-se aos mais desprotegidos e pobres.
Nesta semana somos convidados e convidadas a aproximar-nos da luz e mudar assim aquilo que na nossa vida ainda permanece na obscuridade. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
4º Domingo do tempo da Quaresma – Ano B: Um Olhar...
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Tema do 4º Domingo da Quaresma
A liturgia do 4º Domingo da Quaresma garante-nos que Deus nos oferece, de forma totalmente gratuita e incondicional, a vida eterna.
A primeira leitura diz-nos que, quando o homem prescinde de Deus e escolhe caminhos de egoísmo e de autossuficiência, está a construir um futuro marcado por horizontes de dor e de morte. No entanto, diz o autor do Livro das Crônicas, Deus dá sempre ao seu Povo outra possibilidade de recomeçar, de refazer o caminho da esperança e da vida nova.
A segunda leitura ensina que Deus ama o homem com um amor total, incondicional, desmedido; é esse amor que levanta o homem da sua condição de finitude e debilidade e que lhe oferece esse mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim que está no horizonte final da nossa existência.
No Evangelho, João recorda-nos que Deus nos amou de tal forma que enviou o seu Filho único ao nosso encontro para nos oferecer a vida eterna. Somos convidados a olhar para Jesus, a aprender com Ele a lição do amor total, a percorrer com Ele o caminho da entrega e do dom da vida. É esse o caminho da salvação, da vida plena e definitiva.
EVANGELHO – JO 3, 14-21
O nosso texto pertence à seção introdutória do Quarto Evangelho (cf. Jo 1,19-3,36). Nessa secção, o autor apresenta Jesus e procura – através dos contributos dos diversos personagens que vão sucessivamente ocupando o centro do palco e declamando o seu texto – dizer quem é Jesus.
Mais concretamente, o trecho que nos é proposto faz parte da conversa entre Jesus e um “chefe dos judeus” chamado Nicodemos (cf. Jo 3,1). Nicodemos foi visitar Jesus “de noite” (cf. Jo 3,2), o que parece indicar que não se queria comprometer e arriscar a posição destacada de que gozava na estrutura religiosa judaica. Membro do Sinédrio, Nicodemos aparecerá, mais tarde, a defender Jesus, perante os chefes dos fariseus (cf. Jo 7,48-52). Também estará presente na altura em que Jesus foi descido da cruz e colocado no túmulo (cf. Jo 19,39).
A conversa entre Jesus e Nicodemos apresenta três etapas ou fases. Na primeira (cf. Jo 3,1-3), Nicodemos reconhece a autoridade de Jesus, graças às suas obras; mas Jesus acrescenta que isso não é suficiente: o essencial é reconhecer Jesus como o enviado do Pai. Na segunda (cf. Jo 3,4-8), Jesus anuncia a Nicodemos que, para entender a sua proposta, é preciso “nascer de Deus” e explica-lhe que esse novo nascimento é o nascimento “da água e do Espírito”. Na terceira (cf. Jo 3,9-21), Jesus descreve a Nicodemos o projecto de salvação de Deus: é uma iniciativa do Pai, tornada presente no mundo e na vida dos homens através do Filho e que se concretizará pela cruz/exaltação de Jesus. O nosso texto pertence a esta terceira parte.
MENSAGEM
No texto que nos é proposto, Jesus começa por explicar a Nicodemos que o Messias tem de “ser levantado ao alto”, como “Moisés levantou a serpente” no deserto (a referência evoca o episódio da caminhada pelo deserto quando os hebreus, mordidos pelas serpentes, olhavam uma serpente de bronze levantada num estandarte por Moisés e se curavam – cf. Nm 21,8-9). A imagem do “levantamento” de Jesus refere-se, naturalmente, à cruz – passo necessário para chegar à exaltação, à vida definitiva. É aí que Jesus manifesta o seu amor e que indica aos homens o caminho que eles devem percorrer para alcançar a salvação, a vida plena (vers. 14).
Aos homens é sugerido que acreditem no “Filho do Homem” levantado na cruz, para que não pereçam mas tenham a vida eterna. “Acreditar” no “Filho do Homem” significa aderir a Ele e à sua proposta de vida; significa aprender a lição do amor e fazer, como Jesus, dom total da própria vida a Deus e aos irmãos (vers. 15). É dessa forma que se chega à “vida eterna”.
Depois destas afirmações gerais, o autor do Quarto Evangelho vai entrar em afirmações mais detalhadas. O que é que significa, exatamente, a cruz de Jesus? Como é que a cruz gera vida definitiva para o homem?
Jesus, o “Filho único” enviado pelo Pai ao encontro dos homens para lhes trazer a vida definitiva, é o grande dom do amor de Deus à humanidade. A expressão “Filho único” evoca, provavelmente, o “sacrifício de Isaac” (cf. Gn 22,16): Deus comporta-se como Abraão, que foi capaz de desprender-se do próprio filho por amor (no caso de Abraão, amor a Deus; no caso de Deus, amor aos homens)… Jesus, o “Filho único” de Deus, veio ao mundo para cumprir os planos do Pai em favor dos homens. Para isso, incarnou na nossa história humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade, partilhou a nossa humanidade; e, como consequência de uma vida gasta a lutar contra as forças das trevas e da morte que escravizam os homens, foi preso, torturado e morto numa cruz. A cruz é o último acto de uma vida vivida no amor, na doação, na entrega. A cruz é, portanto, a expressão suprema do amor de Deus pelos homens. Ela dá-nos a dimensão do incomensurável amor de Deus por essa humanidade a quem Ele quer oferecer a salvação (vers. 16).
Qual é o objetivo de Deus ao enviar o seu Filho único ao encontro dos homens? É libertá-los do egoísmo, da escravidão, da alienação, da morte, e dar-lhes a vida eterna. Com Jesus – o “Filho único” que morreu na cruz – os homens aprendem que a vida definitiva está na obediência aos planos do Pai e no dom da vida aos irmãos, por amor.
Ao enviar ao mundo o seu “Filho único”, Deus não tinha uma intenção negativa, mas uma intenção positiva. O Messias não veio com uma missão judicial, nem veio excluir ninguém da salvação. Pelo contrário, Ele veio oferecer aos homens – a todos os homens – a vida definitiva, ensinando-os a amar sem medida e dando-lhes o Espírito que os transforma em Homens Novos (vers. 17).
Reparemos neste facto notável: Deus não enviou o seu Filho único ao encontro de homens perfeitos e santos; mas enviou o seu Filho único ao encontro de homens pecadores, egoístas, autossuficientes, a fim de lhes apresentar uma nova proposta de vida… E foi o amor de Jesus – bem como o Espírito que Jesus deixou – que transformou esses homens egoístas, orgulhosos, autossuficientes e os inseriu numa dinâmica de vida nova e plena.
Diante da oferta de salvação que Deus faz, o homem tem de fazer a sua escolha. Quando o homem aceita a proposta de Jesus e adere a Ele, escolhe a vida definitiva; mas quando o homem prefere continuar escravo de esquemas de egoísmo e de autossuficiência, rejeita a proposta de Deus e auto exclui-se da salvação. A salvação ou a condenação não são, nesta perspectiva, um prémio ou um castigo que Deus dá ao homem pelo seu bom ou mau comportamento; mas são o resultado da escolha livre do homem, face à oferta incondicional de salvação que Deus lhe faz. A responsabilidade pela vida definitiva ou pela morte eterna não recai, assim, sobre Deus, mas sobre o homem (vers. 18).
De acordo com a perspectiva de João, também não existe um julgamento futuro, no final dos tempos, no qual Deus pesa na sua balança os pecados dos homens, para ver se os há-se salvar ou condenar: o juízo realiza-se aqui e agora e depende da atitude que o homem assume diante da proposta de Jesus.
Na parte final do nosso texto (vers. 19-21), João repete o tema da opção pela vida (Jesus) ou pela morte. Ele constata que, por vezes, os homens rejeitam a proposta de Deus e preferem a escravidão e as trevas (o egoísmo, a injustiça, o orgulho, a auto-suficiência, tudo o que torna o homem infeliz e lhe impede o acesso à vida definitiva). Ao contrário, quem pratica as obras do amor (as obras de Jesus), escolhe a luz, identifica-se com Deus e dá testemunho de Deus no meio do mundo.
Em resumo: porque amava a humanidade, Deus enviou o seu Filho único ao mundo com uma proposta de salvação. Essa oferta nunca foi retirada; continua aberta e à espera de resposta. Diante da oferta de Deus, o homem pode escolher a vida eterna, ou pode excluir-se da salvação.
ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes pontos:
- João é o evangelista abismado na contemplação do amor de um Deus que não hesitou em enviar ao mundo o seu Filho, o seu único Filho, para apresentar aos homens uma proposta de felicidade plena, de vida definitiva; e Jesus, o Filho, cumprindo o mandato do Pai, fez da sua vida um dom, até à morte na cruz, para mostrar aos homens o “caminho” da vida eterna… O Evangelho deste domingo convida-nos a contemplar, com João, esta incrível história de amor e a espantar-nos com o peso que nós – seres limitados e finitos, pequenos grãos de pó na imensidão das galáxias – adquirimos nos esquemas, nos projetos e no coração de Deus.
- O amor de Deus traduz-se na oferta ao homem de vida plena e definitiva. É uma oferta gratuita, incondicional, absoluta, válida para sempre e que não discrimina ninguém. Aos homens – dotados de liberdade e de capacidade de opção – compete decidir se aceitam ou se rejeitam o dom de Deus. Às vezes, os homens acusam Deus pelas guerras, pelas injustiças, pelas arbitrariedades que trazem sofrimento e morte que pintam as paredes do mundo com a cor do desespero… O nosso texto, contudo, é claro: Deus ama o homem e oferece-lhe a vida. O sofrimento e a morte não vêm de Deus, mas são o resultado das escolhas erradas feitas pelo homem que se obstina na autossuficiência e que prescinde dos dons de Deus.
- Neste texto, João define claramente o caminho que todo o homem deve seguir para chegar à vida eterna: trata-se de “acreditar” em Jesus. “Acreditar” em Jesus não é uma mera adesão intelectual ou teórica a certas verdades da fé; mas é escutar Jesus, acolher a sua mensagem e os seus valores, segui-lo nesse caminho do amor e da entrega ao Pai e aos irmãos. Passa pelo ser capaz de ultrapassar a indiferença, o comodismo, os projetos pessoais e pelo empenho em concretizar, no dia a dia da vida, os apelos e os desafios de Deus; passa por despir o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, os preconceitos, para realizar gestos concretos de dom, de entrega, de serviço que tragam alegria, vida e esperança aos irmãos que caminham lado a lado conosco. Neste tempo de caminhada para a Páscoa, somos convidados a converter-nos a Jesus e a percorrer o mesmo caminho de amor total que Ele percorreu.
- Alguns cristãos vivem obcecados e assustados com esse momento final em que Deus vai julgar o homem, depois de pesar na balança as suas ações boas e as suas ações más… João garante-nos que Deus não é um contabilista, a somar os débitos e os créditos do homem para lhes pagar em conformidade… O cristão não vive no medo, pois ele sabe que Deus é esse Pai cheio de amor que oferece a todos os seus filhos a vida eterna. Não é Deus que nos condena; somos nós que escolhemos entre a vida eterna que Deus nos oferece ou a eterna infelicidade. Fonte: http://www.dehonianos.org
Morte e enterro na Cartuxa
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Os Cartuxos, ao morrerem, deixariam a tumba já cavada por eles próprios dia após dia. Dia após dia ter-se-iam saudado “Morrer havemos” “Já o sabemos”... São algumas das lendas desses Monges desconhecidos por escondidos.
A verdade é que entram no seu Deserto para sempre, para serem enterrados no cemitério da sua Cartuxa, mas sem pressa. Com 80 e 90 anos. Anos esperando não a morte mas a Vida Eterna.
Desfrutando do cento por um de quanto deixaram: desfrutando “do gozo e da paz do Espírito Santo”. Morrem repetindo o latim medieval: “da cella ad cœlum”, da cela ao Céu…
Em símbolo dessa passagem, o corpo vai à terra ta qual estava na cela, com o hábito branco, sem caixão. E como recebe a “pedrinha branca” do Apocalipse com o seu nome, na tumba ele não terá nome.
Viveu numa família de solitários e estes acompanham-no ao seu descanso com um funeral sóbrio mas muito sentido, pois os cantos litúrgicos a compassam o cair dos terrões sobre um rosto protegido pelo capuz fechado, para que a sua face só veja a Face de Deus. Fonte: Facebook. https://www.facebook.com/monachorumm
9 mulheres que foram exemplares para a Igreja e o mundo
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Há quem diga que a mulher não tem papéis importantes na Igreja. Entretanto, desde o início do cristianismo até a atualidade, Deus suscitou mulheres que orientaram o Povo de Deus, influenciando também no curso do Papado. Conheça 9 mulheres que foram exemplares para a Igreja.
1- A Virgem Maria
“Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4), disse Jesus à sua Mãe nas Bodas de Caná, em um casamento ao qual ambos tinham sido convidados. Cristo escutou sua mãe, a primeira mulher que acolhe o Senhor e motiva o primeiro milagre conhecido da vida pública de Jesus.
Os primeiros séculos do cristianismo estão cheios de mulheres corajosas que não duvidaram em dar sua vida por Cristo, incentivando os demais cristãos a não fraquejar quando lhes chega o momento.
2- Santa Hildegarda de Bingen
Mais tarde, durante a Idade Média, a Igreja já não era perseguida, mas vivia-se uma cultura machista, própria da época. Isto não foi impedimento para Santa Hildegarda de Bingen (1098-1179), religiosa beneditina de origem alemã, que chegou a ter uma séria de visões místicas.
Escreveu obras teológicas e de moral com notável profundidade e foi declarada Doutora da Igreja por Bento XVI no ano 2012, junto com São João d’Ávila. Sua popularidade fez com que muitas pessoas, entre bispos e abades, lhe pedissem conselhos.
“Quando o imperador Federico Barbarroja provocou um cisma eclesial, opondo 3 antipapas ao Papa legítimo, Alexandre III, Hildegarda, inspirada em suas visões, não hesitou em recordar-lhe que também ele, o imperador, estava submetido ao juízo de Deus”, contou o Papa Bento XVI em sua audiência geral sobre esta santa em 2010.
3- Santa Catarina de Sena
Posteriormente, apareceria outra mística e Doutora da Igreja, Santa Catarina de Sena (1347-1380), que vestiu o hábito da ordem terceira de Santa Domingo. Nesta época, os Papas viviam em Avignon (França) e os romanos se queixavam de ter sido abandonados por seus bispos, ameaçando com o cisma.
Gregório XI fez um voto secreto a Deus de regressar a Roma e ao consultar Santa Catarina, ela lhe disse: “Cumpra com sua promessa feita a Deus”. O Pontífice ficou surpreso porque não tinha contado a ninguém sobre o voto e, mais tarde, o Santo Padre cumpriu sua promessa e voltou para a Cidade Eterna.
Mais tarde, no pontificado de Urbano VI, os cardeais se distanciaram do Papa por seu temperamento e declararam nula sua eleição, designando Clemente VII, que foi residir em Avignon. Santa Catarina enviou cartas aos cardeais pressionando-os a reconhecer o autêntico Pontífice.
A Santa também escreveu a Urbano VI, exortando-o a levar com temperança e alegria os problemas, controlando o temperamento. Santa Catarina foi a Roma, a pedido do Papa, que seguiu suas instruções. A Santa também escreveu aos reis da França e Hungria para que deixassem o cisma. Toma uma mostra de defesa do papado.
4- Santa Teresa de Jesus
Com a aparição do protestantismo, a Igreja se dividiu e foi realizado o Concílio de Trento. Estes são os anos de Santa Teresa de Jesus (1515-1582), religiosa contemplativa que marcou a Igreja com sua reforma carmelita.
Apesar de ter sido incompreendida, perseguida e até acusada na Inquisição, seu amor a Deus a impulsionou a fundar novos conventos e a optar por uma vida mais austera, sem vaidades, nem luxos. Submersa muitas vezes em êxtases, nunca deixou de ser realista.
Sendo Santa Teresa D’Ávila relativamente inculta, dialogava com membros da realeza, pessoas ilustres, membros eclesiásticos e santos de sua época para lhes dar conselhos, receber ajuda e levar adiante o que havia se proposto. Tornou-se escritora mística e é também Doutora da Igreja.
5- Santa Rosa de Lima
Do outro lado do mundo, na América, mais precisamente no Peru, Santa Rosa de Lima (1586-1617) tomou Santa Catarina de Sena como modelo e se omitiu àqueles que a pretendiam por sua grande beleza, para poder viver em virgindade, servindo aos pobres e doentes.
“Provavelmente, não houve na América um missionário que com suas pregações tenha conquistado mais conversões do que as que Rosa de Lima obteve com sua oração e suas mortificações”, disse o Papa Inocêncio IX ao se referir à primeira Santa da América.
São João Paulo II disse sobre a santa que sua vida simples e austera era “testemunho eloquente do papel decisivo que a mulher teve e segue tendo no anúncio do Evangelho”.
6- Santa Teresa de Lisieux
Do amor dos santos esposos franceses Louis Martin e Zélia Guérin, canonizados em outubro de 2015, nasceu Santa Teresa de Lisieux (1873-1897), Doutora da Igreja e padroeira universal das missões.
Santa Teresa viveu somente 24 anos. Um ano depois de sua morte, a partir de seus escritos, foi publicado o livro “História de uma alma”, que conquistou o mundo porque deu a conhecer o muito que esta religiosa tinha amado Jesus.
“Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face é a mais jovem dos ‘Doutores da Igreja’, mas seu ardente itinerário espiritual manifesta tal maturidade, e as intuições de fé expressas em seus escritos são tão vastas e profundas, que lhe merecem um lugar entre os grandes professores do espírito”, disse São João Paulo II sobre esta santa.
O Papa Francisco também comentou em diversas ocasiões a profunda devoção que o une a esta santa e compartilhou em uma de suas viagens que antes de cada viagem ou diante de uma preocupação, costuma pedir “uma rosa”.
Durante a perseguição nazista no século XX, surgiu na Europa outra grande mulher, convertida do judaísmo, religiosa carmelita descalça e mártir, Santa Edith Stein, também conhecida como Santa Teresa Benedita da Cruz (1891-1942).
Junto com outros judeus conversos, foi levada ao campo de concentração de Westerbork em vingança das autoridades pelo comunicado de protesto dos bispos católicos dos Países Baixos contra as deportações de judeus.
Santa Edith foi transferida para Auschwitz, onde morreu nas câmaras de gás, junto com sua irmã Rosa, também convertida ao catolicismo, e muitos outros de seu povo.
São João Paulo II diria sobre ela: “Uma filha de Israel, que durante a perseguição dos nazistas permaneceu, como católica, unida com fé e amor ao Senhor Crucificado, Jesus Cristo, e, como judia, ao seu povo”.
8- Santa Teresa de Calcutá
O testemunho de Santa Teresa de Calcutá (1910-1997) de servir a Cristo nos “mais pobres entre os pobres” ensinou que a maior pobreza não estava nos subúrbios de Calcutá, mas nos países “ricos” quando falta o amor ou nas sociedades que permitem o aborto.
“Para poder amar, é preciso ter um coração puro e é preciso rezar. O fruto da oração é o aprofundamento da fé. O fruto da fé é o amor. E o fruto do amor é o serviço ao próximo. Isso nos conduz à paz”, dizia a também ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 1979.
Em sua canonização em outubro de 2016, o Papa Francisco disse que “Madre Teresa, ao longo de toda a sua existência, foi uma dispensadora generosa da misericórdia divina, fazendo-se disponível a todos, através do acolhimento e da defesa da vida humana, dos nascituros e daqueles abandonados e descartados. Comprometeu-se na defesa da vida, proclamando incessantemente que ‘quem ainda não nasceu é o mais fraco, o menor, o mais miserável’”.
9- Santa Gianna Beretta Molla
Para encerrar esta lista de grandes mulheres que mudaram o mundo e a história, recordamos Santa Gianna Beretta Molla (1922-1962). Esta santa italiana adoeceu de câncer e decidiu continuar com a gravidez de seu quarto filho, em vez submeter-se a um aborto, como lhe sugeriam os médicos para salvar sua vida.
Gianna estudou medicina e se especializou em pediatria. Seu trabalho com os doentes se resumia na seguinte frase: “Como o sacerdote toca Jesus, assim nós, os médicos, tocamos Jesus nos corpos de nossos pacientes”.
Casou-se com o Pietro Molla, com quem teve quatro filhos. Durante toda sua vida, conseguiu equilibrar seu trabalho com sua missão de mãe de família.
Gianna morreu em 28 de abril de 1962, aos 39 anos, uma semana depois de ter dado à luz. Foi canonizada em 16 de maio de 2004 pelo Papa João Paulo II, que a tornou padroeira da defesa da vida. Fonte: http://www.acidigital.com
Que "forma" deve assumir um padre?
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Fabrizio Valletti é o autor do artigo “A busca contínua por uma ‘forma’”, publicado pela revista italiana Presbyteri, no. 2, 2018, dos Padres Venturinos, ou seja, da Congregação de Jesus Sacerdote.
Fabrizio Valletti é jesuíta e autor do livro Un gesuíta a Scampia. Como puó rinascere una periferia degradata, depois de cumprir várias funções, foi enviado para a periferia de Nápoles. No artigo que aqui publicamos, ele explica sua ideia de "formação permanente" dos sacerdotes. O artigo é reproduzido por Settimana News, 23-02-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Confrontados com o refrão "a culpa é dos padres se a Igreja está sendo abandonada", muitas vezes a vontade é desistir. Nem vale a lembrança de todas aquelas experiências que alguns, verdadeiros pastores, insistem em levar adiante no meio de imensas dificuldades e que mostram como o Evangelho ainda esteja vivo e praticado.
Devemos passar por cima e nos colocarmos novamente em "caminho”, tentando trazer alguma ordem às ideias. Isso é o que se propõe a revista com esta edição dedicada à "formação permanente" dos sacerdotes.
Caso tenhamos encontrado algumas boas sugestões na leitura o que foi apresentado na edição anterior sobre a formação nos seminários, vale a pena não desistir e, com coragem, acompanhar o sacerdote em sua ação pastoral, que sempre precisa ser atualizada e incentivada. De nossa parte, viver uma atenção "permanente".
Trata-se justamente de se colocar em "ação" no plano cultural e espiritual. É interessante notar que muitas expressões comuns na linguagem que dizem respeito à vida espiritual e pastoral sejam palavras compostas: "voc-ação", "medit-ação", "contempl-ação", "ador-ação", "evangeliz-ação" ...
Algo importante elas têm a dizer. Por exemplo, quando nos sentimos chamados para fazer uma escolha de serviço total como a "vocação" comporta, a "avali-ação" de sua verdade e de sua "realiz-ação" plena poderá ser reconhecida na própria ação que se desdobra na vida.
Muitas vezes penso que também a ''invoc-ação" que caracteriza a nossa oração tem a sua melhor realização se formos capazes de perceber o que somos chamados a cumprir a favor dos outros, confortados nas nossas capacidades, sim importantes, mas sustentadas pela presença do espírito.
A “invoc-ação” na oração do sacerdote pode ser de fato traduzida nas respostas que devem ser dadas a quem te chama, te procura, ou entra no teu pensamento justamente quando estás em silêncio. Já me aconteceu várias vezes de ter que confortar irmãs que se confessam lamentando a distração durante a oração, lembrando a elas: "Irmã... é um sinal de que alguém está te procurando..."
Não há verdadeira humanidade se não se dá corpo ao que consideramos útil e necessário. É como fazer com que ressoe o mistério da “incarn-ação" em nós mesmos que nos tornamos a mais bela expressão da Palavra que se fez carne. Paulo não teria justamente expressado a maravilhosa intuição que nos faz partícipes de "toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo. Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo..." (Ef 1,3-4). E é na caridade que se cumpre o ato de ser um só com Cristo.
Realizar, dar cumprimento, concretude e práticas ... são todas expressões de um único design que vê na pessoa a estreita unidade entre pensamento e ação, entre espírito e corpo, entre sentimento e amor.
Como relacionar essas reflexões com a vida do sacerdote? Parece-nos que respondam à necessidade de que a sua "form-ação permanente" nasça das experiências mais vividas de encontro com aqueles que desejam servir com amor e competência. Pode ser a percepção honesta que em cada experiência seja necessária uma permanente "busca pelo melhor." Novamente, pode ser usado um neologismo, "busc-ação", em relação a uma missão que está tão ligada ao tempo em mudança, aos lugares em que vivemos e às pessoas que pretendemos encontrar.
O "o que procuras" (Jo 1,38) que Jesus pronuncia para dar responsabilidade aos discípulos do Batista que o encontram, poderia ressoar nas consciências de cada sacerdote que enfrenta uma escolha, que precisa dar sempre novas respostas nas diferentes circunstâncias da vida.
Seguir Jesus significa ser capaz de sempre identificar a "Boa Notícia", saber como encontrar a novidade libertadora, a alegria plena de uma nova comunhão e uma superação de eventuais conflitos. É o mesmo espírito de busca que move o cientista, que ilumina a criatividade do artista, que estimula o melhor serviço de caridade e uma vontade de curar as piores contradições. Resultado de uma busca que é relevante para a vivência, para a questão do sentido, para a fecundidade espiritual; é sempre algo de novo, inclusive expressão arrebatadora de uma paixão que toma forma.
É bom pensar sobre as formas mais emocionantes de expressão que acompanham as nossas vidas - dos gestos mais simples, como um aperto de mão, um abraço ou ficar de mãos dadas, até a capacidade de tecer uma relação, com a escuta, a compreensão e a solidariedade.
Para um padre é considerado óbvio que devemos nos envolver em atividades contínuas, fruto de um discernimento que responde a reais situações da vida. É justamente na "avali-ação" da sua eficácia que pode ser medido o seu "valor". Como escolher sem sucumbir ao ritmo agitado que não deixa tempo para estudar, rezar, compartilhar ideias com colegas ou coirmãos? Como responder ao sentido de uma missão que ultrapassa o simples agir por interesse e por ganhos pessoais? O serviço ao qual é chamado o sacerdote tem a característica de resumir uma série de valores que variam das capacidades humanas até a transparência do dom da Graça que lhe foi confiado pelo Espírito através da Igreja.
Seu serviço toma "forma" de acordo com as situações que encontra ao responder, aplicando aqueles recursos que a tradição apostólica antes e a evolução da experiência eclesial ao longo da sua história, colocam à sua disposição.
Falamos deliberadamente de "forma" e não de papel, de expressão sempre em vir a ser e não de práticas eclesiásticas e costumes enraizados em culturas específicas. Falamos de forma e não de formalidade. É fácil colocar ao lado do papel do padre uma série de "formalidades" que são desejadas por ele mesmo, facilmente solicitadas ou atribuídas a ele por aqueles que convivem com ele, especialmente os mais devotos e devotas.
Sua maneira de vestir, de falar, de passar o tempo... de acordo com a mentalidade de muitas pessoas devem respeitar um conjunto de regras que o distingam dos leigos comuns. Em muitas circunstâncias, é também atribuída ao padre uma imagem que pode ter pouco a ver com o seu serviço pastoral, mas que as condições sociais e culturais elaboram e exigem na busca de uma proteção ou de uma tutela que não tem nada de espiritual e de evangélica. A primeira coisa que vem à mente é que, especialmente em pequenas cidades, costuma-se associar o padre com o médico, o farmacêutico, o professor ... pessoas que se distinguem por seu nível cultural e posição social.
Desagradável é a experiência que associa o sacerdote com o homem de poder que, por seu conhecimento e relações, é capaz de "recomendar", de favorecer uma posição, um emprego, um privilégio.
A formação permanente pode então significar a busca constante para a forma correta para dar ao próprio serviço e presença entre a comunidade, um sinal de gratuidade e de liberdade acima de tudo. Uma atenção continua para não cair na armadilha da sedução que muitas formas de vida podem induzir quando se convive com elas, para não ser diferente do estilo de vida comum daqueles que frequentamos. Especialmente o ambiente burguês é como um polvo que pode condicionar com suas aparências e com aqueles descontraídos hábitos ao luxo, ao quadro do supérfluo e da ambição.
Quanta fofoca e falsa respeitabilidade estão presentes quando se frequentam os salões e as mesas bem paramentadas, mesmo na correta intenção de levar a Palavra ou o bom conselho!
A atenção permanente para sermos sinceros e eficazes portadores do bem deve ser bem vivenciada também quando encontramos e frequentamos os pobres. Estas devem ser preferidos ao dedicar o tempo e a energia, mas quanta sabedoria também é necessária! Eles também são reais fontes do bem quando mostram sua tenacidade em suportar o sofrimento de tantas privações. Eles ensinam sem saber quando acolhem oferecendo o pouco que têm. Eles próprios se tornam testemunhos da Boa Nova ao revelar uma fé e uma esperança que não está vinculada a uma afirmação pessoal, mas muitas vezes a preocupações de que seus filhos possam crescer saudáveis, que possam estudar, que os idosos sejam atendidos e que aos doentes não faltem os tratamentos necessários. Assim se colhe o essencial! Mas quanta atenção deve ser exercida para impedir que suas necessidades possam se tornar pretexto, muitas vezes agressivo. É então que descobrimos o quanto em nós é sincero o desejo de ajudar e de não criar dependência. A obra da misericórdia que o Senhor convida-nos a experimentar nunca deverá ser um motivo para o auto comprazimento, na ilusão de que podemos conquistar "pontos para o paraíso"!
É uma autêntica formação permanente conectar a ação da caridade para uma efetiva promoção de justiça, envolvendo laicos e instituições que devem ser adequadamente preparados para superar a lógica da assistência, para elaborar projetos de desenvolvimento e libertação. A sociedade oferece muitas possibilidades quando se entra em contato com as forças presentes na área, e nós podemos escolher e envolver as mais sérias e estruturadas. As melhores experiências são aqueles que nos colocam em uma relação desinteressada e eficaz com aqueles que têm mais competência e capacidades organizacionais.
Muitas vezes podemos lastimar que as instituições públicas estejam ausentes ou que sua intervenção seja inadequada. Uma intervenção de suplência pode ter a urgência de sanar situações de grave dificuldade e pobreza. Nossa tomada de consciência nasce de uma sincera emoção quando nos encontramos com pessoas reais em sua dor ou na alegre experiência de afetos verdadeiros e sinceros.
Questionamo-nos se esse seria o terreno ideal para uma justa mensagem evangélica e para um serviço que capte o mistério do Espírito de Jesus que, pela fé, sabemos estar no coração de cada um. Voltando à questão sobre qual seria a melhor "forma" para se viver e expressar no serviço de amor, que é ser padre, a baixa voz poderíamos dizer que unir a fé ao desejo de desenvolver as pessoas na sua cultura e na sua dignidade pode ser a mais bela resultante de uma formação que nunca se interrompe. Não é tão importante, então, se preocupar com a própria formação permanente, quanto contribuir a dar forma contínua e sempre nova para a humanidade que encontramos, que muitas vezes é tão distante daquela forma que o Criador pensou, antes mesmo da própria criação para a humanidade.
A verdadeira forma torna-se um "sinal", torna-se uma oportunidade visível para compartilhar a esperança de que o mal pode ser eliminado. Mas, então, o discurso se amplia, porque envolve aquela necessidade que os sinais que a Igreja oferece, como os sacramentos, não podem estar distanciados de vida das pessoas. Não podem estar tão distanciados da vivência das pessoas e apenas simbolicamente representativos, de modo que não consigam comunicar a sua verdadeira razão de ser. O discurso continua e requer que a formação-atenção seja permanente! Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Papa Paulo VI e Dom Romero serão em breve santos
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Paulo VI e Dom Romero serão santos. Papa autoriza os Decretos
O Papa Francisco recebeu em audiência sábado passado o prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Card. Angelo Amato, durante a qual autorizou os Decretos referentes a Paulo VI e Dom Romero.
Cidade do Vaticano -
Paulo VI e Dom Romero serão santos: o Papa Francisco autorizou a Congregação das Causas dos Santos a promulgar os Decretos que reconhecem os milagres atribuídos à intercessão dos Beatos Paulo VI e Oscar Arnolfo Romero Galdámez.
O próprio Papa já havia anunciado que Paulo VI seria canonizado até o final do ano, durante seu encontro com os párocos de Roma em 15 de fevereiro passado. Naquela ocasião, o Papa disse que Paulo VI foi corajoso em seu ‘humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja’.
Humildade e coragem
Giovanni Battista Montini nasceu em Concesio, Bréscia, na região italiana da Lombardia, e foi ordenado aos 22 anos.
Doutor em filosofia, direito civil e direito canônico, serviu a diplomacia da Santa Sé e a pastoral universitária italiana. A partir de 1937, foi colaborador direto do Papa Pio XII. Durante II Guerra Mundial, no Vaticano, se ocupou da ajuda aos refugiados e aos judeus.
Em 1954, foi nomeado arcebispo de Milão. Criado cardeal pelo Papa João XXIII em 1958, participou nos trabalhos preparatórios do Concílio Vaticano II.
Em 21 de junho de 1963 foi eleito Papa. Paulo VI escreveu sete encíclicas, entre as quais a ‘Humanae vitae’ (1968) e a ‘Populorum progressio’ (1967).
Foi o primeiro Papa a fazer viagens internacionais, tendo visitado Terra Santa, EUA, Índia, Portugal, Turquia, Filipinas e Austrália, dentre outros.
Na homilia de beatificação de Paulo VI, em 19 de outubro de 2014, Francisco disse que “enquanto se perfilava uma sociedade secularizada e hostil, ele soube reger com clarividente sabedoria – e às vezes em solidão – o timão da barca de Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor”.
“Verdadeiramente Paulo VI soube «dar a Deus o que é de Deus»”, disse Francisco.
Bispo dos pobres
O outro futuro grande santo é Beato Oscar Arnolfo Romero Galdámez, Arcebispo de San Salvador e mártir.
Dom Oscar Romero nasceu em Ciudad Barrios (El Salvador) em 15 de agosto de 1917 e foi assassinado na capital salvadorenha em 24 de março de 1980.
O Papa Francisco enviou uma carta ao Arcebispo de San Salvador por ocasião da beatificação de Dom Romero em 23 de maio de 2015. Assim o Pontífice recordou o legado do futuro santo:
“Em tempos de convivência difícil, D. Romero soube guiar, defender e proteger o seu rebanho, permanecendo fiel ao Evangelho e em comunhão com a Igreja inteira. O seu ministério distinguiu-se por uma atenção especial aos mais pobres e aos marginalizados. E no momento da sua morte, enquanto celebrava o Santo Sacrifício do amor e da reconciliação, recebeu a graça de se identificar plenamente com Aquele que entregou a vida pelas suas ovelhas. (...) D. Romero convida-nos ao bom senso e à reflexão, ao respeito pela vida e à concórdia. É necessário renunciar à «violência da espada, do ódio», e viver «a violência do amor, que nos deixou Cristo pregado numa cruz, aquela que cada um deve fazer a si mesmo para vencer os próprios egoísmos e a fim de que não haja desigualdades tão cruéis entre nós»." Fonte: http://www.vaticannews.va
A hora dos leigos? Mas de que leigos se está falando?
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Cesar Kuzma
“Diante de algumas manifestações e expressões que estamos vendo atualmente, vale lançar outra pergunta: de que leigos exatamente se fala e se espera nesta hora? Se o futuro da Igreja passa pelo viés dos leigos, como se diz, há nesta afirmação uma intenção eclesiológica, mas é necessário ficar atento para não se desviar da atenção primeira e para fazer clarear a novidade que se percebe e se propõe”, escreve Cesar Kuzma, teólogo leigo, casado e pai de dois filhos, doutor em Teologia pela PUC-Rio, onde atua como professor-pesquisador do Departamento de Teologia, atual presidente da SOTER (2016-2019) e autor de livros e artigos sobre a teologia do laicato, como Leigos e Leigas, Ed. Paulus, 2009.
“Fico ofendido e chateado com algumas manifestações grosseiras e descomprometidas com uma causa verdadeira – afirma o teólogo. Onde há divisão não pode haver o Espírito. Onde há certezas não há espaço para a fé. Onde há ódio, não se pode viver o amor. Acho uma pena que em pleno Ano do Laicato tenhamos que presenciar tais atitudes e comportamentos, alimentados por uma estrutura clericalista farisaica que olha mais a lei que a pessoa”.
Eis o artigo.
A hora dos leigos? Sim, foi o que se pensou com o Concílio Vaticano II e, em 2016, o Papa Francisco resgatou esta ideia dos teólogos conciliares e disse praticamente a mesma coisa, em uma carta enviada ao Cardeal Marc Ouellet. Para o Papa, uma hora que está tardando a chegar.
No entanto, diante de algumas manifestações e expressões que estamos vendo atualmente, vale lançar outra pergunta: de que leigos exatamente se fala e se espera nesta hora? Se o futuro da Igreja passa pelo viés dos leigos, como se diz, há nesta afirmação uma intenção eclesiológica, mas é necessário ficar atento para não se desviar da atenção primeira e para fazer clarear a novidade que se percebe e se propõe. Por certo, não estamos à espera de leigos clericalistas, obsessivos e extremamente fundamentalistas, que caem num moralismo radical e inconsequente, e doutrinariamente incitam mais o ódio e a falta de comunhão eclesial, que carecem de um bom senso, desrespeitando expressões, participações e membros da mesma Igreja, recusando a intenção do Concílio que lançou esta espera, ao reafirmar, com toda a Tradição, que a Igreja é Mistério e é Povo de Deus (Lumen Gentium), e que deve estar atenta aos sinais dos tempos (Gaudium et Spes). O Concílio trouxe ao leigo autonomia e corresponsabilidade na missão, podendo este agir e atuar de um modo próprio, contudo no viver de uma koinonia e em busca de uma maturidade que se abre à ação do Espírito e se empenha em seguir os passos de Jesus, agindo no tempo e na história para fazer acontecer de modo antecipado, escatologicamente, a construção do Reino prometido e esperado.
Neste ano em que a Igreja do Brasil vive o Ano do Laicato, faz-se necessário se ater ao que se quis no Documento 105 da CNBB, que traz os leigos como sujeitos da Igreja e do Mundo. E diz isso sem cair numa separação de realidades (Igreja e Mundo), mas fundamentado pelo Vaticano II e demais documentos pós-Conciliares, entendendo o compromisso da Igreja no mundo, não como um confronto, mas como um diálogo, onde ela é mestre e pode ensinar, mas também se insere e se encarna nas realidades, e pode aprender. Isso não é um demérito da sacralidade da Igreja, mas é a percepção da nossa vulnerabilidade na história, nos fazendo lembrar que não se pode absolutizar nenhum modelo, pois somos, como Igreja, sinal e testemunhas de algo maior, que transcende a todos e cada tempo, e que nos aponta para o absoluto da nossa existência e de toda a história, onde o encontro e a experiência de fé se realizam e se consomem em Deus.
Ser sujeito eclesial, hoje, significa ser autêntico e coerente com a fé que professa (Doc. Aparecida), significa testemunhar com a própria vida em todas as realidades que se vive, buscando o encontro e o diálogo, a abertura e a mansidão, o desprendimento e a misericórdia, a alegria e o amor. Ser sujeito eclesial, hoje, não é ser conflitivo, muito menos combativo, mas é ser testemunha de uma verdade que não está nos manuais de doutrina, mas no encontro vivo com o Ressuscitado. Não é ser divisor, mas promotor de comunhão. Não é ser mestre das verdades, mas alguém atento ao mistério e disposto a sempre aprender. Não é quem acusa, mas é quem se coloca ao lado dos outros, principalmente dos pobres e daqueles que mais sofrem e são perseguidos, até mesmo pela própria fé.
A riqueza do Concílio Vaticano II e de toda a teologia do laicato que daí se decorreu é que a Igreja decide por sair das sacristias e das catedrais e parte (sai) para viver no mundo, aceitando a fraqueza da história e os limites da missão, mas entendendo que o Reino cresce pela força da ação do Espírito, jamais pela locução de um ministro ou de quem quer que seja, pois aqui, nesta terra, somos simplesmente peregrinos, servos inúteis que arriscam viver uma experiência nova e libertadora. Entende-se, também, que o Reino não é uma instituição de pedras ou de doutrinas, muito menos um boulevard de vestes e paramentos medievais que dizem muito pouco nos nossos dias, mas sim um espaço vasto de amor, justiça e paz, onde todos podem viver e se manifestar, e a harmonia prevalece, sem lágrimas e sem luto, mas numa vida que se faz nova para toda criatura. Juntamente com o Evangelho, o Concílio proclama a bem-aventurança dos pobres e dispõe uma igreja de serviço, disposta a resgatar a vida concreta e atenta aos dramas humanos. Isso não é socialismo ou comunismo, isso não é ideologia, mas é a utopia que se deve buscar a partir da experiência que fazemos na fé, alimentada na esperança e fortalecida no amor.
Esta intenção do Concílio foi recepcionada na América Latina e aqui se atualizou em uma nova linguagem, adaptada à realidade e garantindo a essência. Pensou-se uma Igreja protagonista, profética e sensível ao Continente, marcado por uma colonização massacrante, dominação estrangeira, ditaduras militares e exploração humana. Nesta Igreja os leigos foram chamados ao protagonismo e receberam de seus pastores o apoio para empreender um jeito novo, um novo canto, por vezes oprimido e por vezes festeiro, mas rico na fé que existe e insiste em se manter acesa, mesmo diante de tamanha pobreza e opressão. Este é um lado da Igreja da América Latina e é um lado da visão do laicato que se tem, sem qualquer pretensão de ser um único modelo. A Igreja torna-se una na diversidade e a variedade de rostos e carismas torna a sua identidade ainda mais bela.
Por esta razão, digo que fico ofendido e chateado com algumas manifestações grosseiras e descomprometidas com uma causa verdadeira. Onde há divisão não pode haver o Espírito. Onde há certezas não há espaço para a fé. Onde há ódio, não se pode viver o amor. Acho uma pena que em pleno Ano do Laicato tenhamos que presenciar tais atitudes e comportamentos, alimentados por uma estrutura clericalista farisaica que olha mais a lei que a pessoa. Que falta faz o frescor do Evangelho, que tem um fardo leve e um jugo suave! É impossível sustentar a fé só de doutrina e não se vive um novo ethos cristão em cima de um moralismo desatento ao íntimo humano e ao olhar social, naquilo que gritam homens e mulheres e naquilo que grita a terra. Deste modo, faz-se necessário voltar-se a Jesus, ao homem do Evangelho, ao filho de Maria e José, ao carpinteiro da vila, ao amigo de Pedro e Tiago, aquele que nos olha nos olhos e nos chama pelo nome, e cuja ação nos desconcerta e nos destrói na razão. Olhar fixamente a Jesus nos fará perceber que ele foi sujeito em seu tempo, estando mais atento às pessoas que a Lei, amando a Deus e fazendo reconhecer este amor no dom de si mesmo ao outro, de quem se fez próximo.
É a hora dos leigos? Sim, é a hora! É a hora de um povo que fala, que reza, que luta, trabalha e professa. É o povo de Deus, transformando esta terra!
Que o olhar atento a Jesus de Nazaré nos mostre o caminho e que a comunhão nos fortaleça, sempre! Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
Rezar os Salmos hoje: SALMO 2
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Frei Carlos Mesters, O. Carm
1 Por que as nações se revoltam,
e os povos conspiram em vão?
2 Os reis da terra se insurgem
e os poderosos fazem aliança
contra JHWH e contra seu Ungido:
3 “Vamos quebrar suas correntes
e libertar-nos das suas algemas!”
4 Aquele que está nos céus se ri,
o Senhor zomba deles.
5 Por isso, na sua ira, declara,
deixando-os apavorados com o seu furor:
6 “Fui eu que estabeleci o meu rei
sobre Sião, meu santo monte!”
7 Vou proclamar o decreto de JHWH:
Ele me disse: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei!
8 Pede-me e te darei como herança as nações,
e como tua propriedade os confins da terra.
9 Tu as governarás com cetro de ferro,
e as quebrarás como a potes de barro”.
10 Agora, ó reis, sede prudentes;
aceitai este aviso, juízes da terra:
11 Servi a JHWH com temor
e prestai-lhe homenagem com tremor,
12 para que não se irrite e pereçais pelo caminho,
pois sua ira se inflama de repente.
Felizes os que nele se abrigam!
Título: Tu és meu filho, minha filha! Eu hoje te gerei (Sl 2,7)
Frase: "Sirvam a JHWH com temor. Felizes os que nele se abrigam" (Sl 2,11.12)
Chave: Salmo de espiritualidade régia. Trata-se de uma oração que celebra a entronização de um rei em Jerusalém. O salmo fala de uma luta sem trégua entre os reis da terra e o projeto de Deus. Esta luta pode ser interpretada em duas perspectivas: A luta dos reis da terra e a luta pessoal de cada um de nós. A luta dos reis da terra: As monarquias daquela época traziam dentro de si o germe da exploração e do acúmulo do poder e da riqueza (1Sam 8,11-18). No povo de Deus, porém, os reis deveriam governar a partir do decreto de Deus. Apresentado como filho de JHWH, o rei devia defender o povo, promover a justiça e difundir o direito. Devia conduzir o povo através de atitudes justas e igualitárias, enfrentando com coragem as adversidades causadas pelos inimigos do decreto de Deus, e nunca favorecer os que buscam o poder, a injustiça e a opressão. Devia ir na contramão da política dos reis da terra que se revoltavam contra o decreto de Deus. A luta pessoal de cada um de nós consiste em viver a espiritualidade régia assumida no nosso batismo. Cada um de nós, como filho e filha de Deus, deve lançar-se nesta mesma luta, sendo prudente, deixando-nos corrigir pelo decreto de Deus, pela sua Palavra.
Rumo da prece
- 1-3: O tumulto da rebeldia cá em baixo, na terra.
- 4-6: A reação divertida de Deus lá em cima, no céu.
- 7-9: A decisão tomada lá em cima, no céu.
- 10-12: As conclusões a serem tiradas cá em baixo, na terra.
Trazer o salmo para dentro da vida.
1- Qual a frase deste salmo que mais me tocou e com que mais me identifiquei? Por que?
2- O espírito de competição e o desejo de poder e de riqueza levava os reis a se rebelarem contra o decreto de Deus. Até hoje este mesmo espírito faz com que as pessoas enfrentem o mundo inteiro para poder realizar os seus desejos pessoais. O projeto pessoal se impõe com mais força do que o projeto comunitário. Em você, quem leva vantagem: seu projeto pessoal ou o projeto comunitário?
3- Deus decreta: "Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei". Jesus disse: quem luta pela paz será chamado Filho de Deus (Mt 5,9). Eu luto pela paz a ponto de poder ser chamado Filho ou Filha de Deus?
4- Quais os traços do rosto de Deus que transparecem neste salmo?
TERÇA-FEIRA 6, HOMILIA DO PAPA “O Senhor nos perdoa se perdoarmos os outros”.
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Na missa matutina, o Papa Francisco advertiu para o rancor que se aninha em nosso coração e recordou que o primeiro passo para ser perdoado é se reconhecer pecador.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou na manhã de terça-feira (06/03/2018) a missa na capela da sua residência, a Casa Santa Marta. O Pontífice resumiu a mensagem proposta pela liturgia de hoje em duas expressões: “infelizmente” e “desde que”. O tema comum é o perdão, afirmou o Papa, o que é e de onde vem.
Eu pequei
A primeira Leitura é extraída do Livro do profeta Daniel. Trata-se do episódio de Azarias que, lançado ao fogo por não ter renegado o Senhor, não se lamenta com Deus pelo tratamento dispensado, não o repreende reivindicando a sua fidelidade. Continua a professar a grandeza de Deus, dizendo: “Tu sempre nos salvastes, mas infelizmente pecamos”. Acusa a si mesmo e o seu povo. E Francisco afirmou: “A acusação de nós mesmos é o primeiro passo rumo ao perdão”.
Acusar a si mesmos é parte da sabedoria cristã; não acusar os outros, não... A si mesmos. Eu pequei. E quando nós nos aproximamos do sacramento da penitência, ter isto em mente: Deus é grande e nos deu tantas coisas e infelizmente eu pequei, eu ofendi o Senhor e peço salvação. Mas se vou ao sacramento da confissão, da penitência e começo a falar dos pecados dos outros, não sei o que estou buscando: não busco o perdão. Tento me justificar. E ninguém pode justificar si mesmo, somente Deus nos justifica.
Confessar os próprios pecados
O Papa citou o caso de uma senhora que no confessionário contava os pecados da sogra, tentando se justificar, até que o sacerdote lhe disse: ‘Tudo bem, agora confesse os próprios pecados’. O Senhor quer isto, porque o Senhor recebe o coração contrito porque é como de Azarias: “Não se sentirá frustrado quem põe em ti sua confiança”, o coração contrito que diz a verdade ao Senhor: “Eu fiz isso, Senhor. Pequei contra Ti”. O Senhor lhe tapa a boca, como o pai ao filho pródigo; não o deixa falar. O seu amor o cobre. Perdoa tudo.
O Senhor nos perdoa se perdoarmos os outros
Francisco convidou a não ter vergonha de dizer os próprios pecados porque é o Senhor que nos justifica, perdoando-nos não uma vez, mas sempre: O perdão de Deus vem forte em nós desde que nós perdoemos os outros. E isso não é fácil, porque o rancor se aninha em nosso coração e sempre existe aquela amargura. Muitas vezes, carregamos conosco a lista das coisas que me fizeram: “Esta pessoa me fez isto, fez aquilo, fez aquilo outro...”.
O Papa advertiu para não se deixar escravizar pelo ódio a ponto de não conseguir perdoar e concluiu: “Essas são as duas coisas que nos ajudarão a entender o caminho do perdão: ‘O Senhor é grande, mas infelizmente eu pequei’ e ‘Sim, eu o perdoo 77 vezes desde que você perdoe os outros’. Fonte: http://www.vaticannews.va
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