Religião self servisse
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"Em uma espécie de self service, fazem seu própro prato religioso, de acordo com o gosto e a necessidade. Semelhante credo, estritamente pessoal e personalizado, tende a interiorizar-se, constituindo não raro um roby a mais na vida privada" escreve Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, assessor das Pastorais Sociais.
Eis o artigo.
Historicamente, no universo rural brasileiro, a Igreja Católica com seu templo e sua torre em destaque, no centro e no alto de povoados e pequenas cidades, representava um ponto de referência de natureza cultural e religiosa, bem como lugar de “gastar” o tempo ocioso. Além da missa e de outras funções religiosas, era em suas dependências que se realizavam as principais festas, os bailes familiares, os leilões, a apresentação dos novos filmes, os encontros, várias formas de lazer e esporte... Não poucos namoros e matrimônios começavam em suas imediações. Do nascimento à morte, a existência de cada pessoa ou família tinha o cordão umbilical ligado à matriz ou capela à qual pertencia como “fiel”.
As coisas mudam radicalmente no universo urbano. Aqui múltiplas instituições passam a oferecer o mesmo produto. Teatros, cinemas, discotecas, bares e restaurantes, clubes, shopping centers, outras Igrejas ou associações religiosas, salões de beleza – entre tantas opções diversas e diferentes – aparecem como alternativas culturais, religiosas e de lazer. Multiplicam-se às centenas os pontos de encontro ou de referência. A cidade grande ou metrópole é policêntrica não só do ponto de vista institucional, financeiro e comercial, mas também do ponto de vista cultural e religioso. Se nos fosse permito jogar com as palavras, poderíamos dizer que uma série de “botecos” diversificados “vendem” variações desses bens de caráter cultural, religioso ou de lazer. Os gostos e sabores se diversificam, ao mesmo tempo que dão origem a novos centros de troca e de encontro.
Limitando-nos ao pluralismo religioso do meio urbano, três observações emergem com certa relevância. A primeira é que muitas pessoas que nasceram em uma determinada Igreja passam a transitar livremente entre as demais, incluindo o espiritismo e as religiões de raiz africana. Trânsito tanto mais fácil devido aos meios de transporte e de comunicação. A religião, normalmente herança de família no mundo rural, torna-se na cidade uma opção pessoal. O que leva a unidade familiar, cada vez mais, a abrigar debaixo do mesmo teto membros de diferentes credos. A Igreja Católica perde a hegemonia que tinha no campo, passando a dividi-la com as demais formações religiosas.
A segunda observação tem a ver com os limites geográficos da capela, paróquia ou diocese. Nas enormes manchas urbanas de hoje, centros ou periferias, tais limites perdem a razão de ser. O carro, o ônibus, o trem, o metrô ou o telefone permitem que as pessoas se agrupem não tanto de acordo com a pertença a esta ou àquela unidade territorial, mas em função de interesses pessoais ou grupais. Interesses não necessariamente materiais, mas sobretudo de ordem religiosa, emocional, psíquica, profissional, e assim por diante. A mobilidade permite maior margem de escolha e flexibilidade. A instituição perde terreno para os chamados movimentos com base religiosa, sejam estes de natureza social, carismática ou devocional.
Por fim, a terceira observação nos conduz a um novo tipo de credo vivencial que podemos chamar de religião self service. Em que consiste? O trânsito frequente entre as diferentes opções religiosas, por um lado, e a prática de uma locomoção fácil, por outro, leva as pessoas a observarem o que se passa no interior de cada Igreja. Certas pessoas, após percorrer algumas delas, acaba decidindo-se por uma em particular. Boa parte, porém, em sua peregrinação pelas várias “religiões”, vão extraindo de uma e de outra aquilo que lhes interessa, ou aquilo de que mais necessitam em determinado momento. Com isso, em uma espécie de self service, fazem seu próprio prato religioso, de acordo com o gosto e a necessidade. Semelhante credo, estritamente pessoal e personalizado, tende a interiorizar-se, constituindo não raro um hobby a mais na vida privada. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
TUDO PASSA...
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Papa - Perante o enigma da morte manter a esperança e a fé
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(18/10/2017) Na audiência geral desta quarta-feira na Praça de São Pedro, o Papa Francisco estabeleceu uma relação entre a esperança cristã e a realidade da morte que - disse – a civilização moderna tende cada vez mais a cancelar. Assim, nos encontramos impreparados, sem um ”alfabeto” adequado para dizer palavras com sentido em volta do mistério da morte. No entanto, os primeiros sinais de civilização humana passaram precisamente por este enigma.
“Poderíamos dizer que o homem nasceu com os culto dos mortos. “
Diversas civilizações olharam com coragem para esta realidade ineludível que obrigava o homem a viver por algo de absoluto – afirmou Francisco citando o salmo 90 que diz “Ensina-nos a contar os dias e a termos um coração sábio”. Palavras – continuou o Papa – que nos chama a um são realismo, pondo de lado o delírio da omnipotência. O que somos nós? – perguntou Francisco, que respondeu com as palavras do salmo 88: “quase nada”, a vida passa como um sopro, e a morte põe a nu a nossa vida e nos mostra que os nossos atos de orgulho, de ira, de ódio não eram senão vaidade, pura vaidade. E nos damos conta, com amargura, de não ter amado suficientemente, de não ter procurado o que era essencial. Por outro lado, vemos o que de realmente bom semeamos: os afetos pelos quais nos sacrificamos e que agora nos asseguram a mão. E Bergoglio continuou:
“Jesus iluminou o mistério da nossa morte. Com o seu comportamento nos autoriza a nos sentirmos tristes quando um ente querido morre. Ele se sentiu profundamente perturbado perante o túmulo do amigo Lázaro e desatou a chorar. Nesta atitude, sentimos Jesus muito próximo, nosso irmão. Ele chorou pelo seu amigo Lázaro” .
E Jesus rezou ao Pai, fonte de vida e ordenou que Lázaro saísse do túmulo. A esperança cristã – explicou o Papa – apoia-se nesta atitude que Jesus assumiu perante a morte humana. Embora a morte esteja presente na criação é, contudo, como que uma ferida que deturpa o projeto do amor de Deus, e o Salvador quer curar essa ferida.
O Papa falou ainda doutros episódios bíblicos em que, perante a doença e a morte, as pessoas se dirigem a Jesus para que ponha remédio a isso. E Ele sugere que não se tenha medo, mas sim a manter viva a chama da fé. E diz “Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita em mim, mesmo que morra viverá; quem vive e acredita em mim, não morrerá em eterno”. Acreditas nisso?– interpelou o Papa, frisando que toda a nossa existência se joga nisto, entre o lado da fé e precipício do medo. E lançou mais uma pergunta:
“Nós aqui nesta Praça, acreditamos nisto?”
A este pergunta Francisco respondeu que perante a morte somos todos pequenos e indefesos, mas - disse - será uma graça se naquele momento tivermos no coração a chama da fé. E tal Jesus como fez com a filha de Jairo a quem disse “Talita Kum” (menina, levanta-te), também dirá a cada um de nós: “levanta-te, ressurge!”
E Francisco lançou um convite aos participantes na audiência:
“Eu vos convido, agora, a fechar os olhos e a pensar naquele momento: da nossa morte. Cada um de nós pense na própria morte, e imagine aquele momento que virá, quando Jesus nos tomará a mão e nos dirá: “vem, vem comigo, levanta-te”. Ali acabará a esperança e será a realidade, a realidade da vida. Pensai bem: o próprio Jesus virá a cada um de nós e nos tomará as mãos, com a sua ternura, a sua doçura, o seu amor. E cada um repita no seu coração as palavras de Jesus: “levanta-te, vem. Levanta-te, vem. Levanta-te, ressurge!”.
Esta é a nossa esperança perante a morte. Para quem acredita é uma porta que se abre de par em par. Para quem dúvida é um raio de luz que passa por um buraquito que não se fechou completamente. Mas para todos será uma graça, quando essa luz, do encontro com Jesus, nos iluminar – concluiu o Papa.
No final da sua reflexão bíblica, o Papa lançou este apelo relativo à Somália: Ouçamos:
“Desejo exprimir a minha dor pelo massacre acontecido há alguns dias atrás em Mogadiscio, na Somália, que causou mais de trezentos mortos, entre os quais algumas crianças. Este ato terrorista merece a mais firme deploração, também porque se perpetua sobre uma população já muito provada. Rezo pelos defuntos e pelos feridos, para os seus familiares e por todo o povo da Somália. Imploro a conversão dos violentos e encorajo quantos, com enormes dificuldades, trabalham pela paz naquela terra martirizada .”
A catequese do Papa foi resumida em diversas línguas para os grupos presentes a quem saudou. Eis a tradução da sua saudação aos peregrinos de língua portuguesa:
“Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, com destaque para os diversos grupos vindos do Brasil, em particular os fiéis da arquidiocese de Natal com o seu Pastor e os da arquidiocese de Londrina, convidando todos a permanecer fiéis a Cristo Jesus, como os Protomártires do Brasil. O Espírito Santo vos ilumine para poderdes levar a Bênção de Deus a todos os homens. A Virgem Mãe vele sobre o vosso caminho e vos proteja”. Fonte: http://pt.radiovaticana.va
Um padre na Amazônia e o Sínodo: povos indígenas precisam ir a Roma
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Luis Miguel Modino é um padre espanhol que deixou seu país para o desafio de ser missionário no Brasil no século 21. Hoje é pároco na diocese de São Gabriel da Cachoeira, uma das maiores do Brasil, com 293 mil quilômetros quadrados. É o coração da Amazônia, no Estado do Amazonas. Na diocese mais de 90% são indígenas; são 23 povos indígenas e 18 línguas, sendo o município de São Gabriel da Cachoeira o único a ter quatro línguas reconhecidas como oficiais. A entrevista é de Mauro Lopes, publicada por Caminho pra Casa, 16-10-2017.
Ele é voz mais que autorizada a falar sobre o Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia, que reunirá em 2019 bispos de todo o mundo, com especialistas e assessores e, espera-se, representantes dos povos indígenas da região. “Não imagino um Sínodosem a presença dos povos indígenas. O Papa Francisco nunca ia deixar isso acontecer. Ele tem cheiro de ovelha e suas ovelhas na Amazônia são os povos indígenas”, diz o padre Modino. Para ele, a surpreendente convocação do Sínodo “pode mudar decisivamente a presença da Igreja na Amazônia” a partir da escuta “do grito da floresta e seus povos” –leia a entrevista dele ao Caminho Para Casa, concedida inicialmente há pouco mais de uma semana e completada neste domingo depois da surpresa do Sínodo(15).
Para o sacerdote espanhol apaixonado pelo Brasil e a Amazônia, o Sínodo é uma “oportunidade” que a Igreja da região “não pode perder”. Alguns dos pontos da agenda do Sínodo, segundo ele, devem ser as “questões gritantes que hoje estão presentes na Igreja da Amazônia, como a celebração eucarística sem a presença de um ministro ordenado e uma maior e melhor presença nas comunidades indígenas”. Duas questões cruciais para o Sínodo, na visão de Modino:
1) “a Igreja da Amazônia deve escutar o povo, sobretudo os moradores originários, as populações tradicionais. Pôr em funcionamento a colegialidade que o Papa Franciscopropõe”;
2) “Tem que ser um Sínodo que brote do chão amazônico e que mesmo celebrado em Roma não respire os ares contaminados da Cúria e sim os ares puros das florestas que os povos indígenas trouxeram até nós.”
Com 46 anos de idade, Modino está no país desde os 35, em 2006. É padre diocesano de Madri e missionário Fidei Donum, e coordenador para o Brasil da Obra de Cooperação Sacerdotal para Hispanoamérica (OCSHA), organismo da Conferência Episcopal Espanhola. Durante nove anos esteve na diocese de Ruy Barbosa, no interior da Bahia, antes de instalar-se em São Gabriel da Cachoeira.
Uma prática de seu trabalho pastoral são as itinerâncias, visitas que ele realiza –de barco- às comunidades da diocese, à beira dos rios Negro e Xié, que duram em geral uma semana. As fotos que acompanham a entrevista são todas de Modino, durante as breves viagens. Ele é jornalista, correspondente no Brasil de Religión Digital, o mais relevante site católico progressista em língua espanhola do mundo, com mais de três milhões de visitas/mês.
É uma união interessante essa, a do sacerdócio com o jornalismo: “Como Igreja somos chamados a dar a conhecer aquilo que a gente do povo vive. Uma vez escutei uma afirmação que me marcou: aquilo que não é conhecido não existe. Como comunicador, penso que minha missão é mostrar ao mundo a realidade dos povos e das pessoas com quem convivo e da natureza maravilhosa que nos cerca. Escrever e fotografar é um jeito de evangelizar, de ajudar as pessoas a refletir sobre situações muitas vezes desconhecidas.”
Eis a entrevista.
Como você recebeu a notícia surpreendente da convocação do Sínodo sobre a Amazônia?
Recebi de fato como como uma grande surpresa e enorme alegria, pois pode mudar decisivamente a presença da Igreja na Amazônia. Agora cabe à Igreja da Amazônia não deixar passar esta oportunidade que a história e o Papa Francisco estão nos oferecendo.
Quais devem ser, na sua visão, os temas do Sínodo?
Em primeiro lugar, é preciso um Sínodo que escute o grito da floresta e seus povos. Tem que ser um Sínodo que brote do chão amazônico, que mesmo celebrado em Roma não respire os ares contaminados da Cúria e sim os ares puros das florestas que os povos indígenas trouxeram até nós. Espero que sejam abordadas questões gritantes que hoje estão presentes na Igreja da Amazônia, como a celebração eucarística sem a presença de um ministro ordenado e uma maior e melhor presença nas comunidades indígenas.
Os povos indígenas devem estar presentes em Roma?
Não imagino um Sínodo sem a presença dos povos indígenas. O Papa Francisconunca ia deixar isso acontecer. Ele tem cheiro de ovelha e suas ovelhas na Amazônia são os povos indígenas, em quem recentemente ele reconhecia no discurso aos bispos da Colômbia, uma “arcana sabedora”. Espero que a Rede Eclesial Pan-Amazônica(REPAM) e as dioceses da região cuidem de garantir essa presença.
E como será a preparação do Sínodo na Amazônia?
A Igreja da Amazônia deve escutar o povo, sobretudo os moradores originários, as populações tradicionais. Pôr em funcionamento a colegialidade que o Papa Francisco propõe.
Quando você chegou ao Brasil?
Cheguei ao Brasil pela primeira vez em 1999, acompanhando um grupo de jovens de uma paróquia de Madri, para visitar nossa paróquia irmã, Senhora Santana de Serrinha, Bahia, onde trabalhava como missionário um sacerdote de Madri. Após aquela experiência pedi ser enviado como missionário para o Brasil, o que finalmente aconteceu em 26 setembro de 2006, quando cheguei na diocese de Ruy Barbosa, no interior da Bahia, onde fiquei mais de nove anos.
Qual foi o impacto dessa mudança radical, da Espanha para o interior da Bahia?
Foi um tempo em que descobri outro jeito de ser Igreja, diferente daquele que vivi na Espanha. Conheci uma Igreja onde a teologia do Vaticano II se faz presente numa Igreja Povo de Deus, com protagonismo laical, uma Igreja inserida na realidade, nas questões cidadãs, que luta por vida em abundância para todos, organizada em redes de comunidades, onde as decisões das Assembleias são assumidas também pelo bispo.
Nesses anos coloquei como prioridade do trabalho missionário a formação dos leigos, sempre visando uma maior autonomia que faça possível uma melhor caminhada das comunidades. Um bom animador de comunidade faz que ela se torne instrumento do Reino na vida do povo, pois são os leigos os grandes protagonistas do trabalho cotidiano das comunidades, onde o padre não consegue estar presente no dia-a-dia.
Como é essa diocese encravada no coração da Amazônia?
Moro em Cucuí, um distrito de São Gabriel, na beira do Rio Negro, bem na fronteira entre o Brasil, a Colômbia e a Venezuela, acompanhando comunidades indígenas espalhadas pelos rios Negro e Xié. A maioria do povo pertence às etnias baré e werekena.
Navegar pelos rios ajuda a descobrir a grandiosidade da Amazônia e de uma floresta preservada excepcionalmente ao longo dos séculos. Tradicionalmente, os povos indígenas da região foram mestres em preservação ambiental, o que atualmente está em perigo. A ameaça das mineradoras está chegando. O atual prefeito de São Gabriel da Cachoeira foi eleito em base em promessas de que a chegada de mineradoras que iria trazer trabalho para o povo, o que se torna uma grave preocupação, pois nada pior poderia acontecer do que isso.
E a Igreja, diante dessa realidade?
Como Igreja somos desafiados a dar respostas mais firmes contra essas situações, a nos pronunciarmos e deixar claro que existem realidades que não podemos aceitar como cristãos. Muitas vezes a gente sente que existe certo medo na Igreja local a adotar uma postura firme, a falar alto e claro. A Igreja deve ser voz de um povo tradicionalmente oprimido e dominado por pequenos grupos de poder. Preocupar-se mais com o que acontece fora da sacristia.
O que são suas “itinerâncias”?
Um dos grandes desafios é nos fazermos presentes nas comunidades do interior. Visitando esse povo, uma das queixas é a pouca presença dos padres no meio deles. Se aparece pouco e quando a gente vai é com muita pressa, o que é totalmente contrário ao jeito de entender a vida desses povos indígenas. O povo se empenha em acolher e muitas vezes não valorizamos esse esforço, conformamo-nos com sacramentos celebrados às carreiras, enquanto o povo procura conversa, ser escutado, partilhar a vida.
Outro dos grandes desafios é a formação. Acabei de voltar de uma visita de doze dias nas comunidades do Rio Xié, onde a gente fez um encontro de formação de catequistas. Há cinco anos não acontecia um encontro desses.
Como é sua vivência na Igreja hoje?
É triste, mas é preciso constatar que o espírito capitalista tem invadido nossa Igreja. Parece que só interessam os números, e não as pessoas. Gastamos muito em estruturas e pouco naquilo que muda a vida das pessoas. No nosso caso aqui: parece que é muito mais grave deixar o povo da catedral um domingo sem missa do que deixar as comunidades do interior abandonadas durante dois anos.
E o Brasil?
Vivemos numa sociedade onde cada vez mais se privilegiam os que integram os grupos de poder. A desigualdade é cada vez maior e estamos voltando a situações que provocam angústia nos mais pobres, que aos poucos estão tendo que se preocupar em como dar um prato de comida para seus filhos no dia seguinte. Escuto o governo falar que a crise está sendo superada e me pergunto: eles pensam que ainda tem gente que acredita em suas mentiras?
Diante desta situação me questiona a passividade do povo, que não reage diante de tamanhas injustiças que sofre cada dia. Tem-se instaurado um sentimento de “não tem outro jeito” cada vez mais preocupante.
A Igreja brasileira tem tido uma posição mais firme nos últimos tempos…
Sim, tenho me surpreendido muito positivamente com a firmeza do episcopado brasileiro diante desta situação. Os pronunciamentos têm sido firmes e deixam claro de que lado a Igreja está, sobretudo a Presidência da CNBB, o que tem incomodado, e muito, ao governo. Posso dizer que a Igreja do Brasil tem voltado aos tempos pós-conciliares, com bispos profetas, que despertam gratas recordações em muitos de nós. Mas ao mesmo tempo não podemos esquecer que no Brasil também há grupos de católicos totalmente contrários a esse espírito manifestado pelos bispos.
Uma coisa é que noto, desde que cheguei no Brasil, um renascimento, talvez com outras características, do jeito de ser Igreja que vive nas comunidades eclesiais de base. Acho que esse jeito, em que se une fé e vida, está tomando corpo de novo no Brasil, segmentos expressivos do episcopado vão reconhecendo que tantas críticas contra esse modo de viver o cristianismo eram injustas.
É esse o norte do Papa Francisco, não?
O Papa Francisco nos mostra o que significa viver desde a confiança em Deus e seu projeto, um Deus que se faz gente e caminha no meio do povo, que não tem medo de enfrentar os poderosos e ser voz dos pobres e oprimidos, com quem se identifica até no modo de viver. Isso incomoda dentro e fora da Igreja. Na Igreja estão os verdadeiros inimigos de Francisco, gente que se aproveitou e aproveita da estrutura para ter vida boa enquanto ignora o sofrimento dos pobres.
Você é padre e jornalista. E revelou-se um fotógrafo dos bons. Como é esse jeito de unir sacerdócio e jornalismo?
Como Igreja somos chamados a dar a conhecer aquilo que a gente do povo vive. Uma vez escutei uma afirmação que me marcou: aquilo que não é conhecido não existe. Como comunicador penso que minha missão é mostrar ao mundo a realidade dos povos, das pessoas com quem convivo e da natureza maravilhosa que nos cerca. Escrever e fotografar é um jeito de evangelizar, de ajudar as pessoas a refletir sobre situações muitas vezes desconhecidas.
Tiro fotos dos lugares por onde vou. Na Amazônia, acho que isso ajuda a mostrar como os povos indígenas têm preservado e cuidado da Casa Comum. É uma forma de assumir as propostas e o espírito da Laudato Si' e de promover a conversão ecológica. Na era da imagem, essas fotos ajudam as pessoas a se encontrarem com o Deus Criador e a agradecer porque existem pessoas, os povos indígenas, que pensam no cuidado como atitude vital. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
300 ANOS DA SENHORA APARECIDA: Homilia do Frei Petrônio em Alagoas.
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Comemoração dos 300 Anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida nas águas do Rio Paraíba/SP. No vídeo, imagens da Comunidade Lagoa da Pedra, Lagoa da Canoa-AL, Igreja de Santa Cruz. CÂMERA: José Nunes, filho da Cleonice Nunes. Comunidade Capim, Lagoa da Canoa-AL. 12 de outubro-2017
QUARTA-FEIRA, 18: SÃO LUCAS, O PADROEIRO DOS MÉDICOS.
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Nesta quarta-feira (18), a Igreja celebra a memória litúrgica de São Lucas. Na data também é comemorado o Dia do Médico, um profissional responsável por cuidar e promover a saúde de toda a população. São Lucas é o terceiro Evangelista do Novo Testamento. Médico, tornou-se também padroeiro desses profissionais. Esse grande santo não conviveu pessoalmente com Jesus, por essa razão, a sua narrativa é baseada em depoimentos de pessoas que testemunharam a vida e a morte de Cristo.
Nascido em Antioquia da Síria, Lucas foi convertido pelo apóstolo São Paulo, do qual se tornou inseparável e fiel companheiro de missão. Segundo São Paulo diz na carta aos Colossenses (4,14): “Saúda-vos Lucas, nosso querido médico”.
No Evangelho segundo Lucas, o Cristo, amor universal, que se revela a todos e chama Zaqueu, Maria Madalena, garante o Céu para o “bom” ladrão e conta as lindas parábolas do pai misericordioso e do bom samaritano. Segundo a tradição, ele era médico, além de pintor, músico e historiador, e teria estudado medicina em Antioquia.
Em mensagem, a Coordenação da Pastoral da Saúde Nacional fala da importância da medicina que é, sem dúvidas, uma das áreas do conhecimento que exigem maior comprometimento e responsabilidade por parte do profissional que precisa estar sempre se aperfeiçoando e se informando a respeito das novas descobertas científicas, conhecendo novos tratamentos e exames, além de estar atento às novas doenças que surgem a todo tempo.
“O bom médico, além de ter um bom embasamento teórico, deve saber relacionar-se, promovendo uma relação de confiança com seu paciente. A relação médico-paciente é fundamental para o andamento adequado do tratamento, uma vez que o paciente se sente à vontade para falar em detalhes o que lhe aflige. Assim sendo, é fundamental que o médico abra espaço para questionamentos e saiba explicar de maneira atenciosa e cuidadosa o que acomete cada pessoa”, destaca um trecho da mensagem.
Segundo a Pastoral da Saúde, muitos médicos além de sua atividade cotidiana profissional, familiar e de lazer ainda se dedicam ao serviço pastoral doando o seu tempo para o bem comum, contribuindo e atendendo aos anseios dos menos favorecidos. Conscientes do dom que Deus lhe deu.
A vida de São Lucas – como evangelista e médico – foi tema de um romance histórico muito difundido chamado: “Médico de Homens e de Almas”, de autoria da escritora Taylor Caldwell. Fonte: http://cnbb.net.br
POLÊMICA NO RIO: Justiça suspende obrigatoriedade do Pai Nosso nas escolas de Barra Mansa
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Juiz Antônio Diniz diz que 'Estado não pode fomentar segregações religiosas'
Rio - O juiz Antônio Augusto Gonçalves Balieiro Diniz, da 4ª Vara Cível de Barra Mansa, determinou na manhã desta terça-feira que as 65 escolas municipais da cidade se abstenham de obrigar os 19.300 alunos de rezar a oração do Pai Nosso antes de entrar nas salas, conforme havia imposto o secretário de Educação local, Vantoil de Souza Júnior. Diniz deferiu o pedido de tutela antecipada em favor do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-BM). O magistrado deu prazo de 24 horas para o cumprimento da ordem judicial, sob pena de o município ter que pagar multa diária de R$ 10 mil.
Em seu despacho, Diniz posicionou-se “pela ilegalidade da medida, diante da laicidade da República Federativa do Brasil, com consequente violação dos Princípios da Liberdade Religiosa e da Dignidade da pessoa Humana”.
Segundo a norma que vinha sendo imposta em Barra Mansa, os alunos (inclusive os do turno da noite) ficavam em fila indiana para entoar hinos cívicos (Nacional, Bandeira, Independência) e, na sequência, o Pai Nosso. As crianças que não quisessem rezar tinham que declarar por escrito e ficarem em filas separadas dos demais alunos.
“A formação de filas separadas entre crianças que seguem ou não determinada religião, dentro do mesmo ambiente escolar, para a entoação da oração do Pai Nosso, foge por completo ao conceito de razoabilidade. O Estado não pode separar crianças em filas, de acordo com as suas religiões ou a religião de seus pais”, observou o juiz.
Diniz afirmou ainda em suas considerações no despacho, que “o Estado não pode fomentar segregações religiosas, separatismos, discórdias, preconceitos, como se aqueles que rezam o Pai Nosso fizessem mais parte da Escola do que aqueles que optaram por não fazê-lo. Finalmente, o Estado não pode obrigar que crianças permaneçam em ambientes religiosos com os quais não se identificam ou compactuam. Por óbvio, tal Ordem de serviço tem cunho separatista, fomentador de discriminação e conflito, não encontrando qualquer respaldo nos Princípios da Tolerância e Liberdade Religiosa, que respaldaram a decisão da Corte Superior”.
Para o procurador da República Julio José Araujo Junior, a decisão coincide com o entendimento do Ministério Público Federal (MPF) sobre o assunto. “A medida confere um privilégio a determinadas religiões e não está respaldada pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao tentar mudar o entendimento que havia sido adotado no ano passado, sem sequer discutir com a comunidade escolar, a secretaria de educação tentou impor uma visão, porém a batuta estatal deve favorecer o livre exercício de uma a pluralidade de religiões, e não obstruir suas expressões", ressaltou Júlio.
O pretexto usado pela Secretaria de Educação de Barra Mansa - que informou que vai cumprir a decisão judicial - para entoar os hinos, é desenvolver o sentido de cidadania e o respeito aos símbolos pátrios. Mas, no caso da oração, a justificativa é que o Pai-Nosso "por ser universal é aceito pela maioria das manifestações religiosas". Fonte: http://odia.ig.com.br
Papa em S. Marta: quem não sabe escutar transforma a fé em ideologia
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(17/10/2017) “Não cair na insensatez que consiste na incapacidade de escutar a Palavra de Deus e que conduz à corrupção”. Foi o conceito expresso pelo Papa na homilia da missa matutina, presidida na Casa Santa Marta. Jesus chora com nostalgia – recorda o Papa – quando o povo amado se afasta, por insensatez, preferindo aparências, ídolos ou ideologias.
A reflexão do Papa Francisco começa pela palavra ‘insensatos’, que consta duas vezes na Liturgia do dia. Jesus a diz aos fariseus e São Paulo aos pagãos. Mas também aos Gálatas, cristãos, o apóstolo dos gentios havia dito “tolos”. Esta palavra, além de uma condenação, é uma assinalação – afirma Francisco – porque mostra o caminho da insensatez, que conduz à corrupção. “Estes três grupos de insensatos são corruptos”, observa o Papa.
Aos doutores da lei, Jesus havia dito que pareciam sepulcros decorados: tornam-se corruptos porque se preocupavam apenas em embelezar ‘o exterior’ das coisas, mas não daquilo que estava dentro, onde está a corrupção. Eram, portanto, “corruptos pela vaidade, pela aparência, pela beleza exterior, pela justiça exterior”.
Os pagãos, ao contrário, têm a corrupção da idolatria: se tornaram corruptos porque trocaram a glória de Deus pelos ídolos. Existem também idolatrias de hoje, como o consumismo - nota o Papa –, procurar um deus ‘cômodo’.
Enfim, os Gálatas, os cristãos, que se deixaram corromper pelas ideologias, ou seja, deixaram de ser cristãos para serem ‘ideólogos do cristianismo’.
Todos os três grupos, por causa desta insensatez, acabam na corrupção. Francisco explica no que consiste esta insensatez:
“A insensatez é não escutar, literalmente ‘não saber’, ‘não ouvir’: a incapacidade de escutar a Palavra. Quando a Palavra não entra, eu a deixo entrar porque não a escuto. O tolo não escuta. Ele crê que ouve, mas não ouve, não escuta. Fica na dele, sempre. E por isso, a Palavra de Deus não pode entrar no coração e não há lugar para o amor. E quando entra, entra destilada, transformada pela mia concepção da realidade. Os tolos não sabem ouvir. E esta surdez os leva à corrupção. Quando não entra a Palavra de Deus, não há lugar para o amor e enfim, não há espaço para a liberdade”.
E eles se tornam escravos porque trocam “a verdade de Deus com a mentira” e adoram as criaturas em vez do Criador.
“Não são livres, e não escutam, essa surdez não deixa espaço para o amor nem para a liberdade: isso sempre nos leva à escravidão. Eu ouço a Palavra de Deus? Mas a deixo entrar? Esta Palavra, da qual ouvimos cantando o Aleluia, a Palavra de Deus é viva, eficaz, revela os sentimentos e os pensamentos do coração. Corta, vai para dentro. Esta Palavra, eu a deixo entrar ou sou surdo a essa palavra? E a transformo em aparência, a transformo em idolatria, hábitos idólatras ou a transformo em ideologia? E não entra ... Esta é a insensatez dos cristãos”.
O Papa exorta, em conclusão, a olhar para os “ícones dos tolos de hoje”: “há cristãos tolos e também pastores tolos”. “Santo Agostinho - afirma -, “ataca-lhes duro, com força”, porque “a tolice dos pastores faz mal ao rebanho”. A referência é à “tolice do pastor corrupto”, à “insensatez do pastor satisfeito de si mesmo, pagão”, e à “insensatez do ideólogo”.
“Olhemos o ícone dos cristãos tolos” - insiste o Papa – “e ao lado desta insensatez, olhamos para o Senhor que está sempre à porta”, ele bate e espera. Seu convite final é, portanto, de pensar na nostalgia do Senhor por nós: “do primeiro amor que ele teve connosco”:
“E se caímos nesta insensatez, nos afastamos d’Ele e Ele sente essa nostalgia. Nostalgia de nós. E Jesus com essa nostalgia chorou, chorou sobre Jerusalém: era precisamente a nostalgia de um povo que tinha escolhido, tinha amado, mas que tinha se afastado por insensatez, que tinha preferido as aparências, os ídolos ou as ideologias”. (BS/CM-SP)
Fonte: http://pt.radiovaticana.va
'Capoeira gospel' cresce e gera tensão entre evangélicos e movimento negro
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Estavam presentes o berimbau, o atabaque, a ginga e os saltos mortais. Quase tudo fazia lembrar um jogo de capoeira típico, mas, em vez dos cânticos que enaltecem os orixás ou trazem referências à cultura negra, os versos faziam louvor a Jesus Cristo e a roda era alternada com momentos de pregação e oração. A reportagem é de Mariana Schreiber e publicada por BBC Brasil, 14-10-2017.
"Não deixa seu barco virar, não deixa a maré te levar, acredite no Senhor, só ele é quem pode salvar", cantavam as cerca de 200 pessoas, reunidas na quadra de uma escola para o "1º Encontro Cristão de Capoeira do Gama" (cidade satélite de Brasília), numa tarde de sábado.
Era mais um evento de capoeira evangélica, também chamada de capoeira gospel, vertente que ganha cada vez mais adeptos no Brasil, principalmente por meio da palavra e do gingado de antigos mestres que se converteram à religião.
Se antes a prática enfrentava resistência dentro de igrejas, agora, nessa nova roupagem, é cada vez mais considerada uma eficiente ferramenta de evangelização.
"Hoje é difícil você ir numa roda que não tenha um (capoeirista evangélico), e vários capoeiristas viraram pastores. É um instrumento lindo de evangelização porque é alegre, descontraído, traz saúde, benefícios sociais", afirma Elto de Brito, seguidor da Igreja Cristã Evangélica do Brasil e um dos palestrantes do evento.
Praticante de capoeira há 40 anos e convertido há 25, Suíno é líder do movimento "Capoeiristas de Cristo", que estima reunir cerca de 5 mil pessoas no país. Ele realiza encontros nacionais em Goiânia há 13 anos - a edição de 2018 será pela primeira vez em Brasília.
O mestre calcula ainda que já existem cerca de 30 "ministérios" de capoeira, ou seja, grupos diretamente ligados a igrejas.
"Há um cuidado para não chocar com as visões da igreja. Cuidado com a roupa, com o linguajar, com as músicas, mas que "não necessariamente tem que ser só música que fala de evangelho, de Deus", explica.
Críticas
O crescimento da prática, porém, tem gerado incômodo entre capoeiristas tradicionalistas e o movimento negro, que veem na novidade uma forma de apropriação cultural e apagamento da raiz afrobrasiliera da capoeira, prática que surgiu como forma de resistência entre escravos, a partir do século 18.
Eles também reclamam que em algumas dessas rodas haveria discursos de "demonização" contra a capoeira tradicional e as religiões do candomblé e da umbanda.
O Colegiado Setorial de Cultura Afrobrasileira, que faz parte do Conselho Nacional de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, chegou a divulgar em maio a "Carta de repúdio à 'capoeira gospel' e à expropriação das expressões culturais afrobrasileiras".
O documento, uma reação ao 3º Encontro Nacional de Capoeira Gospel convocado para junho deste ano, em João Pessoa (PB), reconhece que seguidores de qualquer credo podem praticar capoeira, mas cobra "respeito" a sua tradição.
"Temos lutado contra o racismo em suas diversas e perversas manifestações. A demonização perpetrada por pastores, mestres ou professores de 'capoeira gospel', ensinando o ódio e a intolerância contra as raízes da capoeira e contra seus praticantes não evangélicos, é um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana", diz a carta.
Patrimônio
A capoeira, que no passado chegou a ser proibida, recebeu em 2014 o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco, órgão da ONU para educação. O Iphan, órgão responsável por sua "salvaguarda" no Brasil, reconhece em documento sua "ligação com práticas ancestrais africanas".
A antropóloga Maria Paula Adinolfi, técnica do Iphan, diz que "não é possível impedir a capoeira gospel", mas explica que o órgão está focado em "fortalecer ações que vinculam a capoeira à matriz africana" como "uma política de reparação do processo de apagamento da memória afrobrasileira e de genocídio do povo negro".
Organizador do evento na Paraíba, Ricardo Cerqueira, o contramestre Baiano,recebeu, além da carta de repúdio, algumas ligações com críticas e até mesmo ameaças de processo. Seguidor da Igreja Batista, ele diz reverenciar os grandes mestres da capoeira, como os baianos Bimba, Pastinha e Waldemar, já falecidos, mas argumenta que a "capoeira não pertence à cultura africana".
"O país é laico. Acho que cada um tem liberdade para fazer a sua capoeira da forma que quiser", defendeu.
"Colocamos o nome gospel sem intenção de descaracterizar a capoeira, até porque nós usamos todos os instrumentos e cantamos também música secular", disse ainda.
Diferenças
Além das músicas e orações, mais alguns detalhes diferenciam a capoeira evangélica da "capoeira do mundo", explicou à reportagem Gilson Araújo de Souza, pastor evangélico e mestre capoeirista em Manaus.
Em geral, rodas evangélicas não chamam a troca de corda de "batismo" porque o termo deve ser usado apenas no seu sentido religioso, de se converter e receber o Espírito Santo. Além disso, alguns capoeiristas também evitam o uso de apelidos, que, segundo Souza, tem origem na época que a capoeira era perseguida.
"No mundo cristão, Deus nos chama pelo nome. Antes, eu era conhecido como mestre Gil Malhado, hoje sou chamado de mestre pastor Gilson. Não preciso me camuflar", explica ele, que faz parte da Igreja de Cristo Ministério Apostólico.
"Anos atrás, eu enfrentei muita dificuldade para levar a capoeira para a igreja. O pastor batia a porta na minha cara, dizia que era coisa da macumba, que não podia. Hoje eu sou pastor e as portas se abriram", conta também.
Segundo o mestre Suíno, a adoção do termo "gospel" fez parte desse processo de quebrar resistências. Era uma forma, observa, de convencer os pastores que a capoeira podia ser praticada dentro dos valores cristãos.
Hoje ele próprio repudia esse "rótulo" por causa da polêmica que tem gerado. Suíno afirma que, apesar de haver algumas práticas próprias da capoeira cristã, sua "essência" de capoeira é a mesma.
"Não existe capoeira gospel! Não queremos bagunçar a capoeira. Nós respeitamos os mestres, respeitamos os fundamentos da capoeira, respeitamos as tradições, e vamos defender porque quem não defende a capoeira não tem direito de ser capoeirista", discursou, empolgado, durante o evento no Gama, cujo lema era "minha cultura não atrapalha a minha fé".
Constante mutação
Diante da polêmica, o historiador da capoeira Matthias Röhrig Assunção ressalta que a prática já passou por muitas transformações desde seu surgimento.
Hoje, há três vertentes principais: a angola (mais lenta e gingada, tida como a mais próxima da "original"), a regional (mais acelerada, que incorpora movimentos de lutas marciais) e a contemporânea - uma mistura das duas primeiras que surgiu no Sudeste a partir dos anos 70 e foi o estilo que conquistou o mundo.
"Acho que capoeira tradicional não existe mais, todos (os estilos) são modernizados", resume Assunção, que é professor do departamento de história da Universidade de Essex, na Inglaterra.
Embora não simpatize com a ideia de uma capoeira evangélica, o professor afirma que não se trata do primeiro processo de "apropriação" da prática.
"A capoeira gospel me parece ser mais uma estratégia desses grupos religiosos de ocuparem espaços e de ganhar adeptos, mas não vejo como parar isso, não tem como proibir", observou.
"Historicamente, houve muitas apropriações da capoeira. Há uma apropriação nacionalista forte, rodas no exterior com as bandeiras do Brasil, o verde e o amarelo, por exemplo, em que a origem da capoeira, a história de resistência e a ligação com os africanos escravizados muitas vezes não têm destaque algum", pondera. http://www.ihu.unisinos.br
Papa convoca Sínodo para Amazônia durante missa de canonização de 30 brasileiros
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O Papa Francisco anunciou na manhã deste domingo, 15, a convocação de um Sínodo de Bispos para a Amazônia, durante a missa de canonização de 30 mártires brasileiros, na Praça de São Pedro. O Sínodo vai se reunir em Roma, em outubro de 2019.
"Que os santos hoje canonizados intercedam pelo êxito do Sínodo", disse Francisco, referindo-se especialmente aos mártires brasileiros.
Foram declarados santos também 3 jovens mexicanos martirizados no século 16, um padre espanhol e um frade italiano.
O Sínodo discutirá os desafios da região amazônica, especialmente a questão dos indígenas e a preservação das florestas. O anúncio surpreendeu até o cardeal d. Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e atual presidente da Comissão da Amazônia, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Francisco afirmou que está convocando o Sínodo em atendimento a pedido de conferências episcopais de vários países. O Sínodo de Bispos é uma reunião que debate questões desafiadoras para a Igreja e apresenta sugestões ao papa. Além de eclesiásticos, leigos e especialistas podem ser convidados a participar dos debates. Fonte: www.metrojornal.com.br
Diocese diz que jovens se passam por padres para celebrar missas no Agreste
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Imagens dos três suspeitos com vestes da igreja estão circulando pelas redes sociais.
Por meio de nota, a Diocese de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, informou que jovens estão usando roupas vestes eclesiásticas e litúrgicas em Gravatá e Camocim de São Félix, com o intuito de celebrar missas e realizar atividades sem autorização da Igreja. Imagens dos três suspeitos com vestes da igreja estão circulando pelas redes sociais.
O texto informa que o trio deixou a igreja e a Igreja pede que os fieis não participem de celebrações feitas pelo grupo. Ainda na nota enviada, a Diocese informa que os jovens podem voltar a fazer parte da igreja.
"...Se os mesmos manifestarem o desejo de voltar à Igreja Católica, onde foram batizados, renovando com declaração pública o propósito de aderir à disciplina da Igreja Católica, poderão ser readmitidos à comunhão eclesial, após um período de renovação espiritual", diz o texto. Fonte: https://g1.globo.com
Dia dos Professores: “São eles capazes de propor transformações importantes para o Brasil”
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No próximo domingo, 15 de outubro, é celebrado o Dia dos Professores. A data é marcada por homenagens ao redor do país, mas um dia no ano está longe de ser suficiente para celebrar o trabalho docente e discutir as situações enfrentadas por eles no dia a dia. Por isso, o portal da CNBB convidou o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner para bater um papo conosco sobre esse dia.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:
Como o senhor vê a celebração do “Dia dos professores” neste momento pelo qual o Brasil atravessa uma crise histórica?
As pessoas que assumem o magistério são vitais para a sociedade. Os professores e as professoras têm a missão de formar e dar um suporte intelectual e profissional às crianças e jovens. Eles tem uma responsabilidade com o futuro do país, especialmente no que se refere à transmissão dos valores bailares como a solidariedade, a justiça, a democracia, a inserção social, o respeito pela sexualidade, a tolerância, a transcendência, a fraternidade, a justiça social, o perdão. Mas eles também são responsáveis por projetos de uma educação de qualidade capazes de propor transformações importantes para o Brasil. Sem professores devidamente formados, justamente remunerados e fortemente assistidos em seu ofício não poderemos continuar sonhando as mudanças que podem tirar o Brasil da crise ética e moral que atravessa. Nesse sentido, a data que faz homenagem a eles deveria demonstrar um renovado compromisso efetivo com todos os professores e professoras. Compromisso de um aperfeiçoamento profissional sempre renovado e um salário justo. Compromisso por parte dos alunos, dos pais e responsáveis, pela sociedade, pelo poder público e, claro, por toda a comunidade onde eles vivem e atuam.
Como a Igreja reconhece e valoriza o trabalho dos professores?
Uma das mais bonitas e antigas expressões da nossa caminhada de fé na história é aquela que afirma ser a própria Igreja uma Mestra. Isso significa que está na natureza da Igreja a vocação ao trabalho do ensino, do acompanhamento fraterno e da formação de cada um dos seus membros. Inspirados nessa realidade, podemos dizer que na Igreja só há espaço para uma constante valorização de tantas irmãs e irmãos que abraçam a missão do magistério. Há de ter diálogo constante na busca de programas que apoiem os professores e criar, sempre mais, condições para que eles possam exercer a missão que Deus lhes confiou com competência e amor. O mesmo podemos dizer de todas as pessoas que estão a serviço da educação e da formação em nossas escolas.
Os professores reclamam da violência que sofrem em várias partes do país. O que o senhor acha que se pode fazer diante dessa realidade?
O serviço dos professores é essencial para a sociedade. Eles ajudam no crescimento intelectual, psíquico e social. Por isso, é inaceitável que a integridade física e moral de nossos professores seja atingida por quem quer que seja. Os alunos devem a eles um profundo respeito. Nisso devem ser acompanhados pelas famílias dos estudantes. Os responsáveis pela gestão das escolas, tanto públicas como particulares, devem se empenhar e aperfeiçoar todos os mecanismos de proteção aos professores para que exerçam com toda liberdade, bondade e carinho o papel que se espera deles na formação das nossas crianças e jovens. O Estado brasileiro tem grave responsabilidade na tomada de providências para combater a violência contra os professores nas escolas, especialmente na busca da superação da violência. Não se supera a violência sem apreender valor. Não se pode admitir atentado, por menor que seja, no interior das escolas.
A experiência da fé pode ajudar tanto na formação dos professores como no exercício do seu trabalho nas escolas e fora delas?
O Papa Francisco tem nos ajudado tanto na compreensão e experiência da fé em todos os campos da vida. Em 2015, quando visitou a Universidade Católica, em Quito, no Equador, ele apresenta uma reflexão que indica uma verdadeira missão dos professores e professoras: “Convosco, educadores, eu me interrogo: Velais pelos vossos alunos, ajudando-os a desenvolver um espírito crítico, um espírito livre, capaz de cuidar do mundo atual? Um espírito que seja capaz de procurar novas respostas para os múltiplos desafios que a sociedade nos coloca? Sois capazes de os estimular para não se desinteressarem da realidade que os rodeia? Como entra, nos currículos universitários ou nas diferentes áreas do trabalho educativo, a vida que nos rodeia com as suas perguntas, interpelações, controvérsias? Como geramos e acompanhamos o debate construtivo que nasce do diálogo em prol de um mundo mais humano?”. A experiência da fé nos ajuda e, particularmente os professores, a colocarem-se sempre na busca de um mundo melhor, mais humano, justo e fraterno.
Fonte: http://cnbb.net.br
Aparecida: medo do desemprego, gratidão e vaias a políticos marcam dia da Padroeira
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Mais de 200 mil romeiros foram esperados na cidade para a celebração dos três séculos de aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida, neste feriado da Padroeira do Brasil. As pessoas vêm de todas as partes do país. Algumas caminham durante horas pelas estradas que levam ao santuário. Outras vêm a cavalo. O objetivo: agradecer por algum pedido alcançando a partir de um ato de fé e renovar pedidos. A crise, o desemprego, a ausência de perspectiva (mas não de esperança) tiveram destaque nas palavras dos fieis. A reportagem é de Sarah Fernandes e Danilo Ramos, publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 12-10-2017.
As pessoas vistas como responsáveis por este momento de desalento do país também foram lembradas pelo povo: com vaias. Entre eles o presidente ilegítimo Michel Temer – vaiado mesmo sem estar presente, apesar de ter feito convite ao papa Francisco para participar da festa. Francisco foi mais um chefe de Estado que, constrangido com o golpe no Brasil, recusou. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também não foi poupado de vaias, assim como os representantes do governo federal, ministros Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) e Antônio Imbassahy (Secretaria-Geral) não foram bem vindos na cidade batizada pela imagem encontrada há 300 anos na margem norte do Rio Paraíba, região lesta do interior paulista.
Conta a história foi uma pescaria mudou a história do catolicismo no Brasil: três pescadores – Domingos Garcia, Felipe Pedroso e João Alves – jogaram redes no Rio Paraíba, obedecendo à ordem da Câmara de Guaratinguetá de trazer o máximo possível de peixes para recepcionar do novo governador. Após horas de trabalho, porém, não tinham conseguiam nada. Até que em um dos lançamentos da rede pescaram o corpo uma imagem de barro decapitada. Na próxima tentativa veio à cabeça. Poucos minutos depois havia tanto peixe que mal podiam carregar.
Em 1930, a escultura negra de 37 centímetros ganhou do Papa Pio XI o título de Padroeira do Brasil e virou um dos símbolos do país. Uma pequena capela construída pelo padre José Alves Vilela abrigou a imagem por 145 anos até ser transferida para a Igreja Matriz, que hoje é o Santuário Nacional de Aparecida, maior centro mariano do mundo em tamanho e segundo maior em frequência, atrás apenas do de Nossa Senhora de Guadalupe, no México. Pelo menos 12 milhões de romeiros por ano visitam a basílica, localizada a 180 quilômetros da capital paulista.
Logo após o aparecimento da imagem no rio começaram os relatos de milagres: velas se acendiam sozinhas, as correntes de um escravo se arrebentaram após ele pedir proteção à santa, as patas dianteiras de um cavalo grudaram nas pedras da escadaria da igreja quando seu dono ameaçou entrar nela montado, uma menina cega de Jaboticabal (SP)começou a enxergar e um menino que se afogava no rio Paraíba foi milagrosamente salvo.
A reportagem acompanhou alguns em romaria para Aparecida – que não tem o “Norte” no nome oficial. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
NOVENA 300 ANOS: Agradecimento.
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Papa em S. Marta: cristãos vigilantes para não cair na mundanidade
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(13/10/2017) Somente Cristo crucificado nos salvará dos demônios que nos fazem “deslizar lentamente para a mundanidade”, salvando-nos até mesmo da “insensatez” da qual fala São Paulo aos Gálatas – e “da sedução”.
Foi o que afirmou o Papa Francisco na Missa celebrada na manhã desta sexta-feira na Capela da Casa Santa Marta, inspirando-se para a sua homilia no Evangelho de Lucas, onde Jesus diz: “Mas se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus”.
O Pontífice exorta ao exame de consciência e às obras de caridade, “aquelas que custam”, mas que “nos levarão a ser mais atentos” e vigilantes para que não entrem “astutos” personagens, ou seja, os demônios.
O Senhor – explica o Papa – “pede para sermos vigilantes”, para não cairmos em tentação. Por isto, o cristão está sempre “em vigilância, vigia, está atento”, como “um sentinela”.
O Evangelho fala da luta entre Jesus e o demônio e de “alguns” que disseram que Cristo tinha “a permissão de Belzebub” para expulsá-lo.
Jesus não conta uma parábola – observa o Papa - mas “diz uma verdade”: quando o espírito impuro “sai do homem”, vagueia “por lugares desertos” buscando um repouso e não encontrando, decide retornar para a casa de onde saiu, onde habita o homem “livre”.
Então o demónio decide trazer consigo “outros sete espíritos piores do que ele”, de forma que também a “condição daquele homem” fique “pior do que antes”.
Precisamente a palavra “pior” – evidencia o Pontífice – tem “tanta força” nesta passagem, porque os demónios entram “em surdina”:
“Começam a fazer parte da vida. Também com as suas ideias e as suas inspirações, ajudam aquele homem a viver melhor... e entram na vida do homem, entram no seu coração e por dentro começam a mudar este homem, mas tranquilamente, sem fazer barulho. É diferente, este modo é diferente daquele da possessão diabólica que é forte: esta é uma possessão diabólica um pouco “de salão”, digamos assim. E isto é o que o diabo faz lentamente, na nossa vida, para mudar os critérios, para levar-nos à mundanidade. Mimetiza-se no nosso modo de agir, e nós dificilmente nos damos conta. E assim, aquele homem, liberto de um demônio, torna-se um homem prisioneiro, um homem oprimido pela mundanidade. E isto é aquilo que o diabo quer, a mundanidade”.
A mundanidade, por outro lado, é “um passo adiante na ‘possessão’ do demónio”, acrescenta Francisco. É um “encantamento”, é a “sedução”. Porque é o “pai da sedução”. E quando o demónio entra “tão suavemente, educadamente e toma posse das nossas atitudes”, explica o Papa, os nossos valores “vão do serviço a Deus à mundanidade”. Assim nos tornamos “cristãos mornos, cristãos mundanos” com uma “mistura” - que o Papa chama de “salada de frutas” - entre “o espírito do mundo e o espírito de Deus”. Tudo isso nos “afasta do Senhor”. Francisco responde então à questão do que fazer para “não cair” e para sair de tal situação. Reafirma o tema da “vigilância” sem “se assustar”, com “calma”:
“Vigiar significa entender o que acontece no meu coração, significa parar um pouco e examinar a minha vida. Sou cristão? Eu educo mais ou menos bem os meus filhos? Minha vida é cristã ou é mundana? E como posso entender isso? A mesma receita de Paulo: olhar para Cristo crucificado. A mundanidade só vê onde está e se destrói diante da cruz do Senhor. E este é o propósito do Crucifixo em nossa frente: não é um ornamento; É exactamente o que nos salva desses encantamentos, dessas seduções que nos levam à mundanidade”.
O Pontífice exorta a nos perguntarmos se olhamos para o “Cristo crucificado”, se fazemos “a Via Sacra para ver o preço da salvação”, não só dos pecados, mas também da mundanidade”:
“Então, como eu disse, o exame de consciência, para ver o que ocorre. Mas sempre diante do Cristo crucificado. A oração. E depois, fará bem fazer-se uma fractura, não nos ossos: uma fractura nas atitudes confortáveis: as obras de caridade. Estou confortável, mas vou fazer isso, que me custa. Visitar uma pessoa doente, ajudar alguém que precisa... não sei, uma obra de caridade. E isso rompe a harmonia que procura fazer esse demónio, esses sete demónios com o chefe, para fazer a mundanidade espiritual”.
Fonte: http://pt.radiovaticana.va
CELEBRAÇÃO DOS 300 ANOS: Mensagem do Papa
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No início da celebração, nos telões espalhados, as milhares de pessoas que participaram sob sol forte puderam ver o Papa Francisco fazer uma saudação especial:
“Querido povo brasileiro.
Queridos devotos de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
Minha saudação e minha bênção para todos vocês que estão vivendo, em Cristo Jesus, o Ano Mariano por ocasião do jubileu de 300 anos do encontro da imagem da Virgem Mãe Aparecida nas águas do Rio Paraíba do Sul.
Em 2013, durante a minha primeira viagem apostólica internacional, tive a alegria e a graça de estar no Santuário de Aparecida e rezar aos pés de Nossa Senhora confiando-lhe o meu pontificado e lembrando o povo brasileira por acolhida tão calorosa que veio do seu abraço e do coração generosos. Naquela ocasião, inclusive, manifestei meu desejo de estar com vocês no ano jubilar, mas a vida de um Papa não é fácil. Por isso, nomeei o cardeal Giovanni Battista Re como Delegado Pontifício para as celebrações do dia 12 de outubro. Confiei a ele a missão de garantir, assim, a presença do Papa entre vocês.
Ainda que não esteja fisicamente presente quero, entretanto, por meio da Rede Aparecida de Comunicação, manifestar meu carinho por esse povo querido devoto da Mãe de Jesus. O que deixo aqui são simples palavras, mas desejo que vocês recebam como um fraterno abraço neste momento de festa.
Em Aparecida, repito aqui as palavras que proferi em 2013, no altar do Santuário Nacional, aprendemos a conservar a esperança, a nos deixar nos surpreender por Deus e a viver na alegria. Esperança, querido povo brasileiro, é a virtude que deve permear o coração dos que creem, sobretudo quando ao nosso redor, as situações de desespero parecem querer nos desanimar. Não se deixem vencer pelo desânimo! Não se deixem vencer pelo desânimo! Confiem em Deus. Confiem na intercessão de Nossa Senhora Aparecida. No Santuário de Aparecida, em cada coração do devoto de Maria podemos tocar a esperança que se concretiza na vivência da espiritualidade, na generosidade, na solidariedade, na perseverança, na fraternidade, na alegria que há neles são valores que encontram sua raiz mais profunda na fé cristã.
Em 1717, quando foi retirada das águas, pelas mãos daqueles pescadores já os inspiraram a confiar em Deus que sempre nos surpreende: peixes em abundância, graça derramada de modo concreto no coração daqueles que estavam temerosos diante dos poderes estabelecidos. Deus os surpreendeu, pois Aquele que nos criou, com amor infinito, nos surpreende sempre. Deus nos surpreende sempre!
Neste jubileu festivo em que comemoramos os 300 anos daquela surpresa de Deus, somos convidados a sermos alegres e agradecidos. Alegrai-vos sempre no Senhor. E, com essa riqueza, a alegria que irradia de seus corações, transborde e alcance cada canto do Brasil, especialmente as periferias geográficas, sociais e existenciais que tanto anseiam por uma gota de esperança.
Que o singelo do sorriso de Maria que conseguimos vislumbrar em sua imagem seja fonte do sorriso de cada um de vocês diante das dificuldades da vida. O cristão jamais pode ser pessimista! O cristão jamais pode ser pessimista!
Por fim, agradeço ao povo brasileiro pelas orações que diariamente oferecem por mim, especialmente durante a celebração da Santa Missa. Rezem pelo Papa e tenham a certeza de que o Papa sempre reza por vocês. Juntos, de perto ou de longe, formamos a Igreja, o Povo de Deus. Cada vez que colaboramos, ainda que de maneira simples e discreta, como anúncio do Evangelho, tornamo-nos, assim como Maria, um verdadeiro discípulo missionário. E o Brasil hoje necessita de homens e mulheres que, cheios de esperança e firmes na fé, deem o testemunho de que o amor manifestado na solidariedade e na partilha é mais forte e luminoso que as trevas do egoísmo e da corrupção.
Com saudades do Brasil! Com saudades do Brasil!
Concedo-lhes a bênção apostólica pedindo a Nossa Senhora Aparecida que interceda por todos nós!
Que assim seja!”
Fonte: http://cnbb.net.br
CELEBRAÇÃO DOS 300 ANOS: Missa no Santuário Nacional, São Paulo.
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Homilia do Legado Pontifício (Representante do Papa Francisco)
(12/10/2017) O povo acompanhou a missa que contou com concelebrantes vários cardeais, bispos e sacerdotes de todo o Brasil. Logo depois da proclamação do Evangelho, o Legado do Papa, cardeal Giovanni Battista Re, fez a seguinte homilia:
“Momento bendito e solene é este que estamos vivendo!
No íntimo de cada um de nós, vibra a recordação de um dia, distante no tempo 300 anos, quando três pescadores, jogando a rede para recolher peixes nas águas do Rio Paraíba, encontraram uma imagem de Nossa Senhora, sem cabeça e, depois, num segundo momento, acharam também sua cabeça.
No início desta celebração, o Papa Francisco se uniu a nós, por meio da Televisão. Vimos o Papa e escutamos a sua afetuosa palavra. Em seu nome e em nome dos bispos concelebrantes, saúdo todos vocês! Saúdo todas as famílias brasileiras, invocando para todas a proteção de Nossa Senhora. Dirijo uma saudação particular ao senhor Governador do Estado de São Paulo e a todas as autoridades presentes, nacionais e locais. Com ânimo agradecido pela sua participação, saúdo todas as pessoas que estão unidas conosco por meio da Televisão e da Rádio.
Após o seu encontro, a imagem da Virgem foi habilmente restaurada e um dos três pescadores, Felipe Pedroso, levou-a para a sua casa. Imediatamente seus familiares e vizinhos começaram a rezar diante daquela veneranda imagem da Virgem Maria, carinhosamente chamada “a Aparecida”. O seu culto começou rapidamente a desenvolver-se, ganhando grande intensidade. Ao oratório primitivo, seguiu-se outros templos, sempre maiores, até chegar a basílica anterior, construída em 1908. Em 1930, Nossa Senhora Aparecida foi proclamada Rainha e Padroeira principal do Brasil.
Tendo crescido, enormemente, o número dos peregrinos, chegou-se à construção do templo grandioso e impressionante, majestoso em suas linhas arquitetônicas e sugestivo em sua amplitude. Diante dele, nós nos encontramos agora em oração. Há muitas pessoas a quem se ficou devendo o mérito da construção desse santuário magnífico que goza de tanta admiração do mundo inteiro. Entre elas, devemos recordar especialmente o cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Mota.
Neste santuário mariano, sente-se pulsar o coração católico do Brasil. O amor e a devoção à Virgem Maria fazem parte da cultura latino-americana e são características do povo brasileiro. É uma devoção profundamente enraizada nas almas, transmitida de geração em geração, como uma chama sempre acesa no coração das pessoas.
Ao longo desses 300 anos, inúmeras pessoas e grupos rezaram aqui diante de Nossa Senhora Aparecida buscando luz, apoio e conforto sabendo que ela conhece nossas aflições e que ao seu olha materno não escapa situação alguma de cada pessoa. Incontáveis ainda são as pessoas que ajoelharam aqui aos pés da Mãe de Deus com a alma oprimida por problemas e aflições, levantando-se depois com a alma serena e cantando os louvores da Virgem Maria. Quantas pessoas submergidas por angústias, tomadas por preocupações, dúvidas e incertezas vieram a esta Basílica buscar um pouco de conforto, podendo em seguida retomar com coragem o caminho da vida cristã.
Neste nosso tempo de eletrônica e dos computadores, das conquistas espaciais e dos satélites, quando a ciência e a técnica estão atingidas metas cada vez maiores, o mundo corre o risco de se tornar menos humano. Frente a uma secularização que avança, o povo cristão sente, cada vez mais forte, a necessidade da ajuda de Nossa Senhora Aparecida. Precisa de um renovado fervor mariano para recuperar os valores que contam para um futuro mais justo, mais humano e mais cristão. Sem os valores morais e espirituais, o futuro não poderá ser bom!
A Virgem Mãe, para nós hoje, através do Evangelho que acabou de ser proclamado, é uma página que manifesta o seu poder materno de intercessão. Se não tivessem convidado Jesus e sua Mãe, aqueles esposos de Caná da Galiléia teriam ficado mal. Aquele dia lindo e querido das núpcias ficaria nublado de tristeza porque em dado momento, teria acabado o vinho. Mas, com sua sensibilidade materna, Maria apercebeu-se do contratempo que estava prestes a verificar-se e foi interceder junto de Jesus. Desde os primeiros séculos, os cristãos sempre tiveram confiança na intercessão e proteção da Virgem Mãe. Elevada ao céu, está perto de Deus sem nunca estar perto de nós. Trata-se de uma mediação orientada para o contínuo nascimento de Cristo nos corações e no mundo. Uma mediação baseada sobre a participação na mediação de Cristo da qual emana como um serviço subordinado a superabundância dos méritos de Cristo.
Esta solicitude materna que a leva a interceder por nós sempre foi reconhecida pelo povo cristão. Dante Alighieri expressou em termos altamente poéticos tal confiança na intercessão de Nossa Senhora junto de Cristo em nosso favor quando colocou nos lábios de São Bernardo, esta sublime oração à Virgem: “Senhora, sois tão grande poder que desejar, sem vós, divinas graças é igual querer voar sem asas ter”. Se não se recorre a Maria, é como querer voar sem asas. A sua mediação materna assume a forma de intercessão junto de Cristo como aconteceu em Caná quando obteve de Cristo que antecipasse sua hora.
A nós, aqui congregados em grande número, no tricentenário do encontro da veneranda imagem da Mãe do Céu, a mensagem que ela nos deixa é a mesma que ressoou em Caná da Galiléia: “Fazei o que Cristo vos disser! ”. São as palavras que Maria dirigiu a quem estava servindo é que permitiu o milagre da transformação da água em vinho. Os serventes das Bodas de Caná acreditaram nas palavras de Nossa Senhora e fizeram tudo o que lhes foi pedido. “Fazei o que Jesus vos disser”, repete Nossa Senhora Aparecida também a nós! Em outras palavras: “sede verdadeiros discípulos missionários de Jesus, prontos a fazer o que Deus lhes pede! ”. O verdadeiro bem do homem e da mulher está em fazer a vontade de Deus, está em confiar em Deus. Isto quer ser um convite para recomeçar de Cristo testemunhando os valores e ideais cristãos. Recomeçar de Cristo significa tomar Cristo como medida de tudo, significa haurir de Cristo a coragem de que precisamos, significa tirar dele confiança e esperança para o futuro. A contribuição de que o mundo atual precisa de nós cristãos é a fidelidade ao Evangelho, a fidelidade aos valores e ideais cristãos que são o patrimônio mais precioso do Brasil.
Neste santuário, onde a Igreja brasileira ama, venera e invoca Maria como Nossa Senhora Aparecida, por ocasião dessa importante efeméride, cada um de nós se consagre a ela, Mãe de Deus e nossa Mãe. Consagremos nossas vidas com suas alegrias e tristezas, com suas esperanças e problemas. Entreguemos a Nossa Senhora Aparecida todas as famílias do Brasil, para todas implorando proteção e ajuda, alegria e esperança. Confiemos também o futuro do Brasil para que transcorra na justiça, na paz, na solidariedade e na fraternidade. Que Nossa Senhora Aparecida em sua ilimitada solicitude materna assista e proteja cada um de vocês, assista e proteja todo o Brasil!”. Fonte: http://cnbb.net.br
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