OLHAR CARMELITANO: Surgimento e evolução da Segunda e Terceira Ordem
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Quando falamos aqui de ‘Terceira Ordem’ referimo-nos a pessoas que vivem o carisma carmelitano exatamente na sua condição de leigo ou leiga. Globalmente podemos distinguir três fases evolutivas. Antes de descrevê-las convém dizer que o assunto é um tanto complexo, pelo fato de serem as datas às vezes confusas, imprecisas e localmente situadas. Corremos, assim, o risco de introduzir generalizações que, na realidade, se referem a fatos de um determinado tempo ou área geográfica específica.
Já nos inícios da história carmelitana, encontramos os chamados oblatos, leigos que, de uma ou outra forma, fazem parte da família do Carmo. Em certos casos chegam a fazer uma verdadeira profissão religiosa, ‘doando-se’ — se et sua (a si mesmo com seus bens) — à Ordem, representada pelo seu legítimo superior. Em tese podem ser tanto homens quanto mulheres, mas, na realidade, predominam largamente as leigas. Normalmente vivem em casas separadas e vestem um hábito semelhante a dos frades, daí a denominação manteladas. Outros nomes dizem respeito a casos mais ou menos idênticos: oblatas, conversas, beatas, pinzocheras, beguínas, terciárias. Todas dependiam de um determinado convento e não formam grupos homogêneas.
Em maio de 1452, reuniu-se, na cidade de Colônia, o Capítulo Provincial da Alemanha Inferior, sob a presidência do Geral da Ordem, Frei João Soreth (1451-1471). Poucos meses antes, o Legado do Papa para a Alemanha e regiões vizinhas, Nicolau Krebs ou Nicolau de Cusa (1401-1564), apaixonado defensor da unidade da Igreja, exatamente numa época de muitas divisões, decorrentes do Cisma Ocidental (1378-1417), decretara que comunidades de mulheres consagradas, não dotadas de uma Regra aprovada pela Santa Sé, deveriam obtê-la ou unir-se a alguma Ordem Religiosa já existente. Caso não obedecessem seriam extintas!
Nesse contexto devemos situar o pedido das beguínas de Geldre, na Diocese de Colônia, apresentado no mencionado Capítulo Provincial. Na realidade, essas mulheres piedosas já mantinham contatos com os Freis Carmelitas desde que chegaram à freguesia onde se localizava a sua casa, em princípios do século XIV. Certo é que estavam sob a direção dos Carmelitas a partir de 1360, sem que seguissem uma Regra específica.
A solicitação das beguínas foi acolhida favoravelmente pelo Prior geral (10-5-1452), que encarregou o superior do convento de Geldre para efetuar a incorporação do grupo com a profissão religiosa, a fim de que vivessem regulariter como verdadeiras Carmelitas.
Na realidade, o ato de Soreth precedeu a Bula Cum Nulla (7-10-1452), de Nicolau V, com cinco meses! Numa carta às ex-beguínas de Geldre (14-10-1453), agora ‘monjas carmelitas’, o Geral ratificou sua decisão de maio do ano anterior, apoiando-se na Bula mencionada, transcrevendo, inclusive, o próprio texto daquele documento pontifício.
Foi o mesmo Prior geral que, após ter aceito as beguínas de Geldre, providenciou a incorporação de outras comunidades de ‘mulheres devotas’, como as de Nieukerk (Holanda), Dinant (Bélgica) e, provavelmente, ainda outras.
Nessa mesma época houve na Itália também aproximações de algumas comunidades de pinzocheras à Ordem do Carmo. O caso de Florença é típico e daria origem ao célebre mosteiro de Santa Maria dos Anjos, onde viveu Santa Madalena de Pazzi (1566-1607), dotada com extraordinárias experiências místicas.
Os estudiosos não estão concordes quanto à origem da Bula Cum Nulla. A final de contas quem é que a pediu ao Papa? Há os que defendem a tese que a iniciativa partiu das ‘agregadas’ italianas, particularmente as de Florença. Muitas delas viviam nas suas próprias residências ‘como se fossem carmelitas’! Por volta de 1450 surgiu em Florença a ideia de acolher essas mulheres piedosas numa casa ‘de vida em comum’. O projeto da construção desse convento ficou pronto em 1452. É nessas alturas que teriam enviado a Roma uma representação para ‘garantir’ seus direitos como religiosas, o que resultaria na Bula Cum Nulla.
A questão continua em aberto. Frei Vital Wilderink, na sua tese de doutorado, aborda essa temática e chega às conclusões que resumimos em seguida.
Deixando de lado aspetos mais diretamente jurídicas e organizativas, é indiscutível que os conventos femininos fundados por Soreth se distinguem notoriamente dos cenóbios encontrados na Itália e na Espanha. Efetivamente, as fundações localizadas na Alemanha, nos Países Baixos (Holanda e Bélgica de hoje) e na França, constituíam uma unidade, formando uma verdadeira Família com uma mesma orientação e idêntico programa de vida.
Sabemos que, desde que sua eleição como Geral, João Soreth se empenhara na obra de reforma da sua Ordem, toda ela centrada na ‘observância regular’. A criação de conventos femininos está nesta mesma linha de ação. É bem possível que o caso das beguínas de Geldre ofereceu a Soreth a oportunidade para ampliar sua visão no sentido de dar início a um verdadeiro ‘ramo feminino’ da Ordem do Carmo. É fato comprovado que o Geral colocou essas iniciativas sob sua direta jurisdição ou as confiou a Carmelitas ‘já reformados’. Os mosteiros de ‘monjas carmelitas’ tornaram-se logo centros de irradiação espiritual e laboratórios da reforma desejada por Soreth. A vida em comum, o Ofício coral, a estrita observância com a clausura rígida dão prova disso. Podemos até dizer que as ‘carmelitas de Soreth’ anteciparam em um século as reformas introduzidas pelo Concílio de Trento (1545-1563) e suas aplicações concretas no pontificado de São Pio V (1566-1572).
Frei João Soreth — afirma Dom Vital Wilderink (23) — pode ser reconhecido como o ‘fundador’ das Carmelitas na medida em que tenha sido o ‘reformador’ da Ordem do Carmo. O fato de sua obra reformadora ter tido pouca penetração nas regiões ao sul dos Alpes d e dos Pireneus, fez com que se dedicasse inteiramente às fundações nórdicas. Graças a seu empenho e santa teimosia, o ramo feminino do Carmo — a ‘Segunda Ordem’ — pode nascer e consolidar-se, pois foi ele que o concebeu, inspirou e organizou, inclusive com o indispensável embasamento jurídico que, mais tarde, seria adotado também em outras regiões antes avessas à sua reforma.
O Prior-geral Soreth gostava de dizer que a primeira preocupação das monjas carmelitas é honrar fielmente a Mãe de Deus, considerando-se como verdadeiras ‘Filhas de Nossa Senhora’ a quem têm por Prioresa de seus mosteiros. Maria é vista como guia de perfeição mística e modelo de pureza. Na vida espiritual é ela que conduz a monja ao seu divino Filho e à própria Santíssima Trindade (ver os ensinamentos de Santa Maria Madalena de Pazzi).
Enquanto lentamente se vai afirmando o que constituirá a “Segunda Ordem” ou Sancti Moniales (monjas de estrita clausura), as pinzocheras ‘de profissão solene’ continuaram a ser bastante numerosas na Itália e na Espanha sem, no entanto, levarem uma vida comum. Ocupam, de fato, o terceiro lugar na hierarquia da Ordem, após os religiosos e as monjas. Por este motivo foram chamadas, em alguns lugares, de terciárias mas, na realidade, eram ‘verdadeiras religiosas’, agregadas — pelos seus ‘votos solenes’ — a um convento masculino ou mosteiro feminino da Ordem. Pio V, querendo clarificar certas confusões reinantes, declarou que a Igreja doravante negaria o ‘caráter solene’ aos votos de pinzocheras que não vivessem em clausura. Acontece que, segundo as leis em vigor naquele tempo, só as terciárias ‘continentes’, portanto com voto de virgindade — o que excluía expressamente os laços matrimoniais — possuíam plenamente os privilégios da Ordem terceira. As não-continentes (as casadas) foram relegadas a um plano inferior, semelhante a das coirmãs da Ordem, ou seja aquelas que não tinham feita profissão religiosa e, por isso, consideradas ‘seculares’, não obstante certos compromissos espirituais as ligassem à Ordem. Essas últimas tornaram-se a variante feminina dos confrades ‘de capa branca’ com regras próprias que, na Espanha, ao que tudo indica, eram conhecidos também por “terceiros’.
Em suma, “quanto à origem da Ordem Terceira, podemos aceitar como um fato histórico, que a Ordem Terceira do Carmo. No seu sentido geral como é conhecida hoje, não existia antes de 1476. Os Carmelitas, embora tivessem a direção espiritual de numerosos grupos de pessoas desejosas de uma vida mais perfeita, não possuíam o direto de agregar tais grupos à Ordem.
A Bula Cum Nulla, de 1452, conferiu apenas a licença de unir à Ordem mulheres que vivessem em castidade. Não se tratava, pois, de uma permissão de fundar Ordens Terceiras em geral, que incluíssem homens e mulheres casados. Essa faculdade só veio na Bula Dum Attenta (1476), quando a licença de agregação foi estendida a quaisquer grupos de pessoas, casadas ou não, homens ou mulheres. Esta Bula significa verdadeiramente o início da Ordem Terceira Carmelita, ao menos em teoria. Pois, há em tudo isto a considerar uma circunstância particular: as outras Ordens Terceiras foram confirmadas depois de já existirem. A Ordem Terceira do Carmo, porém, teve a sua licença jurídica antes de ser organizada! Na prática, ela continuou durante mais de cem anos restrita a mulheres com o voto expresso de castidade perfeita.” (24)
Em fins do século XVI, constatamos na Ordem a existência de quatro grupos distintos: os frades, as monjas, mulheres continentes com voto explícito de castidade (impropriamente chamadas de ‘terceiras’), coirmãs e confrades da Ordem, a quem pode ser conferida, com razão, a qualificação de ‘terceiros’. Além desses grupos havia, desde o século XIV, um outro tipo de agregação: as ‘Confrarias da Madonna’. Algumas se limitam a viver na sombra das igrejas dos Carmelitas, outras assumem o escapulário como distintivo da Ordem, particularmente após as supostas visões de São Simão Stock de que falaremos em seguida.
No decorrer do tempo esvaem-se características específicas entre os vários grupos, gerando não poucas confusões. O Prior-geral Teodoro Straccio (1632-1642) procurou resolver a questão com uma dupla intervenção: agregou, em 1637, à Ordem terceira todos os confrades e coirmãs com votos de obediência e de castidade ‘segundo o próprio estado’, colocando, em 1540, todos os outros na Confraria do Escapulário.
Finalmente, no decurso do século XVIII, surge uma nova modalidade de agregação: Irmãs Terceiras, reunidas em verdadeiras Congregações de Terceiras Regulares de vida apostólica e missionária. Estas famílias religiosas tiveram grande florescimento, unindo formas específicas de serviço eclesial ao carisma e à espiritualidade do Carmo.
OLHAR CARMELITANO: ORIGENS DA ORDEM DO CARMO
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Contexto histórico geral
Para conhecer as origens da Ordem do Carmo é indispensável colocá-las no seu contexto histórico. O período que vê nascer os Carmelitas é a Idade Média que, na realidade, abrange praticamente dez séculos de história do Ocidente. Só pelo fato de ser tão extenso, percebe-se a dificuldade de dar uma caracterização englobante desse período. No entanto, alguns traços — não obstante suas variações regionais — são constantes. Em primeiro lugar, o acentuado teocentrismo. Todo o visível repousa no invisível, disse, com acerto, um pensador da época. Para o homem medieval, Deus está onipresente e toda a realidade é profundamente marcada pela sua ação. Aliás, a própria cosmovisão medieval reflete notoriamente a centralidade do divino e a orientação transcendental de toda a vida na terra. É nessa época que se consolida o que costumamos chamar de cristandade, isto é, um pacto entre os dois poderes que regem a sociedade: o espiritual, identificado com a hierarquia eclesiástica, particularmente o Papa, e o poder temporal entregue ao chefe civil-político. Na mentalidade medieval todo o poder provém diretamente de Deus que o confia ao Vigário de seu Filho encarnado na terra, ou seja ao Romano Pontífice. Nesse contexto surge a teoria das duas espadas, frequentemente atribuída a São Bernardo de Claraval (1090-1053). O texto bíblico de referência é Lc 22,38, onde lemos: “Disseram [os apóstolos]: Senhor, eis aqui duas espadas. Ele respondeu: é suficiente!” Na interpretação medieval as duas espadas pertenceriam, por direito divino, a Pedro. Uma está nas suas mãos e a outra às suas ordens. A hermenêutica é de surpreendente simplicidade: a espada espiritual é própria da função petrina, enquanto a espada temporal o Papa passa ao governante civil, para usá-la segundo as intenções de seu outorgante. Assim, na realidade, todo o poder concentra-se naquele que é considerado o “lugar-tenente de Cristo na terra”. Está aqui o núcleo da teocracia pontifícia cultivada na Idade Média, não sem constantes contestações e declaradas oposições.
Outra característica medieval, mas intimamente associada à precedente, é, sem dúvida, a chamada reductio ad unum, isto é, o esforço de ‘reduzir’ tudo a um único denominador: Deus, princípio e fim de todas as coisas e legalmente representado pela Instituição Eclesiástica que praticamente se identifica com o Reino de Deus, visto que muitos a consideram como sua realização, já aqui na terra. Tudo que não entra nesta lógica deve ser combatido e, na medida do possível, eliminado. Exige-se total conformidade ao modelo implantado e submissão dócil às autoridades instituídas. Percebe-se facilmente que em semelhantes circunstâncias a Inquisição surge e se consolida como instrumento apropriado para a manutenção do status quo, controlando e reprimindo tudo que não se enquadra na ideologia adotada.
O homem medieval tem acurada sensibilidade quanto à transitoriedade da vida. Para ele, ser transeunte constitui uma realidade viva, sempre de novo recordada. A terra é — pelo menos no esquema mental — apenas um exílio, um curto tempo de permanência. A verdadeira pátria situa-se no além. As peregrinações dão expressão concreta a essas convicções. Na realidade, trata-se de um fenômeno antiquíssimo na História do cristianismo. Já nos primeiros séculos temos notícias de peregrinações à Terra Santa, por exemplo, da galega Etéria que, em fins do século IV, empreendeu uma viagem aos lugares sagrados. Deixou uma minuciosa descrição de seu itinerário que, ao que tudo indica, durou aproximadamente três anos. O movimento rumo à região onde Jesus viveu e morreu nunca cessou e, em determinados momentos da História, adquire particular intensidade. Na mente do medieval, Palestina constitui uma imensa relíquia, um preciosíssimo patrimônio sagrado da Cristandade. Nela tudo é santo pelo fato de o próprio Jesus ter tocado a terra e nela derramado seu precioso sangue. Poder pisar em terreno tão sacro e ter contato físico com os lugares onde a presença do Senhor se faz sentir tão intensamente, é o sonho amplamente acalentado nesse período da História. Jerusalém, local do Santo Sepulcro, é objeto de incontida devoção, símbolo de toda uma concepção religiosa voltada para o além: “Vós vos aproximastes do Monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus. Vós vos aproximastes de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição, de Jesus, o Mediador da nova aliança e da aspersão com sangue mais eloquente que de Abel” (Hb 12,22-24).
A societas christiana, a sociedade cristã medieval, considera o ‘mundo’ como seu ‘corpo’ e a ‘Igreja’ como sua ‘alma’. Via com maus olhos o avanço do Islã, exatamente nas regiões onde o cristianismo teve seu berço e primeira expansão. Paulatinamente se fixa no ideário medieval um declarado sentimento anti-islâmico, que chegou a ter traços de uma demonização de seus seguidores.Na Península Ibérica — invadida pelos mouros em 753, quando Djebel-el-Tarik atravessou o Estreito de Gibraltar — desenvolve-se uma contra-ofensiva aos muçulmanos que entrou na História com o nome de Reconquista Cristã. Durou nada menos do que cinco séculos até que, em 1492, os Reis Católicos conseguiram expulsá-los de seu último reduto, a cidade de Granada.
Para situarmos a origem da Ordem do Carmo não podemos deixar de mencionar dois fenômenos tipicamente medievais: o eremitismo e as Cruzadas.
O ano Mil inaugura um novo período na História da Europa. A tremenda crise dos séculos IX e X, denominado Século de Ferro, cede lugar a uma renovação da sociedade e da própria Igreja. Significativo é o movimento de progressiva urbanização e de intensificação comercial. A sociedade rural, identificada com o feudalismo, deixa de ser a forma predominante da organização socioeconômica. Os incipientes burgos (cidades) apresentam modalidades alternativas e muito mais atraentes de convivência e realização humana. Junto com as transformações econômicas, vêm as transformações intelectuais e espirituais.
“O despertar da cidade leva a transferir o centro da gravitação político-social do castelo feudal no campo para os povoados e para as cidades. A cultura intelectual cresce muito através da criação das Universidades, saindo, assim, dos palácios e da corte feudal. A mesma cultura renovada se traduz em expressões cracterísticas na arte (romano, gótico), na especulação filosófica e teológica (as Sumas), na literatura das línguas neolatinas. A ‘nova intelectualidade’ levanta questionamentos antes desconhecidos. Através de um amplo fenômeno de urbanismo vem a transformar-se o próprio conceito de cidade, de centro urbano. Nasce, então, a comuna (hoje, mais ou menos, o município), típica estrutura social da nova época que está surgindo. A definição desta estrutura leva à criação de formas de governo com a participação popular.” (1)
O monaquismo tradicional dos grandes mosteiros, com suas imensas propriedades e ostentação de poder e prestígio, entra em decadência, mostrando incapacidade de adaptação aos novos tempos. Os monges são questionados exatamente por sua riqueza comunitária excessiva decorrente de sua vinculação ao sistema feudal. O século XI vê renascer formas de Vida Religiosa alternativas, particularmente o eremitismo. Esse fato assinala claramente uma ruptura com os tradicionais modelos de sociedade e de Igreja. Os novos eremitas contestam estruturas institucionais que imobilizam e facilitam a acomodação. Optam por um estilo de vida que favorece a itinerância e expressa a provisoriedade da vida aqui na terra, proporcionando, inclusive, maior liberdade interior. Dão, assim, uma resposta às aspirações de mobilidade tão marcantes no surgimento da vida urbana e impulsionada por intenso intercâmbio comercial.
O eremitismo — prevalentemente de caráter laical — conhece uma grande expansão nos séculos XI e XII. As formas são variadas, desde os solitários estabelecidos em lugares completamente afastados, quase inacessíveis, até eremitas que, a exemplo das antigas ‘lauras’ da Palestina, vivem em pequenos grupos, numa combinação de anacorismo e cenobitismo,assumindo, inclusive, atividades apostólicas compatíveis com seu estilo de vida. Há eremitas que não se fixam por muito tempo em lugares determinados, mas se deslocam constantemente à guisa de peregrinos.
“O que se devia entender por este nome de ‘eremita’, não era sujeito a nenhuma dúvida na Idade Média. Os elementos da vida eremítica, que todos os autores de todos os tempos que escreveram sobre esta questão sempre e sempre enumeraram, são estes: solidão, leituras, oração, contemplação, trabalho manual. Jejuns, vigílias e obras de misericórdia. Ouçamos a oração de certo pontifical da Inglaterra, para depor o hábito secular e vestir o hábito eremítico ‘Irmão, eis que te damos o hábito eremítico, com o qual te exortamos a viver, desde logo, casto, sóbrio e santo, em santas vigílias, jejuns, trabalhos, orações e obras de misericórdia, para que tenhas a vida eterna e vivas pelo séculos dos séculos’.” (2)
Com seu modo de ser os ermitães denunciam uma Igreja por demais instalada e segura de si. Testemunham o caráter transitório da vida cristã: “Não temos aqui embaixo cidade permanente, mas estamos à procura da cidade que está para vir” (Hb 13,14). Experimentam a si mesmos como transeuntes, viajores, exilados ou ‘soldados de Cristo’, em busca do deserto, da solidão, para lá travar a batalha contra os ‘inimigos’, tanto os de fora quanto os de dentro. Desenvolve-se aqui uma espiritualidade de militância, magistralmente descrito por São Paulo. (3) O apóstolo dos gentios esclarece que o caminho do cristão é marcado por muitos obstáculos. Ele é chamado a conservar e defender sua mais profunda identidade. Embora já feito participante da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte (cf. Ef 1,19-23), ainda peregrina no meio de ‘muitas tribulações’. As ‘forças do mal’ constituem uma ameaça tão real que Paulo as personifica. Trata-se de verdadeiros ‘inimigos’ que investem contra a ‘verdade de Cristo’. São ‘espíritos malignos’, dotados de energias destruidoras, quer conduzem à morte (cf. 2Ts 2,7-12; 1Cor 15,24; Ef 2,1-3;6,10-16; Cl1,9-15). O Apóstolo detecta sua ação maléfica, falando de ‘insídias do diabo’ (Ef 6,16), ‘laço do demônio’ (1Tm3,7; 2Tm 2,26), ‘príncipe do poder do ar’(Ef 2,2), ‘espírito que opera nos filhos da desobediência’ (Ef 2,2), ‘tentador’ (1Ts 3,5), exterminador’ (1Cor 10,10) e ‘deus deste mundo’ (2Cor 4,4).
O eremitismo peregrinante ou, talvez seja melhor chamá-lo de peregrinação eremítica, constitui um fenômeno altamente significativo no cristianismo medieval. O peregrino se expatria a fim de obter a purificação interior com a expiação de seus pecados. Aceita, de bom grado, os cansaços, jejuns, vigílias e os numerosos contratempos da viagem. Sua meta é o encontro com o ‘sagrado’, a chegada ao lugar santo, onde Deus se faz visivelmente presente no santuário com suas imagens e relíquias, diretamente ligados à pessoa histórica de Jesus ou a alguns de seus amigos, os santos e santas. São João Damasceno (+749) afirma, sem rodeios, que semelhantes lugares e objetos sagrados podem ser considerados “receptáculos de energia divina, pela qual a salvação de Deus vem a nós” [Oratio de imaginibus III, n.2]. Enfim, a peregrinação simboliza o próprio sentido da existência cristã: estar a caminho rumo à Casa do Pai [cf. também Concílio Vaticano II, LG,n.9 e UR, n.2].
Na Idade Média o destino privilegiado das peregrinações era, sem dúvida, a Palestina, onde se encontrava o “Santo Sepulcro”. A viagem para Jerusalém (peregrinatio hierosolymitana), freqüentes vezes, tornava-se um ‘modo de vida ascético’ (propositum). Assim, “a promessa de ir à Terra Santa era um voto no sentido jurídico-canônico ou eclesiástico (propositum sanctae peregrinationis, eudi utra mare — propósito de santa peregrinação, de ir além do mar). Somente o Papa podia dispensar alguém deste voto. Não raramente tal voto incluía a obrigação de a pessoa ficar sempre na Terra Santa (inde as própria nunquam reversurus — de nunca voltar para os próprios lugares)”. (4)
Desde que os muçulmanos se apoderaram das regiões do Oriente Próximo, incluindo a Palestina, entre 632 e 750, as peregrinações à Terra Santa sofreram restrições, embora nunca fossem totalmente interrompidas. A situação mudou quando, por volta de 1070, os maometanos seljúdicos (‘turcos’) ocuparam aquelas plagas, dificultando o acesso aos lugares santos. As peregrinações tornaram-se aventuras perigosas. Diante desses fatos, surge no Ocidente um movimento para libertar a Terra Santa, que, no Concílio de Clermont (1095) encontrou grande ressonância com o insistente apelo do Papa Urbano II (1088-1099). A tradição situa aqui o grito uníssono da cristandade: Deus lo volt, com a convocação de milhares de voluntários para ‘pegar em armas’ e partir rumo à missão. Em sinal de adesão aplicam no ombro direito uma cruz vermelha, donde a denominação: cruzados. Pregadores populares, como Pedro de Amiens (c.1150-1115), reforçam, com sua pregação inflamada, o apelo do Pontífice. As peregrinações armadas são apoiadas por reis e príncipes e motivadas por uma verdadeira mística guerreira. As expedições apresentam-se como ‘uma batalha entre o bem e o mal’, tal como é descrito no Livro bíblico do Apocalipse para ‘os últimos dias’. A Cruzada adquire, assim, o significado de um deslocar-se da Europa para Jerusalém, simbolizando a emigração espiritual com uma radical mudança de vida. A passagem ultramarina toma o sentido de uma expatriação a fim de poder chegar ao limiar do Reino dos Céus, materialmente representado pela Cidade Santa.
A história das Cruzadas, que abrange aproximadamente dois séculos, é muito controvertida. Misturam-se aqui as mais puras intenções religiosas com os mais baixos sentimentos de vingança e interesses pessoais, completamente alheios ao Evangelho. Entram em jogo objetivos políticos, comerciais, rivalidades e saques. Ao mesmo tempo, não podemos desconhecer que manifestam uma expressão da unidade de fé, não obstante a diversidade de culturas e povos.
Jerusalém foi conquistada em 1099. Fundaram-se estados cristãos: o principado de Antioquia, o principado de Edessa, o reino de Jerusalém e o principado de Trípoli, na Síria. Sucessivamente, os reinos latinos caem novamente nas mãos dos muçulmanos: Edessa em 1187, Jerusalém em 1244 e, finalmente, o último baluarte dos cruzados: Dão João de Acre, em 1291. Embora não tenha conseguido sua meta principal: a posse da Terra Santa e sua consolidação nas mãos dos cristãos, as Cruzadas tiveram um papel importantíssimo no campo econômico, cultural e intelectual. O Papa viu crescer seu prestígio como chefe religioso e político, culminando na figura de Inocêncio III (1198-1216) que declarou abertamente: “O Papa é o representante dAquele a quem pertence a terra e tudo que a contém e daqueles que a habitam... ele é o plenipotenciário dAquele que dá os reinos a quem bem lhe agrada”. Assim, tem “o poder de alterar, destruir, dissipar, edificar e plantar”. O Romano Pontífice está “acima de todos os príncipes, pois possui o direito de julgá-los”. Semelhantes idéias teocráticas serão retomadas na Bula Unam Sanctam, de Bonifácio VIII (1294-1303) que, numa carta a Alberto de Brandenburgo afirma: “Assim como a lua não possui nenhuma luz senão aquela que recebe do sol, da mesma forma não existe autoridade terrena que não recebe seu poder da Igreja... Toda a autoridade vem de Cristo e de Nós, como Vigário de Jesus Cristo”.
DOCUMENTO DE APARECIDA: Espiritualidade Carmelitana.
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Frei Camilo Maccise, OCD, In Memoriam (+16/03/ 2012).
A Espiritualidade Carmelitana fundamenta suas raízes na experiência dos primeiros monges que habitaram o Monte Carmelo. Esta experiência se expressou, mais adiante, nos escritos da tradição da Ordem, em primeiro lugar na Regra de Santo Alberto. Esses elementos foram relidos por Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz. Na vivencia e reflexão pós-conciliar sobre sua espiritualidade, o Carmelo destacou especialmente:
-A experiência do Deus Vivo e o seguimento de Jesus.
-A escuta orante da sua Palavra.
-O empenho profético.
-A devoção a Maria vista como Mãe, Irmã e Modelo.
*O SIGNIFICADO DO DOCUMENTO DA ASSEMBLEIA DE APARECIDA PARA NOSSA MISSÃO COMO CARMELITAS A SERVIÇO DO POVO DE DEUS AQUI NA AMÉRICA LATINA
Palavras de Camilo Maccise, OCD, na Assembleia da Família Carmelitana, que reuniu a Ordem Carmelita e a Ordem Carmelita Descalça, em Belo Horizonte, nos dias 26 a 29 de janeiro de 2009.
O OLHAR DO POVO PÓS- CAPÍTULO DOS CARMELITAS: Frei Petrônio...
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Moaby Alvim, Priora da Ordem Terceira do Carmo de Vicente de Carvalho/ RJ.
Parabéns frei Petrônio! O senhor fez um excelente trabalho! E tenho certeza que continuará se dedicando com amor ä nossa Província.
Que o Espírito Santo de Deus continue lhe iluminando, Nossos Sodalícios precisam continuar contando com sua dedicação e principalmente da sua criatividade. Abraços.
Fonte: Facebook.
Que Deus abençoe...
Sylvana Gorgulho de Castro, Priora da Ordem Terceira do Carmo de Carmo de Minas-MG.
Parabéns Frei Petrônio. Que Deus abençoe e nossa senhora do Carmo passe sempre na frente! !! Fonte: Facebook.
Parabéns!
Sandra Trindade, Ordem Terceira do Carmo de Angra dos Reis/RJ.
O Frei é muito dedicado e revolucionário também.
As OTCs precisam do senhor.
Que o Espírito Santo de Deus seja no senhor Frei tudo o que Ele quiser!!!
Fonte: Facebook.
O OLHAR DO POVO PÓS- CAPÍTULO DOS CARMELITAS: Frei João Carlos...
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Jane Maria
Rio de Janeiro- Paróquia Nossa Senhora do Carmo de Vicente de Carvalho.
Amigo Frei João... Venho tentando entender... Mas pensando bem, eu não preciso entender, preciso aceitar...
O senhor é testemunho vivo do Amor de Deus... tantos planos, tava tudo indo tão bem... mas hoje depois do coração mais calmo e conversando com Deus, acordei, o senhor fez a diferença na vida de todos nós, agora precisa fazer na vida de outras pessoas... sim, claro!
E é com esse sentimento que conforto e descanso meu coração, seria até egoísmo da minha parte querer esse pastor só para nós.
Aprendi tanto com o Sr, exemplo de humildade, carisma, unidade, amor ao próximo. Muito obrigada por ter nos ajudado tanto quando mais precisamos, nunca negou uma conversa, sempre disposto, alegre e com esse sorriso no rosto, sempre preocupado com suas ovelhas, nunca mediu esforços para nos ajudar, só alguém que se esvazia de si e vive uma vida entregue totalmente a Deus é capaz de realizar tantos feitos.
obrigada por acreditar na gente, por ser esse exemplo de ser humano que não faz acepção de pessoas, sempre o terei como grande exemplo de um verdadeiro servo de Deus.
Deus o abençoe na nova missão que lhe foi dada; vai meu amigo, e faça a diferença como fez aqui em Vila Kosmos. Sei que fará por onde passar!
Obrigada por tudo que fez pela minha Família! Te Amamos. (Mensagem via facebook)
RAUL MARAVI: 25 de vida religiosa.
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CAPÍTULO: 4º Conselheiro.
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Eleito o 4º Conselheiro dos Carmelitas, Frei Eduardo, do Carmo de Brasília/DF.
ELEIÇÃO DO CAPÍTULO: 4º Conselheiro.
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Daqui a pouco, o nome do 4º Conselheiro. Estamos em votação.
ELEIÇÃO DO CAPÍTULO: 3º Conselheiro.
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Eleito o 3º Conselheiro dos Carmelitas, Frei Alberto Fernandes, do Carmo de Salvador-BA.
ELEIÇÃO DO CAPÍTULO: 2º Conselheiro.
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Para segundo conselheiro, foi reeleito Frei Fernando Bezerra, O. Carm. (Foto)
ELEIÇÃO PARA PROVINCIAL: Eleição para 2º Conselheiro.
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Acontece neste momento na Casa de Retiro de Emaús, em Embu das Artes, São Paulo, o Capítulo Provincial da Província Carmelitana de Santo Elias. Estamos votando para do 2º Conselheiro.
ELEIÇÃO DO CAPÍTULO: 1º Conselheiro.
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Para primeiro conselheiro, foi reeleito Frei Adailson dos Santos, O. Carm. (Foto)
ELEIÇÃO PARA PROVINCIAL: Frei Evaldo Xavier é reeleito.
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Na primeira votação, a Província Carmelitana de Santo Elias, elege Frei Evaldo Xavier Gomes, O. Carm para assumir o 2º mandato de provincial.
CAPÍTULO: Começa a Eleição- Acompanhe em tempo real.
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9h: 45min. Começou a Eleição da Província Carmelitana de Santo Elias. Agora teremos a primeira votação para Prior Provincial.
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